No fundo da chácara, numa touceira 1) de arbustos, um menino encontrou um ninho, onde três avezinhas mal emplumadas dormiam.
Contente do seu achado e no desejo inconsciente de se apoderar dêle, o menino meteu o braço por entre a trama dos galhos e das fôlhas e aproximou1) a mão cubiçosa dos pobres inocentes, que logo ergueram para êle o biquinho guloso.
Nesse momento, o menino ouviu pipilos angustiados e o sussurro de uma asa que lhe roçou pelo rosto. Depois sentiu que essa asa lhe batia nos olhos e que um bico audaz lhe espicaçava o rosto.
Tímido, receoso dessa inesperada agressão, retirou o braço e olhou. Era um tico-tico, a mãe das avezinhas do ninho, que defendia a prole, e continuou a atacar o menino, enquanto êle permaneceu junto à touceira de arbustos.
Saindo dali, muito admirado da audácia e da coragem dessa ave minúscula, o menino contou o caso à mãe:
E a mãe disse-lhe:
-
“Não há que estranhar, meu filho; essa avezinha faz pelos filhos o que eu faria por ti. Que pensarias de mim, se, um dia, um homem mau e forte entrasse nesta casa e procurasse levar-te, sem que eu lhe embargasse2) o passo? Pensas que, nessas ocasiões terríveis, as mães medem as suas fôrças? Nunca; o amor materno incute-lhes coragem e elas, sem avaliar as conseqüências de seu ato, pensando ^apenas nos filhos, procuram arrancá-los ao perigo iminente3), saltando à frente do agressor e atacando-o. Agora dize-me cá: Para que querias tu essas avezinhas mal emplumadas, que para nada servem? Não pensaste na dor que causarias aos pais, privando-os dêsses filhos amados? A ave, como cs sêres humanos, como todos os sêres animados, tem coração e tem alma. Ela sente como nós, sofre e chora como nós, como nós tem a sensação do prazer. Alegre quando canta,, triste quando pia, irritada ou desesperada quando grita, ela manifesta pela voz e pelo
gesto o seu estado dalma. Se a acaricias, tens nela uma amiga;
se a maltratas, principalmente os seus filhos, tens nela uma inimiga rancorosa que nunca te perdoará o agravo. Mas, para que maltratar a ave, se ela é por natureza tão boa, tão meia e tão útil? A maioria alegra-nos e delicia-nos com o seu canto. A
maioria fornece-nos ovos deliciosos que nos alimentam. Tôdas nos dão a pena que aformoseia a nossa toilette *) e que iios aquece, quando convertida em edredons 2), travesseiros e colchões macios. Acresce que a maioria é útil, porque livra os nossos campos e os nossos quintais das larvas e insetos daninhos que devastam ás plantações. Se elas não fôssem boas e úteis, os homens não assemelhariam os anjos às aves, dando-lhes asas, que são o símbolo da pureza e da bondade. Não faças mal às aves, meu filho, nem procures tolhê-las na sua liberdade, porque é em liberdade que elas devem viver para nos serem verdadeiramente úteis.
O menino, atento e enternecido, ouviu a mãe e, quando ela acabou de falar, apoderou-se de uma gaiola onde estava um pintassilgo aprisionado, abriu a porta e deu-lhe a liberdade.
A mãe disse-lhe comovida:
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Ê, assim que eu te amo, meu filho. Tens um bom coração.
E êle, contente, vendo o pintassilgo a voar, chilreando, exclamou :
-
Nunca mais, mamãe, nunca mais destruirei ninhos, porque. . .
-
Porque os ninhos são berços, meu filho, acrescentou a mãe.
-
Garcia Redondo.
1) touceira = moita, conjunto de plantas rasteiras e densas.
1) toilette — palavra francesa ‘— significa trajo, vestuário.
1 Os verbos aproximar-se, avizinhar-se, bem como os adjetivos próximo, perto, empregam-se com a prepos. de ou com a prepos. a. Ousaram aproximar-se ao antro dos Leões (Herc. Eur. 241). Próxima desta povoação estava outra mais aprazível. (I-Ierc.).
2 embargar o passo = impedir de passar.
3 Dê um sinônimo de iminente. — Que diferença há entre iminente e eminente?
Fonte: Seleta em Prosa e Verso dos melhores autores brasileiros e portuguesespor Alfredo Clemente Pinto. (1883) 53ª edição. Livraria Selbach.
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