PRÓLOGO DO ENSAIO SOBRE OS COSTUMES E O ESPÍRITO DAS NAÇÕES DE VOLTAIRE

VOLTAIRE – DO ENSAIO SOBRE OS COSTUMES E O ESPÍRITO DAS NAÇÕES

PRÓLOGO

(Trechos)

QUEREIS, enfim, dominar o tédio que vos causa a história moderna, desde a decadência do império romano, e obter uma ideia geral das nações que habitam e afligem a terra? Não procureis nessa imensidade senão o que merece ser conhecido: o espírito, os costumes e os usos das nações, apoiados em factos que não podemos e não devemos ignorar. O escopo deste trabalho não é indicar em que ano um príncipe indigno de ser conhecido sucedeu a um príncipe bárbaro, numa nação igualmente bárbara. Se tivéssemos a infelicidade de poder meter na cabeça a sequência cronológica de todas as dinastias, não I içaríamos sabendo senão palavras. Devemos tanto conhecer as grandes acções dos soberanos que tornaram seus povos melhores e mais felizes, como ignorar os reis vulgares, cuja lembrança viria apenas sobrecarregar-nos a memória. De que vos serviriam os detalhes de tantos e tão mesquinhos interesses, que já não subsistem, de tantas dinastias já desaparecidas, que disputaram províncias depois absorvidas pelos grandes reinos? Quase toda cidade possui hoje a sua história, verdadeira ou lendária, contada com maior amplitude e abundância de detalhes do que a de Alexandre. Os anais de uma ordem monástica enchem mais volumes do que os do império romano.

Em todas essas compilações, impossível de serem abrangidas, é preciso limitar e escolher. São como um vasto armazém, onde cada qual vai sortir-se daquilo que necessita.

O ilustre Bossuet, que no seu discurso sobre uma parte da história universal lhe apreendeu o verdadeiro espírito, pelo menos no que diz respeito ao império romano, não foi além do reinado de Carlos Magno. E é a partir dessa época que desejais esboçar um quadro do mundo; mas, para isso, é preciso remontar a todo momento às épocas anteriores. Esse eloquente escritor, ao dizer algumas palavras sobre os Árabes, que fundaram tão poderoso império e uma religião tão florescente, fala de um dilúvio de bárbaros. Parece haver escrito unicamente para insinuar que tudo no mundo foi feito pela nação israelita; que, se Deus outorgou o império da Ásia aos Babilónios, foi para punir os Judeus; se Deus fez reinar Ciro, foi para tirar uma vingança sobre eles; se Deus fez surgir o povo romano, foi ainda para castigá-los. Isso pode ser exacto, mas a grandeza de Ciro e dos Romanos tem ainda outras causas; e o próprio Bossuet não as omitiu ao falar do espírito das nações. Seria de desejar não houvesse ele esquecido completamente os antigos povos do Oriente, como os Indianos e os Chineses, tão consideráveis antes mesmo da formação das outras nações.

Alimentados com o produto de suas terras, trajados com os seus tecidos, divertindo-nos com os jogos que inventaram, instruídos por suas antigas fábulas — como podemos deixar de conhecer o espírito dessas nações que comerciantes da nossa Europa percorreram, desde que lograram encontrar um caminho para elas?…

Fonte: Voltaire. Clássicos Jackson. Trad. Brito Broca.

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