O PEIXINHO ENCANTADO
Era uma vez uma velha que tinha um filho tão preguiçoso que parecia parvo. Vivia deitado ao calor da lareira, dormindo. A velha saía para ganhar a vida e, quando voltava, o filho estava na mesma posição, dormindo. Um dia, estava-se em dezembro e nevava, acabou-se a lenha para o fogo e a velha, perdendo a paciência, gritou-lhe:
— Sai-te daí mandrião! Leva essas cordas e o machado e busca um molho de lenha senão morreremos de frio esta noite. Vai-te daí, mandrião! O mandrião, a quem chamavam João Parvo, levantou-se muito desgostoso e se foi arrastando os pés para o bosque, buscar lenha. Quando passou pelo terreiro do rei, a filha deste estava na varanda, com as damas, e vendo o andar desajeitado de João Parvo desatou a rir com vontade. João continuou até o bosque e quando lá chegou em vez de trabalhar escolheu um lugar para deitar-se e dormir, o que fez em seguida. Perto havia uma lagoa e o Parvo meteu a mão na água, pegando sem querer num peixe. Agarrou-o depressa, tirando-o para fora. Qual não foi a sua surpresa ouvindo o peixe falar. Era um peixe pequenino, com escamas brilhantes como prata.
— Solta-me, João. Se o fizeres dar-te-ei todo o poder. Bastará dizeres: Com o poder de Deus e do meu peixinho, para que seja feita a tua vontade.
O preguiçoso, para não ter que fazer, largou o peixinho que mergulhou e desapareceu na lagoa. João acomodou-se e dormiu até à tarde. Acordando, lembrou-se da lenha e da promessa do peixinho. Mesmo sem acreditar, disse as palavras:
— Com o poder de Deus e do meu peixinho quero um feixe de lenha seca, da melhor possível.
Palavras não eram ditas apareceu um feixe de lenha magnífica. O mandrião nem pôde abalar-lhe 0 poso. Sentou-se em cima, pegou do machado e disse:
— Com o poder de Deus e do meu peixinho Quero que esse feixe me leva até a casa…
Imediatamente o feixe saiu correndo como se fosse um carro, com João trepado a todo cômodo. Atravessando a praça, a princesa avistou-o e riu com todo prazer. João, zangado com a vaia, pediu ao peixinho que a princesa tivesse um filho dele.
Chegando a casa, aceso o lume, João deitou-se no quente e toca a dormir. No outro dia, tendo fome, pediu,:
— Com o poder de Deus e do meu peixinho quero comida da melhor que houver. A mesa encheu-se de iguarias saborosas. João comeu a far-lar e voltou a dormir. A velha, voltando pela noite, ficou admirada com as provisões da casa. Ficaram vivendo muito- bem.
Sucedeu que a princesa teve um filho e o rei andava furioso para saber quem era o pai do seu neto. A moça não sabia explicar e só se falava neste assunto. Finalmente o rei mandou juntar toda a gente da cidade na praça e andar pelo meio dela com a princesa que levava o filho com uma bo-
linha de ouro na mão. A quem êle a entregasse seria o pai. Reuniram-se todos os homens e a princesa andou pelo meio sem que o menino desse sinal. Quando iam passando diante de João, o pequeno estendeu a mão e entregou a bolinha de ouro, dizendo, em claras vozes: Este é o meu pai!
O rei casou-o com sua filha, mandou fazer uma grande caixa, meteu dentro a princesa, o filho e o João, e sacudiu-os no mar. Foi a caixa boiando, levada pelas ondas e João deitado e dormindo, tranqüilamente. A princesa, depois de muito chorar, acordou o dorminhoco com uns bons repelões. João acordou e, com o poder do peixinho, arranjou comida farta e bebida. À noite a princesa tornou a despertar o marido com umas sacudidelas fortes, e João pediu ao peixinho que encalhasse a caixa numa 1 praia perto do palácio do rei seu sogro. Assim se fez.
Saíram todos da caixa e a princesa, vendo que ia dormir ao relento se não sacudisse o mandrião, fê-lò com tanta vontade que João voltou a pedir ao peixe:
— Com o poder de Deus e do meu peixinho quero um palácio maior e mais bonito do que o do rei, com toda criadagem, carruagens, despensa cheia, e preparado com todo gosto.
Apareceu um palácio grande e bonito que era um condado. João, a mulher e o filho recolheram-se, com a criadagem a servir, mesa posta, tudo do melhor.
O rei velho estava uma tarde na torre do seu palácio quando avistou umas torres que não conhecia. , Mandou um fidalgo verificar o que era, e este voltou contando ter visto um palácio ainda mais bo nito e maior que o do rei.
Picado no orgulho, o rei foi ver que palácio era esse. Foi recebido com todos os agrados mas não reconheceu João porque este estava muito bem vestido e tratado. A filha não lhe apareceu, Na hora do jantar, depois de ter visitado o palácio, o rei serviu-se muito bem, conversando, e João pediu ao peixinho que coloca-se no bolso do rei um dos talheres de ouro da mesa. Depois mandou con-tar os talheres e disse que faltava um. O rei logo procurou nos bolsos e encontrou o talher, ficando todo confuso.
— Este talher cá está, mas não sei como aqui veio parar!
João respondeu:
— Da mesma forma que sua filha foi mãe! Deu-se a conhecer, mandou chamar a princesa
e o filho, e o rei velho a todos abençoou e abraçou, chorando de alegria. Viveram na paz e com feli cidade.
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E’ o ‘"João Mandrião", de Adolfo Coelho, "O peixinho encantado" de Teófilo Braga, "o Preguiçoso ; da Porneira" de Consiglieri Pedroso, Alfredo Apell, "Contos Populares Russos", traduziu uma versão russa, "Emiliano Parvo", citando as ‘variantes gregas, eslovenas, napolitanas, alentas. E’ o Mt. 675 de Aarne-Thompson, The Lazj¿ Boy, espalhado pela Europa do norte e leste. • No Brasil, João da Silva Campos registou a versão baiana. LXVI do " Contos e FábuV.as Populares da Bahia". Straparola, "XIII Piacsivoli Notte", ed. 1584, regista uma versão idêntica, Notte terza, Favola I.(CASCUDO)
Fonte: Os melhores contos Populares de Portugal. Org. de Câmara Cascudo. Dois Mundos Editora.
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