O CONFLITO ISRAEL VERSUS HAMAS E OS ANTAGONISMOS ENTRE ÁRABES E JUDEUS

O CONFLITO ISRAEL VERSUS HAMAS E OS ANTAGONISMOS ENTRE
ÁRABES E JUDEUS

 

Francisco Fernandes Ladeira

Licenciado
em Geografia – UNIPAC

Especialista
em: Brasil, Estado e Sociedade – UFJF

Email:
[email protected]

Resumo:

Este artigo
tem por objetivo desenvolver um estudo sobre os antagonismos entre árabes e
judeus na Palestina enfatizando as relações do Estado de Israel com o Hamas, grupo
que domina politicamente a Faixa de Gaza. A partir de uma breve análise histórica,
busca-se apresentar a questão árabe-israelense como um complexo mosaico de
causas políticas, religiosas e econômicas. Mais que rivalidades de cunho
religioso, como o promulgado pelo pensamento ocidental, é mister conceber a
atual situação palestina como fruto de políticas unilaterais e divisões
territoriais impostas pelas grandes potências mundiais aos povos da região.

Palavras
Chave:
Palestina. Árabes. Judeus. Israel. Hamas.

Abstract:

This article has for object to develop a stud about the antagonists
between Arabs and Jews in Palestine emphasizing the relations of Jew’s State
with the Hamas. Focusing the brief historic analysis, we aim to demonstrate the
question Arab-Israeli how a complex mosaic of causes politics, religions and
economics. More than rivalries off religion texture, as a promulgate by
occidental thought, is necessity to concede the actual Palestine’s situation as
result of unilateral politics and territorial divisions impositions by great
worlds potentials to the region’s people.

Keywords: Palestine.
Arabs. Jews. Israel. Hamas.

Introdução

O ano de 2009 começou com um novo capítulo de uma
velha história. A invasão da Faixa de Gaza pelo exército israelense é somente
mais uma etapa da complexa e traumática relação entre árabes e judeus na região
da Palestina.

Para começar a entender os motivos de inúmeros conflitos
deve-se recorrer pelo menos a três fatores: a disputa por territórios, a
questão religiosa e (por se tratar de uma região geograficamente difícil para a
ocupação humana) o controle dos ínfimos recursos naturais. É
importante ressaltar que não se devem aferir os motivos dessas duradouras animosidades
somente a partir das relações dos dois povos envolvidos: a região da Palestina
foi, desde os primórdios da civilização, alvo da cobiça de inúmeros povos
alhures. A moderna divisão do território é fruto do arbítrio
das grandes potências imperialistas européias e dos Estados Unidos. Ou seja, os
limites estabelecidos não somente na Palestina, mas em todo o Oriente Médio,
foram executados sem levar em conta as diferenças culturais ali existentes.

Questão religiosa

Segundo o judaísmo a região de Canaã, da qual a Palestina
atual fazia parte, é a “Terra Prometida” por Deus (Javé) ao povo escolhido: os
judeus. “Um povo sem terra para uma terra sem povo”.

“Ora, o Senhor disse a Abraão: Sai da tua terra, e da
tua parentada, e da casa de teu pai, e vem para terra que eu te mostrarei. E eu
te farei pai de um grande povo (…)” [1]

Assim Abraão[2]
partiu de Harã, onde recebera o chamado divino, em busca da terra de Canaã. No
século XIII a.C (após um período de escravidão no Egito)
os judeus fundariam o Reino de Israel na antiga Canaã. Posteriormente foram
expulsos da “Terra Prometida” por assírios, babilônios e romanos[3].

Por outro lado, de acordo com a tradição islâmica, a terra
onde hoje é a Palestina seria, por direito, aos descendentes de Ismael (filho
mais velho de Abraão): os árabes. Visto que caberia ao primogênito a herança
(nesse caso a “Terra Prometida”) paterna.

Portanto a posse da Palestina atual é considerada designo
divino tanto para os muçulmanos quanto para os judeus.

