Miguel Duclós

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  • em resposta a: Além do bem, do mal e da cognoscibilidade humana #85406

    Olá Brasil, muito interessante esta sua proposta de nos colocar a par de sua leitura cuidadosa de uma obra de Nietzsche. Em filosofia este “corpo a corpo” direto com o texto clássico, sem intermediação de comentadores, pode nos proporcionar uma riqueza de leitura e podemos enxergar o autor livre dos “direcionamentos” que a visão do comentador necessariamente impõe, já que um texto clássico admite sempre um sem número de correntes e tradições interpretativas. No caso de Nietzsche a recepção de sua obra através dos pensadores franceses do final do século XIX e principalmente no XX (Bataille, Derrida, Foucault, Deleuze e outros) foi significativa para que ele adquirisse esta dimensão que hoje tem… Se você tomar a filosofia como uma laranja dividida em dois grandes gomos, podemos considerar que o gomo maior representa a tradição durante muito tempo triunfante, a platônico-aristotélica, realista que considera que é possível conhecer; que o homem é dotado do instrumento da razão e esse é suficiente para desvendar o mundo. Outra tradição menor, a qual Nietzsche se liga, não considera que é possível à razão tudo conhecer... aí estão o relativismo dos sofistas, o ceticismo pirrônico... Nietzsche elege o devir heraclatiano como o melhor representante do esplendor da cultura grega e Sócrates e Platão como agentes da decadênica corporal e espiritual. O cerne desta questão está na subordinação deste mundo em um outro mundo... o chamado "Mundo Verdade", que seria o verdadeiro, incorpóreo, sobre-mundano. Para Nietzsche é uma desconfiança mesquinha em relação à abundância da Terra e à vida plena supor que a vida não é essa, que o mundo não é esse.Para criticar boa parte dos pensadores da filosofia e se colocar na posição de antípoda foi necessário uma boa dose de coragem e também pagar-se um alto preço... talvez a própria loucura e a solidão perante a doença. Por outro lado, penso que se Nietzsche adquiriu o estatuto de grande filósofo, também não foi a toa. É preciso pois ler os escritos com os olhos livres... Se existem muitos pontos polêmicos e outros tantos que parecem absurdos, encontramos também uma escrita sofisticada e muitas vezes brilhantes (e aí é necessário tomar cuidado com a tradução para que isto não se perca). Como você notou, o modo de exposição dele não é, em geral, sistemático, mas antes a-sistemático, aforismático, e muitas vezes mesmo poético. Porém, o domínio da linguagem em Nietzsche é pleno.Abs

    “Penso que seu tormento pessoal desqualifica em muito sua obra. “Porque você pensa isso? A questão da relação da vida com o autor com sua obra é sempre complexa e delicada, no caso de Nietzsche sua vida parece corrobar suas posições teóricas, o que não acontece com os outros autores.A civilização não é o universo, nem tampouco necessária. A civilização que de certa forma triunfou, baseado no judaico-cristianismo romano, é uma dentre muitas possíveis. Foi esta que Nietzsche acusa de estar decadente. Baseando-se em sua erudição, encontrou uma grande energia no mundo antigo que foi capaz de criar o modelo do ocidente, Grécia e Roma, mas que já naquela época encontrou dentro de si a semente de sua destruição, como a abstração do conceito socrático; o mundo antigo também criou a unidade conceitual máxima que é a idéia de deus, porém toda essa força chegou até a modernidade de forma dissipada, incompleta. O mundo moderno não merece o período longo, que o servilismo em relação à palavras destituídas de poder promulgou.A civilização que Nietzsche criticou já sofreu duros golpes depois de sua morte, e sua filosofia encontrou e encontra forte ressonância em muitos aspectos dos tempos que se erguem. Destarte qualquer crítica que considere despropositada a filosofia triunfante de Nietzsche, ainda mais baseada em uma noção vaga acerca de sua vida e obra, precisa ser feita com cuidado.

