Ilíada de Homero – Canto XI

Ílíada de Homero
Resumo e apresentação da Ilíada
Prefácio a Ilíada de Homero
Canto I
Canto II
Canto III
Canto IV
Canto V
Canto VI
Canto VII
Canto VIII
Canto IX
Canto X
Canto XI
Canto XII
Canto III
Canto XIV
Canto XV
Canto XVI
Canto XVII
Canto XVIII
Canto XIX
Canto XX
Canto XXI
Canto XXII
Canto XXIII
Canto XIV
Canto XV
Canto XVI
Canto XVII
Canto XVIII
Canto XIX
Canto XX
Canto XXI
Canto XXII
Canto XXIII
Canto XXIV

Ilíada de Homero
Versão em português de Odorico Mendes

L I V R O XI

ARGUMENTO DO LIVRO XI

Júpiter manda a Discórdia à frota
dos Gregos para os excitar ao

combate. — Agamémnon orna-se de suas
armas. — Conduz suas

tropas ao campo da batalha. — Júpiter
interessa-se pelos Troianos.

— Heitor prepara-se para não recuar
ante os Gregos. — Temível

combate entre os Gregos e Troianos.
— Agamémnon admira o valor

dos Troianos. — Derrota dos Troianos.
— Júpiter salva a Heitor,

quando os Troianos em fuga. — Manda
Júpiter que íris leve uma

mensagem a Heitor. — Heitor percorre
as fileiras e inspira seus

soldados com um novo ardor. — Recomeça
o combate. — Novos feitos

de Agamémnon, que se retira do combate
ferido. — Esta circunstância

reanima o exército Troiano. — Feitos
de Heitor. — Vantagem dos

Troianos. — Ulisses e Diomedes restabelecem
por sua coragem a

dúvida sobre o êxito do combate. —
Júpiter deixa a vitória indecisa.

— Os Troianos e os Gregos se degolam
sem embaraço. — Diomedes

repele a Heitor, eme vai misturar-se
com a multidão dos guerreiros, e

é ferido por Paris. — Ulisses vai
em socorro de Diomedes, que é conduzido para junto dos navios. — Ulisses fica só
no meio dos Troianos,

põe por terra muitos combatentes,
e é ferido por Soco. — Soco ia

fugir quando Ulisses o traspassa com
a lança. — Quase morto no

meio dos inimigos, Ajax e Menelau
correm e o tiram do combate. —

Paris fere a Macaon. — Consternação
dos Gregos. — Ajax põe o

exército Troiano em fuga. — Heitor,
que estava em outro lado, vem

e fere a Ajax. — Aquiles chama seu
amigo Patroclo, e o manda saber

de Nestor novas do combate. — Nestor
lhe pinta a triste imagem das

desgraças dos Gregos. — Patroclo volta
a Aquiles para pedir-lhe que

socorra aos Gregos, ou que lhe empreste
suas vestimentas e armas

a fim de que os inimigos se iludam
e tenham medo. — No caminho

encontra Eurípilo ferido; o conduz
à sua tenda onde tem com ele

todos os cuidados.

Surgindo a Aurora do Titónio leito,

O globo e os céus alumiava, quando

Jove a nera Discórdia às naus despede;

A qual, da guerra sacudindo o facho,

Parou no centro, na de Ulisses, donde

Em tendas e baixeis ouvida fosse

De Aquiles e de Ajax, que aos dois
extremos,

No seu valor seguros, alojavam.

Brame horrentíssimo, e retine o grito

Ao coração dos Dânaos, que incessantes

Anseiam batalhar, e então mais doce

Lhes era a pugna que a tornada à pátria.

Clama e intima Agamémnon que se aprestem,

E aéneo luz. Com prata finas grevas

Primeiro às pernas afivela; aos peitos

Loriga veste, que hóspede Ciniras

Mandou-lhe em dádiva, ao troar em
Chipre

A nova de ir a Tróia a grega armada:

Compunha esmalte escuro dez estrias,

Doze ouro, estanho vinte; azuis ao
colo

Três serpes iriando lhe trepavam,

Como o curvo sinal que o Padre em
nuvens

Aos falantes gravou. De áurea tauxia

E de áureo boldrié, fulgura a espada

Em argêntea bainha. Adarga-o todo

Estupendo pavês, maneiro e ingente,

Com dez éneos debruns, com vinte embigos

Branquíssimos de estanho, e de aço
bruno

Disparava o do meio ameaçadora

A feia Górgona e o Terror e a Fuga;

De argêntea faxa ao longo se torcia

Vivo dragão cerúleo, que recurvas

Tinha cabeças três num só pescoço.

Do elmo de quatro cones tachonado

Crista lhe nuta horrenda e eqüina
coma.