Entretanto recorrer à explicação religiosa como fator
peremptório para a causa dos conflitos é uma visão simplista e fragmentária.
Devem-se considerar também as questões “mundanas”, partindo de uma análise
histórica dos fatos.

Geopolítica: jogo de interesses das grandes potências e disputa por territórios

Não cabe apresentar aqui todo o histórico das relações
entre árabes e judeus ao longo dos séculos. O presente artigo se limita aos
principais acontecimentos que ajudam a compreender a questão palestina.

Como se sabe a premissa que a Palestina seria “um território
sem povo para um povo sem território” é falaciosa. Antes da chegada dos judeus
à região outros povos ali já haviam se estabelecido. Esse argumento foi
utilizado para corroborar a “limpeza étnica” promovida pelos judeus na antiga
Canaã e na atual Palestina[4].

Expulsos pelos romanos entre os anos de 70 e 135 d.c os
judeus vagaram pela Europa nos séculos seguintes sendo vítimas de preconceito e
perseguições[5].

Até que na segunda metade do século XIX surge a idéia da
formação de um Estado Nacional Judaico na Palestina, conhecido como Movimento
Sionista. A partir de então grandes fluxos migratórios de judeus seguem em
direção à “Terra Prometida”, há séculos ocupada pelos árabes palestinos.[6]

Na obra “O Estado Judeu” (Der Judenstaat) de
1896, Theodor Herzl, judeu austríaco, lançava as propostas “civilizatórias” do
movimento sionista:

Para a Europa construiríamos na região uma parte da
muralha contra a Ásia, seríamos a sentinela avançada da civilização contra a
barbárie. Permaneceríamos, como Estado neutro, em relação constante com toda
Europa, que deveria garantir nossa existência. (HERZL apud. SALEM, 1982: 15).

A Declaração Balfour, lançada pelo governo britânico
em 1917, trazia a promessa da criação de um Estado Judeu na Palestina:

“O governo de Sua Majestade encara favoravelmente o
estabelecimento de um Lar Nacional para o povo judeu na Palestina e empregará
todos os seus esforços para facilitar a realização desse objetivo, estando
claramente entendido que não se fará nada que possa acarretar prejuízos aos
direitos civis e religiosos das comunidades não-judias da Palestina, bem como
aos direitos e ao estatuto político que os judeus possam gozar em qualquer
outro país”.

Essa política caracterizou uma postura ambígua de Londres:
procurava ao mesmo tempo atrair capitais judeus para financiar suas investidas
na Primeira Guerra Mundial e o apoio árabe para expulsar os turco-otomanos que
até então dominaram a região da Palestina.

A ressalva britânica para que fossem respeitados os
“direitos das comunidades não judias” era, certamente, muito questionável: como
não entrar em choque com elas, ao se pretender criar um Lar Nacional de uma
população estrangeira num território já povoado? Ora, a satisfação dos anseios
sionistas (sem querer entrar no seu mérito) necessariamente haveria de se opor
aos interesses dos habitantes árabes locais. E foi, evidentemente, o que
ocorreu. Desde muito cedo, quase simultaneamente à chegada das primeiras levas
de colonos judeus, começaram os primeiros atritos. (SALEM, 1982: 21)

Após o domínio turco-otomano a Palestina passou a ser
possessão da Grã Bretanha em 1918.

Na segunda metade da década de 1930, quando os judeus
já representavam cerca de trinta por cento da população na Palestina, teve
início a primeira revolta árabe. Instalações e bases britânicas foram atacadas
e judeus foram assassinados. Londres por sua vez reprimiu a rebelião e armou
cerca de quatorze mil colonos judeus para defenderem suas posses.

Quando a Grã Bretanha tentou controlar a imigração
judaica para a Palestina, os judeus atacaram os britânicos. Em 1946, o
quartel-general britânico foi dinamitado contabilizando noventa e um óbitos.

O clima de comoção global após a revelação das
atrocidades cometidas pelos nazistas ao povo judeu (Holocausto) ensejou a
pressão internacional para a criação de um Estado Judaico onde os descendentes
de Isaque[7]
vivessem livres de perseguições.