    em resposta a: Para Que serve a filosofia??? #85393

    Olá Mamão.Mais uma vez recomendo que você adquira ou leia, se tem acesso, o livro de Marilena, Convite a Filosofia, que contém o trecho abaixo, que pode ajudar a buscar a resposta para essa intrigante questão. É interessante ressaltar que não há uma resposta correta, ou uma única resposta, e talvez por isso tenha suscitado tanto debate na sua classe.

    Para que Filosofia?Ora, muitos fazem uma outra pergunta: afinal, para que Filosofia? É uma pergunta interessante. Não vemos nem ouvimos ninguém perguntar, por exemplo, para que matemática ou física? Para que geografia ou geologia? Para que história ou sociologia? Para que biologia ou psicologia? Para que astronomia ou química? Para que pintura, literatura, música ou dança? Mas todo mundo acha muito natural perguntar: Para que Filosofia? Em geral, essa pergunta costuma receber uma resposta irônica, conhecida dos estudantes de Filosofia: “A Filosofia é uma ciência com a qual e sem a qual o mundo permanece tal e qual”. Ou seja, a Filosofia não serve para nada. Por isso, se costuma chamar de “filósofo” alguém sempre distraído, com a cabeça no mundo da lua, pensando e dizendo coisas que ninguém entende e que são perfeitamente inúteis.Essa pergunta, “Para que Filosofia?”, tem a sua razão de ser. Em nossa cultura e em nossa sociedade, costumamos considerar que alguma coisa só tem o direito de existir se tiver alguma finalidade prática, muito visível e de utilidade imediata.Por isso, ninguém pergunta para que as ciências, pois todo mundo imagina ver a utilidade das ciências nos produtos da técnica, isto é, na aplicação científica à realidade.Todo mundo também imagina ver a utilidade das artes, tanto por causa da compra e venda das obras de arte, quanto porque nossa cultura vê os artistas como gênios que merecem ser valorizados para o elogio da humanidade. Ninguém, todavia, consegue ver para que serviria a Filosofia, donde dizer-se: não serve para coisa alguma.Parece, porém, que o senso comum não enxerga algo que os cientistas sabem muito bem. As ciências pretendem ser conhecimentos verdadeiros, obtidos graças a procedimentos rigorosos de pensamento; pretendem agir sobre a realidade, através de instrumentos e objetos técnicos; pretendem fazer progressos nos conhecimentos, corrigindo-os e aumentando-os.Ora, todas essas pretensões das ciências pressupõem que elas acreditam na existência da verdade, de procedimentos corretos para bem usar o pensamento, na tecnologia como aplicação prática de teorias, na racionalidade dos conhecimentos, porque podem ser corrigidos e aperfeiçoados.Verdade, pensamento, procedimentos especiais para conhecer fatos, relação entre teoria e prática, correção e acúmulo de saberes: tudo isso não é ciência, são questões filosóficas. O cientista parte delas como questões já respondidas, mas é a Filosofia quem as formula e busca respostas para elas.Assim, o trabalho das ciências pressupõe, como condição, o trabalho da Filosofia, mesmo que o cientista não seja filósofo. No entanto, como apenas os cientistas e filósofos sabem disso, o senso comum continua afirmando que a Filosofia não serve para nada.Para dar alguma utilidade à Filosofia, muitos consideram que, de fato, a Filosofia não serviria para nada, se “servir” fosse entendido como a possibilidade de fazer usos técnicos dos produtos filosóficos ou dar-lhes utilidade econômica, obtendo lucros com eles; consideram também que a Filosofia nada teria a ver com aciência e a técnica. Para quem pensa dessa forma, o principal para a Filosofia não seriam os conhecimentos (que ficam por conta da ciência), nem as aplicações de teorias (que ficam por conta