Contos Populares Antigos Curtos

AS TRÊS MAÇÃZINHAS DE OURO, O COMPADRE DA MORTE, O SÓCIO DO DIABO, contos populares medievais, completos, para ler online ou imprimir, com comentários, lendas e mitos medievais coletados da tradição oral junto ao povo, com comentários.

A mulher teimosa – Contos de Facécias

Popular no século XIII, onde o vemos em três fontes, pelo menos; no Exempla ou Sermones Vulgares, de Jacques de Vitry, falecido em 1240, edição londrina de 1890, dirigida pelo prof. T. F. Crane, n.° 26 das publications da Folk Lore Society, no Fables, de Marie de France, e em Etienne de Bourbon, Anecdotes historiques, légendes et apologues tirés’ du recueil inédil d’Etienne de Bourbon, publicado por Leroy de la Marche. Puymaigre resume: — Très nombreus ses sont dans les vieux recueils les histoires de femmes contrariantes. Etienne de Bourbon res conte l’historiette qui a fourni à Marie de France une fable et à un trouvère le Pré tondu, et et celle dont La Fontaine a fait la Femme qui se noie, Ces deux contes se retrouvent encore dans bien d’autres endroits dans Democritus ridem: (p. 121), dans un très curieux livre espagnol El cor bacho de l’archiprêtre de Talavera (folio XXIII, verso) …Timoneda a répété la Femme qui se noie dans El Sobremesa y alivio de Caminantes conte premier. Teófilo Braga (nota ao 106, A mu lher teimosa, versão do Porto) cita Edelestand do Méril na Histoire de la Fable esopique, segundo Poésies inédites du Moyen Age, p. 154, nota-5, um manuscrito do século XV, na Biblioteca de Bruxelas, onde há a fabula De homine et uxore litigiosa, com o final característico: — Illa, au tem, quia jam linguam amiserat et loqui non potuit, signo quo valuit, pertinaciam ostendit, forcipi formam et officium digitis ostentans. Tivera a língua cortada, o que não ocorre nas versões de Portugal e Brasil, exceto numa que João Ribeiro sintetizou, 258. Em Jacques de Vitry o marido joga a mulher nágua, mergu lhando-a, enquanto ela, toda vez que emerge, ergue os dedos, imitando o gazear da tesoura. Alfredo Apell, Contos Populares Russos, traduziu A mulher teimosa, XXIII, indicando va riantes norueguesas, de Asbjornsen, polaca de Afanasiev (Velikoe Zertsalo) e sérvias. João Ribeiro ensina: — Esta origem anterior à conquista árabe, torna problemática a hipótese de uma fonte asiática. Em nota: — A história é conhecida de russos, alemães, turcos e vários povos. Tanto J. Bédier como R. Kohler e G. Amalfi, dão extensa bibliografia do assunto.

O Pequeno Polegar

E’ versão dos Açores e Porto, Teófilo Braga, opus cit., 94.°, 1, 191.

E’ uma variante do universal Petit Poucet. Tom Pouce, Petit Peucerot bretão, Ptia Paueset loreno, Sikulumé dos negros Bantus, Ngemanduma do Gabão, Tom Thumb inglês, Daumesdiet alemão, Swend-tomling dinamarquês, Thaumetin escandinavo, Maltchick Poltchich eslavo, o Pequeno Polegar da tradição francesa, que Gastão Paris identificava com a Ursa Maior, num mito astronômico e modernamente aposentado.

As 3 lebres, conto infantil de charada

No Brasil, Sílvio Romero publicou uma versão, “O matuto João”, XXXV do “Contos Populares do Brasil”. Teófilo Braga regista uma outra versão, “A princesa que adivinha”, conto 56, com a inicial: — “atirei no que vi, matei o que não vi”, repetida na história brasileira, na italiana de Pittré (“Novelle popolari tos-cane”, o soldatino): — ” Tirai-ai-chi-viddi, Chiappai-chi-non-viddi. “Cosquin, “La prin-cesse et les trois fréres”, (“Contes populaires Lorrains”). Muitbi popular na Espanha, com a presença nos velhos folcloristas. Numa coleção recente, “Cuentos Populares Españoles”, do prof. Aurelio M. Espinosa (Stanford Univer sity, U.S.A.) há quatro variantes, de Córdoba, Toledo e duas de Granada, “El acertijo” (Vol I°, pp. 40, 43, 45, 48.1932). Na versão cordobesa: — “Tiré ar que vi, maté ar que no vi. Em to das, o episódio da visita noturna e guarda de provas. É o Mt. 851 de Aarne-Thompson, The Princess who Cannot Solve tke Riddle, não se ajustando os elementos que constituem as adivi nhações catalogadas no “Motif-Index”, Vol-III E’ conhecida em toda América. J. Alden Mason recolheu três variantes em Porto Rico, “Journal of American Folk-Lore”, vol. XXIXo n.° 752, 753 e 754, p. 497. 1916.