Incapazes de resolver os conflitos de interesses das
comunidades árabes e judaicas na Palestina, os britânicos, assim como Pôncio
Pilatos “lavaram as mãos”, e transferiram o problema para a ONU. Então
em 1947 a recém fundada instituição internacional, sob o comando do presidente
estadunidense Harry Truman, propõe a partilha da Palestina em dois estados:
Israel (Estado Judaico) e Palestina (Estado Árabe).Jerusalém por
sua importância histórica e religiosa para cristãos, muçulmanos e judeus
adquiriu status de área internacionalizada. Segundo
o sociólogo Antônio Machado “as reparações a um povo milenar, porém sem território,
e que conseguiu, apesar de tudo, manter suas tradições intelectuais e
culturais, foi um gesto de surpreendente grandeza no pós-guerra”.[8]

Porém o outro lado da questão não foi consultado. Os
palestinos, que nada tinham a ver com isso “pagariam a conta” das incontáveis
mazelas sofridas pelos judeus na Europa.

Os judeus eram um terço da população
apenas e a ONU havia lhes prometido metade da Palestina. A maioria dos judeus
chegara dois ou três anos antes e já tinha direito a metade do país. E, acima
de tudo, alguns membros da ONU sabiam que estavam oferecendo um Estado judeu
com muitos palestinos – quase o mesmo número de palestinos e judeus – o que era
inaceitável para o movimento sionista. A tendência do movimento sionista à
limpeza étnica já era conhecida de alguns no mundo árabe, e os palestinos foram
contra a decisão da ONU. (PAPPE, 2008).

Jamile Abdel Latif, membro da Federação Árabe Palestina,
classifica como “esquizofrenia do ocidente” a criação de um Estado puramente
judaico numa terra habitada majoritariamente por não-judeus. Em
maio de 1948, antes da retirada completa das tropas internacionais, é
proclamada a independência de Israel. Por
outro lado, os países árabes declaravam guerra ao recém-criado Estado judeu. Israel
amplia seu território para além das fronteiras promulgadas pela ONU. Porções
do território destinadas ao estado palestino são anexadas pelo Egito (Faixa de
Gaza) e Jordânia (Cisjordânia). Antes
mesmo de sua existência, o Estado palestino era assim riscado do mapa.

O que se viu então, ao longo dos últimos sessenta anos, foram
intermináveis antagonismos entres árabes e judeus.

No livro “A Limpeza Étnica da Palestina” o historiador judeu
Ilan Pappe apresenta detalhadamente uma sistemática política de violência
contra os árabes antes mesmo da oficialização do estado de Israel pelas Nações
Unidas. “A idéia de eliminar a Palestina de sua população nativa, dos árabes,
surgiu como um conceito claro nos anos 1930.” (PAPPE, 2008). Em 1967, no conflito conhecido como Guerra dos Seis Dias, Israel anexou os territórios palestinos
ocupados pelos países árabes: Cisjordânia (incluindo a porção oriental da
cidade de Jerusalém) e Faixa de Gaza. Além das Colinas de Golã (Síria) e da
Península do Sinai (Egito).[9]

Invasão à Gaza

Na década de 1990 o reconhecimento por parte de Israel
da necessidade da formação de um Estado Nacional para o povo palestino
representou para as populações locais a possibilidade real de coexistência sem
conflitos. O Acordo de Oslo, assinado em 1993, previa a instalação de um regime
de autonomia limitada para os palestinos na maior parte da Faixa de Gaza e em
algumas cidades da Cisjordânia Entretanto,
o aperto de mãos entre o então Primeiro Ministro de Israel Ytzhak Rabin e o ex-líder
da OLP Yasser Arafat (realizado na Casa Branca) [10]
obteve mais efeitos midiáticos do que resultados concretos. Os
últimos acordos internacionais (Oslo, 1993 e Camp David, 2000) entre líderes
palestinos e israelenses não trouxeram a estabilidade necessária à região. Questões
relacionadas ao cotidiano da população em geral como a política de assentamentos,
o retorno de refugiados e o acesso à água foram negligenciadas. Israel intensificou
a construção de assentamentos de colonos judeus em territórios destinados à
implantação do Estado Palestino. Para Ilan Pappe (apud. Nasser) esses
assentamentos foram posicionados para isolar as populações palestinas e
inviabilizar qualquer possibilidade para a formação de um Estado Palestino.[11] Nesse
contexto de incertezascresceram os radicalismos de ambos os lados,
culminando com o domínio político do grupo Hamas em Gaza em 2006[12].
A Cisjordânia ficou sob a liderança do “moderado” Fatah.

