Paracelso

 

PARACELSO

(Felipe Auréolo
Teofrasto Bombasto de Hohenheim)

Antes de iniciar nosso pequeno
tratado de Botânica Oculta ou seja, o estudo das plantas
mágicas — baseado nas teorias do magno Paracelso, do divino Paracelso,
conforme, muitos o chamam, pedimos vênia para traçar, ainda que em largas
pinceladas, o perfil do famoso alquimista, do célebre médico revolucionário.

Este homem genial, uma dás figuras
mais proeminentes que surgiram nos albores da Renascença, nasceu em Einsiedein
(1) no dia 10 de novembro de 1 493. Na pia batismal recebeu o nome de
Teofrasto, em memória do pensador grego Teofrasto Tírtamo, de Éreso, por quem o
doutor Hohenheim, pai do nosso biografado, nutria profunda admiração.

O nome de Felipe lhe foi acrescentado,
sem dúvida, posteriormente, pois é certo que Paracelso jamais fez uso do
mesmo; a alcunha de Aureolus deve ter sido dada por seus admiradores nos
últimos anos de sua vida, de vez que até 1 538 não o encontramos em nenhum
documento relacionado com sua pessoa. Quanto ao nome famoso de Paracelso, existe
a opinião de que o mesmo foi dado por seu pai quando ainda jovem, querendo com
isto demonstrar que na ocasião já era mais sábio do que Celso, médico célebre
contemporâneo do imperador Augusto e autor de um livro de medicina muito mais
avançado de quantos havia em sua época.

Já a partir do ano de 1 510 ficou
conhecido pelo nome de Paracelso e, embora muito raramente o incluísse
em sua assinatura, é certo que o estampou em suas grandes obras filosóficas e
religiosas; do mesmo modo seus discípulos o chamavam de Paracelso, nome
que sempre apareceu nas controvérsias e nos ataques injuriosos de que foi vítima.

Paracelso
Biografia in As plantas Mágicas – Botânica Oculta. Ed. Hemus. Tradução de Attílio Cancian

INFÂNCIA
DE PARACELSO

Paracelso era uma criança
baixinha, doentia e com tendência ao raquitismo, razão por que exigia os
cuidados mais esmerados, que lhe eram dispensados pelo seu próprio pai, que
nutria por ele uma afeição muito grande. O Dr. Hohenheim atribuía uma importância
extraordinária aos efeitos salutares do ar livre respirado em plena natureza;
por isso, quando o rapaz estava já crescido, fez dele seu companheiro de
excursões, conseguindo desta maneira robustecer-Ihe o corpo e enriquecer-lhe o
espírito.

Foi nessas andanças que Paracelso
aprendeu os nomes e as virtudes das ervas e plantas medicinais bem como os
diversos modos de usá-las; conheceu os venenos e seus antídotos da mesma forma
que a arte de preparar toda espécie de poções medicinais.

Nessa época,
na Europa a Farmácia não era ainda reconhecida, ao contrário do que
se dava na China, no Egito, na Judéia e na Grécia, milhares de anos antes da era
cristã. Com efeito, a primeira farmacopéia pertence a Nuremberga e
data de 1 542, o ano seguinte à morte de Paracelso. Por conseguinte,
pode-se afirmar que a maioria das ervas medicinais, que se receitam em nossos dias,
já era conhecida na Idade Média e os religiosos as cultivavam com todo cuidado e ciosamente nos jardins dos seus
conventos; é por isso que foram
conservados até hoje alguns conhecimentos a respeito dos seus usos.

Nas pradarias e bosques próximos ao
Rio Sihl, onde existem pântanos em grande
quantidade, as sucessivas estações fazem florescer e frutificar grande número
de plantas. Nos prados crescem a gerenciana,
a margarida, a salva, a anêmona, a
camomila, a borragem, a angélica, o funcho, o cominho e a dormideira.
Nos bosques abundam as celgas, a aspérula,
a beladona, a datura, a violeta e as gramíneas
silvestres. Nas ribanceiras, nos declives das grandes elevações de terreno e
pelas estradas se encontram a campânula,
a dedaleira, a chicória, a centáurea, a verônica, a menta, o tomilho, a
verbena, a salsaparrilha, os líquenes, a erva-de-são-joáo, a tormentilha, a
tanchagem e a aveleira silvestre. Nos terrenos lodosos colhem-se as prímulas com manchas de cor malva e violeta, os miosótis,
as plantas vulnerárias, os fetos e o
rabo-de-cavalo. E nos paramos, a urze, a rosa-dos-alpes, a
garança-do-levante, a saxífraga, a luzerna,
a pírola e toda espécie de sementes.

Das próprias memórias de Paracelso
se deduz que seu pai foi seu primeiro mestre de latim, de botânica, de
alquimia, de medicina, de cirurgia e de teologia; mas nele
atuaram
outras influências de educação, que o doutor Hohenheim não pôde infundir. Estas
influências foram devidas ao espírito
irrequieto da época, da nova era que estava sendo preparada.

Cumpre-nos verificar,
agora, como foi que esta manifestação de sua época teve relação com
o audaz investigador da Natureza e da Medicina, entre a multidão que continuava apegada
ferrenhamente aos métodos filosóficos e às crenças religiosas da Idade Média;
cumpre-nos ver como foi que sua inteligência vivaz compreendeu que os velhos ensinamentos estavam fadados a desaparecer e a
passar por uma renovação, como todas as demais coisas.

Indiscutivelmente, foi o espírito da
Renascença que deu a Paracelso o grande impulso rumo à indução científica
e ao método experimental. O encontro deste espírito científico com as
correntes espirituais da Reforma, com sua influência sobre a alma dos homens,
graças realmente a Lutero, nos fornecerá a explicação da formação de sua personalidade,
aparentemente contraditória.

As teorias em voga vinham sendo propagadas
ativamente já muito tempo antes de Lutero. Duzentos e cincoen-ta anos antes
uma alma solitária, Rogério Bacon, teve uma visão que iluminou as trevas
acumuladas por quinze séculos de ignorância e descobriu a chave do divino
tesouro da Natureza.

Em 1 483 nasceu Lutero; dez anos
depois, Paracelso; em 1 510 veio à luz o famoso médico e filósofo milanês,
Jerônimo Cardano, e em 1 517 nascia o celebérrimo cirurgião Ambrósio Pare. Copérnico,
o astrônomo revolucionário, e Pico de Ia Mirándola, foram contemporâneos desta
plêiade ilustre. Tudo eclodiu de uma só vez; nova concepção religiosa, nova
filosofia, novas ciências, a par de uma grande renovação no mundo da arte.