AS TRÊS PERGUNTAS DO REI – Contos de Adivinhação

Gonçalo Fernandes Trancoso, 1515-1596, "Histórias de Proveito e Exemplo", edição antológica pelo prof. Agostinho de Campos, Lisboa pp. 77-90, 1921, XII da coleção, XVII no original.

Teófilo Braga, "Contos Tradicionais do povo Portuguez", pp. 86-89, II» da ed. de 1883, publica um resumo, registando (pp. 157-158, 1°) uma versão popular, "Frei João sem Cuidados". Sílvio Romero recolheu uma variante brasileira de Sergipe, "O Padre sem Cuidados", pp. 250-252, "Contos Populares do Brasil", Rio de Janeiro, 1897. Já era divulgado no século XII, figurando no "Anecdotes historiques, légendes et apologues tirés du recueil inédit d’Etienne de Bourbon", edição de Lecoy de la Marche, comentado pelo conde de Puymaigre, "Folk-Lore", pp. 239-252, Paris, 1885. No conto de Estêvão de Bou-rbon o Rei intima a um sábio para que responda a três perguntas sob pena de multa excessiva. A primeira é: — onde se encontra o centro da terra? Dá o sábio resposta idêntica ao hortelão português. A segunda, quanta átom contêm o mar, foi respondida semelhantemciiU ao que disse o moleiro, na versão popular dl Teófilo Braga, conto 71. No "Patrafiuelo" dl Juan Timoneda, (n.° 14) da época de Tran coso, há igualmente um Rei que recebe o co/.l« nheiro do abade, julgando-o em pessoa, para i i tisfazer a três problemas. O segundo é o mm» mo sobre o centro da terra. O último é a curió j identificação. Franco Sachetti, contemporâneo dl Dante, regista novela 4.a, versão tradicional nu Itália e repetida, com deformações, por Pitré, (1) Imbriani, Michel Zezza. Anderson, reunindo extenso material, publicou o completo "Kaiser und Abt", volume XLII das "Folk-Lore Com munications", Helsinki, Finlândia. É o conhe cido tema "The King and the Abbot" dos fol cloristas ingleses e norte-americanos. Geoffey Chaucer, "The Canterbury Tales."

Na classificação dos tipos de contos popula res, de Antti Aarne, figura como o Mt. 922. No Método, hoje clássico, de Aarne-Thompson, o conto de Trancoso é: — Mt. 922, H685 e H52II, para as respostas. Sobre a medida de altura do céu, não há entre as catalogadas pelo erudito professor da Universidade de Indiana. A ver são popular de Teófilo Braga é: — Mt. 922, H691. 1. 1, H704 e H5241. Todas as respostas estão registadas no volume III do "Motif-Index of Folk-Literature", de Stitt Thompson, colhidas em fontes alemãs e da Europa do Norte. Creio, pelo exposto, que a página de Trancoso i literária, com aproveitamento parcial de uma "estória" corrente na península. A fonte (ouse universalizou é a do conto de Teófilo Braga cujas transformações são encontradas em quási todos os folclores do Mundo. (C. CASCUDO)

AS DOZE PALAVRAS DITAS E RETORNADAS

Ouvi muitas vezes esse conto ao Antônio Portel. Deve ser, esta versão, uma persisténcia da velha história, tão rara em seu enredo total que, nos versões lidas, encontro-a como orações e ensalmos, para agonizantes. Jaime Lopos Dias, “Etnografia da Beira”, III, 131, Lisboa 1929, transcrevé-a, com pequeninas modificações, colhida em Idanha-a-Nova e Monforte da Beira, recomendando-se: — “Para serem recitadas à cabeceira dos moribundos. Quem as começa deve acabá-las sem se enganar e não as deve começar sem as acabar”, na forma do antiquíssimo rosa rio apressado, ainda corrente no interior do Brasil. Joaquim Pires de Lima e Fernando Pires de Lima, “Tradições Populares de Entre-Douro -e-Minho”, Barcelos, 1938, 174, registam o conto como uma oração, a CXIV, com outra disposição estrófica. Na versão beirã é Cristóvão, e na Minhota, Custódio, repetindo-se sempre o: Custódio, sim, amigo, não! No “Cuentos Populares Españoles”, 1, 60, conto — 14, vem “Las doce palabras retorneadas”, um pouco diversa, mas com enredo semelhante à versão portuguesa que ouvi no Brasil. O prof Aurelio M. Espinosa recolheu-a em Cuenca. O anjo da guarda é substituído por S. José. O erudito professor da Universidade de Stanford, na Califórnia, estudou o assunto, dizendo-o de origem oriental, Vêr, “Origen oriental y desarrollo histórico del cuento de las doce palavras retorneadas”, na Revista de Filologia Española, XVTI, 390-413, Madrid.

