O DOUTOR GRILO
ERA uma vez um camponês que tinha um filho muito ladino mas muito preguiçoso. De tanto viver deitado, sem nada fazer, irritou-se o pai e pô-lo para fora de casa. O rapaz, que se chamava João Grilo, foi parar a uma cidade. Nos arredores viu muitos cavalos amarrados aos postes, animais que traziam coisas para vender ao mercado da cidade. João Grilo escolheu o cavalo mais robusto, de samarrou-o e escondeu-o num bosque. Depois foi ao mercado e disse que vivia de adivinhar as coisas perdidas. Ninguém fez reparo do que dizia. Mais tarde, na hora em que a feira acabou, os homens foram voltar e um deles não encontrou o seu cavalo e debalde o procurou pelas cercanias. Cansado, lembrou-se de João Grilo e procurou-o. Respondeu o rapaz que só adivinhava por uma moeda de ouro. O homem aceitou e o Grilo deu umas voltas, pulando, falando baixo, e saiu às carreiras como doido. Voltou e disse que o cavalo estava no bosque, preso a uma arvore. O homem achou o animal e deu uma moeda de ouro ao adivinhão.
Aconteceu que o Rei era muito rico e ciumento das jóias que possuía. Roubaram-lhe um anel, um dos mais bonitos e preciosos, e o rei ficou desesperado por não prender os ladrões. Soube que o Doutor Grilo morava na cidade e mandou-o buscar, de carruagem, para o palácio. O Doutor Grilo veio, quási preso, e certo de que era o fim de sua vida. Quando chegou, desceu da carruagem e levaram-no à presença do rei que lhe disse:
— Mandei-o chamar para que descubra onde está o meu anel que roubaram. E’ anel de estimar tão e valia. Dou-lhe três dias para o achamento» ne o encontrar, ganhará uma bolsa de ouro, e se não o descobrir, ganha a forca. Fique avisado.
O Doutor Grilo ficou muito aflito. Meteram-no em um quarto muito grande e bonito e traziam-lhe comida variada. O rapaz só se lembrava de que tinha de ser enforcado ao fim do terceiro dia. Quando trouxeram os pratos do jantar, o Doutor Grilo foi comendo e dizendo: cá está o primeiro…
O criado ficou todo assustado e retirou-se. Era um dos ladrões do anel, ajudado por outros dois criados da copa. No jantar do segundo dia o Doutor Grilo suspirou, dizendo bem alto: cá está o segundo. Só falta o último…
O segundo criado, cheio de terror, correu a avisar os cúmplices do que sucedera. O Doutor Grilo adivinhara tudo e era melhor um acordo. Vieram os três, confessaram o furto, prometendo uma bolsa de ouro se o rei não fosse informado.
— Onde está o anel? perguntou o Grilo; onde o esconderam?
Os ladrões o foram buscar e deram ao rapaz, que o meteu debaixo de uma tábua solta do soalho no corredor.
Pela manhã, pediu para ver o rei e foi logo dizendo onde estava o anel. O rei ficou radiante mas, como era muito avarento, quis experimentar
a sorte para ver se não pagava ao Grilo. Convidou-o para jantar em sua companhia. No fim dal refeição apareceu uma terrina coberta. O rei per guntou:
— Diga-me lá o que é que tem cá dentro? O rapaz, todo atrapalhado, respondeu, muito triste:
— Ah Grilo! Onde te meteram!…
O rei desatou a rir, dizendo: — Acertou!
Dentro da terrina estava um grilo.
Deu-lhe uma bolsa cheia de ouro e mandou-o embora na carruagem. O rapaz ainda recebeu ou tra bolsa dos três criados e foi para a companhia do pai já rico, não querendo mais fiar-se nas adi vinhações.
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Ouvi esse conto ao Antonio Portel, várias vezes. É o mesmo assunto do "Doutor Grilo" da Adolfo Coelho, "Contos Nacionais para Crianças", XVII, o "João Grilo" de Z. Consiglieri Pedroso, "Contos Populares Portuguezes", LV o "João Ratão ou Grillo" de Teófilo Braga "Contos Tradicionais do Povo Portuguez", n. 72, divulgadíssimo na literatura oral português
Alfredo Apell, "Contos Populares Russos (Lisboa, s, d, (1920), confronta três versões russas, "A mulher que adivinha", "As pérolas roubadas" e "O adivinhão", II, III e IV, co: os semelhares europeus e asiáticos, citando cotos sânscrito (coleção de Somadeva) , em ca muco, russo, lituano, alemão, francês, noruegues italiano (siciliano), anamita, indú (dos camaó-nios), etc, além das facécias clássicas de Strapa-rola e Poggio, séculos XIV e XV.
É ainda popular na Inglaterra e países da fala alemã, Doctor Know-All ou Doktor Allwis-sen, Grillet, Krebs, Crab. É o Mt. 1641 de Aarne-Thompson. Os "Motif-Index" registam perfeitamente os elementos característicos da versão que recolhi no Brasil mas narrada por português. São: K. 1956.6, encontra o cavalo que êle próprio escondera; N. 611, diz casualmente, este é o primeiro, referindo-se a outra cousa e o ladrão denuncia-se; N. 611.1, adivinha o que está oculto no prato, dizendo seu próprio nome, coincidindo com o objeto, caranguejo, grilo, etc. Ocorre nos "Contos" de Grimm, n.° 114 e 98, popular igualmente na Europa do norte e leste.
Fonte: Os melhores contos Populares de Portugal. Org. de Câmara Cascudo. Dois Mundos Editora.
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