SOLÍS E PRIMEIRAS EXPLORAÇÕES – Os caminhos antigos e o povoamento do Brasil – Capistrano de Abreu

Os caminhos antigos e o povoamento do Brasil – Capistrano de Abreu

SOLÍS  
E   PRIMEIRAS   EXPLORAÇÕES*

Desmarquets
evocou há mais de século a memória de Jean Cousín, navegante afortunado que,
saindo de Dieppe, cerca de 1 480, rumo de S.O. descobriu um grande rio, e
depois em rumo de S.E. um cabo: o rio era o das Amazonas, na América do Sul, o
cabo o das Agulhas, fim da terra africana. Na companhia de Cousin ia certo
Pinzon, rixento e bulhento sujeito, que tudo levava a identificar com Martin
Alonso Pinzon, posteriormente o tredo companheiro de Cristóvão Colombo, na
primeira travessia do Atlântico.

Assim,
enquanto os portugueses precisaram de mais de sessenta anos para chegar do
Bojador à Boa Esperança, Cousin foi logo às do cabo, em um simples episódio de
viagem corrida. E Colombo descai das alturas, a que o sublimou a posteridade,
ao nível das gralhas que se enfunam em plumagem alheia.

Dos
escritores franceses que depois de Desmarqueis trataram da época dos grandes
descobrimentos geográficos, uns deixam esse feito em silêncio, outros se
comprazem em demonstrar a sua possibilidade histórica e geográfica.
Modernamente foi publicado no Journal de la Société des Américanistes de Paris um estudo que, a julgar pelo resumo dado por Sophus
Ruge na Patermann’s, resolve de uma vez a questão. Segundo o autor, Jean
Cousin existiu, fêz viagens, mas em 1 5S0. Desmarqueis não foi,
portanto, mentiroso: enganou-se apenas na antedata de um século…

Em troca da
viagem que fica assim expungida de nossos anais, podemos anunciar outra
realizada em nossa terra quando ainda era vivo D. Manuel. Encontramo-la
descrita em livro de José Toríbio Medina, erudito chileno, autor de diversas
obras, e feliz desencavador de documentos interessantes para a América do Sul
em geral e particularmente para a de sua pátria.

Intitula-se
o livro Juan Diaz de Sofás, foi impresso em Santiago, consta de dois
volumes, o primeiro contando quanto pôde ser apurado no estudo do infeliz
descobridor do rio que algum tempo levou seu nome, o segundo enfeixando os
documentos oficiais, os extratos de crônicas e a bibliografia relativos ao
herói.

 

*   
Artigo   publicado  no   *Jornal  do   Commercio"   de   24   de  
janeiro  de   1 900, sob  título  "Revistas  Históricas".

 

O que
Medina apurou a respeito de Solís pode ser resumido em poucas linhas, como
introdução ao ponto que visamos.  

Solís
era de tronco arturo-ovetense, mas de nacionalidade portuguesa. Pode-se inferir
que se dedicou desde pequeno à vida marítima, à vista das comissões que lhe
foram confiadas em Castela, onde o julgavam superior a Pinzon em coisas do mar,
e digno de suceder a Américo Vespúcio no posto de pilôto-mor.

A
primeira menção de seu nome encontra-se em uma carta de D. Fernando e Dona
Isabel, datada de Alfaro, 29 de outubro de 1 495, ordenando sua prisão a todos
os corregedores, assistentes, alcaides mores, alguazis e outras justiças
quaisquer de quaisquer cidades, vilas e lugares de seus reinos e senhorios.

"Sabei,
reza o documento, que o Sereníssimo Rei de Portugal, nosso irmão nos mandou
fazer saber que Juan Diaz, piloto, chamado Bofes de Bagaço, natural de
seu reino de Portugal, andando em companhia de certos franceses, roubaram uma
caravella do dito Rei, que vinha da Mina, em que roubaram mais de 20 000
dobras, ao qual piloto diz que coube parte deste dinheiro, e que há sabido que
está em nossos reinos."