Nos primeiros dias de 2009, após ofensivas aéreas,[13]
como retaliação ao lançamento de foguetes partindo de Gaza contra o sul de
Israel, o exército israelense invade o território palestino.[14]
Segundo
Gilberto Sarfati, professor do curso de Relações Internacionais da ESPM, a
intervenção israelense é legítima, pois os mísseis lançados pelo Hamas têm como
alvo áreas civis. “Apenas para se ter uma idéia, entre 28 de fevereiro e 3 de
março passado [2008] foram lançados 207 mísseis contra território israelense”. (SARFATI,
2009).

As autoridades de Israel declararam visar
exclusivamente instalações do Hamas e tomar o máximo de precauções para poupar
a população civil. Como
justificativa para o grande número de mortos entre a população civil, Tel Aviv alega
que o Hamas utiliza mulheres e crianças como escudos humanos. “O Hamas usa
cinicamente a população civil como escudos humanos, estabelecendo fábricas de
armamentos, bases de lançamento de foguetes (…) bem no meio de áreas
densamente habitadas”. (SARFDATI, 2009)

(…) Terroristas do Hamas disparam foguetes contra
Israel cercados de mulheres e crianças, do meio de cidades super povoadas,
torcendo para que um míssil israelense aniquile essas mulheres e crianças,
cujos cadáveres, expostos quase como prêmios, são uma de suas maiores
"vitórias" pois convencem alguns "humanistas" de plantão
que os israelenses não são humanos.(MALBERGIER, 2009).

“É preciso lembrar que o Hamas acaba dando abrigo para mais
de quatro mil pessoas de outras organizações terroristas (…). A operação
militar em Gaza tem como objetivo destruir essa infra-estrutura militar”.
(SARFATI, 2009)

Por outro lado, Khalid Amayreh classifica as ações
israelenses em Gaza como “satânicas” e genocidas:

(…) Gaza é
arrasada e milhares dos seus habitantes são sacrificados em massa (…) líderes
políticos e religiosos israelenses ultimamente têm falado com entusiasmo da
necessidade de "apagar Gaza da face da terra" e "aniquilar tudo
o que se move ali". (…) Isto não é de modo algum uma opinião minoritária
em Israel. (AMAYRECH, 2009)

Para Alan Nasser as ambições “colonialistas” de Israel são as
reais motivações para a intervenção em Gaza:

O que Israel teme não é o terrorismo e sim a
independência palestina. Israel não permitirá que emerja um governo palestino
soberano sobre a terra que pretende manter – e provavelmente expandir – como a
sua própria. (…) [Ao contrário da Autoridade Palestina] O Hamas nunca será
peão de Israel (…) deve ser erradicado. Esta é a principal razão para a atual
guerra relâmpago contra Gaza. (NASSER, 2009)

Gideon Rachman, colunista do Financial Times, parte da
premissa de que é aceitável que nenhum Estado pode admitir ataques regulares
como os que ocorreram ao sul de Israel. Entretanto à medida que cresce o número
de vítimas civis do lado palestino os debates sobre o que é uma reação
“proporcional” aos foguetes do Hamas soam autênticos. Nos
oito anos anteriores à invasão de Gaza pelo exército de Israel quatro cidadãos
israelenses morreram por foguetes lançados a partir do território palestino. Em
contrapartida, mais de dois mil e novecentos palestinos foram mortos pelo
exército de Israel e mais de quinhentos faleceram devido à ausência de recursos
hospitalares, fruto do bloqueio imposto à Gaza por Israel.[15]

