Miguel Duclós

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  • em resposta a: Rio de Janeiro, Recife, Vitória e… SÃO PAULO! #82418

    Não use CAPS lock, não escreva com internetês. Obrigado.

    Isso está num trecho famoso do livro A Política  e é um dos pontos mais polêmicos e contestados de todo organon.Anexo, o ebook da Politica.

    em resposta a: mundo da vida #85447

    Tenho um professor que diz que a questão do Mundo da Vida em Habermas é complicadíssima, e daria margem mesmo a uma pesquisa de pós-graduação. A princípio me parece que a Internet faz parte do mundo da vida, por que não faria?Recomendo este texto de um outro professor gaúcho:http://www.geocities.com/nythamar/habermas2.htmlHabermas, Mundo da Vida e Sistema

    em resposta a: resenhas #85465

    Onde a resenha vai ser apresentada? Faculdade (qual curso), ensino médio (qual matéria), jornalística?

    em resposta a: Alguém leva Nietzsche à sério? #85336

    Enfim, percebemos nestas passagens(não apenas nestas) que a filosofia nietzscheana é uma filosofia da ação.Nietzsche luta contra a metafísica e propõe uma filosofia de vida, no mundo sensível, nesse nosso mundinho aqui.Em Nietzsche há um encorajamento no sentido de se ir até o fim de nossa razão, ou melhor, de dar ouvidos às nossas forças, instintos.A ênfase que Nietzsche dá à necessidade do homem libertar-se do rebanho, conduzido por uma cultura decadente, é imensa.Esta seria a verdadeira vitória do ser humano, um desbravar quase cego em direção ao desconhecido, suprimindo-se as forças fracas.

    Esta viagem em direção ao desconhecido não está indo contra a noção de que o mundo sensível é um "mundinho"? Acho interessante chamar a filosofia de Nietzsche de filosofia da ação, mas este termo é um pouco impregnado pela "práxis" marxista, que motiva também o panfleto de Lênin, Que fazer? Ou seja, Nietzsche não é um transformador social no sentido estrito. Porém, ele sabia que suas idéias iriam encontrar grande repercurssão no futuro, e mesmo alterar o destino do homem. Em Nietzsche, não obstante o firmo propósito anti-metafísico, como você apontou, temos também uma noção de profundeza de Espírito. Algumas vezes se dirige a seus leitores como "espíritos livres". Quer dizer, não vejo somente ação nesse libertar-se do rebanho. Libertar-se do rebanho é também tornar a alma leve, vivendo o presente e parando de recarregar a herança do ressentimento, da "consciência infeliz". Uma criança constrói o mundo brincando e esquece tudo a noite, para reconstruir no dia seguinte. Essa passagem para um perspectivismo, do homem que afirma seus próprios valores, gera necessariamente conflitos entre os grandes homens, e repetição monotóna por parte do "rebanho". Nietzsche era contrário aos movimentos sociais socialistas que queria libertar o proletário da sua condição de explorado, pois via como natural uma estrutura piramidal da sociedade. Ou seja, não seria de bom tom, para o autor, esta "tomada de consciência" que pusesse dúvida no afazer do homem operoso, que faz toda a roda da sociedade girar. Porém, este "elitismo" do Nietzsche não tem nada a ver com um elitismo econômico ou de classe. E, como disse, não diminui as pretensões de alcance deste crítico da cultura. Este paradoxo é sintetizado pelo próprio autor, no subtítulo de Assim Falou Zaratustra: "Um livro para todos e para ninguém".

