O que é a alma? Definição de alma, por Padre Antônio Vieira

A alma

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Quereis ver o que é uma alma? Olhai, diz Santo Agostinho, para um corpo sem alma. Se aquêle corpo era de um sábio, onde estão as ciências? Foram-se com a alma, porque eram suas. A retórica, a poesia, a filosofia, as matemáticas, a teologia, a juris­prudência, aquelas razões tão fortes, aquêles’ discursos tão dedu­zidos, aquelas sentenças tão vivas, aquêles pensamentos tão subli­mes, aquêles escritos humanos e divinos que admiramos, e excedem a admiração; tudo isto era a alma. Se o corpo era de um artífice, quem fazia viver as tábuas e os mármores? Quem amolecia o fer­ro, quem derretia os bronzes, quem dava nova forma e novo ser à mesma natureza? Quem ensinou naquele corpo regras ao fogo, fecundidade à terra, caminhos ao mar, obediência aos ventos, e a unir as distâncias do universo e meter todo o mundo venal *) em uma praça? A alma. Se o corpo morto é de um soldado; a ordem dos exércitos, a disposição dos arraiais, a fábrica dos muros, os engenhos e máquinas bélicos, o valor, a bizarria, a audácia, a hon­ra, a vitória, o levar na lâmina de uma espada a vida própria e a morte alheia: quem fazia tudo isto? A alma. Se o corpo é de um príncipe; a majestade, o domínio, a soberania, a moderação no prós­pero, a serenidade no adverso, a vigilância, a prudência^ a justiça, tôdas as outras virtudes políticas com que o mundo se governa: de quem eram governadas, e de quem eram? Da alma. Se o corpo é de um santo; a humildade, a paciência, a temperança, a caridade, o zêlo, a contemplação altíssima das coisas divinas, os êxtases, os raptos, subindo o mesmo pêso do corpo, e suspendido no ar; que maravilha! Mas isto é a alma!. ..

Finalmente, os mesmos vícios nossos nos dizem o que ela é. Uma cubiça que nunca se farta; uma soberba que sempre sobe; uma ambição que sempre aspira; um desejo que nunca aquieta; uma capacidade que todo o mundo a não enche, como a de Ale­xandre; uma altiveza, como a de Adão, que não se contenta menos que com ser Deus; tudo isto que vemos com os nossos olhos, é aquêle espírito sublime, ardente, grande, imenso — a alma. Até a mesma, formosura, que parece dote próprio do corpo, e tanto arrebata e cativa os sentidos humanos; aquela graça, aquela pro­porção, aquela suavidade de côr, aquêle ar, aquêle brio, aquela vida; que é tudo isso senão a alma? E, senão, vêde o corpo sem alma. Aquilo que amáveis e admiráveis não era o corpo, era a al­ma: apartou-se o que se não via, ficou o que se não pode ver. A alma levou tudo o que havia de beleza, como de ciência, de arte, de valor, de majestade, de virtude; porque tudo, ainda que a alma se não via, era a alma.

P. Antônio Vieira

Fonte: Seleta em Prosa e Verso dos melhores autores brasileiros e portugueses por Alfredo Clemente Pinto. (1883) 53ª edição. Livraria Selbach.

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