INICIAÇÃO DE PARACELSO

Ainda muito jovem, Paracelso foi
enviado à famosa escola dos beneditinos do mosteiro de Santo André, no
Lavantal, a fim de lhe ser ministrada a instrução religiosa. Foi aqui que ele
se tornou amigo do bispo Eberhard Baum-gartner, que era considerado um dos alquimistas
mais notáveis de seu tempo. Tamanho foi o ardor com que Paracelso se
dedicou aos seus trabalhos de laboratório, tanta a sua força de observação nos
fenômenos que estudava, que imediatamente se viu em condições insuperáveis
para  começar a executar um trabalho que se antecipava

 

Paracelso
Paracelso
em seu laboratório

 

ao seu século. Além disso, teve a dita de contar com o clima
da Caríntia que favoreceu grandemente seu desenvolvimento físico, logrando com
isto desfrutar duma saúde quase perfeita.

Logo depois transferiu-se Paracelso para
Basiléia, onde fez grandes progressos no estudo das Ciências Ocultas. Naqueles
tempos era impossível dedicar-se à medicina sem conhecer profundamente a
astrologia. A ciência experimental estava ainda por nascer. Todos os
conhecimentos que se adquiriam nos colégios ou conventos eram puramente dogmáticos:
seus ensinamentos eram conservados respeitosamente durante muitos séculos.

O misticismo e a magia conviviam com as teorias mais
antagônicas e os homens mais célebres lhes rendiam homenagem. William Howitt,
um médico notável, escreveu as seguintes palavras: "O verdadeiro
misticismo consiste na relação direta entre a inteligência humana e a de Deus.
O falso misticismo não procura a verdadeira comunhão entre Deus e o homem. O
espírito absorto em Deus está protegido contra todo ataque. A mente que
repousa em Deus aclara a inteligência".

Este foi o misticismo que Paracelso
se esforçou por adquirir: a união de sua alma com o Espírito
Divino,
a fim de poder conceber o funcionamento deste Espírito
Universal
dentro da Natureza.

Quando partiu para Basiléia já tinha
adquirido a prática das operações cirúrgicas, ajudando seu pai no tratamento
de feridos. Em seus Livros e Escritos de Cirurgia nos relata que
teve os melhores mestres em dita ciência e que havia lido e meditado os textos
dos homens mais célebres, tanto da atualidade como do passado.

Pouco
se sabe da estadia de Paracelso em Basiléia; consta
unicamente que sua passagem por lá se deu em 1 510. Na ocasião a Universidade
era dirigida pelos escolásticos e pedantes da época.

Paracelso percebeu subitamente que
nada sairia ganhando com os ensinamentos estúpidos daqueles doutores. "O
pó e as cinzas respeitados por estes espíritos estéreis" – escreve ele —
"haviam-se preparado e transformado em matéria importante".

Paracelso renunciou
altaneiramente a terçar armas numa luta com aqueles sábios, guardiães
petrificados da ciência oficial. O que ele queria era a verdade e não a pedanteria;
a ordem e não a confusão; a experiência científica e não o empirismo.

Segundo sua própria declaração pública,
Paracelso lera as obras manuscritas do abade Tritêmio, que figuravam na
valiosa biblioteca de seu pai, e tão embevecido se sentiu por elas que resolveu
transferir-se para Würzburg, lugar onde o sábio abade se mantinha em contato
com seus discípulos.

Tritêmio ou Tritemius — era assim
que se chamava esse abade, por causa do lugar de seu nascimento, que foi
Treitenheim, perto de Trier. Mas seu verdadeiro nome era João Heindemberg.
Quando ainda muito jovem já era célebre por sua sabedoria; com a idade de
vinte e um anos foi eleito abade de Sponheim. Em 1 506 foi designado para o
convento de São Jaime, perto de Würzburg, onde morreu em dezembro de 1516.

Afirmava ele que as forças,
secretas da Natureza estavam confiadas a seres espirituais. Grande era o número
de seus discípulos e os que julgava dignos, admitia-os em seu laboratório, onde
se manipulava toda espécie de experiências de alquimia e de magia.

Conforme dissemos, Paracelso empreendeu
sua grande viagem a Würzburg. Na ocasião estava algo mais robusto, embora sua
compleição continuasse franzina. Quando se fixou na referida cidade, o abade
Tritêmio era considerado um bruxo perigoso pela gente ignorante. Penetrara ele
certos mistérios da Natureza e do mundo espiritual; deu casualmente com
alguns fenômenos raros que hoje em dia chamamos de magnetismo e telepatia.

Em certas experiências psíquicas obteve êxitos
surpreendentes; talvez tenha sido ele o primeiro que nos falou da transmissão
do pensamento à distância. Devem-se a ele os primeiros ensaios da criptografia
ou escrita secreta. Era

 


Do livro
"Theatrum Chemicum".

também um grande conhecedor da Cabala, por meio da
qual fornecera profundas interpretações das passagens proféticas e místicas da
Bíblia. Por isso colocava as Sagradas Escrituras acima de todos os estudos;
seus alunos tinham que dedicar-lhes toda sua atenção e todo seu amor.

Com isto, Paracelso ficou influído
por todo o resto de sua vida, de vez que o estudo da Bíblia constituiu posteriormente
uma das tarefas que o ocuparam com mais intensidade. Em seus escritos
encontramos o testemunho do seu conhecimento perfeito da linguagem e do
profundo significado esotérico do Magno Livro.

Embora seja fato inconteste que
estudou as Ciências Ocultas com o abade Tritêmio, chegando a conhecer as forças
misteriosas do mundo visível e invisível, não é menos certo que abandonou de
repente certas práticas mágicas, por julgá-las indignas e contrárias à divina
vontade. Tinha aversão, sobretudo, à necromancia praticada por homens pouco
escrupulosos, convencido de que por meio dela só se atraíam forças maléficas.
Recusou, igualmente, todo ganho pessoal que pudesse auferir do exercício da
magia, pois esta, segundo pensamento dele, só era permitida quando visasse
curar desinteressadamente ou fazer outro bem qualquer a nossos semelhantes.

Foi com este intuito que se lançou às
investigações e experiências de magia divina. Discernia perfeitamente o
alimento mental e espiritual daquele que era impróprio e enganoso, para
conseguir a união de sua alma com a divindade.