A MIRRA – Contos etiológicos

Essa versão reforça uma opinião de Gustavo Barroso sobre o ciclo de dom Juan. A lenda, como a conhecemos e tem sido aproveitada em romance, teatro, poema e pintura, é uma con cordância de dois elementos independentes: a) a conquista de mulheres; b) o convidado do morto, caveira, estatua, etc. Esta historieta pertence ao segundo elemento, assim como A Mirrat que Teófilo Braga colheu no Algarve, e A es tatua que come, do Sardoal. (Gustavo Barroso Através dos Folk-lores, S. Paulo, sem data (1927), um thema de folk-lore na litteratura universal, 177-186). O grande folclorista brasileiro comentou La, legenda de D. Juan, Paris, 1911, de Gendarme de Bévotte, um recenseador da bibliografia donjuanina, opinando pelo origem do Don Juan na Andaluzia, dernier champs de bataille de deux races et de deux religions. O prof. Stith Thompson assim considerou igualmente, fixando no motivo C 13 do Motif-Index, the offended skull (statue), relativo ao convidado do pedra, festim de pedra, burlador de Sevilha, etc., ainda separando a refeição com o morto para o elemento E238, Dinner with the decid. Não há mais país europeu ou americano que não possua uma variante.

A caveira, insultada, vinga-se também, falando, conseguindo a morte do agressor ou sua punição. No Brasil, 1’crcira de Costa, Folklore Pernambucano, 99, na Á Trica, entre os Nupe, the talking skull, Leo Frobenius, seleção de Douglas C. Fox, Africam, Génesis, 1(51, New York, 1937, em Angola, em Mbaka, tht ytnmg man and the skull, XLV do Folk-Tales of Angola, de Heli Chateiam, Boston and New York, 1894. Nas duas versões que o prof. Espinosa registou na Espanha, em Deimiel (Ciudad Real) e Granada, El incrédulo y la calavera e El estudiante y la calavera, 79 e 80 do Cuentos Populares Españoles, 1, o convidado é uma caveira, comparecendo porém um cavaleiro. De ambas o rapaz escapa, assombrado e arrependido.

Na estátua que come, Teófilo Braga obtém um elo português na tradição do convidado de pedra. Aristóteles fala na estátua de Mitis, em Argos, que tombou sobre o assassino de quem representava, esmagando-o, La Poetique, cap. IX, 23, trad. de Ch. Emile Ruelle, Paris. Em Lisboa, no ano de 1610, um clérigo obteve a proibição de s. Jorge acompanhar a procissão de Corpus Christi instalado num cavalo. Ante os protestos do povo, o bispo dom Miguel de Castro autorizou a inclusão do santo mas este não perdoou ao intrigante. Ê tradição que, no domingo imediato, quando o clérigo que levara o Prelado a decretar a proibição dizia missa no altar de S. Jorge, caiu ao Santo a lança e feriu-o na cabeça! Jaime Lopes Dias, Festas e Divertimentos da Cidade de Lisboa, p. 22-23, Lisboa, 1940. (Câmara Cascudo)

O simba e os Pombos – Fábulas populares

Conto dos pretos Maputos, versão colhida pelo sr. J. Serra Cardoso, “Moçambique”, n.° 4, Outubro-Dezembro de 1935, Lourenço Marques, pp. 77-80.

Muito popular também no Brasil do nordeste e norte. José Carvalho registou uma variante do Ceará, entre a raposa, as rolinhas e o canção (Cyanocorax cyanoleucus) que desmascara a raposa, “O Matuto Cearense e o Caboclo do Pará”, Belém, Pará, 1930, pp. 85-87. João Ribeiro, “O Folk-Lore”, p. 245, Rio de Janeiro, 1919, narra a história como sendo um apólogo árabe do filósofo Sindabar, entre a raposa, os pombinhos e o pardal, que ensina a vencer a manha vulpina. Há um conto dos negros ‘ Kabilas, que Leo Frobenius registou. O chacal ameaça comer todos os pintos da galinha, subindo ao monte íngreme, se esta não os atirar em certa porção diária. A águia termina com essa tragedia, revelando a mentira do chacal e depois, como a Coruja dos Maputos, levando-o pelos ares e jogando-o de alto, “African Gene sis”, trad. de Douglas C. Fox, p. 83, New York 1937. Aurélio M. Espinosa, “Cuentos Populares Españoles”, III, pp. 493-4, encontrou versões em Toro (León) e Rasueros (Ávila), “La pega y sus peguitos”, “La zorra y el alcaraván”. Neste último repete-se a libertação da ave pelo mesmo processo do “Mocho e a Raposa”, Stanford University, California, 1926. Ha urna variante no “El Conde Lucanor”, exemplo XII. (Câmara Cascudo)

A GRATIDÃO DO LEOPARDO – fábula de animais africanos

Popularíssimo conto entre pretos e africanistas. É o XVIII do Folk-Tales of Angola, de Heli Chatelain, Nianga dia Ngenga ni na Ngo, Boston and New York, publicação do The American Folk-Lore Society, 1894, colhido entre os negros caçadores do Mbaka. Tema universal,, ocorre em quási todos os folclores. A mais antiga versão encontra-se no Panchatantra, assim como no seu resumo, Fabulas de Pilpay, entre o Homem e a Serpente que êle salvara do fogo. A Vaca, a Árvore votaram com a Serpente. A Raposa livrou-o, com o mesmo artifício. Corre mundo desde o ano 570.