da tecnologia), mas o ensinamento moral ou ético. A Filosofia seria a arte do bem viver. Estudando as paixões e os vícios humanos, a liberdade e a vontade, analisando a capacidade de nossa razão para impor limites aos nossos desejos e paixões, ensinando-nos a viver de modo honesto e justo na companhia dos outros seres humanos, a Filosofia teria como finalidade ensinarnos a virtude, que é o princípio do bem-viver.Essa definição da Filosofia, porém, não nos ajuda muito. De fato, mesmo para ser uma arte moral ou ética, ou uma arte do bem-viver, a Filosofia continua fazendo suas perguntas desconcertantes e embaraçosas: O que é o homem? O que é a vontade? O que é a paixão? O que é a razão? O que é o vício? O que é a virtude?O que é a liberdade? Como nos tornamos livres, racionais e virtuosos? Por que a liberdade e a virtude são valores para os seres humanos? O que é um valor? Por que avaliamos os sentimentos e as ações humanas?Assim, mesmo se disséssemos que o objeto da Filosofia não é o conhecimento da realidade, nem o conhecimento da nossa capacidade para conhecer, mesmo se disséssemos que o objeto da Filosofia é apenas a vida moral ou ética, ainda assim, o estilo filosófico e a atitude filosófica permaneceriam os mesmos, poisas perguntas filosóficas - o que, por que e como - permanecem. Atitude filosófica: indagar Se, portanto, deixarmos de lado, por enquanto, os objetos com os quais a Filosofia se ocupa, veremos que a atitude filosófica possui algumas características que são as mesmas, independentemente do conteúdo investigado.Essas características são:- perguntar o que a coisa, ou o valor, ou a idéia, é. A Filosofia pergunta qual é a realidade ou natureza e qual é a significação de alguma coisa, não importa qual; - perguntar como a coisa, a idéia ou o valor, é. A Filosofia indaga qual é a estrutura e quais são as relações que constituem uma coisa, uma idéia ou um valor;- perguntar por que a coisa, a idéia ou o valor, existe e é como é. A Filosofia pergunta pela origem ou pela causa de uma coisa, de uma idéia, de um valor. A atitude filosófica inicia-se dirigindo essas indagações ao mundo que nos rodeia e às relações que mantemos com ele. Pouco a pouco, porém, descobre que essasquestões se referem, afinal, à nossa capacidade de conhecer, à nossa capacidade de pensar.Por isso, pouco a pouco, as perguntas da Filosofia se dirigem ao próprio pensamento: o que é pensar, como é pensar, por que há o pensar? A Filosofia torna-se, então, o pensamento interrogando-se a si mesmo. Por ser uma volta que o pensamento realiza sobre si mesmo, a Filosofia se realiza como reflexão.A reflexão filosóficaReflexão significa movimento de volta sobre si mesmo ou movimento de retorno a si mesmo. A reflexão é o movimento pelo qual o pensamento volta-se para si mesmo, interrogando a si mesmo.A reflexão filosófica é radical porque é um movimento de volta do pensamento sobre si mesmo para conhecer-se a si mesmo, para indagar como é possível o próprio pensamento.Não somos, porém, somente seres pensantes. Somos também seres que agem no mundo, que se relacionam com os outros seres humanos, com os animais, as plantas, as coisas, os fatos e acontecimentos, e exprimimos essas relações tanto por meio da linguagem quanto por meio de gestos e ações.A reflexão filosófica também se volta para essas relações que mantemos com a realidade circundante, para o que dizemos e para as ações que realizamos nessas relações.A reflexão filosófica organiza-se em torno de três grandes conjuntos de perguntas ou questões:1. Por que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos e fazemos o que fazemos? Isto é, quais os motivos, as razões e as causas para pensarmos o que pensamos, dizermos o que dizemos, fazermos o que fazemos? 