O Rio Grande do Norte


O Rio Grande do Norte

A entrada desta cidade apresenta uma vista pitoresca e agra­dável a quem vem do Norte; os palmares que bordam o rio de um e outro lado, oferecem um aspecto muito mais belo do que as som­brias linhas de verdura da costa do Pará, ou os intermináveis len­çóis de areia das costas do Ceará. Cada palmeira parece uma coluna, e é realmente gracioso o avistar por entre essa imensa co­lunata uma ou outra habitação coberta pela verdejante coma das palmeiras.

Não satisfeito com o belo quadro dos palmares que tinha à vista, cometi a loucura de pensar em comer côcos frescos.

Saltei alegremente para terra, acompanhado de um filho e da criança que me fôra recomendada, decidido a vir para bordo com uma carregação de côcos; mas qual foi o meu espanto, quando su­pondo que com a maior facilidade obteria os desejados frutos, per­corri numerosas casassem os Começava já a supor in­

frutíferos os coqueiros do Rio Grande do Norte, quando me indi­caram a casa do caram a casa do sr. Gotardo, como única que poderia reabilitar em meu conceito tão festiva terra; dirigi-me à habitação indicada, e batendo à porta, que estava semi-aberta, uma voz sonora me res­pondeu na língua ainda mais sonora de Virgílio: “lngredere” [1]).

Fiquei extático! Encontrava no Rio Grande do Norte um homem que falava latim, como qualquer de nós fala o português.

Entrei cismando em qual seria dos cumprimentos usados na­quele idioma o que deveria aplicar na presente conjuntura; apenas me ocorreu dizer-lhe: “Bene vales?” [2])

E êle, o último dos Romanos do Brasil, respondeu-me natu­ralmente, como responderia Cícero: “Vales!”[3]).

Deixo ao leitor o avaliar a minha embaraçosa situação na presença de um homem disposto a só querer falar uma língua morta. A primeira dificuldade para mim, que queria côcos, era saber o nome dêste fruto em latim. Linneu [4]) era que me poderia valer com a sua nomenclatura botânica-latina, mas a memória pre­gava-me a peça de me abandonar naquele angustiado momento. Afinal cedi à fôrça das circunstâncias, e resolvi falar-lhe na ver­nácula linguagem portuguêsa, exprimindo-lhe a necessidade que tinha de alguns côcos. Êle, benèvolamente deixando sossegados os manes de Tito Lívio [5]) e de Horácio[6]), respondeu-me na lín­gua por mim empregada, que ia ser servido.

Ordenou em seguida que me acompanhassem ao palmar e dissessem ao Zé Velho que apanhasse os côcos que eu precisasse, recebendo em troca oitenta réis para cada um; decididamente o homem pagava-se nos côcos da lição de latim.

J. C. da Gama e Abreu {Barão de Marajó)


[1] Ingedere — Entre.

[2] Bene vales? — Passas bem? — O verbo valere por si só significa gozar saúde, passar bem; o advérbio bene portanto antes de vales é um peonasmo vicioso.

[3] Valeo — vou bem.

[4] Linneu — naturalista suéco (1707-1778).

[5] e 5) Tito Lívio, Horácio — escritores latinos.

6) Aléia — forma aportuguesada da palavra francesa — alléa. Em

Fonte: Seleta em Prosa e Verso dos melhores autores brasileiros e portugueses por Alfredo Clemente Pinto. (1883) 53ª edição. Livraria Selbach.

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