O desenvolvimento da civilização swahili

Fichamento do texto: O desenvolvimento da civilizacao swahili de Victor V. Matveiev

O autor começa seu estudo delineando o período histórico, e a abrangência geográgica do seu objeto de estudo, uma civilização denominada swahíli, que viveu seu apogeu, segundo ele, entre os século XII e XIV da era cristã, desenvolvendo suas atividades na costa oriental da África.

Embora a sociedade swahili não possa ser considerada homogênea, Matveivev pondera que um dos fatores do seu sucesso foi a inexistência do que chama interferência externa, uma vez que a chegada dos portugueses no século XVI foi um elemento perturbador preponderante para a consequente decadência deste povo, com suas conquistas interrompendo seu desenvolvimento espontâneo. No entanto, este era constituído a partir de elementos distintos, tanto no plano étnico, com o o povo de língua bantu mesclado com povos vindos do interior da África e também externos ao continente, com a expansão árabe, quanto no plano social, com uma sociedade dividida em clãs hierárquicos. A “aristocracia” formada dividia-se entre os dirigentes e os enriquecidos com o comércio. As informações que chegaram aos historiadores hoje tem várias lacunas, porém a abordagem do autor deixa clara esta distinção de classes na estrutura da sociedade swahili. Aponta também que havia uma massa de homens livres formando a população, porém com a existência de escravos, com registros de exportação regular para os povos árabes.

É possível identificar também os principais vetores da economia local, com as atividades tradicionais da agricultura e pecuária, com vários e saborosos itens cultivados, o comércio e a pesca marítimica, que compreendia, além de peixes, frutos do mar. O vasto litoral banhado pelo Oceano Índico fornecia uma fonte profunda de subsídios para as atividades extrativistas, além do alimento, que possivelmente envolvia a pesca em grande escala, para além do consumo imediato, especialmente na cidade de Malindi, o autor menciona a extração de pérolas, cascos de tartaruga conchas e tudo quanto podia ser aproveitado pela população da época.

Possivelmente foi a necessidade e a importância da pesca que permitiu aos swahili desenvolver uma indústria náutica complexa, para além de barcos de pequeno porte, com a construção de grandes navios, alguns chegando ao tamanho das caravelas, conforme um autor anônimo português usado como fonte por Matveiv, que registrou suas impressões na sua chegada durante século XV. É o estudo da lingua kiswahili, no entanto, que fornece o indício necessário para mesurar a vastidão de tal indústria, uma vez que existem nelas cerca de 50 termos para designar as diferentes categorias de navios. É preciso considerar ainda que o domínio geográfico do povo swahili atingia ainda um bom número de ilhas, como a de Pemba, o que pressupõe a existência de correntes constantes de ligação entre elas e o continente.

Embora a civilização swahili tenha se desenvolvido nessa região da costa africana, existia uma diferença entre a cultura do litoral, mais caracterizadamente urbana, e a vida no campo, com características mais primitivas, com a moradias em cabanas, a extração de minérios (ferro, especialmente, mas também ouro em Sofala (página 515) e a relação com os animais, importante para as tribos, chegando por vezes a ser telúrica ou mítica. As cidades, embora também tivessem cabanas para moradia, admitiam construções mais complexas, de pedra, e constituíam uma fonte de importante ligação com o exterior, oferecendo a exportação ao mesmo tempo que recebiam propagavam a influência religiosa do Islã. Matveivev cita um autor árabe que enaltece a cultura citadina por ter elevado seu pensamento a ponto atingir o grau necessário de abstração para poder apreciar a filosofia (página 514). Essa cultura elevada também é afirmada quando o autor lembra que:

“O alto nivel de desenvolvimento da civilizacao swahili pode ser avaliado pela descoberta, nas escavacoes, de luminarias de terracota, presumivelmente usadas para iluminar as partes escuras das casas, o que leva a supor que as pessoas tinham o habito de ler, escrever, fazer contas etc.” (página 531).