Válidas eriagudas lanças duas

Toma, cujo fulgor fere as estrelas.

Palas de cima e Juno, em honra toam

Do opulento senhor da grã Micenas.

Prescrito a cada auriga ter em ordem

Junto ao fosso os corcéis, ruidoso
e imenso

Antes d’alva o alarido, a pé remete

Armados campeões, e atrás em fila

Vêm vindo os carros. Do éter o Satúrnio

Rumoreja, e de sangue orvalho chove,

Presságio de que ao Orço iam ser muitas

Almas de altos varões precipitadas.

Além, num teso, o recto Polidamas

Alinha os seus, e Eneias nume ao povo,

Mais os três Antenóridas, Polibo,

Nobre Agenor, inda solteiro Acamas

A imortais parecido; à frente a enorme

Rodela vibra Heitor: qual dentre as
nuvens

Sem véu nenhum reluz funesto Sírio,

E alguma vez se ofusca; assim na prima

Ala aparece o herói, percorre a extrema,

Prevê, dispõe, comanda, em bronze
esplende.

Como o tonante Egíoco lampeja.

Quando centeio ou trigo os segadores

Em farta messe opostos vão ceifando,

O agro juncam de espigas: tais se
prostram,

Com mútua horrenda clade, Argeus e
Teucros;

A desastrada fuga a nenhum lembra;

Barba a barba, acometem como lobos.

Lutuosa a Discórdia olhando exulta,

Único deus que assiste: os mais, por
cumes

Do Olimpo, quedos em mansões formosas,

O Anuviador acusam, que aos Troianos

Destinava o triunfo; mas o Padre,

Sem lhe importar, a parte e ledo mira

Naos e cidade, os fulgurantes bronzes,

O ferir e o morrer dos combatentes.

Enquanto ia crescendo a manhã sacra,

A turba a tiros cai; mas, quando em
vales

De árvores decotar a mão sacia

Lânguido o lenhador, e ávido anela

Almo sustento e seu jantar prepara,

Uns então pelos outros animados,

Rompem com brio os Dânaos as falanges.

Âgamémnon precede, e abate o régio

Maioral Bianor e Oileu cocheiro.

Oileu se apeia e investe; mas na fronte,

Sem que éneo casco o embargue, entrada
a lança

Pelo osso, dentro o cérebro deturpa:

Doma-lhe a audácia o rei. Nus amo
e pajcm

Da túnica e loriga, os abandona.

Foi-se a ísios e Antifo Priameios,

Legítimo e bastardo, ambos num coche:

Era o bastardo auriga, Antifo ilustre

Pelejador, os quais, pascendo ovelhas

Em fraga Idéia, atara em fléxeis vimes

E o seu resgate recebera Aquiles:

De hasta a Ísios o Atrida a mama fere,

A Antifo de um fendente ao pé da orelha

Dcrriba; eis despe-os das brilhantes
armas,

Reconhecendo-os, pois a bordo os vira,

De quando o Velocípede os prendera.

Leão, que em toca assalta a corcozinhos,

Fácil com dente rábido os lacera

E as tenras almas tira; a mãe coitada,

Perto embora, não cuida em protegê-los,

Trêmula em denso carvalhal se acouta,

Suando evade-se à cruenta fera:

Assim, nenhum Troiano ousa acudir-lhes,

Do ímpeto Graio trépidos fugiam.

O argólico leão corre a Pisandro

E ao firme estrénuo Hipóloco, dois
ramos

De Antímaco valente, o qual, peitado

Pelo esplêndido Paris, mais se opunha

A ser entregue Helena ao flavo esposo;

Toma-os num ponto e seus corcéis retidos,

Pois largaram de susto insignes rédeas,

No carro de joelhos implorando:

"Vivos nos leva, Atrida, e aceita
o preço

Da rerryssão; que Antímaco, pai nosso,

Cobre e ouro encerra e trabalhado
ferro,

E te há-de encher de dádivas infindas,

Se presos nos souber na Argiva armada."

Falam chorando ao rei com meigas vozes,

E ele não meigas volve: "Quê!
sois filhos

De Antímaco belaz, que em Troica junta

Votou morte a Grajúgenas legados,

A Ulisses divinal e a Menelau?

Ora pagai-nos a paterna injúria."

Disse, e um bote a Pisandro, pelos
peitos,

Lança do coche, ressupino o estira;

Salta Hipóloco em terra, e a gládio
o Aquivo

Os braços e o pescoço lhe decepa,

E como um tronco arbóreo à chusma
o atira.

Dali desfaz, com outros bem grevados,

Hostes inteiras: a pedestre imola

Pedestre, cavaleiro a cavaleiro;

Pulvéreas nuvens ergue ericalçado

O ruidoso tropel quadrupedante.