    Ora, alguém leva as entusiasmadas proposições nietzschianas à sério?Alguém permanece fieal a si mesmo a tal ponto?Se não, seria então nosso sinal de fraqueza?Seria necessário que para julgarmos o filósofo termos de seguir suas diretrizes primeiro?Mas alguém está disposto a trocar a segurança mundana por uma aventura como a de seu herói Zaratustra?Pois me parece que o próprio Nietzsche não levou à cabo sua filosofia, embora suas rebeliões contra a cultura dominante tivéssem se dado num estágio mais avançado de sua vida, e talvez se arrependeu que elas(contra Wagner, contra Schopenhauer, contra a democracia) não tivessem vindo na mocidade, para deixar de ser um Espírito Livre nas obras e dirigí-lo às montanhas e cidades(por que não?).Pra concluir, por que muitos são adeptos de Nietzsche mas "não são Nietzsche" tal como os discípulos de Platão eram Platão e como os de Marx eram e são Marx?Por último, será que o que um homem tem de melhor é limpar a rua, distribuir panfletos, ou o que ocorre é que estamos reprimindo a todo momento nossas forças, aquilo que em Nietzsche é considerado o bem?

    Bom, primeiramente gostaria de notar que esta questão da relação do autor com a obra me parece um pouco irrelevante. Quer dizer, é devido à própria singularidade do filósofo que vemos necessidade de saber se a radicalidade das suas idéias condiz com o decurso de sua vida. Apesar das afirmações em contrário, me parece que a biografia de Nietzsche é intimamente ligada com seus escritos. Está tudo ali, afinal todo escritor tira da realidade os recursos e idéias para poder escrever. O que você vê em desacordo? Vejamos, é certo que os escritos quando ele fazia parte do círculo de Wagner trazem ainda um otimismo em relação à produção cultural da Europa, no momento. Mas o movimento de Nietzsche é em direção à radicalidade, ele vai ficando cada vez mais solitário e ermitão (saindo do rebanho), apesar da constância de algumas amizades durante toda a vida. Ele fica doente e sai do círculo, enfrenta a doença e a morte sozinho, e sai em buscas de novos ares, carregando uma mala de mais de 100kg de livros pensões afora. Tenta casar, mas não consegue, com isso sua reabolitação segundo os valores conservadores (família, religiosidade etc) ficam quase todos suprimidos. Abre mão inclusive da estabilidade da carrreira de professor para viver a carreira literária, encontrando muito pouco sucesso em seu próprio tempo, no tocante a vendas. As últimas partes de Zaratustra foram custeadas pelo seu próprio bolso (ele recebia uma pensão vitalícia, minguada, mas salvadora).Dizer que Nietzsche não foi "guerreiro o suficiente" me parece igualmente insatisfatório. Um escritor tem a pena para levar o recado ao público. A figura que existe é que "de dois se fez um, e Zaratustra passou por mim". Quer dizer, o profeta do "ubermensch" é o Alter Ego literário de Nietzsche sim. Depois de dar asas ao espirito durante dez anos, Zaratustra desce à aldeia por amor à humanidade, para levar a boa nova da morte de deus e a consequente vida do seu ubermensch.Se as pessoas levam a filosofia de Nietzsche a sério, a fundo? Me parece que sim, a influência em correntes tanto de pensamento quanto de formação de personalidades é notória, porém você tem razão em notar um desvio do propósito. Toda esta radicalidade de filósofo é difícil de aceitar pela "gente bem" que não abre mão de seus confortos, de sua vida certeira. No fim parece que essa moda de Nietzsche encontra sim alguns elementos nefastos, mas no mínimo ele aparece como uma figura literária diante da qual é difícil de ficar indiferente. Me parece que a filosofia de Nietzsche está intimamente ligada às várias revoluções que ocorreram no século XX, algo realmente sem paralelo que desmontou muitas bases sólidas da construção de nossos valores ocidentais. Porém, daí surgiu uma espécie de vácuo. Não que tudo tenha sido invalidado, mas foi de certa forma asfixiado por um modo de proceder que se traduz em categorização e estrangulamento economico.Fazendo um paralelo tosco com Jesus Cristo, ele também foi martirizado, mas seus ensinamentos foram desvirtuados pelos discípulos. Ou seja, quando a coisa se institucioanaliza, os algozes  que tiraram sua vida mantém o triunfo. No Corão tem uma passagem interessante em que, admitindo a veracidade de Cristo, Maomé no entando condena a Igreja Católica:"27 Então, após eles, enviamos outros mensageiros Nossos e, após estes, enviamos Jesus, filho de Maria, a quem concedemos o Evangelho; e infundimos nos corações daqueles que o seguem compaixão e clemência(1602). No entanto, seguem a vida monástica, que inventaram, mas que não lhes prescrevemos; (Nós lhes prescrevemos) apenas compraz a Deus; porém, não o observaram devidamente. E recompensamos os fiéis, dentre eles; porém, a maioria é depravada(1603)."

