LENDA DO ARRANCA LÍNGUA – folclore brasileiro

LENDA DO ARRANCA LÍNGUA

Na região de Aruana, antigo porto fluvial do Araguaia, apareceu no gado uma peste aftosa, no ano de 1929, produzindo uma tremenda "comichão" na língua, que obrigava a rês a cortá-la com os dentes, esvaindo-se lentamente. A febre aftosa talvez atacasse mais esse membro do gado, por efeito de alimentação ou pela terra salitrosa dos barreiros. Surgiu, então, a lenda do arranca-língua. Cresceu, tomou proporções de calamidade, e chegou a doença a alarmar todos os pecuaristas do Centro Oeste.

A endemia chegou até Caldas Novas, onde houve quem visse o arrancamento da língua materializar-se, por várias vezes e em vários lugares. Vulto de homem amacacado, cabeludo, tipo gorila, braços compridos, mãos grandes e cara chata. A crendice popular, pela sugestão, criou fantasias e diálogos, onde o monstro, com a voz muito fanhosa, pedia que não o atirasse: "Não me mate, vaqueiro, porque você virá arrancar língua em meu lugar". O vaqueiro teria perguntado: "Quem é você, macacão?" — Sou a personificação do castigo. Venho punir os ladrões de gado.

Continuando o diálogo, teria o monstro explicado que fora também ladrão de gado nos Estados Unidos; e agora, tinha sido condenado a tomar a forma de monstro até cumprir a sina. E falando assim, andou de marcha à ré na direção da serra de Caldas Novas, sem se voltar, e desapareceu. Desde então, não houve mais arrancamentos.

Este fato relatado em Goiânia para os pioneiros que ali se empenhavam nos serviços da edificação do palácio, foi levado ao conhecimento do dr. Joaquim Câmara Filho, que decidiu servir-se do acontecido para fazer a propaganda de mudança, atraindo a atenção do mundo para Goiás, usando o absurdo da história.

Nasceu daí o King-Kong. Colocou-o novamente no Araguaia, onde estaria desempenhando a sua missão contra os fazendeiros do Oeste da velha capital. Era tanta gente que ia ao Araguaia para ver e, se possível, fotografar o

King-Kong, e tanta gente que já o tinha avistado, que tomou foros de verdade. Raro era o fazendeiro que não tinha perdido gado dessa maneira. Chegaram até a pedir providências ao ministro da Agricultura.

Estes acontecimentos chegaram até 1935. Os que conseguiram entrevistar o King-Kong, informaram-me de que se tratava de um homem grosso, baixo, coberto de pêlos, escuro, não tendo semelhança alguma com o gorila africano. Operava desde a cabeceira do Xingu até perto de Goiás. Muitos garimpeiros e borracheiros tinham sido agredidos por êle. Um homem teve a cabeça arrancada e afincada em uma estaca, não cortada a instrumento, e sim quebrada a muque.

Tal qual como fizeram com o general Moreira Cesar, em Canudos. Embora desmentido, cabalmente, e jamais provada por uma pessoa merecedora de fé, esta história despovou, por muito tempo, as praias do Araguaia, porque ninguém queria saber de encontros com o monstruoso King–Kong, ainda que fosse mentira. Os que o avistaram disseram que êle andava aos bamboleios, como o urso, e levando sempre uma língua sangrenta nas mãos.

Os criadores pagavam guarda-noites para vigiarem as malhadas. O festejado poeta da velha capital, Omir Omá, sem favor algum o príncipe dos nossos vates, bom humorista e com um pouco de sátira escreveu num dos jornais da época o seguinte soneto:

KING-KONG

Feroz, cruel, terrível, monstruoso,
De grande força e porte agigantado,
O sertão de Goiás, misterioso,
Habita o King-Kong tão falado.

História ou lenda, o fato é curioso
E parece bastante exagerado:
É que vagueia a procurar o gado,
Arrancando-lhe a língua, furioso.

E por todo lugar por onde passa
Assola o gado pela pastaria,
Pelo prazer de línguas arrancar.

Ah, se tal monstro por aqui passasse,
Quantas línguas compridas tiraria!
E quanta gente sem poder falar!

Zoroastro Artiaga.

Fonte: Estórias e Lendas de Goiás e Mato Grosso. Seleção de Regina Lacerda. Desenhos de J. Lanzelotti. Ed. Literat. 1962

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