Paralelo entre PÉRICLES E FÁBIO MÁXIMO

PLUTARCO: VIDAS PARALELAS.

A COMPARAÇÃO ENTRE PÉRICLES E FÁBIO MÁXIMO

É isso o que se encontra escrito a respeito dessas duas grandes personagens. E como acontece terem ambas deixado belos exemplos de virtude, tanto em assunto de guerra como de governo, comecemos a confrontá-los. Péricles, em primeiro lugar, veio à direção dos negócios de sua república, quando o povo ateniense estava no ápice de sua prosperidade, na flor do seu poder e em abastança maior do que jamais estivera antes e que jamais veio a superar. Poderia parecer ter sido essa a causa de Péricles ter mantido seu país firme, em perpétua segurança sem nunca sucumbir. Não teria sido tanto por seu valor, como pela pujança e florescimento gerais. Os atos de Fábio, ao contrário, se verificaram nos tempos mais infelizes e humilhantes de seu país, durante os quais êle não conserva apenas sua cidade na plenitude de seus bens, mas tirando-a do estado calamitoso em que se encontrava, a reconduz a uma situação melhor.

II. As venturosas façanhas de Cimon, as vitórias e troféus de Mirônides e Leocrates e os diversos grandes e belos feitos de armas de Tolmides, deram a Péricles os meios de manter sua cidade em festas e jogos, enquanto esteve no governo. Não lhe foi necessário conservá-la pela força das armas, ou reconquistar o que houvesse perdido. Fábio, em contraste, vendo diante de si inúmeras fugas, derrotas e desbaratos; muitos assassínios e mortes de capitães generais dos exércitos romanos; vendo os lagos, as planícies, os bosques, cheios da sua destruição; os rios e ribeirões regorgitando até o mar, de sangue e de cadáveres, assumiu o governo de sua cidade e procedendo de forma totalmente diversa dos demais, sustentou-a e deu-lhe arrimo, impedindo-a de tombar aniquilada pela devastação e ruína, causadas por outros.

III. Poder-se-ia também dizer, entretanto, que não é tão difícil dirigir uma cidade humilhada pelo revés, a qual se deixa governar pelo mais sábio, constrangida pela necessidade, quanto conseguir refrear a altivez e insolência de um povo envaidecido e educado em longa prosperidade, como Pericles conseguiu dos atenienses.

IV. A grande quantidade de tantos e tão graves desastres que caíram sobre os romanos, revelou também a Fábio, como personagem grave e constante, que não se deixava arrastar pela gritaria da plebe, nem jamais se divorciava de suas primeiras decisões.

V. E pode-se opor à tomada de Samos, que Péricles conquistou pela força, a recuperarão de Tarento; à ilha de Eubéia, a das cidades da Campânia (1) obtidas por Fábio, excetuada a de Cápua que foi reconquistada pelos cônsules Frúrio (2) e Ápio. Parece todavia, não ter Fábio jamais vencido qualquer batalha a não ser aquela em virtude da qual obteve o triunfo pela primeira vez. Péricles, em contraste, levantou nove troféus de batalhas e vitórias obtidas tanto por mar como por terra.

(1) O texto de Amyot diz — Campagne — A nota do editor — Campânia.
(2) Fúlvio e Ápio, cônsules no ano 542 de Roma.

VI. É verdade também que não se poderia alegar um ato de Péricles semelhante ao de Fábio, quando arrancou Minúcio das mãos de Aníbal e preservou um exército inteiro dos romanos. Foi essa, sem nenhuma dúvida, ação digna de grande glória, tendo, como teve, sua origem em sua coragem, sabedoria e bondade, conjuntamente. Jamais entretanto, cometeu Péricles um erro semelhante ao de Fábio ao ver-se iludido e superado por Aníbal no estratagema dos bois, ocasião na qual encontrando o inimigo que, por uma infelicidade se encerrara a si mesmo em um vale, deixou-o escapar, à noite por sua sutileza e de dia por sua força. Fábio, superado então, por contemporizar excessivamente, foi batido por aquele a quem tivera dominado.