Curar os homens conforme Cristo fizera —
nisto consistia todo o seu desejo ardente. E quem sabe se a própria comunhão
com o Senhor não o credenciaria com este poder sublime? Entrementes, recebia de
Deus a graça de saber procurar e encontrar todos os meios de cura com os quais
o Criador provera a Natureza.

 

PARACELSO, MÉDICO
E ALQ
ÜIMISTA

Como dissemos anteriormente, Paracelso entregou-se
com um ardor e entusiasmo sem limites ao estudo profundo da
Alquimia. "A Alquimia" — diz nosso biografado — "não visa
exclusivamente obter a pedra filosofal; a finalidade da Ciência Hermética
consiste em produzir essências soberanas e empregá-las devidamente na cura das
doenças".

Contudo, não pôde fugir à preocupação
dominante da época e durante algum tempo se ocupou também daquelas práticas
alquímicas que ensinam a transformar em ouro os metais "impuros".

De acordo com alguns autores, saiu
triunfante em seu magno cometimento e, depois que satisfez a sua curiosidade,
não prosseguiu em sua obra, pois outro fim não perseguia senão a evidência de
certas doutrinas, para poder falar delas com plena convicção, condição que ele
acreditava, com toda certeza, indispensável.

Ao falarem dele como alquimista,
os biógrafos de Paracelso colocam-no na categoria mais elevada. Todos
afirmam unanimemente que era dotado de um poder escrutinador que lhe permitia
penetrar o próprio espírito das coisas da Natureza.

Peter Romus escreve: "Paracelso penetra
os recônditos mais profundos da Natureza, explora-os e, através de suas
formas, sabe ver a influência dos metais, com uma penetração tão sagaz, que
chega a extrair deles novos remédios".

Melchor Adam, um dos biógrafos de Paracelso
que mais estudou sua personalidade do ponto de vista científico, declarou:
"No que se refere à filosofia hermética, tão árdua e tão misteriosa, ninguém
o igualou".

Abandonou ou, para nos expressarmos
melhor, rejeitou o estudo da Crisopéia ou seja a arte de "fazer
ouro", porque isto repugnava a seu espírito nobre e desinteressado; mas,
aproveitou grande número de práticas alquímicas que, a seu critério, podiam ser
desenvolvidas e aplicadas à Medicina. Estava convencido de que quase todos os
minerais submetidos à análise podiam revelar-nos grandes segredos curativos e
vivificantes e levar a novas combinações perfeitamente eficazes para certas
doenças mentais ou físicas. Como base própria da divina criação, observou com
atenção que toda substância dotada da vida orgânica, embora
aparentemente inerte, encerrava grande variedade de pot
ência curativa.

Ao contrário do que faziam seus contemporâneos,
não qualificava de divina a Alquimia, cujo único objetivo era fabricar ouro.
Para ele, os fogos do fornilho crisopéico tinham outras grandes utilidades e
aqueles que atuavam sob a divina intuição logo se transformavam em fogos purificadores
em benefício da humanidade.

Vejamos, agora, algo sobre a bibliografia
de Paracelso, que foi muito vasta. Hoje em dia são pagos a peso de ouro
os livros deste homem genial, principalmente suas primeiras edições. Todas as suas obras originais foram diversas
vezes reeditadas e traduzidas, por sua vez, em todos os idiomas cultos.
Não pretendemos,.pois, nem sequer fazer um resumo de sua prolixa produção;
limitar-nos-emos a citar algumas das obras menos conhecidas:

Opera Omnia Medico-Chirurgica
tribus voluminibus comprehensa.
Genebra, 1 658. Três volumes in-fólio.

Nesta obra está reunido quase todo o seu labor. índice:
Volume I: Tratados médico, patológico e terapêutico
ocultos. Mistérios magnéticos. Volume II:Obras mágicas,
filosóficas,   cabalísticas,   astrológicas  e  alquímicas.   Volume  III: Anatomia e cirurgia propriamente ditas.

Arcanum Arcanorum seu
Magisterium Philosophorum.
Lcipzig, 1 686. Um volume in-8.°.

Também esta obra é interessantíssima,
por tratar extensamente das Ciências Ocultas. Foi reeditada em Frankfurt, em
1 770.

Disputationum de Medicina Nova
Philippi Paracelsi. Pars prin in qua quias de remediis superstitionis et
magicis curationibus ille prodidit, proecipue examinantur a Thoma Erasto,
medicina schola Heydelbergenti professore ad ilustris, principium. Liber
omnibus quarumcunq; artium et scientiarum studiosis opprime cum necessarius tum
utilis.
Basileae apud Petrum Perna, sem ano (1 536). Um volume in 4.o.

 

Além de seu alto
valor científico, esta obra desperta um interesse muito grande porque nela se
encontra a luta travada com Tomás Erasto, o inimigo mais temível de Paracelso.

Limitamo-nos
a citar apenas estas três obras em latim por julgarmos que com elas se pode
formar um juízo perfeito do célebre médico, encarado sob todos os pontos de vista.

São muitíssimo mais
numerosas as obras que publicou em latim e alemão. Também as suas traduções são numerosas.

O Manuel
Bibliographique des sciences psichiques,
de Alberto L. Caillet, cita mais de
trinta títulos e se deve levar em conta que referida bibliografia data de 1913.
Temos conhecimento de muitas reimpressões posteriores a dita data. Entre estas últimas citaremos
a seguinte, por considerá-la muito interessante:

Paracelse
(Théophraste): Les sept Livres de /’Archidoxe Magique,
traduits pour Ia premiere fois en fran
çais, texte latin en regard.
Paris, 1 929. Um volume in-4.o.

Contém numerosos
segredos e talismãs preciosos contra a maior parte das doenças, para
conseguir uma vida sem inquietudes; sobre a vida dupla, etc.

As obras de Paracelso,
como todas as que tratavam de ciências ocultas — astrologia, magia, alquimia, etc. — contêm algumas frases
obscuras que somente os iniciados conheciam em todo o seu valor. Os alquimistas
velavam, principalmente, seus segredos por meio de símbolos e frases
alegóricas,
a que os leigos no assunto atribuíam as mais grotescas interpretações, quando os
tomavam ao pé da letra. Iniciado que fora pelo abade Tritêmio, Paracelso
adotou sua terminologia, acrescentando, por seu arbítrio, termos
originários
ora da índia ora do Egito.