2. O que queremos pensar quando pensamos, o que queremos dizer quando falamos, o que queremos fazer quando agimos? Isto é, qual é o conteúdo ou o sentido do que pensamos, dizemos ou fazemos?3. Para que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos, fazemos o que fazemos? Isto é, qual é a intenção ou a finalidade do que pensamos, dizemos e fazemos?Essas três questões podem ser resumidas em: O que é pensar, falar e agir? E elas pressupõem a seguinte pergunta: Nossas crenças cotidianas são ou não um saber verdadeiro, um conhecimento?Como vimos, a atitude filosófica inicia-se indagando: O que é? Como é? Por que é?, dirigindo-se ao mundo que nos rodeia e aos seres humanos que nele vivem e com ele se relacionam. São perguntas sobre a essência, a significação ou a estrutura e a origem de todas as coisas.Já a reflexão filosófica indaga: Por quê?, O quê?, Para quê?, dirigindo-se ao pensamento, aos seres humanos no ato da reflexão. São perguntas sobre a capacidade e a finalidade humanas para conhecer e agir.Filosofia: um pensamento sistemático Essas indagações fundamentais não se realizam ao acaso, segundo preferências e opiniões de cada um de nós. A Filosofia não é um “eu acho que” ou um “eu gosto de”. Não é pesquisa de opinião à maneira dos meios de comunicação de massa. Não é pesquisa de mercado para conhecer preferências dos consumidorese montar uma propaganda.As indagações filosóficas se realizam de modo sistemático. Que significa isso? Significa que a Filosofia trabalha com enunciados precisos e rigorosos, busca encadeamentos lógicos entre os enunciados, opera com conceitos ou idéias obtidos por procedimentos de demonstração e prova, exige a fundamentação racional do que é enunciado e pensado. Somente assim a reflexão filosófica pode fazer com que nossa experiência cotidiana, nossas crenças e opiniões alcancem uma visão crítica de si mesmas. Não se trata de dizer “eu acho que ”, mas de poder afirmar “eu penso que”.O conhecimento filosófico é um trabalho intelectual. É sistemático porque não se contenta em obter respostas para as questões colocadas, mas exige que as próprias questões sejam válidas e, em segundo lugar, que as respostas sejam verdadeiras, estejam relacionadas entre si, esclareçam umas às outras, formem conjuntos coerentes de idéias e significações, sejam provadas e demonstradas racionalmente.Quando o senso comum diz “esta é minha filosofia” ou “isso é a filosofia de fulana ou de fulano”, engana-se e não se engana. Engana-se porque imagina que para “ter uma filosofia” basta alguém possuir umconjunto de idéias mais ou menos coerentes sobre todas as coisas e pessoas, bem como ter um conjunto de princípios mais ou menos coerentes para julgar as coisas e as pessoas. “Minha filosofia” ou a “filosofia de fulano” ficam no plano de um “eu acho” coerente.Mas o senso comum não se engana ao usar essas expressões porque percebe,  ainda que muito confusamente, que há uma característica nas idéias e nos princípios que nos leva a dizer que são uma filosofia: a coerência, as relações entre as idéias e entre os princípios. Ou seja, o senso comum pressente que a Filosofia opera sistematicamente, com coerência e lógica, que a Filosofia tem uma vocação para formar um todo daquilo que aparece de modo fragmentado em nossa experiência cotidiana.____________CHAUI, Marilena. Convite a Filosofia; Ed. Ática. São Paulo, 2000.

    em resposta a: comportamento dogmático #85397

    Ola Mamão.O que você leu sobre o assunto? Talvez o trecho abaixo, do livro "Convite a Filosofia" da professora Marilena Chaui possa ajudar a lançar um pouco de luz sobre esta questão.