O rei vai na carnagem prosseguindo

E acorçoando os seus: como edaz fogo

Em virgem mata, ao vário Eólio sopro,

Árvores turbinoso estirpa e fende;

Ele assim talha e estronca os fugitivos,

E a nitrir, entre as filas derrotadas,

Rojam árduos corcéis vazios carros,

Tristes por seus cocheiros, que ali
jazem

Mais gratos aos abutres que às esposas.

A Heitor fora do pó, dos tiros fora,

Da carnívora acção, da gritaria,

Jove entanto conduz: na ânsia de abrigo,

Já de Ilo o prisco túmulo trasposto,

A baforeira os Teucros se aproximam;

Rugindo os segue o Atrida, e vai manchando

Em cruor polvorento as mãos invictas;

Retêm-se eles às portas junto à faia,

Uns a espera dos outros. Qual em noite

Borrascosa o leão pela campina

Pávidos bois acossa, e ao mais tardonho

Rasga a cerviz com navalhadas presas,

Sangue lhe chupa e entranhas; Agamemnon

Tal os encalça e o derradeiro prostra:

Quem de costas caía, quem de bruços,

Da regia lança aos furibundos golpes.

O herói tocava os muros; e eis baixando,

Na dextra o raio, o pai de homens
e numes

No pino do Ida em fontes abundante

Senta-se, a núncia ali-dourada chama:

"Rápido, íris: Heitor que o pé
reprima,

Enquanto à frente o maioral dos Gregos

Cortar nos batalhões, mas sempre alente

Os seus a resistir o embate horrível.

Assim que o vulnerar ou dardo ou seta,

Ao carro monte; eu lhe darei vitória:

Há-de às instrutas naus levar o estrago,

Té que o sol tombe e venha a sacra
noite."

Aerípede a núncia do Ideu cume

À santa Ílio descendo, o Priamides

Encontra em pé no aparelhado coche:

"Guerreiro na prudência igual
a Jove,

Isto ele aqui te ordena: o pé reprimas,

Enquanto à frente o maioral dos Gregos

Cortar nos batalhões, mas sempre alentes

Os teus a resistir o embate horrível.

Assim que o vulnerar ou dardo ou seta,

Montes ao carro, e te dará vitória:

Hás-de às instrutas naus levar o estrago,

Té que o sol tombe e venha a sacra
noite."

Some-se íris. Heitor pula do coche,

Dardos brande erifúlgidos, alas corre,

Provocando a conflito: voltam face

Os Teucros logo; intrépidos os Dânaos

Cerram-se firmes, a peleja instauram;

De encetá-la ansioso, ruge o Atrida.

Celestes Musas, declarai-me agora,

Que ilustre auxiliar ou que Troiano

Com Agamémnon se arrostou primeiro?

Alto e audaz o Antenórida Ifidamas,

Na altriz criado pecorosa Trácia.

De pequeno o educara o avô materno

Cisseu, pai da pulquérrima Teano;

O qual vendo-o na ovante puberdade,

Para tê-lo consigo, deu-lhe a filha.

Noivo, ao soar a empresa, vasos doze

Tripulando, ancorou-os em Percope,

Veio por terra socorrer a Tróia.

De perto, fronte a fronte, já se investem:

Agamémnon desfecha, e o dardo aberra;

Ele por sob a coira à cinta o apanha,

Com rijo pulso e esforço enterra a
ponta,

Que o bom talim não fura, mas qual
chumbo

Topando amolga em lâmina de prata.

Com garras de leão, furioso o Atrida

A haste a si puxa, arranca-lha, de
um talho

Cerceia-lhe o pescoço e os membros
solve.

Por seus concidadãos sono éreo dorme,

Ah! longe da mulher que em flor obteve,

Da qual nem se logrou nem prole havia,

A qual cem bois doara e prometera

Cabras e ovelhas mil dos seus pastios.

Despiu-lhe as pulcras armas Agamémnon,

Entrou com elas pela Argiva turba.

Coon, claro Antenórida e o mais velho,

Defunto o irmão, toldados sente os
lumes;

Ds esguelha sorrateiro escorregando,

Além do cotovelo, no antebraço

De Agamémnon a choupa enfia aénea:

Ao golpe freme o rei, mas não desiste;

Hasta em punho dos ventos roborada,

Acomete a Coon, que de Ifidamas,

Do mesmo pai gerado, ia o cadáver

Arrastando e a gritar que o socorressem:

Nisto, abaixo do escudo um bote acerta,

Sob o fraterno corpo é degolado.

Cheio o destino, ao Orco assim o Atrida

Estes dois Antenóridas remete.