J. P. Steel e R. C. Temple, no Wide-Awake-Stories, Bombay e Londres, 1884, recolheram uma versão popular no Panjap. O Tigre, ajudado pelo Brâmane, quer devorá-lo. Árvore, Vaca e Caminho opinam pelo Tigre. O Chacal, pretendendo reconstituir a cena, prende o Tigre para sempre. Couto de Magalhães ouviu o mesmo episodio entre os indígenas brasileiros do idioma tupí, O Selvagem, p. 237, Rio de Janeiro, 1876, onde a Onça, posta em liberdade pela Raposa, quer devorá-la. O Homem manda a Onça voltar ao fosso, deixando-a presa. O prof. Espinosa colheu uma variante em Espanha, Un bien con un mal se paga, León; a Cobra quer morder aq Homem que a salvou do frio. O Asno e o Boi foram pela Cobra mas a zorra (Raposa) exigiu a encenação inicial e a Cobra regressou ao alforge do Homem que a matou, ás pauladas, Cuentos Populares ‘Españolen, III.0, 264.°. Na América Central, dona Maria de Noguera registou El Fallo de tio Conejo, sendo o Boi, ameaçado pelo Tigre, salvo pela astucia do conejo (Coelho) ; Cuentos Viejos, p. 145, S. José de Costa Rica, 1938. Na Argentina, é o sr. Rafael Cano, Del Tiempo de Ñaupa, Buenos Aires, p. 213, 1930, quem fixou o conto, tendo como personagens o Tigre, o Homem e o zorro. Na África Oriental Portuguesa, Moçambique, o padre Francisco Manuel de Castro registou uma variante, ouvida aos pretos Macuas e transcrita pelo jornalista brasileiro Amon de Melo, Africa, p. 240, Rio de Janeiro 1941. O Perú’ Bravo, solto de uma armadilha pelos meninos Narrapurrapu e Nantetete, filhos de Moxia, ia comê-los quando o Coelho duvidou que êle tivesse cabido dentro da armadilha. O Peru Bravo, desafiado, voltou à prisão e ainda lá deve estar. Leo Frobenius, no African Génesis, seleção de Douglas C. Fox, p. 163, New York, 1937, tem uma versão dos negros Nupes do Sudão. O caçador livrando um crocodilo de morrer fora do Niger está condenado a morte. Asubi (esteira colorida do Kutigi) e um pedaço de pano, votam a favor do Crocodilo. O Boaji (almíscar) obtém a representação da cena e deixa o crocodilo no seco, escapando o Homem.

Encontrei uma versão brasileira no Nordeste, registrando-a no meu Contos Tradicionais do Brasil. E’ o Mt. 155 de Aarne-Thompson The Ungrateful serpent Returned to Captivity ainda conhecido na Alemanha, Itália, Estônia, Finlândia, Lapônia, Dinamarca, Flandres, Sicília e entre os pretos da Hotentócia. (C. CASCUDO)

A RAPOSA E O MOCHO e A Raposa e o GALO – Fábulas de Animais

Muito conhecida nos fabulários de Portugal e Brasil, onde o mocho é substituído pelo canção (Cyanocorax cyanoleucus). Nas versões espanholas de León e Ávila, colhidas pelo prof. Au relio M. Espinosa ("Cuentos Populares españoles", III, números 258 e 259) o alcaraván escapa fazendo o zorra gritar: Alcaraván comi! Aoredor do tema, o animal captor persuadido que deve falar, deixa a vitima fugir, há longa biblio grafia, variantes estudadas em vários folclores K 561.1 no "Motif-Index" de Stith Thompson encontrando-se em Chauvin, como de origem ábe, no velho poeta inglês Chaucer (segundo Robinson), entre os negros americanos, Cab Verde, Jamaica, Hotentócia. Maior indicação de fontes na relação que acompanha os "motivos" Mt. 6, (o animal preso pergunta ao captor a direção do vento); Mt. 122 (o lobo perde a presa que lhe pediu para que examinasse o passaporte, etc; que o olhasse de face, que cantasse, etc): uma pausa para orar, Mt. 227. É corrente em toda Europa nessas diferentes modificações.

O POTE DE AZEITE – Poema de Gil Vicente

Gil Vicente, Auto de Mofina Mendes, representado ante elrei dom João III, nas matinas do Natal, na era do Senhor, 1534. Obras de Gil Vicente, dirigida pelo prof. Mendes dos Remédios, I, 13-14, Coimbra, 1907.