    Dogmatismo vem da palavra grega dogma, que significa: uma opinião estabelecida por decreto e ensinada como uma doutrina, sem contestação. Por ser uma opinião decretada ou uma doutrina inquestionada, um dogma é tomado como uma verdade que não pode ser contestada nem criticada, como acontece, por exemplo, na nossa vida cotidiana, quando, diante de uma pergunta ou de uma dúvida que apresentamos, nos respondem: “É assim porque é assim e porque tem que ser assim”. O dogmatismo é uma atitude autoritária e submissa. Autoritária, porque não admite dúvida, contestação e crítica. Submissa, porque se curva às opiniões estabelecidas.As crises, as dificuldades e os impasses da razão mostram, assim, o oposto do dogmatismo. Indicam atitude reflexiva e crítica própria da racionalidade,  destacando a importância fundamental da liberdade de pensamento para a própria razão e para a Filosofia.Dogmatismo e busca da verdade. Quando prestamos atenção em Sócrates ou Descartes, notamos que ambos, por motivos diferentes e usando procedimentos diferentes, fazem uma mesma coisa, isto é, desconfiam das opiniões e crenças estabelecidas em suas sociedades, mas também desconfiam das suas próprias idéias e opiniões. Do que desconfiam eles, afinal? Desconfiam do dogmatismo. O que é dogmatismo?Dogmatismo é uma atitude muito natural e muito espontânea que temos, desde muito crianças. É nossa crença de que o mundo existe e que é exatamente tal como o percebemos. Temos essa crença porque somos seres práticos, isto é, nos relacionamos com a realidade como um conjunto de coisas, fatos e pessoas que são úteis ou inúteis para nossa sobrevivência.Os seres humanos, porque são seres culturais, trabalham. O trabalho é uma ação pela qual modificamos as coisas e a realidade de modo a conseguir nossa preservação na existência. Constroem casas, fabricam vestuário e utensílios, produzem objetos técnicos e de consumo, inventam meios de transporte, decomunicação e de informação. Através da prática ou do trabalho e da técnica, os seres humanos organizam-se social e politicamente, criam instituições sociais (família, escola, agricultura, comércio, indústria, relações entre grupos e classes, etc.) e instituições políticas (o Estado, o poder executivo, legislativo e judiciário, as forças militares profissionais, os tribunais e as leis).Essas práticas só são possíveis porque acreditamos que o mundo existe, que é tal como o percebemos e tal como nos ensinaram que ele é, que pode ser modificado ou conservado por nós, que é explicado pelas religiões e pelas ciências, que é representado pelas artes. Acreditamos que os outros seres humanos também são racionais, pois, graças à linguagem, trocamos idéias e opiniões, pensamos de modo muito parecido e a escola e os meios de comunicação garantem a manutenção dessas semelhanças.Na atitude dogmática, tomamos o mundo como já dado, já feito, já pensado, já transformado. A realidade natural, social, política e cultural forma uma espécie de moldura de um quadro em cujo interior nos instalamos e onde existimos. Mesmo quando acontece algo excepcional ou extraordinário (uma catástrofe, o aparecimento de um objeto inteiramente novo e desconhecido), nossa tendência natural e dogmática é a de reduzir o excepcional e o extraordinário aos padrões do que já conhecemos e já sabemos. Mesmo quando descobrimos que algumacoisa é diferente do que havíamos suposto, essa descoberta não abala nossa crença e nossa confiança na realidade, nem nossa familiaridade com ela. O mundo é como a novela de televisão: muita coisa acontece, mas, afinal, nada acontece, pois quando a novela termina, os bons foram recompensados, os maus foram punidos, os pobres bons ficaram ricos, os ricos maus ficaram pobres, a mocinha casou com o mocinho certo, a família boa se refez e a família má sedesfez. Em outras palavras, os acontecimentos da novela servem apenas para confirmar e reforçar o que já sabíamos e o que já esperávamos. Tudo se mantém numa atmosfera ou num clima de familiaridade, de segurança e sossego. Na atitude dogmática ou natural, aceitamos sem nenhum problema que há umarealidade exterior a nós e que, embora externa e diferente de nós, pode ser conhecida e tecnicamente transformada por nós. Achamos que o espaço