Enquanto o sangue da ferida mana,

A gládio alas descose, a dardo, a
pedras;

Assim que estanca e esfria, eis lancetadas

Lhe vêm, não menos cruas que as da
frecha

Que despedem no parto as Ilitias,

Filhas de Juno e mães de cruas dores.

Monta, e magoado a seu cocheiro ordena

Que aos baixeis o transporte, e vocifera

Com voz tonante: "Príncipes e
amigos,

Toca-vos repelir das naus o assalto;

Veda o Padre bater-me o dia inteiro."

O auriga para a frota os crinipulcros

Frisões verbera, que espontâneos voam;

Sob os pés a poeira, a escuma aos
peitos,

O atribulado rei do prélio afastam.

Ausente o Aquivo chefe, trovejando

Heitor instiga os seus: "Troianos,
Lícios,

De perto exímios Dardanos, sede homens,

A vossa intrepidez vos lembre, amigos:

Foi-se o herói, e o Satúrnio dá-me
a glória;

Maior a alcançareis, aos feros Dânaos

Remessai-me os solípedes ginetes."

Com isto inflama e os corações esforça.

Como açula o monteiro a cães de fila

Contra leão ou javali sanhudo,

O atroz Marte Priâmeo contra os Graios

Os magnânimos Teucros açulava:

Ao conflito se arroja impetuoso,

Qual sibilante furacão das nuvens

Salta e encapela o ferrugíneo pego.

Que heróis de Heitor a cólera provaram,

Ao cingi-lo o Supremo da vitória?

Osseu logo, Agelau, Autono, Opites,

Com Dolope de Clício, Oféltio, Esimno,

Oros, e enfim o acérrimo Hiponoo:

Passa ao depois às turmas. Quando
em luta

Zéfiro exasperado açouta as nuvens,

Que vivo Noto imbrífero ajuntara,

Ao multívago sopro incha a mareta,

Remoinha e salpica a espuma os ares:

Tantas vidas à plebe Heitor segava.

Fora total o exício e irreparável,

A fugida mortífera, a Tidides

Se não clamasse Ulisses: "Quê
! Diomedes,

Nosso brio esquecemos ? oh! que opróbrio,

Se o belígero Heitor nos toma a frota!

Põe-te a meu lado, amigo." —
"Sim, responde,

Eu te sustentarei; mas pouco importa,

Que Jove aos Teucros o triunfo apresta."

Disse, e a lançada à sestra mama expele

Do assento ao rei Timbreu; no entanto
Ulisses

Lhe mata o pajem Molion deiforme.

Da batalha estes fora à chusma investem,

Como a lebréus dois javalis bravosos;

O ímpeto e assalto novo a desbarata,

E os de Heitor perseguidos já respiram.

Num coche os nados brilham do adivinho

Meropo de Percote; irmãos que õ padre

Vedou que entrassem na homicida guerra,

E a quem surdos as Parcas atraíram:

Priva-os Diomedes ínclito lanceiro

Do alento e belo arnês, enquanto Ulisses

Mata Hipódomo e Hipíroco e os despoja.

Do Ida olhando o Satúrnio, iguala
a pugna,

E as mortes fervem. Lanceou Diomedes

Na coxa o herói Agástrofo Peónio:

Doeu-lhe dos corcéis faltar-lhe o
efúgio;

Que o pajem longe os tinha, e ele
pedestre

Acre avançava, até que a vida perde.

Heitor o adverte, e às hostes brame
e acorre;

Diomedes mesmo enfia: "Ulisses,
olha,

Um turbilhão nos volve Heitor furente:

Constância, amigo, o embate rechacemos."

Nisto, o pique despede, e não baldio,

Bate-lhe na cabeça; mas do bronze

Repulso o bronze, a cútis nem lhe
esflora;

Tríplice o tolhe o elmo, dom de Febo.

Desaparece Heitor, e a poucos passos

Cai ajoelhado, à forte mão sustido;

Um tenebroso véu lhe enfusca os olhos;

Pela Teucra vanguarda ia Diomedes

Seu pique recobrar no chão pregado,

Quando em si torna Heitor e ao carro
pula,

No tropel se confunde e o transe evita.

E o Grego, em reste a lança: "Inda
escapaste,

Cão, do corte letal salvou-te Apoio,

Que entre o fragor das armas sempre
invocas.

Hás-de, ajude-me um deus, comigo haver-te;

Outros por ti mo pagarão agora."

Ao Peónio deitava-se, eis que o tiro

Arma o taful da emadeixada Helena,

Atrás do cipó tumular do antigo

Ilo, Dardânio padre: O herói despia

Do hasteiro extinto Agástrofo a coiraça

Vária e o broquel e o grave capacete;

O arco dispara, a vira não desmente,

Que ao pé dextro as falanges atravessa

E enterra-se no chão. Rindo ufanoso

Paris sai da emboscada: "Estás
ferido,

Nem me falhou a seta: oh I se te houvera

Profundado as entranhas! de ti, monstro,

Respiravam Troianos, que te hão medo,

Assim como a leão berrantes cabras."