Ignora-se
se a ordem foi ou não cumprida. Se foi, conseguiu justificar-se. E Varnhagen é
implicitamente deste pensar, dando-o por capitão de um dos vasos da armada de 1
503, comandada por Gonçalo Coelho. No seu entender, Solís voltou novamente
para Castela por 1505, quando Vespúcio deixou o serviço do Governo português.

Em 1
507, aparece outra vez Solís entre pilotos chamados por D. Fernando a Burgos,
no intuito de fomentar o movimento descobridor, paralisado pela morte de D.
Isabel; pela morte de Filipe, o Formoso e conseqüente loucura de sua esposa D.
Joana, a mãe de dois Imperadores; pela retirada temporária do Rei para a França
e para a Itália.

Em
princípios de 1 508, Solís entra para o serviço oficial de Espanha, e logo o
vemos encarregado de uma expedição des-cobridora, em companhia de Vicente Yanez
Pinzon, o primeiro descobridor do Brasil. Solís devia ser o chefe no mar;
Pinzon devia sê-lo em terra. Desavieram-se os dois e Solís foi preso, na volta,
por motivos que não são bem conhecidos.

Esta viagem
de 1 508 tem sido interpretada dos mais modos discordantes: há quem a estenda
pela América do Sul abaixo até os 40°, há quem a puxe para a América do Norte
até o trópico de Câncer.    Segundo a explicação de Harrisse, consideravelmente reforçada por Medma, Pinzon e Solís
percorreram de Este a Oeste a costa meridional de Cuba, acercaram-se do
continente, e depois de dobrar o cabo de Gradas a Dios passaram pelas
baías de Veragua, Urabá, Cuquibacoa, costa de Paria e bocas do Drago, chegando
finalmente até o cabo de S. Roque.

Modernamente,
a viagem por Ph. J. J. Valentini foi explicada de maneira bem diversa na Zeitsehrift
da Sociedade de Geografia de Berlim. A narrativa de Pedro Martyr, única
que possuímos do sucesso, diz êle em suma, não se aplica nem à natureza, nem
aos produtos industriais das tribos de Paria: adapta-se nas mínimas
particularidades às tribos maia e nauatle. e quanto aos resgates enumerados por
Pedro Martyr: ouro, incenso, perus, vestiduras de algodão, reposteíros bordados
etc. Da população na boca do Drago, no golfo de Paria, diz que os Guajiros não
mostravam ao serem descobertos o mínimo progresso em qualquer ramo de
civilização humana. Nus da cabeça aos pés, o arco de frechas erradas era sua
arma de guerra etc. Não parece, pois, que se deva modificar a interpretação que
no meio de contradições insanáveis salta das palavras de Oviedo, Gomara,
Herrera e outros. Solís esteve em 1508 mais perto do cabo. Catoche que de S.
Roque.

Uma cédula
real de 14 de novembro de 1 509 aprova a prisão de Solís, ordenada pela Casa de
Contratação de Sevilha; parece, porém, que as culpas não eram graves, pois em
dezembro de 1 511 El-Rei fazia mercê de trinta e cinco mil maravedis a
"João de Solís, nosso piloto, para ajuda de custo do que há gastado e
perdido o tempo que tem estado e andado em sua defesa e pleito sobre a
diferença que houve e sucedeu na viagem que fêz com Vicente Yanez
Pinzon".

No ano de 1
512 Solís foi nomeado pilôto-mor na vaga de Américo Vespúcio, falecido, e logo
encarregado de uma expedição demarcadora dos limites entre as possessões de
Espanha e de Portugal, os quais ficaram assentes pelo Tratado de Tordesilhas.
Devia a esquadra dobrar o cabo de Boa Esperança, averiguar se a linha divisória
passava pela ilha de Ceilão, prosseguir pelas Moíucas até as terras dos Chins,
e naturalmente terminar pela circunavegação do orbe. Não se conhecia ainda o
oceano Pacífico, só descoberto no ano seguinte por Vasco Nunez de Balboa, a 26
de setembro. A empresa não chegou a efeito, ou pelos muitos protestos
levantados pelo Embaixador Português João Mendes de Vasconcelos, de quem
possuímos duas cartas contemporâneas, ou porque calassem no espírito de D.
Fernando as considerações em desabono de Solís apresentadas pela Casa de
Contratação de Sevilha.