Gil Vicente, o primeiro folclorista de Portugal e o maior documentário vivo da etnografia portuguesa, retirou, naturalmente da tradição oral, o tema da Mofina o seu pote de azeite, 144 anos antes que La Fontaine (1678) divulgasse La laitière et le pot au lait. Sua universalidade, literária e popular, constituiu assunto de uma aula de Max Muller no Instituto Real, em 3 de Junho de 1870, Sur la migration ães fables, tradução francesa de Georges Perrot, Essais sur la Mythologie Comparée, Paris, 1874, 417-467. Da índia, com o Panchatantra, aparece o brâmane Svabhâvakripana partindo o pote de arroz na, suposição de castigar o filho hipotético, depois de enriquecer e casar-se magnificamente. Passa ao Hitopadexa, onde o brâmane Devaxar-man espatifa a escudela de farinha e mais os vasos do oleiro em cuja casa descansava, sonhando disciplinar suas quatro esposas, fabula VII, Sandhi, na versão portuguesa de mons. Sebastião Rodolfo Dalgado (Lisboa, 1897, 233). A mesma estória figura na tradução do "Panchatantra" que Barzúyeh fez do sânscrito para o pehlvi, denominando sua seleção de contos Kalila e Dimna, no século V. No século VIII Abdal-lah-ibn-Almokaffa verteu o Kalila e Dimna para o árabe. Continua um religioso a quebrar seu pote, desta vez cheio de óleo, querendo punir um problemático filhinho. Em 1250, o Kalila e Dimna, também chamado Fabulas de Bidpai. veio do árabe para o hebreu, por um judeu Joel. Desta tradução hebraica, nasceu o livro de outro judeu, João de Capua, de 1263 a 1278, Directo-rium humanae vitae alias Parabolae Antiquorum Sapientum, tornando familiar e querido aos leitores ilustres no correr do século XIII. É um eremita que rebenta a vasilha de mel, planr jando fortunas e desejando educar, à força do bastão, um filho recalcitrante: percutiam eum isto bacio et erecto báculo aã percutiendum per-cussit vas mellis et ipsum et defluxit mel super caput ejus. Não interessa, à espécie portuguesa e brasileira, a extensa bibliografia alemã, latina, francesa, italiana, toda irradiante dos volumes citados. Os castelhanos tiveram um Calila é Dymna em meiados do século XIII, feita ou mandada fazer por dom Afonso, o Sabio, em 1251. Outra versão castelhana é o Exemplaria contra los enganos y peligros dei mundo, Burgos, 1493, I vulgarizando o título para Cadyna Dyna, Dina, y Cadina, repetido nos versos do Cancioneiro de Baena. É dessa época o Livro do Conde Luca-nor, de dom João Manuel, coleção de 51 "enxem plos", a maioria tradução ou adaptação do Directorium humanae vitae e que figurava na livraria del-rei dom Duarte. No Conde Lucanor (VII) já o religioso é substituído por Dona Tru-hana, que vai vender um pote de mel e parte a bilha, vendo-se imaginariamente rica, poderosa, cercada de filhos e noras amáveis.

Ao lado dessa corrente cultural borbulhava a estória contada de geração a geração, na força impetuosa da oralidade, trazida por mil modos, traficantes, contrabandistas, cruzados, manuscritos desaparecidos, sermonários, etc. (CASCUDO

Fonte: Os melhores contos Populares de Portugal. Org. de Câmara Cascudo. Dois Mundos Editora.

O pajem da Rainha

Padre Francisco Saraiva de Sousa, Báculo pastoral de flores de exemplos colhidos de varia e authentica historia espiritual sobre a Doutrina Christã, Officina de Antonio Pedroso Galrão, Lisboa, 1657, 1, 148. Há um resumo clareado por Teófilo Braga, Contos Tradicionais do Povo Portuguez, II, 174, edição de 1883.

Puymaigre, analisando o livro de Lecoy de la Marche, Anecdotes historiques, legendes et apologues tirés du recueil inédit d’Etienne de Bourbon, Paris, 1881, comentou o tema do exemplo acima transcrito. Etienne de Bourban era dominicano e contemporâneo de Luis IX, São Luis de França, 1215-1270. Já encontrou popular a lenda, registando-a, talqualmente a conhecemos. Schiller aproveitou-a numa balada famosa, Der Gang nach dem, Eisenhammer, onde um pajem do conde de Saverne, invejado por seu companheiro Roberto, é mandado perguntar a uns ferreiros se já cumpriram as ordens do senhor, senha para ser arrojado aos fornos. Fridolino, o pajem, fica ouvindo uma missa e Ro-