E Diomedes impávido: "Insolente,

Só bom no corno e rufião de moças,

Vem cara a cara, e o arco pleno coldre

Verás se te aproveitam: vanglorias

De arranhares-me um pé? não me inquieta,

Foi de fêmea ou criança espinho leve;

Mossa não faz o golpe de um cobarde.

Meu dardo, sim, é ruína do em que
toca,

É pranto e mágoa da carpida esposa,

De filhos desamparo; em sangue a terra

Avermelha e apodrece; em torno ao
morto

Mais que a mulheres os abutres chama."

Põe-se Ulisses diante; ele se encosta

No amigo e extrai a farpa; em todo
o corpo

Sofre agras dores; monta, e angustiado

Manda ao cochciro que o transporte
a bordo.

Dos seus abandonado Ulisses resta;

Suspira e fala com sua alma grande:

"Ai! que farei? Se à multidão
por medo

Me esquivo, é mau; pior, se aqui me
apanham,

Pois Jove há dispersado os outros
Graios.

Mas que indago, minha alma? eu sei
que é torpe

O combate largar; deve um guerreiro

Com firmeza ou ferir ou ser ferido."

Enquanto em si discursa, as Troicas
turmas

Sobrevêm adargadas e o torneiam,

Dentro a peste acolhendo. Se em balbúrdia

Flóreos moços e cães javali caçam,

Da mata surde a fera, os alvos dentes

Nus recurvas queixadas amolando;

Apesar do rangido e aspecto horrendo,

Férvida a chusma o ataca: assim, de
Ulisses

Divino em cerco, os Troas o acometem,

Ei-lo de hasta, ao famoso Deiopite

O ombro fisga, a Toon e Enono estende,

E a Ccrsidamas, ao pular da sela,

Por debaixo do escudo o embigo ofende;

No pó tomba o infeliz, de palma em
terra.

Deixa-os, e agrede o Hipásida Caropo,

De Soco generoso irmão germano;

Soco deiforme a socorrê-lo avança,

Perto brama: "Doloso e infadigável,

Filhos ambos de Hipaso, ou tens a
glória

De mortos hoje nos despir as armas,

Ou desta minha ao bote a vida exalas."

Esgrime, e a choupa a lúcida rodela

Fura e a mesma coiraça artificiosa,

Rasga-lhe as carnes das costelas:
Palas

As vísceras preserva. O golpe Ulisses

Mortal não o sentiu; recua um pouco:

"Ah! fraco, diz, soou-te a hora
extrema:

De progredir no prélio me tolheste;

Mas desta lança o gume, hoje to afirmo,

Dar-te-á morte escura e a mim triunfo,

Tua alma ao rei da lúgubre quadriga."

Soco retrocedia, quando a ponta

Finca-se atrás na espádua e sai aos
peitos;

Rui com fracasso; o vencedor o insulta:

"Soco Hipasíada egrégio cavaleiro,

Do fim letal, ah! vil, não te evadíste;

Pai nem piedosa mãe te cerra os olhos;

De asas batendo-te, aves de rapina

Te hão-de cruas tragar: morto eu,
de Aquivos

Respeitosos terei funéreas honras."

Aqui, da pele e do copado escudo

O dardo extrai que lhe vibrara Soco:

Dor curte acerba e lhe borbota o sangue;

Ao vê-lo, os Teucros a exortar-se
açodem;

Retrograda e. alça a voz; o grito
ouviu-lhe .

O belicoso Menelau três vezes,

E volto a Ajax: "ó Telamónio
excelso,

Do Laércio me soa o aflito brado,

Como de quem labora em grande afronta:

Rompamos pela turba a defendê-lo.

Temo que só, por tantos apertado,

Pereça o herói, com mágoa dos Aquivos."

Marcha, e após ele o divinal guerreiro;

Acham de Jove o aluno entre os contrários.

Já frechado, fugaz galhudo cervo

Ao caçador se esquiva, enquanto o
sangue

Tépido escorre e movcm-se-lhe as pernas,

Té que o doma a ferida, e em monte
umbroso

Crus ávidos chacais vão lacerá-lo;

Nisto, um leão rebenta formidável,

Que derrama os chacais e a presa toma:

Assim bravo tropel cercava o astuto

Herói, que de hasta em punho o amargo
dia

Repulsa audaz; mas rui o Telamónio

De pavês torreante, e foge a turba.