    em resposta a: Mitologia Grega AJUDA #85459

    Aqui no site publicamos um Ensaio do Montaigne que fala dos índios, e cita o mito http://www.consciencia.org/dos_canibais_montaigne.shtmlTem também o artigo sobre Utopias, que pega três fontes modernas de releitura do Mito, Utopia do More, Cidade do Sol do Campanella e Nova Atlântida do Francis Bacon:http://www.consciencia.org/utopia.shtmlEu particularmente estou convicto que Atlântida é a América...o continente Americano. Essa história de continente submerso é uma boa bobagem. E você, o que acha?

    em resposta a: Mitologia Grega AJUDA #85457

    Em português não achei o ebook, mas você pode comprar nas livrarias… blz?

    em resposta a: Mitologia Grega AJUDA #85456
    em resposta a: Mitologia Grega AJUDA #85455

    OláA principal "fonte" para o Mito de Atlântida é Platão, Timeu e especialmente o Crítias. Se você ler em inglês dá para ver esta ligação de Atlas e Posseidon com Atlântida no diálogohttp://classics.mit.edu/Plato/critias.html

    em resposta a: O que é o AMOR #80440

    O amor é um pássaro rebeldeQue ninguém pode prender,Não adianta chamá-loPois só vem quando quer.Não adiantam ameaças ou súplicas,Um fala bem, o outro cala-seÉ o outro que prefiro,Não disse nada, mas agrada-me.O amor é filho da boêmia,Que nunca, nunca conheceu qualquer lei;Se não me amares, eu te amarei;Se eu te amar, toma cuidado!O pássaro que julgavas surpreenderBateu asas e voouO amor está longe, podes esperá-loJá não o esperas, aí está ele,À tua volta, depressa, depressa,Ele vem, ele vai, depois volta,Julgas tê-lo apanhado, ele te escapa;Julgas que te fugiu, ele agarra-te.O amor é filho da boêmia,Que nunca conheceu qualquer lei.Se não me amares, eu te amarei;Se eu te amar, toma cuidado!    L'amour est un oiseau rebelle    que nul ne peut apprivoiser,    et c'est bien en vain qu'on l'appelle,    s'il lui convient de refuser.    Rien n'y fait, menace ou prière,    l'un parle bien, l'autre se tait:    Et c'est l'autre que je préfère,    Il n'a rien dit mais il me plaît.    L'amour! l'amour! l'amour! l'amour!        L'amour est enfant de Bohême,        il n'a jamais, jamais connu de loi;        si tu ne m'aimes pas, je t'aime:        si je t'aime, prends garde à toi! etc.    L'oiseau que tu croyais surprendre    battit de l'aile et s'envola ...    l'amour est loin, tu peux l'attendre;    tu ne l'attends plus, il est là!    Tout autour de toi, vite, vite,    il vient, s'en va, puis il revient ...    tu crois le tenir, il t'évite,    tu crois l'éviter, il te tient.  ___________http://fr.wikipedia.org/wiki/L'amour_est_un_oiseau_rebellehttp://www.lyricstime.com/maria-callas-l-amour-est-un-oiseau-rebelle-tradu-o-lyrics.html