Propalada a existência do oceano Pacífico, foi Solís
escolhido para vir ao nosso continente, procurar uma passagem pelo Sul, e
percorrer as costas ocidentais até -alcançar as terras em que estava Pascoal de
Andagoya, contíguas do reino dos Incas. Nesta viagem passa por ter descoberto o
rio da Prata, o que não é inteiramente exato. Um avulso alemão, primeiro
indicado por Humboldt, impresso nos primeiros anos do século XVI, entre
1 506-1 514, dá bem claramente noticia do famoso rio, e Gaspar Corrêa nas Lendas
da índia
diz que em 1 514 João de Lisboa descobriu o cabo de Santa Maria. O
avulso alemão, cujo texto ainda hoje não está de todo explanado, tais as
dificuldades que pululam e contra-sensos de que padece, foi estudado pelo
célebre geógrafo Johannes Schönner, que julgou interpretá-lo bem desenhando ao
Sul da América um estreito, em um globo que construiu em 1 515. Magalhães
levava este documento a bordo, e serviu-lhe de guia e prova aos companheiros na
pesquisa da passagem que imortalizou o grande navegador.

Solís
desembarcou ao chegar ao Rio da Prata, e foi logo morto com muitos de seus
companheiros. Dos sobreviventes a maior parte voltou, e entre eles Diogo
Garcia, que encontramos alguns dias mais tarde em águas americanas. Dos que
ficaram alguns foram aprisionados por um navio português; de outros dá notícia
o seguinte papel agora publicado por José Toríbio Medina, em que se contém a
narrativa de uma viagem ao Brasil feita em tempo de D. Manuel, até hoje
desconhecida:

"S. C. C. M.  (Sacra Cesarea Catholica
Majestade).

"Eu
escrevi a Vossa Majestade deste inverno desde Monte-Mor, que havia chegado ali
um homem que vinha de descobrir terras pelas costas cío Brasil, e que trazia
sinais de haver achado muito cobre e alguma prata e outras coisas; e que andava
com Ei-Rei em perguntas e respostas para que lhe pagasse seu trabalho,
ajudando-o para que pudesse volver, a vista do que havia descoberto.

"E
escrevi também que sabia que o traziam em palavras, sem dar-lhe nem uma coisa,
e que tinha suspeita que o que este havia descoberto, era ‘coisa que pertencia
a Vossa Majestade, pois tendo estes tanta necessidade do cobre e de outras
coisas não saiam a persegui-lo, que aquele os trazia já começado e… (rôto no
original) ou insistir em sua demanda, para saber o que lhe podia aproveitar e
sempre há achado palavras sem nem um fruto.

"Pareceu-me
que seria serviço de Vossa Majestade saber que navegação havia feito e o que
havia achado; e assim para que melhor, pudesse eu informar a Vossa Majestade do
caso e ele louvando-se em minha palavra, ainda que com grandes medos, veio à
minha pousada e assegurado de tudo o que lhe convinha, me informou das coisas
seguintes, haverá quinze dias.

"Disse
que agora três anos el-Rei D. Manuel lhe deu licença que fosse a descobrir por
aquela costa, prometendo-lhe grandes mercês se achasse cobre ou outras coisas
que êle desejava, e disse que se foi direito ao Brasil com duas caravelas, e
que seguiu pela costa do dito Brasil para S.O. setecentas léguas de onde eles
tomam o Brasil, e que achou a trezentas léguas pouco mais ou menos, nove homens
dos que foram com um João de Solís, a descobrir e falou com eles, e estão
casados ali e quiseram que êle os trouxesse, o que êle não ousou por ser
castelhano e porque sabia que ao Rei havia pesado de que fora a descobrir o
dito João de Solís, pelo que lhe prometeu que se Deus ali o tornasse que os
traria.