existe, que nele as coisas estão como num receptáculo; achamos que o tempo também existe e que nele as coisas e nós próprios estamos submetidos à sucessão dos instantes.Dogmatismo e estranhamentoEscutemos, porém, por um momento, a indagação de santo Agostinho, em suas Confissões:O que é o tempo? Tentemos fornecer uma explicação fácil e breve. O que há de mais familiar e mais conhecido do que o tempo? Mas, o que é o tempo? Quando quero explicá-lo, não encontro explicação. Se eu disser que o tempo é a passagem do passado para o presente e do presente para o futuro, terei que perguntar: Como pode o tempo passar? Como sei que ele passa? O que é um tempo passado? Onde ele está? O que é um tempo futuro? Onde ele está? Se o passado é o que eu, do presente, recordo, e ofuturo é o que eu, do presente, espero, então não seria mais correto dizer que o tempo é apenas o presente? Mas, quanto dura um presente? Quando acabo de colocar o ‘r’ no verbo ‘colocar’, este ‘r’ é ainda presente ou já é passado? A palavra que estou pensando em escrever a seguir, é presenteou é futuro? O que é o tempo, afinal? E a eternidade? As coisas são mesmo tais como me aparecem? Estão no espaço? Mas, o que é o espaço? Se eu disser que o espaço é feito de comprimento, altura e largura, onde poderei colocar a profundidade, sem a qual não podemos ver, não podemosenxergar nada? Mas a profundidade, que me permite ver as coisas espaciais, é justamente aquilo que não vejo e que não posso ver, se eu quiser olhar as coisas.A profundidade é ou não espacial? Se for espacial, por que não a vejo no espaço? Se não for espacial, como pode ser a condição para que eu veja as coisas no espaço? Acompanhemos agora os versos do poeta Mário de Andrade, escritos no poema “Lira Paulistana”:Garoa do meu São PauloUm negro vem vindo, é branco!Só bem perto fica negro,Passa e torna a ficar branco.Meu São Paulo da garoa,- Londres das neblinas frias -Um pobre vem vindo, é rico!Só bem perto fica pobre,Passa e torna a ficar rico.Esses versos, nos quais a garoa de São Paulo se parece com a neblina de Londres, isto é, com um véu denso de ar úmido, dizem que não conseguimos ver a realidade: o negro, de longe, é branco, o pobre, de longe, é rico; só muito de perto, sem o véu da garoa, o negro é negro e o pobre é pobre. Mas, apesar de vê-los de perto tais como são, de longe voltam a ser o que não são.O poeta exprime um dos problemas que mais fascinam a Filosofia: Como a ilusão é possível? Como podemos ver o que não é? Mas, conseqüentemente, como a verdade é possível? Como podemos ver o que é, tal como é? Qual é a “garoa” que se interpõe entre o nosso pensamento e a realidade? Qual é a “garoa” que se interpõe entre nosso olhar e as coisas?A atitude dogmática ou natural se rompe quando somos capazes de uma atitude de estranhamento diante das coisas que nos pareciam familiares. Dois exemplos podem ilustrar essa capacidade de estranhamento, ambos da escritora Clarice Lispector em seu livro A descoberta do mundo. O primeiro tem como título“Mais do que um inseto”. Custei um pouco a compreender o que estava vendo, de tão inesperado e sutil que era: estava vendo um inseto pousado, verde-claro, de pernas altas. Era uma ‘esperança’, o que sempre me disseram que é de bom augúrio. Depois a esperança começou a andar bem de leve sobre o colchão. Era verde transparente, com pernas que mantinham seu corpo plano alto e por assim dizer solto, um plano tão frágil quanto as próprias pernas que eram feitas apenas da cor da casca. Dentro do fiapo das pernas não havia nada dentro: o lado de dentro de uma superfície tão rasa já é a própria superfície. Parecia um raso desenho que tivesse saído do papel, verde e andasse… E andava com uma determinação de quem copiasse um traço que era invisível para mim… Mas onde estariam nele as glândulas de seu destino e as adrenalinas de seu seco verde interior? Pois era um ser oco, um enxerto de gravetos, simples atração eletiva de linhas verdes.O outro se intitula “Atualidade do ovo e da galinha” e nele podemos ler o seguinte trecho:Olho o ovo com um só olhar. Imediatamente percebo que não se pode estar vendo um ovo apenas: ver o ovo é sempre hoje; mal vejo o ovo e já se torna ter visto um ovo, o mesmo, há três milênios. No próprio instante de se ver o ovo ele é a lembrança de um ovo. Só vê o ovo quem já o tiver visto… Ver realmente o ovo é impossível: o ovo é supervisível como há sons supersônicos que o ouvido já não ouve. Ninguém é capaz de ver o ovo… O ovo é uma coisa suspensa. Nunca pousou. Quando pousa, não foi ele quem pousou, foi uma superfície que veio ficar embaixo do ovo… O ovo é uma exteriorização: ter uma casca é dar-se… O ovo expõe tudo.