    O estruturalismo de Saussure surge a partir dos estudos linguísticos do século XIX, quando ocorre uma verdadeira “ebulição” nesta área. Uma das influências diretas é a do alemão Franz Bopp, que pelo método histórico-comparativo sacou bem as semelhanças entre as línguas ocidentais, desde o alemão até latim e grego e as indianas, chegando à conclusão que elas teriam uma mesma raiz comum, o famoso idioma indo-europeu. Então eu acho que Saussure trafega nesta campo ao fazer o recorte do que estuda na língua.No curso de linguística geral ele fala das línguagens com representações gráficas e dá o exemplo do chinês, se estou bem lembrado. A seguir ele descarta a abordagem dessa linguagem. Uma espécie de corte que delimita o campo de estudo para melhor analisar. Porém, existem algumas coisas com pretensões universais no estruturalismo saussuriano, como por exemplo o circuito da fala.

    em resposta a: Além do bem, do mal e da cognoscibilidade humana #85426

    Críticas a NietzscheAos que desprezam  a possibilidade da existência da intuição intelectual ou do supra-sensível, seria conveniente pedir para tentarem definir e dar explicação à origem do sentimento de “compaixão”.Estaria a compaixão  -  este sentimento que na minha opinião ainda está por ser explicado e definido  -  relacionado  com a vontade de potência? Creio que não. Estaria fundado na necessidade de conservação da espécie? Talvez mas, nesse caso a vontade de potência materializada no mundo financeiro e econômico – que é o mundo em que vivemos -  estaria na contra-mão da necessidade de conservação da espécie. Seria um agente contrário à vida e não motivador. Digo isto, dado ao caráter competitivo e inevitavelmente predatório do mundo financeiro e econômico.Estaria a compaixão relacionada com o que? Qual a explicação para tal sentimento?

    A vontade de potência é um conceito Nietzscheano complicado, especialmente se nós observamos que ele identifica a vida como vontade de potência. O que é a vida como a vontade de potência? Para entendermos isso, é preciso entender a "transmutação de todos valores". Nietzsche considera que venceu o niilismo negativo. Apesar de enfrentar a doença e a morte de maneira brutal, sozinho, à margem dos círculos que antes pertencia (chegou a ser dado como morto), conseguiu reunir em si as forças para viver, e considera-se que deu um "sim" à vida, apesar do sofrimento, com o título do livro de sua convalescença...que chama-se "Aurora". Mas todos os valores, todas as morais, foram desmontados, desconstruídos, mutados. O homem superior afirma e cria a valores, o "rebanho" acata esses valores de forma institucional. Nietzsche investigando a origem da moral, inaugura o método genealógico, que será aproveitado por outros pensadores, como Foucault, e aponta a inversão como a origem da moral... tudo que era bom é transformado pelos escravos em mal, dessa forma consegue-se vencê-lo.Nietzsche considera a ambição ao conhecimento, de forma absoluta, uma pretensão mirabolante. A pretensão iluminista de tudo conhecer pela razão é tão criticada quanto a obsessão religiosa que coloca o homem como centro da criação e da revelação da presença de Deus. Critica por exemplo os ascetas estóicos com sua noção de "contra" e "a favor" da natureza. A natureza não pode ser fechada em uma unidade do conceito, como um deus antropocêntrico... Não é possível ir contra a natureza, em sua incomensurabilidade ela abarca tudo. Todas estas pretensões são fagulhas mínimas que se acendem na noite dos tempos. São pois, vidas, a vontade de potência. Veja o trecho a seguir:

    “Em algum remoto rincão do universo cintilante que se derrama em um sem-número de sistemas solares, havia uma vez um astro, em que animais inteligentes inventaram o conhecimento. Foi o minuto mais soberbo e mais mentiroso da ‘história universal’: mas também foi somente um minuto. Passados poucos fôlegos da natureza, congelou-se o astro, e os animais inteligentes tiveram de morrer. -Assim poderia alguém inventar uma fábula e nem por isso teria ilustrado suficientemente quão lamentável, quão fantasmagórico e fugaz, quão sem finalidade e gratuito fica o intelecto humano (grifo meu). Houve eternidades, em que ele não estava; quando de novo ele tiver passado, nada terá acontecido”

    A vida é o único valor em si mesmo, para Nietzsche. O único valor que não pode ser transmutado, pois, pela definição é a própria vida que cria todos os valores. Negar a vida é um niilismo destrutivo, mesquinho, rancoroso, que nada tem a ver com a idéia de Nietzsche do homem superior. Este viveria a vida plena, sofreria mesmo de superabundância de vida. Com apenas uma inflexão afasta de si todos os males, a memória de derrotas anteriores, ou...o ressentimento. A arte de criar e destruir valores...e de confrontá-los, não seria para "qualquer um". Nietzsche critica o socialismo e defende a estrutura piramidal da sociedade. Mas isso não tem a ver com condições econômicas (ele mesmo foi extremamente pobre a  vida inteira) mas com esta digamos, "elevação espiritual"... Mas de espírito livre , e não religioso. Nietzsche era contra o ascetismo e a crença na vida após a morte (desconfiança mesquinha em relação à vida e ao mundo terreno)... "obriguemos os ascetas a comer um quilo de maizena", ele brinca. Confrontar valores seria um "nobre jogo", no qual é necessário saber as regras de conduta :D.Sobre a compaixão: Zaratustra é um ermitão que por dez anos vive na companhia de dois animais rapinaces, dando asas ao espírito no topo de uma montanha. Porém ele volta para a aldeia por amor à humanidade. Para anunciar ao povo feito escravo a morte de deus e a vinda do "além-do-homem". Lembramos disso no trecho a seguir, que é maliciosamente taxado com as acusações de sempre, por parte dos críticos... Pretensão, loucura etc.

    “Entre minhas obras ocupa o meu Zaratustra um lugar à parte. Com ele fiz à humanidade o maior presente que até agora lhe foi feito. Esse livro, com uma voz de atravessar milênios, é não apenas o livro mais elevado que existe, autêntico livro  do ar das alturas [...] é também o mais profundo, o nascido da mais oculta riqueza da verdade, poço inesgotável onde balde nenhum desce sem que volte repleto de ouro e bondade”

    Cartas de Nietzsche

    Com esta carta respondo ao senhor três assuntos tratados na sua correspondência, obrigado pela confiança com que me permite passar a vista pela confusão de princípios que situam-se no coração deste estranho movimento. Todavia eu peço, no futuro, que não me envie mais estas cartas [anti-semitas]: eu receio, afinal, pela minha paciência. Acredite-me: este abominável "querer dizer" de barulho diletante acerca do valor de pessoas e raças, esta sujeição à "autoridades" que são completamente rejeitadas com frio desprezo por qualquer mente sensível ( tal como E. Dühring, R. Wagner, Ebrard, Wahrmund, P. de Lagarde - quem dentre esses é mais qualificado, mais injusto, em questões de história e moralidade) estas falsificações permanentes e absurdas,estas racionalizações de conceitos vagos como "germânico", "semita", "ariano", "cristão","alemão" - tudo isso pode acabar por me fazer perder a moderação e me fazer sair da irônica benevolência com a qual até aqui tenho observado as virtuosas veleidades e farisaísmos dos alemães modernos.- E, por último, o que você acha que eu sinto quando o nome de Zaratustra sai da boca de anti-semitas?...Humildemente, seu Dr. Fr. Nietzsche