"Disse
que na terra em que aqueles estão não há coisa de proveito e que seguiu sua
costa outras 350 léguas, que são as 700 ditas, e que achou um rio de água doce,
maravilhoso, de largura de quatorze léguas, e que subiu pelo rio doze léguas, e
viu mui formosos campos em todas as partes, e que surgiu ali e tomou língua da
terra, e que lhe disseram que aquele rio não sabiam de onde vinha senão que era
de mui longe e que mais arriba acharia outra gente que eram seus inimigos, que
tinham daquelas coisas que êle lhe mostrava, que eram ouro e prata e cobre, e
que tomou quatro homens daqueles, e se foram com êle, e subiu pelo rio nos
batéis armados vinte e três léguas, e que sempre achou tudo melhor e a fundura
igual.

"Disse
que ali vieram a êle certos velhos e esteve com eles em grandes práticas que se
assegurassem… (rôto o original) os outros e que lhes resgatou algumas coisas
e que lhe deram pedaços de prata e de cobre e algumas veias de ouro entre
pedras, e que lhe disseram que toda aquela montanha tinha muito daquilo, e que
durava ao que asseguravam, trezentas léguas; e que lhes disseram que a prata
não tinham em tanto como o cobre, porque não reluzia tanto, e que o que
assinalavam de ouro era longe, que a água o deve trazer por um rio que vem dar
através daquele grande e para nas pedras; trouxe de tudo isto suas amostras.

"Disse
que viu ovelhas monteses e muitos cervos, e de aves todas as que cá vemos no
campo, e infinitos avestruzes, as perdizes mui grandes; disse que é tanto o
pescado do rio que deitando a corda ou rede saía cheia, e que comeu e pescou
muitos solhos maiores que os de cá e salmonetes e outros pescados em
abundância, e que saíram às vezes duas lampreias; que esteve ali dois ou três
dias informando-se de tudo com amizade que tomou com aqueles primeiros, e que depois se
ajun-taram muitos com arcos e boas flechas, e que se embraveceram de saber que
trazia ali aqueles que disse, e que lhe disseram que se fosse, que êle vinha
para fazer-lhes algum engano, e que atirou duas ou três escopetas, e todos se
puseram pelo chão; e que outro dia viu vir grande número de canoas, e não ousou
esperar porque não tinha consigo senão 15 homens, e assim se volveu às suas
caravelas. Disse que se isto que há descoberto é de Vossa Majestade ou faz a
seu serviço, que folgará de volver ali com a maneira que Vossa Majestade fôr
servido e crê que será coisa mui proveitosa.

"Êle
quereria se Vossa Majestade se quisesse servir dele, estar seguro de que cá
poderia perder, que diz que são cincoenta mil maravedis cada ano, que tem em
não sei que coisa que eles chamam regnengos, que temem lhe tirem, com
outras coisinhas.

"A
mim me pareceu que isto é coisa que tem seu tempo, e assim lhe prometi que o
escreveria a Vossa Majestade e que as respostas eu as enviaria a sua casa, com
certos sinais que entre êle e mim ficaram.

"Aviso
disto a Vossa Majestade para que mande ver aos que sabem aquela costa que costa
é, se vejam se é serviço de Vossa Majestade tornar lá, e se não parece costa
proveitosa o ter perdido seus dois anos e eu haver feito o que devo em avisar a
Vossa Majestade de qualquer coisa que se descubra, pois desejo que todo o mundo
fosse sujeito a Vossa Majestade.

"Nosso
Senhor guarde e acrescente a vida e mui poderoso estado de Vossa Majestade por
muitos anos como desejo.

"Em
Évora, 27 de junho de 1 524. De V.
C. M., humilde
servidor e criado que suas reais mãos e pés beija. — Juan de
Çuñiga,"
                                                          .’                 

D.
Manuel faleceu a 13 de dezembro de 1 521, o que marca o termo extremo da viagem
feita por sua ordem. O rio explorado foi o mesmo em que Solís morreu, chamado hoje o da Prata. Resta inquirir o chefe da expedição, cujo nome
Çuniga se esqueceu de transmitir.

Há sérios motivos para afirmar que foi Cristóvão
Jaques.