A Ulisses Mcnelau sustem nos braços,

E o coche entanto o pajem lhe aproxima.

Remete Ajax ao Priameio espúrio

Dóriclo e o mata; a Pândaco vulnera,

Mais a Lisandro e Píraso e Pilarte.

Quando o imbrífero nume das montanhas

Torrentes rola, a cheia o campo inunda,

Secos leva lariços e carvalhos,

E o lodo arroja ao mar: Ajax destarte

Vai cavalos talhando e cavaleiros.

Isto ignorava Heitor, à esquerda e
às ribas

Do Escamandro a pugnar, onde as cabeças

Bastas caindo, há grita imensa em
torno

Do grande Pílio e Idomeneu mavórcio.

Lá, de hasta e carro, Heitor passeia
ardido,

E hostes brilhantes façanhoso arrasa;

Mas brecha entre esses bravos não
se abrira,

Se o raptor da pulcrícoma não fere

Com trifarpada seta no ombro dextro

Ao belaz Macaon pastor de povos.

Desanimam-se os Dânaos, receando,

Inclinado o conflito, ali perdê-lo;

E à pressa Idomeneu: "Monta,
Nelides,

Honra da Grécia; a Macaon recolhe,

Para a frota os unguíssonos dirige:

Por muitos vale um médico; ele os
dardos

Extrai, unge a ferida e acalma as
dores."

Sem demora Nestor sobe a seu carro,

E do exímio Esculápio o digno filho;

Toca os ginetes, que de grado arrancam,

De voltar para as naus contentes voam.

Do coche Hectóreo, Cebrion dispersos

Avista os seus e clama: "Aqui
num cabo

De horrísona batalha combatemos,

E os mais Teucros, Heitor, baralha
e espanca-os

O Telamónio Ajax, que reconheço

Pelo imenso pavês. Lá galopemos

Onde o estrondo é maior, onde a carnagem

De équites e peões é mais ferina."

Ei-lo estala o chicote, e os crinipulcros,

Sentindo o açoute, a Gregos e a Troianos

Corpos e escudos rápido calcavam:

Eixo e caixa de sangue afeiam gotas

Que das patas e rodas se espargiam.

Heitor como arde por cortar na turba!

Derrota, esgrime, nem descansa o braço,

A gládio e lança e pedra assola e
estraga;

Porém do Telamónio o encontro evita.

A Ajax do Olimpo Jove incutiu medo:

De setêmplice tarja às costas fica;

Atento à chusma, atônito se aparta,

Feroz volta-se, e lento o passo alterna.

Cães e campinos, em nocturna vela,

Famélico leão do cerco expelem,

Vedando-lhe o cevar-se em pingues
reses;

Em vão remete, que, de audazes pulsos

Dardos voando e fachos, ruge iroso

Recua, e n’alva se retira mesto:

Assim, tristonho e invito, Ajax temendo

Pelas Aquivas naus, deixava os Teucros.

Apesar dos meninos que o fustigam,

Dentro a seara tosa asno tardio;

Sem que fracas pauladas o inquietem,

Só deixa o pasto quando a fome extingue:

Tal, dos golpes zombava o Telamónio

Dos valorosos Teucros e aliados;

Lembra-lhe o brio próprio, encara
ou foge

Contendo as hostes de assaltarem juntas

A Grega frota. Em meio ele só brame

Dos exércitos ambos; chovem tiros,

Fincam-se no pavês, muitos na areia,

De embeber-se nas carnes desejosos.

Eurípilo Evemónio, ao vê-lo opresso,

Corre com brava ardente lança ao cabo

Apisaon Fausíade, por baixo

Do diafragma o fígado lhe vara

E afrouxa-lhe os joelhos. Apear-se

Vai por despi-lo, e o arco atesa Paris;

Na dextra coxa, a Eurípilo vibrada,

Quebra-se a frecha e cruas dores causa.

Ele aos seus revertendo ilude os fados,

E forte vocifera: "Aqueus e amigos,

Alto! afastai de Ajax o escuro dia;

Duvido escape da tormenta horríssona,

Mas socorrei de Telamon o filho."

De escudo aos ombros e hasta em reste,
os sócios

Junto ao ferido apinham-se; a encontrá-los

De fronte Ajax reverte; em mó carregam,

Pelo tropel qual fogo iam lavrando.

Suadas ao levar Neleias éguas

A Macaon e o dono, o Velocípede

Reconhece-os da popa, donde a lide

E a fuga lagrimosa contemplava;

Grita ao Menécio, que parelho a Marte,

Princípio do seu mal, da tenda assoma:

"Que me queres, Aquiles, que
me ordenas?"

O amigo então: "Patroclo da mimYalma,

Intolerável peso oprime os Dânaos,

E ante mim os figuro suplicantes.