VII. E se, a um bom capitão cabe não só usar corretamente, em um momento dado, aquilo que tem nas mãos, mas também prever com sabedoria o futuro, veja-se que a guerra de Atenas terminou exatamente na forma prevista por Péricles. Por ambição de querer expandir-se em excesso, perderam os atenienses, seu estado. Os romanos, ao contrário, enviando Cipião à África para ali fazer a guerra aos cartagineses, obtiveram tudo quanto quiseram.

Seu capitão venceu os inimigos, não por acaso, mas por valentia e ação. A capacidade de Péricles na previsão do futuro foi testemunhada pela ruína posterior do seu país. O erro de Fábio, foi demonstrado pelo feliz resultado da empresa que êle pretendeu impedir. Ora, tanto é falha num capitão sofrer alguma dificuldade não esperada ou prevista, como, por desconfiança, deixar passar a ocasião propícia para um grande empreendimento, quando essa ocasião se apresenta. Em ambos os casos, é a mesma falta de experiência que engendra a temeridade de um e tira a segurança do outro. Isso quanto a seus leitos de guerra.

VIII. Quanto aos atos do governo civil, é Péricles altamente passível de censura por ter sido o autor da guerra. Considera-se realmente ter sido êle apenas o seu causador, obstinando-se em nada ceder aos lacedemônios. Cabe-se ponderar, entretanto, que Fábio Máximo também, nada concedeu aos cartagineses, fazendo frente, ousada e corajosamente a todo o perigo, para manter, contra eles, o império do seu país. A mansuetude e clemência porém, reveladas por Fábio em relação a Minúcio, condenam bastante as lutas e manobras de Péricles contra Cimon e Tucí-dides, ambos gente de bem e de honra, partidários da nobreza, expulsos e banidos por êle da cidade em certo momento. A autoridade e o poder de Péricles eram também maiores em sua república. Êle impediu cm seu tempo, por meio dessa autoridade, que qualquer capitão viesse a exercer a própria loucura e temeridade, em detrimento público. Excetuou-se apenas Tolmides que lhe escapou e, contra sua vontade, foi chocar-se contra os beocianos, entre os quais sucumbiu. Todos os demais aderiram a êle, submetendo-se à sua orientação, tão grande era seu prestígio. Fábio, nesse campo, embora pessoalmente não cometesse falta, agindo sempre com segurança, parece incompleto, a esse respeito, por não ter sido bastante forte para impedir os erros alheios. Os romanos não se teriam precipitado em tantas calamidades, se êle, em Roma, detivesse tanta autoridade quanto Péricles em Atenas.

IX. Em relação à liberalidade, um a demonstrou não querendo aceitar dinheiro a êle oferecido, e outro dando-o aos necessitados e resgatando seus concidadãos prisioneiros. É de considerar-se todavia que êle não despendeu soma muito grande em dinheiro, mas apenas cerca de três mil e seiscentos escudos. (3) Não seria fácil, em relação a isso, calcular quanto Péricles poderia acumular em dinheiro e presentes, valendo-se do seu poder, tanto dos súditos e dos próprios aliados, como de reis e príncipes estrangeiros. Êle, no entanto, conservou as mãos sempre limpa de toda a concussão.

X. Quanto ao mais porém, em relação à beleza e pompa dos templos, obras e edifícios públicos, nem todos os ornamentos em conjunto, existentes em Roma antes do tempo dos Césares, (4) podem ser comparados àqueles com que Péricles embelezou e ornou a cidade de Atenas. Não há proporção nem paralelo entre a deslumbrante suntuosidade e esplendor de uns e outros.

(3) No grego, seis talentos, equivalentes a 28.012 libras francesas de 1818. Cabe entretanto corrigir para dez talentos, ou sejam, 46.687 libras, como se vê pelo número de prisioneiros resgatados por Fábio. Veja-se o cap. XXIX.

(4) Eis um elogio curto mas esplêndido, do esplendor romano sob os Césares.


Fonte: Edameris. Tradução de Paulo Edmur de Sousa Queirós.

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