berto, impaciente, vai perguntar aos ferreiro o destino da ordem comital, sofrendo castigo me recido. Gastão Paris estudou o conto, desde sua origem oriental até a multiplicação temática euro peia, Romania, tomo V, 254. Em Portugal, in forma Puymaigre, o assunto é tratado por Fran cisco da Fonseca Benevides, Beynas de Portugal, 1, 178, e Gonçalo Fernandes Trancoso, no século XVI, incluiu-o no seu Os tres conselhos. O mot domo-mor, caluniado, leva a carta de Urias, como a chamamos, e será enforcado pelo destinatário. Cumprindo um conselho, dorme onde a noite o alcançou e um preto, que o hospedara, substi tuiu-o, entregando a missiva e sendo justiçado. Ocorre ainda na Historia de la vida, muerte. milagros, coronacion y trasladou de santa Isabel, sexta reina de Portugal, por dom Fer nando Correa de Lacerda, Lisboa, 1680. O avô materno del-rei dom Dinis, Afonso X de Castela e Leão, o Sabio, (cant. 78) já contara o facto no seu Cantigas o looreos y milagros de Nuestra Senora, relatando-o como de um conde de To losa. Timoneda, do tempo de Fernandes Trancoso, registou-a no Patranuelo, XVII. Uma das fontes incontestadas é o Katha-Sarit- Sa gara, Somadeva-Batta, Ocean of the streams of Story, reunião de lendas, mitos e tradições indianas. Emanuel Cosquin, Estudes Folklorique s(recherches sur la migrations des contes populaires et leur point de départ). Paris, 1922, 75>, igualmente regista, dando um elemento para 0 Motif-Index of Folk-Literature, do prof. Stith Thompson, J 21.17, Stay at church untill mass is finished, IV, 15. (CASCUDO

Comida sem Sal

Foi-me contada por Antônio Portel. Teófilo Braga e Consiglieri Pedroso recolheram outras versões, "O sal e a agua" e "Pedro Cortiçolo". Sílvio Romero, em Sorgipe, colheu uma variante brasileira, "Rei Andrada", bem diversa, por ter a princesa sonhado que o pai havia de beijar-lhe a mão e foi expulsa. Aurélio M. Espinosa encontrou variantes espanholas em Soto La Marina, Santander, "Como la vianda quiere a la sal" e "La zamarra", em Cuenca, "Cuentos Populares Españoles", II, números 107 e 108. Têm filiado esse conto á tradição bretã do rei Lear, o rey heir do "Livro de Linhagens", do século XIV. O episodio que deu assunto ao "King Lear" de Shakespeare, é narrado em livro posterior, o "Fairie Queene" de Spenser, 1587, onde a filha-mais-moça diz querer ao pai como deve uma filha.

História de João e Maria

Não há país europeu que não tenha uma variante desse conto de João e Maria. Em Portugal, além desta versão, conheço as de Teófilo Braga, As crianças abandonadas, O afilhado de Santo Antônio, ambas de Airão, as de J. Leite de Vasconcelos, de Guimarães e Vila Real, as regis tadas por Z. Consiglieri Pedroso e Adolfo Coelho, a versão brasileira do Rio de Janeiro e Sergipe João mais Maria, colhida por Sílvio Romero, sobre cujas variantes estrangeiras escreveu Oscar Nobiling erudito ensaio; ver o meu Antologia do Folk Lore Brasileiro. É o Hansel und Grethe dos irmãos Grimm, também corrente na Africa do Norte, em Marrocos (Ouad Souss) onde A Socin e H. Stumme registaram uma versão igual. P. Saintyves resumiu muitas variantes da Europa no Les Contes de Perrault et les récits paralléles 276-281.

Mt. 327 de Aarne-Thompson, The Children and the Ogre, A: conhecido em toda América latina, na América Indiana, segundo Stith Thompson, entre os negros da Jamaica, nos estudos de Beckwith, Memoirs of the American Folk-Lore Society, XVII. (Câmara Cascudo)

Maria Sabida – Charles Perrault

Ë a Maria Sutil, Dona Vintes, Dona Esvin-tola, popularíssima em Portugal onde dom Francisco Manuel de Melo a citava: Eu cuido que vireis a ser aquela

…Dona atrevida, Doce na morte E agra na vida

que nos contam quando pequenos. Ë a Dona Pinta, o XII da coleção que Sílvio Romero coligiu no Brasil, versão de Sergipe. Silva Campos divulgou uma outra, do recôncavo baiano, O rei doente do mal de amores, LXIX do Contos e Fabulas Populares da Bahia no O Folk-Lore no Brasil, de Basílio de Magalhães, Rio de Janeiro, 1928. O prof. Aurelio M. Espinosa registou quatro variantes, em Espanha, La mata de alba-haca, Toledo, Segóvia e Granada, e Las très hijas dei sastre Burgos, 1, 2, 3 e 4. Na terceira, de Granada, há o dito: Ay, Mariquilla, durce tienes la muerte y agria la vida. Na Dona Pinta: Ah! minha mulher, si depois de morta estás tão doce, que faria quando eras viva! Perrault deu expressão literária a esse conto no Adroite Princesse ou Aventures de Finette.

 

Os quatro ladrões – Contos e Lendas Populares

mapa roma itália

É lição de Teófilo Braga, copia do "Orto do Sposo" de Frei Hermenegildo de Tancos, século XIV, fl. 105-verso.

Muito aproveitado é esse tema em Portugal e Brasil. Eça de Queiroz utilizou-o no "O Tesoiro" ("Contos"), personalizando os ladrões nos fidalgos Rui, Guannes e Rostabal, com a arca de ouro na mata de Roquelanes, nas Astúrias, Constitue um episódio .no romance de Rafael Sabatini, "Captain Blood’s Return", com ampla divulgação para leitores de aventuras imagi narias.