    Neste meio tempo eu vi a prova, preto no branco, de que o Förster ainda não cortou suas ligações com o movimento anti-semita. Desde então tenho dificuldade em manter o carinho e proteção que sempre nutri em relação a você. [...] A nossa separação é aqui decidida da maneira mais absurda. Você não compreendeu nada da razão pela qual estou no mundo? Isto foi tão longe que agora preciso me defender da cabeça aos pés das pessoas que me confundem com essa canalha anti-semita; depois que minha própria irmã, minha ex-irmã, e depois que Widemann deu impulso para essa confusão, a mais medonha de todas. Depois que li o nome de Zaratustra na correspondência desses anti-semitas, minha contenção chegou ao fim. Estou agora na posição de urgente defesa contra o partido do seu esposo. Estas malditas deformações anti-semitas não devem manchar meu ideal!

    Natal de 1887, carta a Elisabeth Förster-Nietzsche[...] Você cometeu uma das maiores estupidezes - para si mesma e para mim! Sua associação com um líder anti-semita expressa um desconhecimento de todo o modo de vida que me preenche agora e sempre com ira e melancolia[...] É uma questão de honra para mim ser absolutamente isentado de toda associação com o anti-semitismo, isto é, me contrapondo a ele, como tenho feito nos meus escritos. Eu recentemente fui perseguido com cartas e prospectos anti-semitas. Minha repulsa em relação a este partido (que gostaria muito bem de se beneficiar de meu nome!) é tão declarada quanto possível, mas a relação com Förster, como o efeito colateral de meu antigo editor, este Schmeitzner anti-semita, sempre traz de volta aos sectários deste desagradável partido a idéia de que eu pertenço a eles, afinal. [...] Isto estimula uma desconfiança contra o meu caráter, como se publicamente eu condenasse algo que privadamente endosasse. Como não posso fazer nada em relação a isso, e o nome de Zaratustra tem sido muito usado na correspondência dos anti-semitas, quase fiquei doente várias vezes.

    http://www.consciencia.org/wiki/index.php/Nietzsche_Letters_1887:ptNestas cartas vemos que os movimentos anti-semitas já estavam em agitação na Alemanha na época de Nietzsche, mas quando eles tentaram se apropriar de sua obra para justificar a sua ideologia, Nietzsche reagiu como pode, de forma indignada e virulenta.A irmã de Nietzsche casou-se com um anti-semita que fundou uma colônia no Paraguai (Nova Germânia) e posteriormente foi amiga de Mussolini. Após a morte de Nietzsche ela ficou com os direitos autorais, e tentou manter esta apropriação, editando, por exemplo, de forma tentenciosa as notas póstumas do autor de forma a deturpar a teoria do "super-homem". Este problema foi corrigido através da edição crítica de Colli & Montinari, que é a padrão para estudos acadêmicos. Montinari tem também um estudo de fôlego que demonstra a fraca ou nula ligação do Nazismo com Nietzsche. Hitler e seus ideólogos não eram leitores de Nietzsche. É a mesma coisa que querer associar a República de Platão com o nazismo, é um problema anacrônico. O "ubermensch" nietzscheano é mal compreendido. Nazismo envolve ordem social (nacional-socialismo), o ubermensch de Nietzsche é individualista, perspectivista, é o homem superior que cria valores. Nietzsche é contrário aos "instintos de rebanho"; contranhaponha isso com o exercito nazista perfilado, obedecendo ao Führer e buscando a hegemonia. O ubermensch de Nietzsche é sim uma espécie de evolução natural do homem, mas nâo à moda de Darwin. Nietzsche está ligado às correntes científicas de seu tempo, mas critica Darwin, chama de medíocre, mero coletor de dados. Para Darwin, "os mais fortes" sobrevivem, ou seja, os mais adaptados incorporam em si o elemento evolutivo que os permite seguir adiante. Nietzsche diz que Darwin errou ao supor na natureza um quadro de falta,  de escassez de recursos. Para Nietzsche esta falta é injusta. A Terra provê a todos abundantemente... Existe abundância de recursos, e não falta. O ubermensch Nietzscheano é a razão da terra.No Além do Bem e do Mal ele comenta os judeus em alguns parágrafos:

    Os judeus — “povo nascido da escravidão” como disse Tácito em uníssono com toda a antigüidade, “povo eleito entre todos os povos”, como eles mesmos dizem e crêem, levaram a cabo essa milagrosa inversão de valores que deu à vida durante milênios um novo e perigoso atrativo. Os profetas judeusfundiram numa só definição o “rico”, “ímpio”, “violento”, “sensual” e pela primeira vez colocaram a pecha da infâmia à palavra “mundo”. Nesta inversão de valores (que fez também da palavra “pobre” sinônimo de “santo” e de “amigo”) é que se fundamenta a importância do povo judeu. com ele. em moral,começa a insurreição dos escravos.

    Existem duas espécies de gênio; um que gera e quer gerar, e outro que quer ser fecundado e parir. Entre os povos de gênio alguns receberam a incumbência do problema feminino da gravidez e do trabalho secreto de formar, amadurecer, aperfeiçoar — desta espécie foram os gregos e também osfranceses -; os outros são destinados a fecundar e serem a causa de novas ordens de vida — como os judeus, os romanos e talvez também, com toda modéstia, os alemães?

    O que a Europa deve aos judeus? Muitas coisas, boas e más, e antes de mais nada uma coisa que tem do melhor e pior para dar: o estilo grandioso da moral, o terrível e a majestade de postulados imensos, de infinitos significados, todo o romantismo e o sublime dos problemas morais — e conseqüentemente a parte, mais interessante, embaraçosa e procurada pelo caleidoscópio de seduções da vida, que iluminacom seus últimos clarões a céu, o pôr-do-sol, talvez, de nossa civilização européia. Nós artistas entre os espectadores e os filósofos nos sentimos reconhecidos por isso — aos judeus.