Cristóvão
Jaques, nomeado Governador. do Brasil em 5 de junho de 1 ‘526, não partiu logo,
ou teve tão demorada viagem que só chegou a Pernambuco em maio ou junho
seguinte. Isto decorre de uma carta de D. Rodrigo d’Acuna, queixoso por não
conseguir dele passagem para a Europa, exatamente como anos antes os
companheiros de Solís nas águas do Prata não a conseguiram do viajante
desconhecido que por lá andou. Decorre ainda mais claramente de uma carta de
Diogo Leite a D. João III, datada do derradeiro de abril de 1 528; nela pede que
lhe mande dar passagem para Portugal, no primeiro navio que vier "se a
armada andar cá mais tempo que V.
A. tem limitado, que são dois anos desde
o dia que chegamos a esta costa". Havia pois em abril de 28, tempo de um
navio à Europa e voltar antes de completar-se o prazo.

Sabemos
pela carta de doação de Pero Lopes de Sousa que Cristóvão Jaques fundou uma
feitoria em Pernambuco, isto é, no canal situado entre a ilha Itamaracá e o
continente. Sabemos por carta de Luís Ramirez, companheiro de Sebastião
Caboto, que já em junho de 1 526, isto é, antes da nomeação de Cristóvão
Jaques, El-Rei de Portugal em Pernambuco "te-nia una fatoria pera ei trato
dei Brasil en Ia qual habia posto treze christianos portugueses de
nacíón". Se Cristóvão Jaques fundou a feitoria, se esta já existia em
junho de 1 526, é porque a fundação se dera em viagem anterior.

Em
outubro do mesmo ano, Sebastião Caboto, aportando à ilha de Santa Catarina,
encontrou Melchior Ramirez "el qual dijo haber estado en ei rio de Solís
por lengua de una armada de Portugal".

Em
abril do ano seguinte libertou Francisco del Puerto, prisioneiro dos índios, do
qual soube que "Christoval Jaques avia benido a este rio de Solís e
prometio ao dicho Francisco de Puerto que alli hallamos que volveria". E o
mesmo se apura de documentos que Harrisse descobriu e Medina dá um excerto 1.

O rio já
era conhecido em Paris em fins de 1 527, pois João da Silveira escreve a El-Rei
em 23 de Dezembro: "Mestre Verazano vai daqui com cinco naus, que lhe o
almirante ordena, a um grão rio na costa do Brasil, o qual diz que achou um
castelhano; falei nisso largamente e pedi a resposta por escrito;… e o dito
Verazano vai e partirá em fevereiro ou março; o rio creio que é o que achou
Cristóvão Jaques".

 

1. Um dêstes
documentos está incorreto; antes deste havia dicho el dicho Francisco a un
Enrique Montes, lengua que era estaban (sic) porquês un Capitan dei Rey
de Portugal. As palavras grifadas devem ler-se Christoval Jaques, como
se evidencia de outro pedaço mais adiante: "por que Enriques Montes,
lengua, le certificava que ei dicho Francisco, lengua, le habia dicho quel
armada quel habia venido ao rio de Solis era de Christoval Jaques
(Medina, Jv.an Dias de Solís, l.o  vol., pãg.   334,  336).

 

Poder-se-ia
dizer que a viagem ao rio da Prata se deu entre 5 de julho de 1 526 e maio ou
junho de 1 527, quando êle chegou a Pernambuco. E’ a opinião de Varnhagen, que
aliás não conhecia a carta de Çuniga, só agora publicada por José Toríbio
Medina. Opõem-se a esta conclusão muitos argumentos valiosos; o estado do
tempo, que prendeu durante meses Caboto em Pernambuco, Diogo Garcia em S. Vicente; o desencontro das esquadras, não já na costa ampla do Brasil, mas, nas águas do
rio da Prata; o tom em que Ramirez e Puerto se referem à armada, como a um
sucesso já antigo; sobretudo o prazo limitadíssimo de julho e outubro, em que Cristóvão Jaques devia ter vindo de Portugal, tomado Melchior Ramirez em Santa Catarina, ido ao rio da Prata e voltado etc.