No
glossário
de Paracelso vemos que o princípio da sabedoria se chama Adrop e Azane, que
corresponde a uma tradução esotérica da pedra filosofal. Azoth é o princípio criador da
Natureza ou a força vital espiritualizada. Cherio  é  a quintessência de  um corpo, seja ele animal, vegetal ou mineral; é o
seu quinto princípio ou potência. Derses é o sopro oculto da Terra que
ativa seu desenvolvimento. Ilech Primum é a Força Primordial ou Causai.
Magia é a sabedoria, é o emprego consciente das forças espirituais, que
visa a obtenção de fenômenos visíveis ou tangíveis, reais ou ilusórios; é o
uso benfeitor do poder da vontade, do amor e da imaginação; representa a força
mais poderosa do espírito humano empregada em prol do bem. Magia não é
bruxaria.

Poderíamos encher páginas e mais páginas, citando termos do
glossário de Paracelso e dos alquimistas em geral, porém julgamos que são
suficientes os que transcrevemos para dar uma idéia
do caráter oculto de sua terminologia.

A chave, contudo, dessa linguagem misteriosa não
se perdeu. Foi guardada zelosamente pelos cabalistas e transmitida oralmente
entre os iniciados. Atualmente, os possuidores de dita chave são os chamados
martinistas e os rosa-cruzenses.

Graças a ela, o sistema filosófico-religioso (2)
de Paracelso pôde ser recuperado em toda a sua integridade.

Observamos que ele estabeleceu uma divisão dos
elementos a serem estudados nos corpos animais, vegetais ou minerais.
Dividiu-os em Fogo, Ar, Água e Terra, conforme tinham procedido também os
antigos. Estes elementos se acham presentes em todo corpo, seja ele organizado
ou não, e separáveis uns dos outros. Para efetuar a separação eram
indispensáveis os laboratórios com material adequado. O fornilho era
insuficiente; carecia-se de um fogo capaz de tornar vermelho vivo o crisol para
aumentar constantemente o calor quando se tornasse necessário. Necessitava-se
de uma contínua provisão de água, de areia, de limalhas de ferro a fim de
aquecer gradativamente os fomilhos. Nos armários e mesas dos laboratórios havia
balanças perfeitamente aferidas e niveladas, almofarizes, alambiques, retortas,
cadinhos- esmaltados,  vasos  graduados, grande quantidade de vasilhas de
cristal, etc. além de um alambique especial para realizar as destilações.

Com um laboratório bem equipado, o alquimista capaz de
aplicar-se rigorosamente, exercido na minuciosa observação das regras
alquímicas, está em condições de verificar as diferentes operações
indispensáveis para analisar as substâncias escolhidas e extrair delas a
quintessência ou o Arcana, isto é, as propriedades intrínsecas dos minerais
e vegetais.

As vezes infinitesimal em quantidade até nos grandes corpos,
a quintessência afeta, contudo, a massa em todas as suas partes, da mesma forma
que uma única gota de bílis produz o mau. humor ou uns centigramas de açafrão
são suficientes  para colorir uma grande quantidade de água.

Os metais, as pedras e suas variedades trazem em si mesmos a
sua quintessência, o mesmo que os corpos orgânicos e, embora sejam
considerados sem vida, possuem essências de corpos que viveram.

Estamos aqui diante duma notável afirmação, que Paracelso
sustenta com sua teoria de transmutação dos metais em substâncias diversas,
teoria que também os ocultistas modernos defendem.

Que clarividência possuía este homem a respeito
do reino mineral! Ninguém poderá negar a Paracelso o título verdadeiro
de sábio, pois ele, com suas investigações sutis, soube arrancar os mais
recônditos segredos da Natureza, que hoje em dia, sem dúvida, a ciência
explica melhor, graças a descobrimentos de observadores que dispõem de maiores
meios científicos, como demonstraram Madame Curie e seus colaboradores. Quando
examinamos o novo sistema de filosofia natural desenvolvido por Paracelso, não
devemos esquecer que já transcorreram quatro séculos desde o seu aparecimento.
Na realidade, foi ele quem concebeu ditas investigações, inspirando com elas
os grandes luminares de sua época e das gerações que se seguiram (3).

Suas análises eram efetuadas por meio de diferentes
processos: pelo fogo, pelo vitríolo, pelo vinagre e pela desti-laçâo lenta;
suas investigações principais ocuparam-se das propriedades curativas dos
metais, antecipando-se ao que hoje chamamos de metaloterapia; contou com a
colaboração do famoso bispo Erhard de Lavanthall, o qual incluiu no número dos seus mestres. O
bismuto foi uma das substân-cias que analisou com preferência, classificando-o
de semi-metal; e foi certamente em virtude de dita substância, que previu a
existência das propriedades ativas dos minerais, que surgiram os processos da
transmutação. Descobriu igualmente o reino, que classificou também de
semimetal, constituindo-se numa das numerosas contribuições que trou-xe à
farmácia.

Entre estas contribuições temos preparações de ferro, de
antimônio, de mercúrio e de chumbo. O enxofre e o ácido sulfúrico foram objeto
de interesse e práticas especiais, representando para o seu espírito uma
substância fundamental, de vez que materializava a volatilidade. Realizou
investigações sobre amálgamas com o mercúrio e com o cobre, sobre o alúmen e
seus usos e sobre os gases produzidos pela solução e pela calcinação.
Considerava como indestrutível e secreta parte de uma substância aquilo que
permanecia em estado de cinza, devido à calcinação: seu sal, incorruptível. É o
ca sal sidérico dos alquimistas.

Estas investigações culminaram em sua Teoria das Três Substâncias, bases necessárias a todos os corpos, a que ele chamou de enxofre,
mercúrio, sal,
em sua linguagem cifrada.

O enxofre significa o fogo; o mercúrio, a água;
o sal, a terra. Ou, de outra maneira: a volatilidade, a fluidez, a solidez.
Omitiu o ar por considerá-lo produto do fogo e da áua. Todos os corpos, orgânicos ou minerais: homem ou metal:ferro,
diamante ou planta constituíam, segundo ele, combinações variadas desses
elementos fundamentais. Seu ensinamento sobre a base e as qualidades da matéria
se cinge a essa Teoria dos Três Princípios, que
considerava como premissas de toda atividade os limites de toda análise e a
parte constitutiva de todos os corpos. São eles a alma, o corpo e o espírito de
toda matéria, que é única. A potência criadora da Natureza, que ele denominou Archeus,
proporciona à matéria uma infinidade de formas, contendo cada uma delas seu
álcool, ou seja sua alma animal e, por seu turno, seu Ares, ou seja seu
caráter específico. Além disso, o homem possui o Afuech, ou seja a parte
puramente espiritual.