À primeira vista, que há de mais banal ou familiar do que um inseto ou um ovo? No entanto, Clarice Lispector nos faz sentir admiração e estranhamento, como se jamais tivéssemos visto um inseto ou um ovo. Nas duas descrições maravilhadas, um ponto é comum: o inseto e o ovo têm a peculiaridade de serem superfícies nas quais não conseguimos distinguir ou separar o fora e o dentro, o exterior e ointerior; a ‘esperança’ verde é como um traçado – letra, desenho – sobre a superfície do papel; o ovo é uma casca que expõe tudo. No entanto, nesses dois seres sem profundidade, há um abismo misterioso: todo ovo é igual a todo ovo e por isso não temos como ver “um” ovo, embora ele esteja diante de nossos olhos; e o inseto ‘esperança’ é um oco, um vazio colorido (como um vazio pode ter cor?) ou uma cor sem corpo (como uma cor pode existir sem um corpo colorido?).(...)Verdades reveladas e verdades alcançadasA atitude dogmática é conservadora, isto é, sente receio das novidades, do inesperado, do desconhecido e de tudo o que possa desequilibrar as crenças e opiniões já constituídas. Esse conservadorismo se transforma em preconceito, isto é, em idéias preconcebidas que impedem até mesmo o contato com tudoquanto possa pôr em perigo o já sabido, o já dito e o já feito. O conservadorismo pode aumentar ainda mais quando o dogmatismo estiver convencido de que várias de suas opiniões e crenças vieram de uma fonte sagrada, de uma revelação divina incontestável e  incontestada, de tal modo que situações que tornem problemáticas tais crenças são afastadas como inaceitáveis e perigosas; aqueles que ousam enfrentar essas crenças e opiniões são tidos comocriminosos, blasfemadores e heréticos. No romance de Umberto Eco, O nome da rosa, uma série de assassinatos misteriosos acontecem e todos os mortos trazem um mesmo sinal, a língua enegrecida e dois dedos da mão direita – o polegar e o indicador – também enegrecidos. O monge Guilherme de Baskerville descobre que todos osassassinados eram frades encarregados de copiar e ilustrar manuscritos de uma biblioteca; todos eles haviam manuseado um mesmo livro no qual havia algo que funcionava como veneno (ao molhar os dedos com saliva para virar as páginas do livro, os copistas eram envenenados). Guilherme descobre que o livro era uma obra perdida de Aristóteles sobre a comédia e a importância do riso para a vida humana. Descobre também que um dos monges, Jorge de Burgos, guardião da biblioteca, julgara que o riso écontrário à vontade de Deus, um pecado que merece a morte, pois viemos ao mundo para sofrer a culpa original de Adão. Por isso, assassinou por envenenamento os copistas que ousaram ler o livro e, ao final, queima a biblioteca para que o livro seja destruído.Nesse romance, duas idéias acerca da verdade se enfrentam: a verdade humana, que estaria contida no livro do filósofo Aristóteles, e a verdade divina, que o bibliotecário julga estar na proibição do riso e da alegria para os humanos pecadores, que vieram à Terra para o sofrimento. Em nome dessa segundaverdade, Jorge de Burgos matou outros seres humanos e queimou livros escritos por seres humanos, pois, para ele, uma verdade revelada por Deus é a única verdade e tudo quanto querem e pensam os humanos, se for contrário à verdade divina, é erro e falsidade, crime e blasfêmia.Esse conflito entre verdades reveladas e verdades alcançadas pelos humanos através do exercício da inteligência e da razão tem sido também uma questão que preocupa a Filosofia, desde o surgimento do Cristianismo. Podemos conhecer as verdades divinas? Se não pudermos conhecê-las, seremos culpados? Mas, como seríamos culpados por não conhecer aquilo que nosso intelecto, por ser pequenoe menor do que o de Deus, não teria forças para alcançar? CHAUI, Marilena. Convite a Filosofia[]i]. Ed Ática. São Paulo, 2000.