Presto, a Nestor pergunta, ó caro
a Jovc,

Qual dos chefes transporta golpeado;

Pelo talhe o Asclepíade parece;

Rápida biga seu semblante encobre."

Dócil o bom Menécio ao companheiro,

Entre o campo corria e as naus Aquivas.

Nestor e Macaon já n’alma terra

Apeiam-se, e desjunge antigo pajem

Eurímedon o carro; as vestes ambos

Na praia do suor ao vento enxugam:

Vao-se à tenda, em camilhas se recostam:

Bebida apresta a nítida Hecamede,

Filha do grande Arsímoe, que o Gerénio

Por exceder a todos nos conselhos,

Houve em Ténedos, presa do Pelides.

Põe de azulados pés à lisa mesa

Flor de sacra farinha em disco aéneo,

Recente mel e um pico de cebola;

Põe copa linda, que trouxera o velho,

De cravos de ouro, e de ouro um par
de pombo»

Em torno a cada um de asas quatro,

Com dois no fundo, ali se apascentavam:

Movê-la outrem sem custo não pudera,

E cheia o velho facilmente a erguia.

A divinal donzela Prânio vinho

Dentro mescla, e raspado em éneo ralo

Queijo caprino e uns pós de branco
trigo;

E os conforta com isto e os dessedenta.

Já se recreiam conversando, e à porta

A um nume igual apareceu Patroclo:

Em pé Nestor, condu-lo pela dextra

Ao resplêndido escano; mas o núncio

Renui dizendo: "Ancião de Jove
aluno,

N ã o me assento; é. terrível quem
me envia

P a r a saber qual fosse o vulnerado;

Vejo que é Macaon, a Aquiles torno.

T ã o colérico humor tu bem conheces:

Em seus furores o inocente culpa."

" A h ! clama o velho, sente
Aquiles hoje

Dos vulnerados pena? o luto ignora

Do campo inteiro? A bordo os mais
estrénuos

À mão tente ou de longe estão feridos:

A pique o Atrida e Ulisses, mas frechados

Na coxa Eurípilo e no pé Tidides;

Arco a farpa enviou contra este amigo.

F o r t e em vão, sem piedade espera
Aquiles

Que hostil fogo, apesar do esforço
nosso,

Consuma as naus, e pereçamos todos?

" O h ! pubente fosse eu robusto
e ágil,

Qual dos Epeus e Pílios na discórdia

Pelo armento roubado em represália,

Quando o Hipiróquio Itimoneu, que
em Élis

Habitava, abati! Sob o meu dardo,

Ao defender seus bois, caiu na frente;

Bravia a tropa, derrotada, aos nossos

T u d o largou: de ovelhas greis cinqüenta,

Iguais vacuns manadas, e não menos

Varas de porcos e de cabras fatos;

De éguas baias o triplo e seus mamotes.

Folgou Neleu de noite à nossa entrada,

Porque estreei novel com tais proezas.

Pregões chamaram n’alva a quem devia

Elide gado, e os príncipes a presa

Pelos muitos queixosos dividiram.

Como Hércules, talando as nossas terras,

Os melhores matara, e eu só restasse

Dos filhos doze de Neleu valentes,

Da míngua nossa e dano os lorigados

Ultrajantes Epeus escarneciam:

Meu pai quatro frisões mandara aos
jogos

Disputar uma trípode, e os reteve

O rei de Elide Augeias; triste o auriga

Veio contá-lo. Então Neleu, da afronta

Picado, reservou com seus pastores

Em boiadas e greis trezentas reses,

Justa porção distribuindo ao povo;

Mas o terceiro dia, ao celebrarmos

Pela cidade aos numes sacrifícios,

Tropa eqüestre e pedestre eis nos
assalta,

E ambos os Moliões, inda mocinhos,

Pouco versados em Mavórcias lides.

A íngreme Trioessa à margem fica

Do Alfeu, na extrema da arenosa Pilos:

Na ânsia de sovertê-la, a sitiavam;

Mas de noite, a campina ao traspassarem,

Desce a Pilos Minerva, incita e ajunta

Ávida gente a pelejar disposta.

Neleu me crê bisonho e o coche oculta;

E a pé mesmo, entre os nossos cavaleiros,

Me assinalei, guiado por Tritónia.

Deságua o Minieio e banha Arena,

Onde a aurora esperávamos celeste

E afluíam peões. O dia em meio,

Ante o Alfeu todo o exército, ao Supremo

Feitas gratas ofrendas, imolámos

Um touro ao santo rio, outro a Neptuno,

Juvenca indómita à cerúlea Palas,

E ceiamos em ranchos e dormimos

A borda armados sempre. Aquele assédio

Vastadores Epeus mais estreitavam;

Porém com Márcio arrojo os prevenimos:

Mal assomava o Sol, a Jove e a Palas

A suplicar, travámos a batalha.

