Fitas Verdes – Viriato Corrêa

Fitas
Verdes

As salas do palácio de S.  Cristóvão
começavam  a encher-se.

O
príncipe D. Pedro aproximou-se da mulher — a princesa Dona Leopoldina — e
disse-lhe alegremente:


Arranje-me fitas verdes, mui­tas e muitas fitas verdes, para que toda esta
gente ponha laços no peito.

A
princesa, sorrindo, seguiu ra­pidamente em direção dos seus aposentos.

Aquilo
se passava na noite de 14 de setembro de 1822.

D.
Pedro, ao escurecer, havia chegado de S. Paulo, onde, sete dias antes, dera o
grito do Ipiranga que separara o Brasil de Portugal.

A notícia
da sua chegada e do grito de independência espalhara-se pela cidade, e os
patriotas, toda a gente que tinha ao Brasil um pouco de amor e de entusiasmo,
corria ao palácio para ouvir os pormenores do grande acontecimento.

La estavam
José Bonifácio, Gonçalves Ledo, Cunha Barbosa, Luís da Nóbrega. José Clemente,
frei Sampaio, todos os chefes da propaganda da independência.

O príncipe, com uma
alegria de rapaz, contava como havia dado o brado da separação. Voltava de
Santos com a sua comitiva. Faltava pouco para chegar a S. Paulo. De­viam ser
quatro e meia da tarde e ia pisando a margem do regato Ipiranga quando o
correio, que acabava de chegar do Rio, lhe entregara a correspondência.
Ansiosamente atirou-se a ler as cartas em que José Bonifácio e Dona Leopoldina lhe comunicavam as resoluções das Cortes de Lisboa. Pas­sou
imediatamente os olhos sobre os papéis das Cortes exigindo que ele embarcasse
sem perda de tempo para

Portugal.

Sentiu então o sangue
subir-lhe à cabeça.  Sacudiu os papéis no chão, arrancou do chapéu o laço
português, fir­mou-se nos estribos da sela, desembainhou a espada e, diante da
comitiva, gritou, de espada levantada: — Inde­pendência ou morte!

No mesmo instante
seguiram todos para S. Paulo.  A cidade delirou. À noite houve espetáculo de
gala no teatro da Ópera.

Ele compareceu ao espetáculo levando no braço um laço
de fita verde.

 

Todos no teatro tinham fitas verdes -no
braço.  Era a cor verde a que haviam escolhido para a bandeira do Brasil. —
Quero que todos aqui, como em S. Paulo, disse risonhamente, – ponham no braço
laços de fitas verdes.


Dona
Leopoldina voltava da alcova com as mãos cheias de fitas. E ela própria
distribuiu laço por laço pelos patriotas. E, um por um, eles vão-se curvando
agradecidos, diante dela.

Não havia
brasileiro que não sentisse o coração cheio de ternura por aquela mulher.

Todo
o mundo sabia quanto Dona Leopoldina traba­lhara pela independência do Brasil.
Ninguém tinha dúvi­das de que fora ela que fizera o marido colocar-se ao lado
da liberdade brasileira. Todo o mundo sabia que, dias atrás, quando o
ministério mandara comunicar ao prín­cipe D. Pedro, em S. Paulo, as ordens humilhantes das Cortes de Lisboa, ela escrevera uma carta ao esposo dizen­do-lhe
que havia chegado o momento de proclamar a inde­pendência.

*

Carros paravam a todo instante no pátio
do palácio.

Gente,
mais gente. Nas salas, agora, quase ninguém podia mover-se.

D. Pedro,
alegre, vivo, agitava-se pelos salões, ora con­versando com um, ora conversando
com outro, a narrar as minúcias da tarde de 7 de setembro.

De
repente verificou que havia muita gente sem laços verdes nos braços.

— Os
laços foram poucos, disse à esposa. Não haverá
mais fitas verdes no palácio?

Dona Leopoldina sorriu.

— Não há.

— Mas é preciso arranjá-las, seja como for.

A princesa
segue imediatamente pelo corredor, em rumo do seu quarto de dormir. No quarto
abre uma ga­veta, mais outra, outras mais e revolve-as nervosamente,
apressadamente.   Nem uma fita verde, nem uma!

E já vai
em direção da porta, para sair, quando os seus olhos se fixaram na larga cama
no meio do quarto. Os grandes travesseiros de cambraia estão enfeitados de
fitas verdes.

Brilham-lhe
os olhos alegremente. Arranca as fitas uma por uma, pedaço por pedaço, sem
deixar uma só.

Entra no
salão com uma vivacidade de criança e, aproximando-se do marido, diz-lhe com a
satisfação de quem tivesse realizado um grande feito:

— Arranjei as fitas.

Há uma exclamação de contentamento em toda a sala. Com
um leve tom de rosa no rosto, Dona Leopoldina acrescenta:

— Tirei-as dos travesseiros da minha
cama.
Instintivamente todos os brasileiros baixam a cabeça

numa reverência profunda.

Grande
mulher, aquela, que ligava a liberdade do Brasil à intimidade recatada dos
travesseiros de sua cama!

E
ninguém se sente digno de merecer um laço de fita que vinha daquela intimidade.

Há em todos um acanhamento, uma indecisão. Mas aquilo
dura apenas três ou quatro segundos. Antônio Me­nezes de Vasconcelos Drumond
avança um passo.  Dona Leopoldina oferece-lhe um laço de fita.   Ele beija-lhe
a mão e diz respeitosamente, comovido:

—. Obrigado, majestade!

Uma exclamação maravilhosa se ouve na sala inteira:

– Ah!

Ninguém,
até então, se havia lembrado de que ali não estava mais Leopoldina, a
arquiduquesa d’Áustria e sim Leopoldina, a soberana do Brasil.

E os
patriotas, um a um, avançam um passo. Dona Leopoldina distribui-lhes as fitas.

— Obrigado, majestade!  Obrigado,
majestade, E a cada laço um beijo estala, beijo de ternura, de gratidão, a
única prova de amor que, naquele momento, o coração brasileiro podia dar àquela
grande amiga do Brasil.


 

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