Contos de Exemplo – Os melhores contos Populares de Portugal

E’ um dos contos antigos e amados na península ibérica. Da origem oriental atesta o livro do “Conde Lucanor”, de dom João Manuel, século XV, onde (Exemplo XXXVI) um mercador compra um conselho: -— “quando ficardes em cólera, querendo agir inconsideradamente, demorai até o conhecimento da verdade”.

As três fiandeiras – Fábulas irmãos Grimm

História de Antônio Portel. Versões portuguesas em Teófilo Braga, "As fiandeiras", em Consiglieri Pedroso, "As tias". Braga regista bibliografia, P. Kennedy, " Fire Side Stories * of Ireland", Basile no "Pentamerone", versão norueguesa de Asbjornen e Moe, sueca de Caval-lius e Stephens, alemão nos irmãos Grimm, n.° 14, "As três’fiandeiras", etc. No Brasil há a variante "A devota das almas", LXXVIT do "Contos e Fabulas Populares da Bahia", de João da Silva Campos.

Velho do saco – História da Carochinha

O SURRÃO

ERA uma vez uma pobre viúva, que tinha só uma filha que nunca saía da sua beira; outras raparigas da vizinhança foram-lhe pedir, que na véspera de S. João deixasse ir a sua filha com elas para se banharem no rio. A rapariga foi com o rancho; antes de se meterem no banho, disse-lhe uma amiga:

 Tira os teus brincos e põe-os em cima duma pedra, porque te podem cair na água.

A VERBA DO TESTAMENTO

COMO se conta de um homem, que tinha uma filha bastarda; quando veio a hora da morte, fez um testamento e disse: — Leixo a foam por meu herdeiro, e mando que dê a ‘inha filha, pêra seu casamento tudo aquilo que êle quiser de minha fazenda.

AS IRMÃS INVEJOSAS – Conto popular

irmãs invejosas

UM rei mancebo, de idade de vinte e dois anos, virtuoso e casto, que até esta idade não tinha conversação de mulher alguma, requerido dos seus que casasse, para que houvesse filhos que sucedessem no reino, e desejoso de achar na sua própria terra mulher para isso, recusava o casamento de muitas mulheres forasteiras que lhe traziam.

Mais vale quem Deus ajuda do que quem cedo madruga…

UM sapateiro remendão trabalhava noite e dia e mal podia sustentar a mulher e os filhos Começava na tarefa pela madrugada, com luz candeia, e ia até ao anoitecer, ganhando pouco sustento para os seus.

Uma madrugada já estava êle batendo sola quando passou um comerciante rico e muito cari doso e reparou naquele sapateiro trabalhando ain da com estrelas no céu. Ficou com piedade do ho mem e resolveu ajudá-lo. Mandou, por um criado, um bolo, todo recheiado de moedas de ouro, sem dizer quem mandava.

O Doutor grilo – contos de exemplo

O DOUTOR GRILO

ERA uma vez um camponês que tinha um filho muito ladino mas muito preguiçoso. De tanto viver deitado, sem nada fazer, irritou-se o pai e pô-lo para fora de casa. O rapaz, que se chamava João Grilo, foi parar a uma cidade. Nos arredores viu muitos cavalos amarrados aos postes, animais que traziam coisas para vender ao mercado da cidade.

O CAMAREIRO DO REI – Contos com Moral

ERA uma vez um rei muito amigo dos seus camaristas, e prometeu a cada um um dote para &e casarem. Um deles quis ir viajar para escolher mulher que fosse linda, esperta e honrada. Chegou a uma grande quinta, e logo nos primeiros degraus que davam para a casa encontrou uma menina linda a mais não ser. Pediu pousada, e veio um velho lavrador que o recebeu com boas maneiras e foi-lhe mostrar a casa:

O boi bragado – contos de exemplo

É versão simples de um conto muito popular em Portugal. Boi Cardil na ilha da Madeira e no Algarve (Teófilo Braga), Boi Rabil em Coimbra, registado por Adolfo Coelho. Em ambas as versões há versos, sendo em formapoética a madeirense, Contos Tradicionais do Povo Portuguez, 58.°, Contos Populares Portuguezes LVI, Romanceiro do Archipelago da Madeira, p. 273. No Brasil, encontrei uma versão no Natal Querino, vaqueiro do rei, e outra foi-me enviada das Alagoas, O boi leição, figurando ambas no meu Contos Tradicionais do Brasil. Na Espanha ha El toro barroso, de Soria, 48.° do Cuentos Populares Españoles do prof. Espinosa. Teófilo Braga, notas, II, 207-208, indica bibliografia. Versões semelhantes são apenas a siciliana de Laura Gonzenbach, uma cabra em vez do boi, o Scheik Chehabeddin no “Quarenta Visires”! Os demais parecem variantes. A origem oriental está notoriamente documentada. Fábula V da terceira “Noite” de Straparola.

