MINAS GERAIS
O ANHANGUERA
Bartolomeu Bueno da Silva era um destemido bandeirante paulista, que largou de São Paulo e se entranhou em Minas Gerais, atrás das minas de Sabarabuçu, que haviam sidodescobertas por Borba Gato.
Tinha a idade de 10 anos quando promoveu essa incursão. Todos o tratavam por Feio porque era, efetivamente, de feições horrendas.
Bartolomeu Bueno Feio apossou-se de grande extensão de terras e minas, entre o rio das Velhas e o Pará. Quando houve a Guerra dos Emboadas, pelejou ao lado dos nossos e foi um adversário implacável dos portugueses.
Acabada a guerra, Bartolomeu Feio achou mais acertado retirar-se de Minas para evitar que a luta recomeçasse. Tendo ouvido falar na existência de uma riquíssima mina de ouro lá para as bandas de Goiás — a Mina dos Martírios — Bartolomeu resolveu partir com sua denodada gente para aqueles lados.
Foi. Organizou para isso grande expedição. Depois de uma jornada trabalhosa, em que teve de transpor serras, vadear rios e enfrentar toda sorte de perigos, chegou finalmente ao sertão onde começa o território que é hoje o Estado de Goiás.
Era essa região habitada pelos índios goianas, que se opuseram logo à entrada de Bartolomeu Feio. Este lhes perguntou se de fato ficava para aqueles lados a Mina dos Martírios. Os índios responderam que sim. Isso mais aguçou o desejo de Bartolomeu Feio de entrar aquela terra. Mas os índios eram em número muito superior à sua gente: combatê-los era contar com a morte, pois seria facilmente vencido.
* * *
Não podendo vencer pela força, resolveu vencer pela esperteza. Sabia que na Bahia um português conseguira vencer os índios pelo terror que lhes causara com o disparo de uma espingarda, que os índios não conheciam: daí o apelido que lhe puseram de Caramuru, homem do trovão.
Os índios goianas já conheciam as armas de fogo. Por esse lado não poderia aterrorizá-lo. Resolveu, então, imitar a façanha de Caramuru, servindo-se de outro objeto que os índios não conhecessem.
— Se vocês não me deixarem entrar farei secar todos os rios e lagos e vocês morrerão de sede! Farei com que a água vire fogo!
E marcou o prazo de um dia e uma noite para realizar a ameaça.
No dia seguinte, de madrugada, mandou saber dos índios a resposta. Estes disseram que se opunham terminantemente à sua entrada. Então, com a voz mais retumbante e a cara mais carrancuda que na véspera, Bartolomeu disse que iria virar a água em fogo. Os índios ficaram olhando, na dúvida.
Bartolomeu pegou um morrão cheio de pólvora seca, aceso numa das estremidades. A ponta acesa ficou fora d’água; a ponta apagada, que estava tapada, êle a mergulhou na água para fingir que o fogo vinha de dentro da lagoa. Quando o fogo da ponta acesa do morrão se comunicou à pólvora do canudo, este começou a despejar de dentro para fora da água um repuxo de fogo. O fogo espirrava longe e, além disso, estrondeava, fazendo parecer que saía das entranhas da lagoa.
Os índios, espavoridos, esparramaram-se. Uns fugiam; outros soltavam gritos ou esperneavam no chão; estes caíam de joelhos e aqueles escondiam-se no mato. Todos, enfim, ficaram transidos de medo, pensando estar assistindo a um fato sobrenatural.
Nesse mesmo dia o cacique da tribo apresentou-se a Bartolomeu Feio como a um ser sobrenatural, um homem encantado, um aliado de Tupã. Puseram-lhe o apelido de Anhangüera, que quer dizer Diabo Velho. Escusado será dizer que o trataram sempre com o maior respeito e nunca deixaram de prestar-lhe obediência.
Graças a tal expediente, Anhangüera entrou em Goiás, e ficou na história como o descobridor e colonizador desse Estado. Não conseguiu descobrir a Mina dos Martírios, mas encontrou outras, muitas outras, voltando riquíssimo, carregado de ouro e de pedras preciosas.
Ao entrar em São Paulo, tendo então 80 anos de idade, foi recebido com muitas festas. Todos se admiravam de que êle houvesse podido amansar índios tão bravios como eram os de Goiás.
O apelido de Anhagüera dura até hoje. Em Goiás, os índios ainda falam de um diabo velho que fêz virar a água em fogo, secar os rios e os lagos.
Carlos Góis: Histórias da Terra Mineira. Imprensa Oficial, Belo Horizonte, 1913, pp. 42-49.
Fonte: Estórias e Lendas de Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Seleção de Anísio Mello. Desenhos de J. Lanzelotti. Ed. Literat. 1962
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