Esta força criadora da Natureza é um espírito
invisível e sublime: é como um artista e artesão que se compraz, variando os
tipos e reproduzindo-os. Paracelso adotou os termos Macrocosmo e
Microcosmo para expressar o grande mundo (Universo) e o pequeno mundo (o
Homem), os quais considera reflexo um do outro.

Além das investigações supracitadas,
descobriu o cloreto, o ópio, o sulfato de mercúrio, o calomelano e a flor de
enxofre. Em fins do século passado receitava-se ainda às crianças um laxante
composto de xarope de morangueiro e uns pós cinzentos, constituindo remédio
excelente devido à terapêutica de Paracelso; da mesma forma que o ungüen-to
de zinco, que nunca deixou de ser receitado, tem. sua origem no laboratório
paracelsiano. De igual modo, foi ele o primeiro a utilizar o mercúrio e, para
certas doenças de-pauperantes, o láudano.

Paracelso escrevia com uma clareza
meridiana. Somente em seus escritos sobre
alquimia se acham certas frases enigmáticas, como acontece com todos os
demais autores que tratam de dita matéria. Em seu estilo não se vê nenhuma
complicação, nada daquela verbosidade empolada e torturada própria da Renascença.
Sua frase é contundente e expressa-se como homem convencido de que conhece a
fundo o assunto de que trata. Em algumas de suas obras deparamos com a breve e
fecunda expressão de um clarivi-dente   e   seus  pensamentos aparecem  
revestidos de  uma linguagem que os coloca à altura dos aforismos que perduram
através dos séculos.

"A  Fé — diz ele — é uma estrela luminosa que guia o         investigador
através dos segredos da Natureza. É preciso que busqueis vosso ponto de apoio
em Deus e que coloqueis a vossa confiança num credo divino, forte e puro;
aproximai-vos Dele de todo o coração, cheios de amor e desinteressadamente. Se
possuirdes esta fé, Deus não vos esconderá a verdade, mas, pelo contrário, vos
revelará suas obras de maneira visível e consoladora. A fé nas coisas da
terra deve sustentar-se por meio das Sagradas Escrituras e pelo Verbo de
Cristo, única maneira de repousar sobre uma base firme."

Em nenhum outro dos seus escritos se
observa a precisão de estilo que predomina em sua tese sobre os "Três
Princípios", suas formas e seus efeitos. Um pequeno excerto pode dar uma
idéia mais aproximada de sua concepção do que muitas páginas descritivas.

O livro foi editado em Basiléia,
em 1 563, por Adam do Bodenstein, o qual em seu prólogo diz que Paracelso fora
indignamente caluniado e que muitos médicos que lhe denegriam o nome se haviam
aproveitado de suas descobri ias e roubaram-lhe muitas de suas idéias.

Neste pequeno volume, Paracelso começa
com uma exposição de sua teoria dos Três Princípios; sustenta que Cada substância
ou matéria em crescimento é constituída de Sal, Enxofre e Mercúrio; a força
vital consiste na união dos três princípios; existe, portanto, uma ação tríplice,
Sempre atuante para cada corpo: a ação da purificação por meio do sal,  a da
dissolução ou consumação pelo enxofre e a da eliminação pelo mercúrio.

O sal é um alcalino; o enxofre, um
azeite; o mercúrio, um licor (a água), mas cada uma das matérias possui sua ação
separadamente das outras. Nas doenças de certa complicação, as curas mistas são
indispensáveis.

Deve-se ter o maior cuidado no
exame de cada doença: identificar se é
simples, de duas espécies ou tríplice; se é oriunda do sal, do enxofre ou do mercúrio
e que quantidade contém de cada elemento ou de todos; qual a sua relação com a
parte adjacente do corpo, a fim de saber se convém extrair dela o álcali, o
azeite ou o licor; em resumo, o médico deve procurar não confundir duas doenças.

"A. Virtude
acrescenta Paracelso — é a quarta coluna do templo da Medicina e não há
de fingir; significa o poder que resulta do fato de ser um homem na verdadeira
acepção da palavra e de possuir não somente as teorias relativas ao tratamento
da doença, mas igualmente o poder de curá-las".

Da mesma forma que o verdadeiro
sacerdote, o verdadeiro médico é ordenado por Deus. Com respeito a isto assim
se expressa Paracelso:

"Aquele que pode curar doenças é médico.
Nem os imperadores, nem os papas, nem os
colegas, nem as escolas superiores podem criar médicos. Podem outorgar
privilégios e fazer com que uma pessoa, que não é médico, aparentemente o
seja; podem conceder-lhe licença para matar, mas não podem dar-lhe o poder de
curar; não podem fazer dessa pessoa um médico verdadeiro, se já não foi
ordenada por Deus .

"O verdadeiro médico não se
jactanciade sua habilidade nem elogia suas medicinas, nem procura monopolizar
o direito de explorar o enfermo, pois sabe que é a obra que há de louvar o
mestre e não o mestre a obra.

"Há um conhecimento que deriva do
homem e outro que deriva de Deus por meio da luz da Natureza. Quem não nasceu
para ser médico, nunca o será. O médico deve ser leal e caritativo. O egoísta
muito pouco fará em favor dos seus enfermos. É muito útil a um médico conhecer
as experiências dos demais, mas toda ciência de um livro não é suficiente
para tornar um médico, a menos que seja por natureza. Somente Deus dá a
sabedoria médica" (4).

No capítulo II descreve
as três maneiras como o sal limpa e purga o corpo diariamente pela vontade do Archeus
ou a força
vivificante, inerente a cada órgão. No mundo dos elementos há várias espécies
de álcalis, como a cássia, que é doce; o sal-gema, que é acre; o acetado de
estanho, que é azedo; a colocíntida, que é amarga. Determinados álcalis são
naturais enquanto que outros são extratos; e outros ainda se acham coagulados e
atuam, por expulsão ou por transpiração ou por outros meios.

No capítulo III há uma explicação da ação do enxofre
corporal.
Assim fala ele: "Cada doença resultante do supérfluo no
corpo, tem seu antídoto na mistura elemental; de sorte que com a genera das
plantas e dos minerais se pode descobrir a origem da doença; uma descobre o
outro. O mercúrio absorve o que o sal e o enxofre repelem.
É o que sucede com as doenças das artérias, dos ligamentos, das articulações e
das juntas. Nestes casos o mercúrio fluido deve ser ministrado com fórmula
especial que melhor corresponda à forma da indisposição. O essencial da doença
reclama o essencial que a Natureza indica como remédio.