Eu por Múlio a encetei, genro de Augeias

Que a filha primogênita esposara

Fiava Agamede, a qual da terra inteira

As salutares plantas conhecia:

De um bote, ao me encarar, na areia
o estiro;

Salto-lhe ao coche, e troto antessignano.

Vendo os Epeus dos équites caído

O chefe mais belaz, sem ordem fogem.

Qual furacão rui de lança em punho;

Coches tomei cinqüenta, e a cada coche

Derribei dois varões que o pó morderam.

De Actor e Molion prostrara os filhos,

Se, envoltos em negrume, o avô Neptuno

Amplo-dominador os não salvasse.

Deu-nos vitória o Céu: matando fomos

E armas colhendo no alastrado campo;

À cereal Buprásio, à pétrea Olénia,

E Alésio até Colona, os perseguimos,

Donde gente e corcéis retirou Palas;

E um lá inda imolei. De volta a Pilos,

A Jove entre imortais rendiam graças,

E n t r e homens a Nestor. Fui tal
no esforço.

" M a s para si guarda o valor
Aquiles;

Há de pesar-lhe o exército perder-se.

Quando, amigo, eu e Ulisses pela Acaía

Levantávamos tropas, no agasalho

Das casas de Peleu, de Aquiles junto

Nós te encontramos e a teu pai M e
n e t e s :

Num claustro o ancião Peleu bovinas
coxas

Ao tonante queimava, de áurea taça

Roxo vinho entornando em rubras chamas;

Vós preparáveis suculentas carnes.

Alvoroçado Aquiles, pela dextra

Nos trouxe do vestíbulo, e assentados

Nos regalou com pródiga hospedagem.

Repleta a fome e a sede, a minha arenga

O ardor vos avivou. Peleu de acordo,

Vimo-lo ao filho prescrever que fosse

Pugnaz, constante, superior a todos.

O Actórides Menetes, a Agamémnon

Ao te expedir, clamava aos olhos nossos:

— Meu filho, em geração te excede
Aquiles,

Sem par na valentia; és mais idoso,

Mais prudente: amoesta-o, e será dócil.

Tu paternos preceitos olvidaste;

Ora, adverte esse herói: quem sabe
se hoje

Um nume há-de ajudar-te a comovê-lo?

Fazem muito os conselhos da amizade.

E se um pressagio o espanta, e à mãe
augusta

Jove algum declarou, mande-te ao menos

Dos Mirmidões à testa a esperançar-nos.

Seu belo arnês te empreste: que, os
Troianos

Contendo a semelhança, da fadiga

Os mavórcios Aqueus talvez respirem,

E um respiro aproveita. A frescas
tropas,

No primo choque, os inimigos lassos

Fácil é rechaçar das naus e tendas."

Disse; ao longo da praia, comovido,

Corre em busca do Eácida Patroclo.

À nau se apropinquou do sábio Ulisses,

Onde era a cúria e o foro e as santas
aras:

Ia ali da frechada coxeando

O destemido Eurípilo Evemónio,

Em suor testa e espádua, negro o sangue

A marejar, mas inconcusso o peito.

Exclamou condoído o herói Menécio:

"Ai! tristes nossos príncipes
e cabos,

Que assim, longe da pátria e amigos
lares,

Cães cevareis em Tróia! Inda os Aquivos,

Dize, aluno de Jove, inda resistem,

Ou da lança de Heitor serão domados?"

E ele: "Excelso Patroclo, é sem
refúgio,

Vão cair ante a frota os Gregos todos.

Quantos bravos havia estão feridos;

Cresce a força Troiana e cresce a
fúria.

Mas tu salva-me e leva ao meu navio;

Tira-me a seta, cm banho morno a chaga,

Asperge os lenimentos que de Aquiles

Aprendeste, e que afirmam lhe ensinara

Quiron dentre os Centauros o mais
justo:

Pois dos médicos dois, se não me engano,

Na tenda sua Macaon de auxílio

De mão hábil carece, e Podalírio

O atroz marte sustem no campo Tcucro."

"Herói, torna o Menécio, que
nos cumpre

Que será? Com recado para Aquiles

Vou do Gerénio, dos Argeus custódio;

Mas deixar-te não quero ao desamparo."

Ei-lo, ao colo o transporta e o põe
na tenda,

Onde em coiro taurino o deita o pajem;

Sacando-lhe a punhal a acerba farpa,

O cruor tetro lava, c machucada

Amargosa raiz à coxa aplica;

Veda o sangue, a dor calma, o golpe
seca.

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