Rodrigo Cesar de Menezes – ambição pelo ouro e Nossa sra das Brotas

BROTAS

Rodrigo Cesar de Meneses, que pela ambição e sede do ouro se constituiu algoz da população de Cuiabá nascente, desenvolvia atroz perseguição aos bandeirantes.

Levas de desbravadores do sertão transpõem o rio Cuiabá, outras galgam as serras de Leste.

Ali vai uma caravana afastando-se da cidade, temendo a escolta que prometia agarrá-la, onde quer que fosse, e seguia o rumo de onde tinha vindo, em boa parte, ao abençoado solo do ouro e dos diamantes.

Foi num desses cerrados, tão vistosos, que fazem da maior parte do território matogrossense uma poesia perene, foi num desses tepes onde a natureza estende ao sol as suas alfaias cheirosas e de primordial encanto, que a caravana resolveu ficar.

As grandes pedras alvejavam, brilhavam ali, sob as influências da luz solar.

Os grandes troncos seculares, abatidos um dia pelas grandes tempestades, serviam de assento ou divertimento a umas dez crianças que se sentiam felizes em se verem a salvo das carrancas vingativas de Rodrigo.

Por perto, uma senhora ainda jovem, tendo a cabeça reclinada sobre uma grande trouxa, dormia, com o seu tenro primogênito ao cólo. O pequenino, robusto peralti-nha, não dormia. Olhitos acesos, sugava do seio da jovem mãe o leite suculento.

As pobres mulheres tomavam descanso, em baixo das árvores.

Espalhados pelo sítio, os sertanejos exploravam o terreno, consultavam os lugares em que deviam levantar suas palhoças.

Lá em baixo, o Cuiabá espreguiçava as suas águas que iam marulhar lá, mais longe, nas pequenas cachoeiras.

Horas depois, desceram os sertanejos à praia e nâo levaram muito tempo a subir com uma grande quantidade do melhor peixe do formoso rio que por ali passava.

— Pacus em grande quantidade, minha boa gente; temos a melhor comida, o melhor peixe do mundo.

As mulheres preparavam os apetitosos peixes da melhor maneira e na própria banha; tão gordos estavam que foi reservada a maior parte da gordura para iluminação.

É, sem dúvida, o pacu o melhor peixe do inundo. Quem lhe come a cabeça, diz o adágio cuiabano — nunca mais sairá de Mato Grosso.

Os matogrossenses se sentem felizes e mais folgazões, quando tomam uma boa barrigada do delicioso peixe.

E, por isso é que dizia um daqueles foragidos:

— Já sei que nunca mais deixaremos este lugar, porque aqui viveremos felizes. Até aqui, no curso superior do rio Cuiabá, apesar de tantas cachoeiras, o peixe maravilhoso dá em grande abundância. Fortes crescerão os nossos filhos e viverão ao nosso lado sempre risonhos e contentes. ..

Já as nuvens no ocidente se fechavam, mal esbatidas pelos derradeiros raios apolíneos.

Ali, pela fralda do cerrado, vai um jovem robusto; ao parar ao pé duma lixeira frondosa, a examina e revelando satisfação íntima, levanta o machado que traz ao ombro e lhe começa a dar revidados golpes ao tronco, alguns palmos para cima.

O mancebo cava um altar no tronco daquela árvore. Os mandantes desse serviço estão ali assistindo-o com uma imagem de Maria Virgem, a quem todos queriam levantar as suas preces.

E, em frente do altar, cavado no tronco da umbrosa lixeira, a grácil imagem da mais bela virgem que a luz do sol tem beijado a fronte, levantaram seus cânticos e preces.

No dia seguinte, estava o altarzinho rodeado de pequenas folhas novas. Brotos mimosos, rebentaram durante a noite, ajorçando, admiravelmente o assento da pequena imagem.

O velho chefe da caravana, respeitado por todos pela sua prudência, compostura e virtudes, tendo meditado sobre aquele inesperado acontecimento, reuniu a todos, em frente do altarzinho e lhes disse todo compenetrado:

— Filhos, companheiros de exílio, vedes o que acaba de acontecer? É um milagre da nossa Mãe Santíssima, que nos protege. De boa fé, demos-lhe ontem esse altar, não tínhamos onde colocá-la e ela tão bem o aceitou e fez a árvore brotar em torno de si tantos raminhos, da noite para o dia.

Nesse momento, a única vaca, de leite com bezerro novo que tinham conseguido trazer, passa pastando, de um lado e doutro, os mais novos rebentos dos galhos e levantando a cabeça em frente ao altar, abaixou-a de novo, como fazendo profunda reverência à pequena imagem e saiu ligeiramente dali para continuar o pascigo alhures.

— Vede, bons filhos, tudo o que está sucedendo! Guardai pois, estes fatos; contá-los-eis, continuamente, a estes pequenos que ainda os não compreendem bem, para que nunca se tornem esquecidos; que passem à memória de todos e à toda a nossa geração. Tu, oh! Santa Virgem, em torno de cujo altar brotam folhas de um momento para outro, faze que brote em nosso peito o mais vivo amor por ti, oh! Virgem, durante a nossa vida. Senhora das Brotas ficarás sendo chamada, Brotas passa a ser o nome deste sítio que escolheste para morada.

E a Virgem Santíssima abençoou aquela boa gente e passou a mostrar quanto a amava.

A vaca de que já falamos, era o único recurso de uma daquelas famílias, cuja mãe falecera algum tempo depois de ali haverem chegado, deixando um pequenino no berço. O leite da vaca era o alimento e a vida do pequerrucho, mas, tendo ela desaparecido, certo dia, ficou assim a pobre criança a chorar de fome. O pai, se pôs a procurá-la com todo o empenho, tendo-a achado morta num precipício. Desesperado o pobre pai, põe sua confiança em Nossa Senhora do tronco que todos já chamavam Nossa Senhora das Brotas, e acompanhado de todos, levou a sua imagem até o lugar onde jazia o animal morto e Nossa Senhora o ressuscitou à vista de toda aquela boa gente.

Séculos têm decorrido daquela data até hoje. E, no lugar em que vicejava a árvore que abrigou a Senhora das Brotas se ergue uma vistosa capela, tão querida do povo da futurosa freguezia, uma das mais notáveis do Estado.

Feliciano Galdino: Lendas Matogrossenses. Cuiabá, Mato Grosso, 1919, pp. 33-38.

Fonte: Estórias e Lendas de Goiás e Mato Grosso. Seleção de Regina Lacerda. Desenhos de J. Lanzelotti. Ed. Literat. 1962

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