Os Vinte Heróis – Viriato Corrêa

Os 20 Heróis – Viriato Corrêa in "Meu Torrão"

Isto foi, meus meninos,  aos

brasil e holandasete de
fevereiro de 1633, no

forte do
Rio Formoso, quando

Pernambuco
estava sob o poder

da
Holanda.

Para que
vocês compreen­dam bem esta história é preciso contar os fatos anteriores.

Três
anos antes, tinham os holandeses chegado ao Brasil para se apoderarem de Pernam­buco.
Travou-se luta tremenda. Os brasileiros, atacados brutal­mente pelos invasores,
defende­ram-se com o desespero com que a gente defende a propriedade e a vida.

Nos  primeiros 
tempos  foi difícil para os holandeses a con­do território invadido.  Cada
palmo de terra custa-s imensos sacrifícios.  Só Recife e Olinda tinham eles
aos, mas, assim mesmo, do Recife não tinham mais do que uma estreita faixa de
terra em que viviam, não como invasores, não como senhores da terra, mas como
encur­ralados.

Os
patriotas pernambucanos, emboscados nos arredo­res, não lhes permitiam sequer
apanhar uma fruta nos po­mares vizinhos.

Viviam os
holandeses a beber a água salobra das cisternas abertas à beira-mar porque os
defensores de Per­nambuco, de armas nas mãos, não lhes permitiam que be­bessem
a água fresca dos regatos próximos.

Agora,
porém, naquele ano de 1633, a sorte abandonava os pernambucanos. Os invasores
começaram a ter as pri­meiras vitórias e, com as vitórias, a posse da terra.

Os
holandeses aumentavam o seu poder guerreiro. Enquanto aos nossos, dia a dia,
mais faltavam pólvora, braços, dinheiro e roupa; dia a dia, a Holanda despejava
em Pernambuco mais armas, mais soldados, mais navios e mais ouro.

As nossas praças de guerra
começavam a cair. Iguaraçu havia sido assaltada inesperadamente num dia santo,
quando a população despreocupada assistia a uma missa de festa na igreja.

Agora,
onde os inimigos imaginavam os brasileiros desprevenidos e desarmados, corriam
de surpresa a combatê-los.

Tinha chegado a vez do forte do Rio Formoso.

Pelas
informações colhidas, os holandeses no Recife souberam que o forte não tinha
mais de dois canhões e menos talvez de cem homens de combate.

E para tão pouca gente e para tão poucas armas os inva­sores
armaram-se poderosamente. Quem comandou a expe­dição foi o coronel Van
Schkoppe. Muitos navios, muitos canhões e nada menos de seiscentos homens de
guerra.

Era ainda
de madrugada quando os atacantes chegaram às vizinhanças do forte. Resguardados
pela escuridão os navios aproximaram-se. A tropa saltou sem que lhe fosse
disparado um tiro.

Aquilo ia
ser uma brincadeira de criança. Com menos de cem homens e com dois canhões
apenas, a praça de guer­ra dos brasileiros, com certeza, se entregaria aos
primeiros sinais do assalto.

O
coronel Van Schkoppe, ao clarear do dia, mandou romper o fogo. Uma chuva de
balas, apenas uma, seria o bastante para produzir o terror na gente
pernambucana! Antes de acabar de nascer o dia, aquilo estaria liquidado!

Mas, de
repente, os olhos do coronel brilharam sur­preendidos. É que dos paredões do
forte, respondendo às balas holandesas, havia rebentado uma descarga furiosa de
fuzilaria. Podia ser aquilo o vigor de menos de cem homens?

Van
Schkoppe redobrou o fogo. A alvorada cor-de-rosa que nascia tingiu-se
tristemente do fumo negro do ti­roteio. Durante mais de uma hora, de lado a
lado, não se ouvia senão o pipocar dos arcabuzes e o estrondar dos canhões.

Mas,
durante mais de uma hora, os holandeses não puderam dar um passo para
conquistar o forte. E, minuto a minuto, iam perdendo mais gente.   Schkoppe
franziu a testa e mandou cessar o fogo. Não valia a pena perder mais homens
quando, por palavras, talvez conseguisse a rendição do inimigo. Os
pernambucanos do forte estavam a sustentar o combate porque, com certeza,
desconheciam a superioridade formidável das forças atacantes. Quando soubessem que
ali estavam seiscentos homens, dezenas de canhões e munições para muitos dias,
de certo se entrega­riam, sentindo inútil a resistência.

Pedro de
Albuquerque, o comandante do forte, devia ser informado da verdade para que não
estivesse perdendo tempo e soldados em combater forças que seriam incontestavelmente
vencedoras.

Arvorou-se
a bandeira branca. Dois mensageiros par­tiram em direção da fortaleza atacada.

Schkoppe ficou silencioso à espera.

Meia hora depois voltavam os mensageiros.

— Pedro
de Albuquerque manda dizer que, em vez de
seiscentos, podíamos ser um milhão, porque ele só entre­
gará a praça de guerra quando lá dentro não houver mais
um homem vivo para empunhar uma arma.

O
coronel franziu as sobrancelhas. O sangue subiu-lhe ao rosto, chisparam-lhe os
olhos.

— Fomos
enganados! bradou. Em vez de cem homens
lá dentro do forte deve haver um exército!

E para a tropa:

Fogo!

O combate recomeçou mais intenso, mais
feroz.

*

Ali
por volta do meio-dia o tiroteio foi pouco a pouco esmorecendo no forte. Um
disparo agora, outro depois, outro muito depois.

Eram duas
horas da tarde quando não se ouviu mais tiro nenhum.

Schkoppe
torceu desconfiadamente os grandes bigo­des.   Que era aquilo?   Alguma cilada?

E mandou
cessar o fogo. A fortaleza muda estava, mu­da ficou.

Valia a
pena avançar. E deu ordem para que se avan­çasse.

Nada, nem
um tiro, nem um sinal de vida nos paredões do forte. Teria aquela gente
conseguido fugir? Por onde, se estava feito o cerco completo?

Uma
interrogação brilhou inquietamente nos olhos do comandante holandês.   Por que
aquele silêncio, por quê?

Não
se contém. De espada nua, toma a frente das tro­pas e avança até às muralhas da
fortaleza. Galga nervosa­mente a primeira porta que encontra, sobe a primeira
ram­pa e mergulha num corredor. Ninguém. Avança. Sobe à larga plataforma, e
pára de súbito como se alguém lhe ti­vesse impedido os passos.

É
que diante dos seus olhos, tombados no chão, estão vinte homens e todos
ensangüentados e todos mortos.

O rosto do
comandante holandês tinge-se de vergonha. Ele, o militar cheio de glórias,
levara quase um dia para vencer vinte homens!

Nesse
momento, um punhado de soldados vem chegando ruidosamente à larga plataforma.

Schkoppe  
ergue   o  olhar   e brada numa   ordem:   — Silêncio!   E  de cabeça
descoberta:   —  Curvemo-nos !   São  heróis!

Silêncio!

E de cabeça descoberta:

— Curvemo-nos!   São heróis!

Os
soldados ficam ali parados, mudos, surpreendidos. E, um a um, se vão
descobrindo, respeitosamente, emocio nadamente, diante daqueles vinte cadáveres
ensangüentados.

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