Em outro trecho o autor lembra do grau de importância das cidades e da impressionante cultura de luxo e refinamento que a civilização swahili teria atingido a partir dos olhos dos recem-chegados portugueses, antes de efetuar as séries de conquistas que acabaram por devastar tanto a forte indústria marítimica quanto as cidades da costa. “Como se sabe, os portugueses se impressionaram com o aspecto das cidades, cujas construcoes em nada ficavam a dever as de Portugal, e com a riqueza de seus habitantes, a elegancia das roupas, de seda ou de algodao, ricamente bordadas em ouro. As mulheres usavam brincos de pedras preciosas e, nos bracos e tornozelos, correntinhas e braceletes de ouro e prata.” (página 31)

Dentre as cidades citadas, a de Manda destacava-se pela sua riqueza, revelada por escavações arqueológicas, na maior parte de Siraf. Também torna-se evidente que a riqueza gerada pelo comércio, que ajudou a gerar uma classe economicamente privilegiada, embora sem influência administrativa, derivava de uma indústria ligada ao luxo e ás regalias. O comércio vicejava em torno de rotas internas e mesmo transoceânicas, conforme os dados ilustrados pelas imagens fornecidas pelo autor.

Outra fonte consultada por Matveivev, o autor Yākūt, no século XIII, aponta a importância da cidade de Mogasdício, notável pela exportação de “ebano e sandalo, ambar cinzento e marfim.” (página 518). Já a importação em cidades como Gedi vinha de itens árabes, especialmente a cerâmica refinada, provavelmente oriunda do Irã. A ligação chegou, em meados do século XII a atingir a China, que intercambiava seu famoso porcelanato. A rede comercial que envolvia caravanas regulares através do continente, também extendia-se até o Egito, sendo que Mogasdício tornou-se célebre por seus tecidos.

Uma discussão importante no estudo da civilização swahili diz repeito à sua origem para além do vestígio mítico, com a precisão do tempo histórico. Nessa querela entra certamente a questão do orgulho africano, que seria capaz de produzir civilizações complexas abaixo do saara. A questão gira em torno da conceituação dos swahili como uma cultura autócne ou derivada da expansão islâmica. De uma forma ou de outra, a influência islâmica foi notável durante seu apogeu, como atestam os escombros da poderosas mesquitas construídas e tantos outros aspectos estudados por autores árabes ou não, além da organização administrativa, incorporada às características islâmicas, com a existência de poderosos sultões.

A abordagem histórica insere-se dentro de um debate que gira em torno de uma questão filosófica. Matviev aponta a influência da filosofiade Hegel acerca da caracterização dos povos, divindindo-os segundo uma definição eletiva e teleológica, com sua ação capaz de ser marcada dentro dos propósitos pressupostos da história, uma vez que Hegel considera a marcha do espírito dentro da linha da evolução da humanidade, com o espírito subjetivo agindo conforme o espírito absoluto, que busca conhecer-se a si através de seus agentes sociais, até atingir sua identidade. Nesse sentido, fica mais fácil compreender a conhecida a afirmativa de Hegel “que os povos africanos são povos sem história”.No entanto, esta visão fatalmente eurocêntrica, não busca uma visão objetiva ou imparcial da história, nem é capaz de compreendê-la intrinsicamente, com seu recorte específico, apesar das conexões e interligações, para além da mencionada marcha.

Na nossa opinião, o estudo da civilização swahili pode oferecer descobertas frutíferas e impressionantes, que nos ajudem a ampliar nossa compreensão do mundo em sua diversidade distinta da visão estereotipada por conceitos e valores formatados insistentemente por ações ideológicas. Outro aspecto importante que pode oferecer impulso para estas abordagens é o fato de que muita coisa está ainda sendo descoberta, através de escavações arqueológicas e outros resgates. A alegada escassez de fontes convive com um alongado debate que busca desvencilhar-se das armadilhas da historiografia tradicional para resolver os impasses e imprecisões que nossa própria visão, sempre comprometida com modelos e paradigma, e interpretativa, possa alcançar. N abordagem de realidades tão distintas é importante tentar notar e compreender o que ainda nos é estranho, mesmo que seja na forma de vestígio, ao invés de meramente tentar identificar e reproduzir nossos próprios modelos e estruturas dentro da civilização abordada.. No entanto, as dificuldades que logo surgem tornam-se desafios ao longo da trajetória. A profusão de termos novos e estranhos mistura-se à nossa habitual ignorância acerca da realidade geográfica compreendida, com suas localizações, tanto atuais, quanto no período atual. Nesse sentido, tornam-se importantes os recursos que possam ser usados para além do texto, como os mapas e as fotos, oferecidos parcialmente pelo autor, para tentar evitar a confusão e a evanescência imprecisa na abordagem da realidade passada abordada.

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