Nos atuais estudos sobre relações internacionais é
corrente a ideia de que os conflitos do final do século XX e início do século
XXI apresentam certas peculiaridades. Ao contrário dos antigos embates entre
estados nacionais, no mundo contemporâneo predominam conflitos entre
organizações não-estatais e estados politicamente constituídos (Al Qaeda versus
Estados Unidos, Hamas versus Israel, grupos separatistas chechenos que buscam a
independência da Chechênia em relação à Rússia). “Com o progresso tecnológico e
as armas de destruição em massa, alguns grupos obtiveram um poder sem
precedentes”. (PEREIRA, 2006). A visão predominante no mundo
ocidental parte do pressuposto de que os estados nacionais agem em legítima
defesa contra grupos que utilizam meios ilícitos para atingir seus objetos.
Ações estas qualificadas como “terroristas”. “A doutrina da moralidade do
estado permite justificar a mobilização de todos os recursos, inclusive o uso
da força, para sua defesa, por razões moralmente justas (…)” (WALZER, 1977 apud.
NOGUEIRA, 2008: 54). Em um artigo cujo título é “Hamas,
Israel, Gaza, e resistência violenta: a estrutura histórica e política da crise
atual” Alan Nasser parte da clássica definição weberiana de Estado como
instituição que monopoliza o uso legítimo da violência para demonstrar como a
falta de uma organização estatal internacionalmente reconhecida impossibilita aos
palestinos os meios “legais” para resistir às ofensivas do exército
israelenses:

O Estado pode
legalmente empregar violência como meio de corrigir injustiças feitas aos seus
cidadãos. (…) Um povo sem Estado está estruturalmente indefeso face à
injustiça. Pois se a modernidade limita a resposta violenta à injustiça à
intervenção do Estado, então a ausência de Estado obriga à passividade dos que
dele não dispõem O fato de não terem Estado retira aos palestinos a única
espécie de resistência apropriada aos instrumentos de opressão que enfrentam.
(…) A condição de ausência de Estado dos palestinos determina que eles não
podem “tomar o assunto nas suas próprias mãos”(NASSER, 2009)

Se uma ação terrorista é aquela que usa da violência
para fins políticos e não poupa a população civil, pode-se dizer que Israel é
um “Estado Terrorista”.

Em 18 de janeiro Hamas e Israel aceitam interromper as
hostilidades. Todavia o frágil cessar fogo é constantemente desrespeitado por
ambas as partes.

A ofensiva israelense deixa um saldo de mil e
trezentos mortos, milhares de casas destruídas e aproximadamente cinco mil e
quinhentos feridos. Tamanha mazela, segundo boa parte dos analistas do conflito,
contribuiu para desgastar a imagem de Israel fortalecendo o Hamas frente à
população palestina e à opinião pública mundial.

Até países pró-Israel condenaram a ação. (…) O quem
mais condenam é civis terem sido alvo. (…) O Hamas continua no poder.
Governos no mundo ficaram a favor da causa palestina contra Israel. [Muitos] já
não chamam o Hamas de terroristas, mas de Hamas. Israel fortaleceu a causa
palestina e o partido (EL JAMAL, apud. GOMIDE, 2009).

Considerações Finais

Existe uma solução que caminhe para a paz e a
estabilidade na Palestina? Infelizmente em curto prazo a resposta parece ser
negativa. Há
muitos interesses políticos e econômicos alhures na região (principalmente se
formos levar em conta o inexorável apoio dos Estados Unidos a Israel) [16].
Radicalismos de ambos os lados: quando um palestino é morto pelas tropas de
Israel imediatamente o exército do Hamas ganha novos adeptos, sedentos por
vingança. O povo palestino luta contra um poderoso exército financiado por
milionários judeus de todo o planeta. A
comunidade internacional fica mais no âmbito dos discursos que das ações. A ONU
não adota providências concretas para impedir as atrocidades da força
desproporcional utilizada pelos judeus contra os palestinos.