    É preciso resignar-se se o espírito de um povo que sofre e quer sofrer de febre nacional e de ambição política é ofuscado algumas vezes por alguma nuvem ou qualquer outra perturbação, se tem, em resumo, qualquer acesso de imbecilidade; assim, por exemplo, os alemães da atualidade cultivaram a demência anti-francesa, outras, a anti-semita, a anti-polaca, a romântico-cristã, a wagneriana, a teutônica, aprussiana (como aqueles historiadores cabeçudos: Sybel e Treitschke) — são em suma, pequenos obumbramentos do espírito e da consciência alemã. Mas que se me perdoe, se também eu, depois de uma breve, mas perigosa estada em território muito infecto, não fiquei completamente imune ao contato e comecei, como todos os outros, a ocupar-me de coisas que não me interessavam nem um pouco, primeirosintoma de infecção política. Por exemplo, a respeito dos judeus, estava a ouvir: — jamais encontrei algum alemão a quem os judeus fossem simpáticos e porquanto se rejeite sistematicamente o anti-semitismo propriamente dito pelos assisados e políticos, é preciso lembrar que este juízo, que esta política, não são dirigidos contra a espécie de sentimento por si mesmo, mas sobretudo contra sua perigosa imoderação eprecisamente contra o modo infeliz e vergonhoso segundo o qual um tal sentimento se manifesta — sem margem de engano Que a Alemanha tenha judeus em número suficiente para seu estômago, — o alemão demorará muito para digerir a quantidade de judeus de que atualmente está provido — como já o fizeram os italianos, os franceses, os ingleses, graças à sua digestão mais robusta — eis o que diz claramente a voz do instinto universal, da qual preciso ouvir o aviso. "Não se permita o ingresso de outros judeus na Alemanha! E que lhes seja fechado principalmente o Império do Oriente (e também a Áustria). Isto exige o instinto de um povo, cuja índole ainda é fraca e pouco determinada, para que possa ser facilmenteabsorvida, cancelada por uma raça mais forte. Mas os judeus são incontestavelmente a raça mais vigorosa, mais tenaz e mais genuína que vive na Europa, sabem caminhar nas piores condições (e talvez muito melhor que em condições favoráveis) e isto quanto a tais virtudes, que atualmente se pretende tomar por vícios, em termos de uma fé resoluta, que não tem necessidade de envergonhar-se diante das "idéias modernas", mudam, quando e se se mudam, sempre do mesmo modo que oimpério russo — Império que tem muito tempo diante de si e que não data de ontem — alarga suas conquistas, quer dizer: "o mais lentamente possível"! Um pensador que fosse responsável pelo futuro da Europa, em todos os seus projetos deveria incluir os judeus e os russos, fatores seguros e prováveis na liça, no grande confronto de forças.Aquilo que hoje é dito "nacional" é antes de mais nada "res facta" antes que "res nata" (e que, maldição, assemelhasse a uma res ficta et picta) é de qualquer modo algo que está sendo formado, uma coisa jovem, fácil de ser mudada, mas não ainda uma raça e menos ainda qualquer coisa de aeree perennius,como são os judeus; essas nações devem evitar qualquer concorrência de hostilidade entre elas! Que os judeus se quisessem e fossem constrangidos como parece que o querem fazer os anti-semitas poderiam ter o predomínio, literalmente dominar a Europa. é indubitável, talvez não ambicionem tal predomínio. Por ora pedem e desejam, com uma certa insistência, a absorção na Europa, têm sede de ter uma demoraestável para que possam ser tolerados, respeitados em qualquer lugar, de pôr fim à sua vida nômade, ao "judeu errante" e seria necessário considerar seriamente tal desejo, tal tendência (significando por si mesma um amolecimento dos instintos hebraicos), talvez ir ao encontro do mesmo, mas para poderfazer isso. seria adequado afastar, de todos os países, os agitadores anti-semitas. Dever-se-ia receber os judeus com todas as precauções imagináveis, com um certo espírito seletivo, ao redor. como o fez a nobreza inglesa. É óbvio, que sem temor algum os tipos mais vigorosos e mais sólidos doneo-germanismo poderiam manter relações com os judeus, por exemplo. os oficiais nobres da Marca, seria de grande interesse estudar a mestiçagem do elemento destinado por atavismo ao comando e à obediência — e nas duas coisas o pais citado pode servir de exemplo, clássico — com gênio do dinheiro epaciência (que traria um pouco de espiritualidade, da qual há muita falta no país mencionado). Mas que se me permite truncar minha jucunda divagação patriótica, e que retorne à minha seriedade, ao "problema europeu", como eu o entendo, isto é, da formação da nova casta que reinará na Europa.

    em resposta a: resumo A República – Platão #85446

    http://www.consciencia.org/forum/index.php/topic,152.msg6402.html#msg6402Você postou no local inadequado sua mensagem, e ainda fazendo exatamente o que o "Como postar" pede para não fazer...

    em resposta a: "Não sabemos mais amar?" #85445

    Olá ratxinhaEu estava dando uma olhada aqui neste artigo sobre o amor na Idade Média, quando se considerava que você podia amar apenas uma única pessoa na vida, e se desse sorte casava-se com ela....O artigo mostra como muito dos rituais de amor que damos como natuais começaram a ser implantados nesse período.http://www.ricardocosta.com/pub/amor.htmSobre a pergunta, recentemente parece ter ocorrido no Ocidente uma grande mudança nos costumes... se a revolução sexual pregou o sexo e amor livres, através da multiplicidade descompromissada de parceiros, talvez também tenha impedido um maior aprofundamento das relações... Modernamente isso virou um simulacro onde nada mais importa e os corpos estão disponíveis para serem devorados pela utilização planfletária que explora o pseudo-erotismo em diversas formas de negação cultural... e aí fica tudo gasto, banalizado... na superfície. Será que isso ajuda a responder?Abraços

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