"É preferível — diz ele — denominar a lepra
doença de ouro, já que com o nome indicamos, em si, o remédio. É
igualmente melhor chamar a epilepsia a doença do vitríolo, toda vez em
que é curada com o vitríolo.

"Na verdade, meus predecessores não me
esclareceram muito na arte de curar. Esta arte se esconde misteriosamente nos
arcanos da Natureza. Por isso me esforço por aprofundá-la e todas as minhas
teorias pretendem provar a força vivificante do Archeus".

No capítulo V trata das doenças encarnativas e de sua origem.

"Estas doenças — escreve Paracelso
derivam todas do mercúrio. As feridas e úlceras, o câncer, as erisipelas só podem
ser curadas pelas várias forças mercuriais dos minerais e das plantas. Cada
médico deve esforçar-se por encontrá-las, descobri-las por si mesmo, a fim de
que saiba que quantidade de matéria mercurial encerram e possa prepará-las.
Ditas forças encontrá-las-á no grau de calor apropriado, com o fim de extrair a
essência da massa.

 

"Podereis
intitular-vos doutores quando souberdes manejar cada substância para tirar
dela o remédio adequado. A prática é indispensável; as teorias não bastam."

No capítulo VI trata
da destilação dos bálsamos compostos de substâncias absorventes
e de percussivos sulfúricos e dá a conhecer uma infinidade de fórmulas, todas
elas devidas à sua experiência.

Com
o capítulo
VII termina o livro, fazendo uma longa dissertação sobre o Archeus,
o "coração dos elementos", de força criadora e
vivificante.

"Devido a esta força, de uma pequena
semente nasce a árvore. O poder dos elementos faz com que a planta viva
e se desenvolva. Por esta mesma energia os animais nutrem-se e crescem. Esta
força
reside, também, no corpo humano: cada órgão possui sua energia própria, que o fortifica
e renova; se assim não fosse, pereceria. Por isso, a força do Archeus representa,
em cada um dos membros do corpo humano; a força criadora e vivificante do
Macrocosmo e do Microcosmo.

PARACELSO, MÍSTICO

Sem dúvida, Paracelso
foi um místico. Sua filosofia espiritual foi filha de seu
precoce conhecimento do neoplatonismo; tinha como base a união com Deus.
Mediante esta união o espírito do homem procurava vencer as más influências, descobrir
os arcanos da Natureza, conhecer o bem, discernir o mal e viver sempre dentro
da fortaleza divina.

Paracelso.
soube identificar a mão de Deus em toda
a Natureza: nas entranhas das montanhas, onde os metais esperam a sua vontade;
na abóbada
celeste, onde "por meio Dele se movem o sol e as estrelas"; nas
ribeiras, onde sua liberalidade derrama toda sorte de alimentos e a bebida para
o homem; nos verdes prados e nos bosques, onde crescem miríades de ervas e
de frutos benfazejos; nas fontes que proporcionam suas propriedades curativas.
Enfim, viu que a terra era a grande obra de Deus e que era preciosa a seus
olhos.

Paracelso era uma inteligência
forte e clara. Era bom e lambem sábio. Sua vida errante jamais o despojou dessa
bondade que constantemente fez resplandecer os generosos impulsos de sua alma.
Sentia como um artista e pensava como um filósofo; por isso soube irmanar as
leis da Natureza com as da alma. Esta sensibilidade artística que nunca o
abandonava constituiu a ponte entre Paracelso homem e observador visionário
da Realidade, ponte maravilhosa que repousava
sobre as travessas de uma nova humanidade: a Renascença. E sobre esta
ponte audaz procedeu à construção do Universo, do qual Paracelso foi um
de seus maiores arquitetos; pois, outra coisa não foi a declaração dos princípios
do progresso espiritual, completada um pouco mais tarde por Giordano Bruno,
poeta, filósofo, artista e investigador da Natureza.

Como as ondas do mar, o sentimento da
Natureza se estendeu de Paracelso até os homens do futuro, entre os
quais C.omenius e Van Helmont. Estes compreenderam, igualmente, a consagração
das investigações e a alegria inefável
de descobrir as Leis Divinas. Paracelso possuía
essa propriedade que ainda hoje admiramos nos místicos clássicos. Via a
Deus tanto na Natureza como no microcosmo e, pela meditação, foi tocado pela
graça divina. Suas conclusões filosóficas formam a moral de um humanismo cristão.
A confraternidade íntima dos filhos de Deus deve nascer de uma humanidade bem
ordenada, do saber humano e do inapreciável valor da alma, em cada um dos seus
membros.

Este Universo de formas e forças
infinitas e, em sua unidade e em sua interdependência, a revelação das leis de
Deus; a Natureza constitui o esteio e o verdadeiro amigo dos enfermos. E esta
Natureza se acha em todas as parles: na terra, onde o semeador opera seus
milagres, ao confiar-lhe a semente; nas montanhas, onde morrem as árvores velhas para dar lugar às que
nascem; nas florestas murmurantes; nas sebes; nos lagos, onde o sol
brinca com a água; em todos os lugares está viva e eterna a mãe Natureza.

 

Paracelso emoldurou a Natureza com vistosas
imagens, comparações acertadas, engenhosas alegorias e parábolas de sentido
profundo. Numa linguagem rica e substanciosa, apresenta-nos o curso das
estações, sua proximidade e seu fim. Pinta-nos a primavera, quanto os novos
ritmos se balançam álacres pelo ar; o verão, quando a jovem vida caminha rumo
à colheita e o tempo revela os frutos sazonados; o outono, quando o trabalho
chega ao seu fim e a vida enlan-güesce; e, finalmente, descreve-nos o inverno,
fazendo-nos sentir a doce visão de uma morte suave e tranqüila.

Como bom cristão, seguiu os ensinamentos de
Jesus. "O que Deus quer são nossos corações — diz no Tratado das
Doenças Invisíveis —
e não as cerimônias, já que com elas a fé Nele perece.
Se queremos buscar a Deus, devemos buscá-lo dentro de nós mesmos, pois fora de
nós jamais o encontraremos". Toma como ponte de apoio a Vida e a Doutrina
de Nosso Senhor, porque nela está a única base de nossa crença:

"Ali está ela, na Vida Eterna, descrita pelos
Evangelhos e nas Escrituras, onde encontramos tudo o de que necessitamos, tudo
em absoluto.

"Só
em Cristo há estado de graça espiritual e por nossa fé sincera seremos salvos.
Basta-nos a fé em Deus e em seu único Filho. O que nos salva é a infinita
misericórdia de Deus, que perdoa nossos erros. O Amor e a Fé são uma mesma
coisa: o amor deriva da fé e o verdadeiro cristianismo se revela no amor e nas
obras do amor."