Os Dois Mágicos – Contos de Encantamento

Teófilo Braga registou três versões desse conto, 9, 10, e 11 de sua coleção, O Mágico, O mestre das artes, O aprendiz do mago, procedente do Algarve, São Miguel e Eixo, em Aveiro. Adolfo Coelho tem O criado do Estrujeitante, XV, de Ourilhe, Celorico de Basto, e Consiglieri Pedroso o de n.° XLV. No Contos Populares do Brasil, Sílvio Romero colheu uma variante pernambucana, O Pássaro Preto. Alfredo Apell traduziu a variante russa, A ciencia manhosa, expondo resumos do mesmo tema, com modificações, nos idiomas valáquio (Schott), sérvio (Wuk), grego (Hahn), alemão (Grimm), inglês (Brueyre). Figura na fábula 5, oitava das Notte Piacevoli, de Straparola. Citando os comentários de Benfey à Pantchatantra, Apell indica um conto mongólico com as transformações sucessivas, elemento caracterizante. No Mil e uma Noites, na história do segundo calender, há uma luta entre a princesa Dama da Beleza e um gênio, neto de Eblis, rei dos gênios, com processo idêntico, no ataque e defesa sobrenaturais. Beckwith encontrou uma variante na Jamaica. É o Mt. 325 de Aarne-Thompson, The Magician and his Pupil. (C. CASCUDO)

A DAMA PÉ DE CABRA – Conto popular medieval português

Da Selecta Clássica, João Ribeiro, 80-82, Rio de Janeiro, 1931. A fonte é o livro de Linhagens do conde D. Pedro, no episódio que Alexandre Herculano divulgou literariamente no Lendas e Narrativas, a conhecida Dama Pé de Cabra, romance de um jogral, século XI. Em 1646, em Madrid, publicou-se a tradução castelhana do Nobiliário dei Conde de Barcellos D. Pedro, hijo delrey D. Dinis de Portugal, por Manuel de Faria e Sousa, onde o exemplo figurou, em sua pureza tradicional, espalhando-se que a moça tenia pies, o pie, que parecia de cabra. Em 1856, a Academia de Ciências de Lisboa imprimiu, no Portugaliae Monumenta Histórica, Scriptores, titulo IX.0 (Os Livros de Linhagens), o Livro de Linhagens do Conde D. Pedro. O dr. Joaquim Pires de Lima, Tradições Populares de Entre-Douro-e-Minho, estudou esse tema, a ectrodactilia na lenda, referindo outra lenda semelhante, em Marialva, que seria primitivamente Maria Alva, dama de pês caprinos, assassina dos amantes.

Lenda do Lobisomem – Conto de Terror

lobisomem fotos, lobisomem vídeo, lobisomem filme, lobisomem imagens

Licantropo na Grécia Versiopelio em Roma, Volkdlak eslavo, Werwolf saxão, Wahwolf germano, Oboroten russo, Hamramr nórdico, Loup-garou francês, lubishomem, Lobo-homem, lubizon, luvizom, labishomem em Espanha. Portugal e todo continente americano. N’Africa sobrevive a tradição sagrada das transformações animais. Henri A. Junod conta, ouvido ao preto S. Gana Nkuna, que um marido, desconfiado que a mulher era feiticeira, feriu-a com a azagaia, durante o sono. Mal o golpe atingiu a perna da adormecida, ouviu-se o uivo da hiena e foi este animal que se avistou, no lugar da esposa. No outro dia o marido deparou a mulher dormindo na floresta. Estava ferida na perna. "The Life of a South African Tribe", 2, p. 263-264. Na Ásia sobrexiste o mesmo. Citando o folclore chinês de Leon Wieger Gustavo Barrozo narra que no distrito de Tcheng-Ping, do Kian-Tcheu, um aldeão fora atacado por um lobo, subindo a uma árvore para livrar-se do assalto. O animal ainda abocanhou-lhe a calça mas fugiu, alcançado por uma machadada na cabeça. Depois soube que um seu velho amigo estava ferido na cabeça e com fiapos da calça na dentuça, "O Sertão e o Mundo", p. 57-73.

Os corcundas – conto irmãos grimm

É um registo de Teófilo Braga, opus cit., I.°, p. 177. Cita, nas notas, Gubernatis, "Botanique Zoologique", C. 3, II, p. 2(49, que alude a um livro de Pedro Piperno, "De Nuce maga bene-ventana", do século XVII.

O CASTELO DA MADORNA – Os melhores contos populares de encantamento

Fonte: Os melhores contos Populares de Portugal. Org. de Câmara Cascudo. Dois Mundos Editora.

O CASTELO DA MADORNA

Era uma vez um casal que não tinha filhos e muito os desejava ter. Foi uma grande alegria quando a mulher disse que esperava criança, o pai preparou enxoval e nasceram dois meninos bonitos e robustos que eram de encantar. Nesse mesmo dia, na estribaria, a egua teve dois poldri nhos, uma cachorra dois cachorrinhos, e brotaram dois pés de laranjas no jardim. Os meninos eram gêmeos e tinham a mesma cara. Cresceram jun tos e amigos inseparáveis. Cada um possuía um cavalo, um cão e uma laranjeira.