A segunda
viagem de Cristóvão Jaques de 1 527 a 1528, é bastante conhecida: o seguinte
documento, até agora inédito, tornará  conhecidas  algumas particularidades.

"Francisco,
pela graça de Deus, Rei de França, ao nosso caro e bem amado Elias Alioja dito
Angoulême, um dos Reis d’armas dos Franceses, saúde e amor.

"Como
nossos caros e bem amados João de Codqungar, Francisco Gueret, Maturin
Tornumuxa, João Burco e João Senet, mercadores nossos súditos de nossas terras
e ducados de Bretanha, nos houvessem presentado, ou ao nosso caro e mui amado
primo o Conde de Lavai, Lugar-Tenente-General em nossas terras e ducado de
Bretanha, em nossa ausência, sua humilde supricação e requerimento em que se
continha que o ano que ora passava eles equiparam de gente, mantimentos e
munições três navios de nossas ditas terras e ducado de Bretanha, os dois dos
quais era cada um de cento e quarenta toneis, e o outro de oitenta toneis pouco
mais ou menos e os enviaram ás terras cio Brasil para cobrar paus do brasil e
outras mercadorias proveitosas aos nossos reinos, terras senhorias e súditos,
os seus ditos navios que ancoraram em certo porto e abra da dita terra, puseram
e despregaram nos ditos navios as bandeiras e armas de França e do dito ducado
de Bretanha, esperando pelos haver o socorro e ajuda de nossos amigos e
confederados.

"E
posto que entre nós o nosso muito caro e muito amado irmão, aliado El-Rei de
Portugal e nossos súditos de uma parte e de outra haja aliança amizade e
confederação antiga, a qual da nossa parte foi sempre teúda, guardada e
resguardada e que o feito tráfego e trato de mercadoria seja de todos direitos
a cada um livre e permitido, nem por isso depois que em os ditos navios dos
ditos supricantes fossem carregada grande quantidade dos ditos paus do Brasil,
grande número de alima-rias estranhas e pássaros, certo número grande de gente
portuguesa, súditos do nosso dito muito caro e muito amado irmão aliado e
confederado El-Rei de Portugal, estando em quatro caravelas ou barcas latinas
do dito Rei de Portugal equipadas e armadas em guerra per acometer, ofender,
desbaratar e destruir nossos ditos súditos per mandado expresso do nosso dito
e muito caro e muito amado irmão aliado e confederado El-Rei de Portugal, tendo
os ditos navios as armas e bandeira do nosso dito irmão El-Rei de Portugal
vieram acometer e investir os navios dos ditos supricantes, arrombaram e
quebraram os ditos navios per tal maneira que se iam casi ao fundo.

 

"O
que vendo alguns dos nossos ditos súditos se saíram a terra e se meteram nas
mãos dos selvagens e gente, que na dita terra do Brasil estava antes; outros
dos nossos ditos súditos se meteram nas mãos e mercê dos ditos Portugueses,
esperando ser deles melhor tratados, porém eles ditos Portugueses enforcaram
alguns dos nossos ditos súditos, os outros meteram e enterraram em terra até os
ombros e o rosto, e depois os martirizaram e mataram cruelmente às setadas e
tiros de espingardas, tomaram e roubaram seus navios, bens e mercadoria que
eram de grande valia e estima."

Em
conseqüência destas coisas pediam os interessados cartas de marca para se
indenizarem de Portugal dos danos e prejuízos, avaliados em mais de sessenta
mil escudos, não incluídos os mortos. Antes de deferir a este requerimento
mandava El Rei de França a Elias de Aljeola para apresentar as reclamações em
tom pacífico, aliás, assumiria atitude mais decisiva e menos conciliadora.

Antes
desta, já outras queixas tinham sido formuladas contra o Capitão-mor: não
admira assim que fosse logo Cristóvão Jaques demitido do Governo, pois a 28 de
setembro de 1 528 o achamos substituído por Antônio Ribeiro, Depois não se ouve
mais falar nele. Conquanto fosse dos primeiros a pensar na colonização do
Brasil e se oferecesse para trazer mil colonos, não foi contemplado na larga
distribuição das capitanias hereditárias.

 

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