Acreditava que a perfeição da vida espiritual fora designada
por Deus para todos os homens e não apenas para alguns anacoretas, monges e
religiosos que não dispunham de nenhum mandato especial do Senhor para tomar
sobre si a exclusividade de uma santidade a que muito poucos podem chegar.

"O reino de Deus — acrescenta Paracelso — contém
uma revelação íntima com nossa vida de fé e de amor, uma infinidade de
mistérios que a alma penetrante vai descobrindo um por um. São os mistérios da
providência de Deus, que todo aquele que investigar acabará encontrando; são os
mistérios da união com Deus; é o tabernáculo secreto, cujas portas se
abrirão para todo aquele que clame. E os homens que sabem perscrutar e chamar são
os profetas e os
benfeitores de seu reinado. A eles são entregues as chaves que hão de abrir os
tesouros da terra e dos céus. E eles serão os pastores, os apóstolos do
mundo."

Mais adiante fala da medicina, nos seguintes termos:

"A Medicina se fundamenta na Natureza,
a Natureza é a Medicina, e somente naquela devem os homens buscá-la. A Natureza
é o mestre do médico, já que ela é mais antiga do que ele, e ela existe dentro
e fora do homem. Abençoado, pois, aquele que lê os livros do Senhor e que anda
pela senda que lhe foi indicada por Ele. Estes são os homens fiéis, sinceros,
perfeitos em sua profissão; andam firmes debaixo da plena luz do dia da ciência
e não pelos abismos obscuros do erro… Porque os mistérios de Deus rta
Natureza são infinitos; Ele trabalha onde quer, como quer, quando quer. Por
isso devemos investigar, chamar, interrogar. E a pergunta brota: Que categoria
de homem deve ser aquele que procura, chama e interroga? Quão verdadeira deve
ser a sinceridade de tal homem! Quão verdadeira a sua fé, sua pureza, sua
castidade, sua misericórdia!

"Nenhum médico pode afirmar que uma
doença é incurável. Se isto afirmar, está renegando a Deus, renegando a
Natureza, desaprecia o Grande Arcano da Criação. Não existe nenhuma doença, por
mais terrível que seja, para a qual   Deus   não   tenha   previsto a
correspondente cura."

Conforme vimos, Paracelso era
um místico e um cabalista perfeito, dentro do mais puro espírito cristão.
Aceitou, contudo, muitas das crenças tão em voga em sua época referentes aos
poderes ocultos e às forças invisíveis.

Acreditava, igualmente, na existência
real dos dementais, isto é, nos espíritos do fogo, aos quais dava o nome de acthnici;
nos do ar, que chamava de melosinae; nos da água, que chamava de nenufdreni;
e nos da terra, que denominava de pigmaci. Além disto admitia a
realidade das dríadas, a que atribuía o nome de durdales, e dos espíritos
familiares ( os deuses penates dos romanos), que alcunhava de flagae. Afirmou
também a existência do corpo astral do homem, que chamava de aventrum, e
do corpo astral das plantas, a que deu o nome de leffas.

Do mesmo modo, tratou profundamente
da levitação, que por ele foi chamada de mangonaria, e muito especialmente
da clarividência, que denominava de necromancia. Acreditava nos duendes, nos
fantasmas e nos presságios. Este último particular tem prejudicado sobremodo a
fama de Paracelso, mas, quem sabe se dentro de um futuro não muito
distante não servirá para admirá-lo como um visionário que se antecipou às
afirmações feitas pelos modernos metapsiquistas comprovadas por esses
investigadores do Mais-Além.

Seu Arquidoxo Mágico, livro
sobre amuletos e talismãs, é também muito interessante, de vez que nele expõe
seu conhecimento da imensa força do magnetismo. Combinou metais debaixo de
determinadas influências planetárias, com o objetivo de fabricar talismãs
contra certas doenças, sendo que o mais eficaz deles é aquele
que chama de Magneticum Magicum. Este talismã se compõe de sete
metais (ouro, prata, cobre, ferro, estanho, chumbo e mercúrio) e nele estão gravados signos celestes
e caracteres cabalísticos.

Entendia, também, que as pedras
preciosas possuíam propriedades ocultas para curar determinadas doenças. Os anéis
e medalhas em que se montavam ditas pedras levaram o nome de gamathei. Cada
um desses dixes possuía virtudes especiais. Uma de suas pedras preferidas era a
chamada bezoar, que não é oriunda nem das montanhas nem das minas, mas
que se forma, no estômago de certos animais herbívoros, por crescimentos
justapostos e concêntricos de fosfatos de cálcio, que o estômago não conseguiu
expulsar.

Suas opiniões a respeito das
pedras preciosas foram adotadas pelos membros da Rosa-Cruz, que elaboraram as
interpretações físicas e espirituais dos poderes misteriosos do diamante, da
safira, da ametista, do topázio, da esmeralda e da opala.

MORTE DE PARACELSO

Muitas lendas foram inventadas em
torno de sua morte. Uns diziam que os médicos de Salzburgo haviam contratado um
rufião para que lhe seguisse os passos por toda parte, durante a noite, com a
finalidade de jogá-lo num abismo; outros nos contam que lhe deram de beber
vinho envenenado; porém, graças ao testemunho do Dr. Aberle, podemos hoje
descartar essas vis suposições.

O certo é que adoeceu e que seu mal ia
progredindo dia a dia, como progrediu paralelamente sua fortaleza de espírito
ante o fim próximo.

Pouco antes de morrer ocupava-se ainda em
escrever suas meditações sobre a vida espiritual. Um dos últimos fragmentos,
que não conseguiu terminar, levava o seguinte título: "Referente à Santíssima
Trindade, escrito em Salzburgo, durante a véspera da Natividade de Nossa
Senhora". Este fragmento foi publicado por Toxites, em 1 570. Junto com o original havia várias
passagens selecionadas e comentadas da Bíblia, escritas em folhas
volantes.

Os rápidos progressos da doença
supreenderam-no em tão pacífica ocupação. A morte se introduzia silenciosa e
furtivamente para extinguir a chama de seu espírito. Reconheceu a pálida mão
que a intrusa lhe estendia e voltou-se para ela de maneira doce e sossegada.