Todavia podem-se levantar algumas possibilidades de
desfecho para uma querela que se estende há pelo menos sessenta anos. É
preciso uma decisão política e imparcial para a questão palestina. Os meios
militares já se mostraram ineficientes.

A criação do Estado Palestino (ou dois estados: na
Cisjordânia e em Gaza) é consenso entre os analistas que se propõe a debater a
questão. É o fulcro para o processo de paz na região. Tanto judeus quanto
palestinos devem reconhecer o direito do outro à sua autodeterminação em um
estado nacional. Israel
deve aceitar as fronteiras estabelecidas em 1967 como referência para a criação
do estado palestino, cessar a política contínua de assentamentos judeus em
territórios palestinos.

Indubitavelmente, à soberania palestina em relação à
Gaza e Cisjordânia deve-se seguir o acesso aos recursos naturais existentes
nessas regiões. Principalmente em relação à água, é lídimo o direito ao
controle desse bem natural por parte dos palestinos. É inadmissível o processo
de usurpação da água promovida pelo Estado Judeu em território palestino.

Por volta de três milhões e oitocentos mil palestinos, expulsos
de suas terras devido aos inúmeros conflitos que assolam a região desde 1948,
vivem nos países árabes vizinhos. É imprescindível garantir políticas que
proporcionem uma vida digna a essas pessoas. Muito se tem colocado
ultimamente que o governo de Barack Obama poderá representar uma nova atitude dos
Estados Unidos em relação ao mundo muçulmano e à questão palestina. Rompendo
com a retórica de George W. Bush, o novo presidente americano afirma que
pretende ouvir as reivindicações dos dois lados envolvidos no conflito
palestino ao invés de “ditar regras” como aconteceu no passado.

Por outro lado questões fundamentais ainda permanecem
em aberto: o lobby da comunidade judaica ainda possui grande capacidade de influenciar
a política externa de Washington. O acordo de cooperação militar EUA-Israel não
será desfeito. Israel continuará como pináculo yankee no Oriente Médio.

Embora seja grande a expectativa sobre o mandato de Obama,
não se pode esperar do novo governo da Casa Branca uma solução messiânica que
resolva imediatamente os problemas dos palestinos. A coexistência pacífica
entre árabes e judeus passa por profundas mudanças (sociais, econômicas e
políticas) que estão além das faculdades do novo presidente americano ou
qualquer outro líder mundial.


NOTAS:

[1]
Gênesis. Capítulo 12. Versículos 1,2.

 

[2]
“Abraão nasce na Mesopotâmia. Desprovido de terra e de semente, viaja para a
Terra Prometida, onde de imediato reivindica seu direito ao território. Uma
estiagem assola a região, e ele procura refúgio no Egito” (FEILER, 2003, p.
69). Historicamente sua existência é contestada.

 

[3]
Aproximadamente em 772 a.c os assírios destruíram o reino israelita ao norte,
os babilônios expulsaram os judeus por volta de 662 a.c (os judeus retornariam à sua terra após a conquista do Império Babilônico pelos persas, porém
sem autonomia política sobre o território). Já os romanos foram responsáveis
pelas diásporas judaicas nos primeiros séculos da Era Cristã.

 

[4]
Importante salientar que os judeus, que foram
covardemente perseguidos ao longo da História por egípcios, babilônicos,
assírios, russos e alemães (dentre outros povos) não se furtam em utilizar as
mesmas técnicas genocidas contra outros povos como fizeram contra os cananeus
(segundo a Bíblia) e hoje o fazem com os palestinos. “Deus afligirá os cananeus com pestilência e terror
conforme fez aos egípcios. A diferença, a grande diferença, é que a separação
física entre os de dentro e os de fora da aliança – uma distinção que, no
Egito, foi imposta pela partida dos israelitas – ocorrerá em Canaã pela
expulsão dos cananeus. Ao anunciar seus planos para limpeza étnica de Canaã, o
Senhor não parece irado com os cananeus, mas o resultado é genocida de qualquer
forma (…). A única ofensa dos cananeus [ao Deus de Israel] é (…) adorarem
seus próprios deuses e viverem numa terra onde o Senhor tem outros planos.
(…) Eles estão condenados. Não lhes será oferecida a opção de converterem-se
à adoração do Senhor, e muito menos de coexistir com Israel mantendo seus
próprios hábitos”. (MILES, 1997, p. 140, 141). Muitos analistas comparam as
ações israelenses em Gaza os campos de extermínio nazista. “O povo de Israel, cúmplice do massacre dos seres
humanos que moram ao lado, profana a memória de seus mortos pela barbárie
nazista ao ver seus líderes adotarem os mesmos métodos contra os palestinos”. (FRANKLIN,
2009). Por outro lado, para Noemi Jaffe: “(…) Nada é comparável ao nazismo.
(…) Comparar Israel com o nazismo é como dizer ‘eles não aprenderam a lição;
estão praticando exatamente aquilo que sofreram’. (…) Comparar o nazismo à
ação de Israel é, na verdade, uma prática antissemita, racista e ignorante”.