Todavia, faltava-lhe realizar o último
trabalho. Dispunha de alguns bens: seus livros, suas roupas, suas drogas, suas
ervas; e era preciso distribuir tudo isso com eqüidade, mas via-se
impossibilitado de fazê-lo legalmente em seu laboratório de Plaetzl. Alugou
então um aposento na Pousada do Cavalo Branco, na Kaygasse, bastante espaçoso
para quarto de um doente e ao mesmo tempo de despacho de seus negócios.
Mudou-se para lá no dia 21 de setembro, vigília de São Mateus. O escrivão público
Hans Kalbsohr e seis testemunhas se reuniram em torno do seu leito para ouvir e
atestar suas derradeiras vontades.

Paracelso estava sentado em seu
leito. O primeiro artigo do seu testamento reza textualmente:

"O mui sábio e honorável
Mestre Teofrasto de Hohenheim, doutor em Ciências e Medicina, débil de corpo,
sentado em seu rústico leito de campanha, porém com espírito lúcido, probo de
coração, entrega sua vida, sua morte, sua alma à salvaguarda e proteção do todo-poderoso.-Sua
fé inquebrantável espera que o Eterno Misericordioso não permitirá que os
amargos sofrimentos, o martírio e a morte de seu Filho Único, Nosso Senhor
Jesus Cristo, sejam estéreis e impotentes para a salvação deste seu humilde
servo".

Em seguida determinou as disposições
concernentes ao seu enterro e escolheu a igreja de São Sebastião, que ficava além
da ponte. Para ali teve que ser transportado o seu corpo; quis que lhe
entoassem os salmos um, sete e trinta. Entre cada um dos referidos salmos se
distribuiria dinheiro   aos  pobres  que estivessem  em  frente  à  igreja.

A escolha dos salmos é algo significativo;
constitui a confissão de sua fé e a convicção de que sua vida não tinha que
morrer no esquecimento; antes, porém, que tinha que passar para a imortalidade.

Depois da solene cena descrita, viveu tão-só
três dias. Sem dúvida, expirou na Pousada do Cavalo Branco. A morte não lhe
causava horror. Segundo ele, a morte era "o fim de sua jornada trabalhosa
e a colheita de Deus".

Seu falecimento se deu no dia 24 de
setembro, dia de São Ruperto, festa muito celebrada em Salzburgo, que naquele
ano calhou ser em dia de sábado. O Príncipe Arcebispo ordenou que os funerais
do grande médico se celebrassem com toda pompa. A cidade se achava repleta de
forasteiros, pessoas do campo e muitos estrangeiros.

Cinqüenta anos depois de sua morte, seu túmulo
foi aberto; foram retirados os seus ossos para serem trasladados para outra
sepultura melhor disposta, encravada numa das paredes da igreja de São Sebastião.

O executor testamentário de Paracelso,
Miguel Setznagel,   mandou  colocar uma  lápide de  mármore vermelho sobre
o túmulo, com uma inscrição comemorativa, que dizia
o seguinte, em latim:

"Aqui jaz Felipe Teofrasto de
Hohenheim. Famoso doutor em Medicina que curou toda espécie de feridas, a
lepra, a gota, a hidropisia e várias outras doenças do corpo, com ciência
maravilhosa. Morreu no dia 24 de setembro de 1 541."

BOTÂNICA OCULTA

EXÓRDIO

Para se conhecer a fundo o mundo
das plantas do ponto de vista do Ocultismo, se torna absolutamente necessário
estudá-las em suas relações com o Macrocosmo (Universo) e com o Microcosmo (o
homem), de acordo com as teorias de Paracelso, teorias que se acham
espalhadas nas obras do famoso médico e alquimista, as quais temos reunido com
carinho, ordenando-as, além disso, até o ponto de formar com elas todo um corpo
de doutrina, que procuramos condensar neste pequeno volume. Estamos cientes de
que nosso modesto trabalho apresenta várias lacunas e omissões de certa importância
e, por isso mesmo, não podemos nem remotamente ufanar-nos de poder apresentar
aos estudiosos uma Botânica Oculta muito extensa e muito menos
completa; mas sentimo-nos satisfeitos, até certo ponto, naturalmente, por ter
assentado as bases de uma ciência vacilante em suas origens, estancada durante
séculos num estado amorfo e, por último, em nossos tempos, completamente
esquecida.

Nosso estudo nos levou a conceber
uma Botanogenia, uma  Fisiologia e  uma  Fisiognosia, cujas características se aproximam mais da Ciência
Oculta do que daquela oficialmente reconhecida.

A Botanogenia nos esclarecerá a respeito
dos princípios cosmogônicos, cujos germes em ação produzem na Natureza o reino
que nos ocupa.

A Fisiologia vegetal nos levará ao estudo
das forças vitais que, em sua constante evolução, constituem seu alimento e desenvolvimento.

E, finalmente, a Fisiognosia vegetal, ciência dos
Signos ou ciência das Correspondências Astrais, nos ensinará a conhecer, por
seu aspecto exterior, as forças secretas de cada uma das plantas.

Além de ser um dos aspectos mais
interessantes da Ciência Oculta, o estudo da Fisiognosia vegetal constitui um
tema quase   inédito  na literatura esotérica espanhola.

Concluiremos este breve ensaio,
publicando no final da obra pequeno dicionário de botânica oculta, no qual
figurará um determinado número de plantas e flores, com a indicação de suas
propriedades curativas e de suas virtudes mágicas. Sempre que os
conheçamos, apontaremos em seu tempo próprio seus signos astrais, ou seja, a
influência astrológica a que estão submetidas, cujo conhecimento é de grande
transcendência para o estudante de Ocultismo que esteja algo preparado.

1
– Einsiedein. (Nossa Senhora dos Eremitas.) Povoado da Suíça situado no fundo de um formoso vale. Nele são fabricados
rosários e outros artigos religiosos.
Existe ali urna célebre abadia de beneditinos, fundada no século IX, que muitos peregrinos visitam no dia 14 de setembro.

2- termo
"religioso" aqui empregado não se refere a nenhuma das religiões
positivas, c sim ao reconhecimento espiritual da Verdade Divina.

3—0
momento histórico é de suma importância para a justa apreciação deste
descobrimento. É preciso estudar as condições do século XVI para apreciar em todo o
seu valor as realizações de Paracelso, com o fim de se apreender sua
alta moralidade, que despertou um ódio feroz em todos os homens de caráter
mau, de baixos sentimentos e de mentalidade nada lúcida, e para compreendi! 
seu ânimo inalterável diante das rancorosas oposições de seus inimigos.

4 –
Franz Hartmann: Ciência Oculta da Medicina.

 

 

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