[5]
Importante ressaltar que os judeus que permaneceram na região conviveram
pacificamente com os povos árabes ali estabelecidos, até pelo menos a segunda
metade do século XIX, período em que se inicia a migração em massa de judeus
para a palestina gerando as primeiras animosidades entres os dois povos.
Inclusive com registros de ataques terroristas de ambos os lados.

 

[6]
Também foram sugeridas áreas dos territórios da Argentina e de Uganda para
abrigar o Estado Judaico.

 

[7]
Segundo filho de Abraão.

 

[8] Ainda segundo Machado, Israel deveria ser
reverenciada como patrimônio da humanidade pela grande contribuição ao
conhecimento científico de judeus como Max, Freud e Einstein.

 

[9]
Território devolvido em 1982,
após o acordo de Camp David.

[10]
Evento que simbolizou as relações entre israleneses e palestinos no contexto
pós Guerra Fria.

 

[11]
“(…) Ilan Pappe (…) descreveu os acordos de Oslo como (…) ardil para
permitir a Israel continuar a construir assentamentos de modo a encurralar os
palestinos em bantustões estilo sul-africano. Tudo isso culminou em Camp David (…) um ‘estado’ palestino sem continuidade territorial, dividido por blocos de
assentamentos, cortado por estradas e barreiras em estradas com o controle
israelense de toda fronteira” (Nasser, 2009).

 

[12]
É importante ressaltar que o Hamas obteve a maioria parlamentar em Gaza por
vias democráticas e não através de um Golpe contra a Fatah, como afirmou Gilber
Safati na TV Brasil e no Jornal Valor Econômico. Boa parte da população de Gaza
considera o Hamas mais comprometido com a causa palestina do que as “moderadas”
Autoridade Palestina e Fatah. A vitória eleitoral do Hamas foi devido à suas
propostas seculares e por uma solução pacífica para a criação do Estado
Palestino, desde que as tropas israelenses deixassem os territórios ocupados. É
falaciosa a idéia de que o extremismo religioso foi o elemento norteador da
campanha do Hamas para o Parlamento Palestino.

 

[13]
A ofensiva aérea começou no dia 27 de dezembro de 2008. Já a ofensiva terrestre
teve início no dia 3 de janeiro de 2009.

 

[14]
Michel Chossudovsky aponta razões econômicas
para a invasão israelense à Gaza: “A
invasão militar da Faixa de Gaza pelas forças israelenses prende-se diretamente
com o controle e propriedade das reservas estratégicas de gás natural na sua
plataforma marítima. Esta é uma guerra de conquista. Descobertas em 2000, são
extensas as reservas de gás presentes ao longo do offshore de Gaza. (…) A
ocupação militar de Gaza tem o objetivo de transferir a soberania dos campos de
gás para Israel, em violação das leis internacionais”

 

[15]
Entrevista de Jamile Abdel Latif. Programa 3 a 1. TV Brasil. 21/01/09.

 

[16]
Usualmente a mídia dos Estados Unidos, e boa parte da imprensa ocidental em
geral, classificam as incursões militares de Israel como “retaliação” e a
violência realizada por palestinos como “ataques”.

Referências
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