    em resposta a: O Mito da Caverna #74084

    Em grego a palavra verdade é  aletheia, que  significa também desvelamento, revelação. É composta pela partícula de negação a+lethen. Lethen significa esquecimento. Então vemos que conhecer significa lembrar, não esquecer. Essa é uma noção bem platônica, em Platão a alethéia é reminiscência, o conhecimento é inato, pois a alma já contemplou a fonte do ser e do saber que são as Formas, antes de nascer. O tempo das Formas é cíclico, o aion do Timeu, e daí advém sua eternidade. Daí a famosa definição “o tempo é a imagem móvel da eternidade”.Sócrates tenta demonstrar que o conhecimento é inato ao fazer um rapaz escravo, sem estudo, demonstrar um teorema matemático, conforme vemos no Mênon. Essa epistemologia platônica será depois contestada pela noção empirista moderna de de Locke e sua tabula rase, onde tudo provém da experiência. O inatismo é uma das características do racionalismo clássico, aparecendo também em Descartes, que lembra que o homem só pode conceber a idéia de um ser infinito porque isso seria como a marca de do pincel de um artista em sua obra.Lethos é também o rio da memória, como nos conta o seguinte poema órfico“Encontrarás à esquerda da Mansão do Hades, uma fonte,E a seu lado, um branco cipreste.Não te aproximas deste manancial.Mas encontrarás um outro junto à Fonte da Memória,De onde fluem águas frescas e, diante das quais há guardiões.Diz-lhes: “Sou um filho da terra e do céu estrelado;Mas minha raça é do céu (somente). Vós próprio o sabeis.E - ai de mim! - estou ressequido de sede, e pereço. Dai-me rapidamenteA água fresca que flui da Fonte da Memória”.E eles mesmos te darão de beber do manancial sagrado,E desde então tu dominarás entre os outros heróis”.No Fédon de Platão existe a recorrência desse mito, uma vez que as almas tem de reencarnar tantas vezes quanto for necessário até que possam se purificar e então habitar junto aos deuses. Toda a vida virtuosa de Sócrates tem em vista este fim, o de conseguir passar pela secreta abertura, que aparece também no mito de Er da República, e então evitar o esquecimento e poder prosseguir.Platão absorveu a metempsicose, além do orfismo, da escola pitagória, que contava que as almas, depois da morte, iam para o Hades e lá tinham de prosseguir ou reencarnar. O Hades seria um lugar muito complexo e de caminhos tortuosos. A palavra grega para felicidade é eudaimonia . Ter um bom (eu em grego) daimon significava ter um bom guia para quando se chegar no Hades, já que a alma ficaria cega. Eudaimonia, palavra importante no vocabulário filosófico, é associada à felicidade, e etimologicamente quer dizer isso, esta fortuna de se ter um bom daimon. Por isso a importância do daimon do sábio Sócrates, que aparece na Apologia de Sócrates. O demônio nesse momento é uma concepção pagã, pré-cristã, não tendo a carga pejorativa posterior. O daimon é apenas um intermediário entre os deuses e os homens.http://blog.cybershark.net/miguel/index.php/2004/11/11/eu-no-esqueci/No mito da caverna os prisioneiros estão percebendo o mundo sensível, achando que ele é a única realidade, sem perceber que estão longe dela, sem perceber que estão sendo condicionados. Platão fala da "lama do mundo do sensível", onde não é possível se chegar ao conhecimento. "O mundo sensível está em perpétuo estado de fluxo, sendo impossível conhecê-lo", dizia Heráclito. Parmênides defendeu que o ser é Uno e imutável. Platão sintetiza os dois na teoria do Mundo das Idéias ou das Formas. É preciso aprender a enxergar a unidade na diversidade, e isso é feito pelo conceito e pela idéia. O que há de uno na diversidade sensível é algo que só a inteligência pode apreender, de forma abstrata. Porém, para Platão, a Idéia não é uma mera abstração sem substância, mas o próprio Ser. O inteligível é anterior na cadeia de conhecimento e também superior ao mundo sensível.O prisioneiro da caverna, então, sai da caverna, se livrando desses grilhões através da ascese dialética. A dialética em Platão tem um contexto expecífico. Denomina esse jogo de perguntas e respostas que tem em vista o fim de eliminar as hipóteses falsas. Os diálogos platônicos são em geral dialéticos. Sócrates conduz a investigação de forma a eliminar primeiramente a opinião do senso comum, e depois as hipóteses falsas que surgem diante dessa derrubada. Nos diálogos de maturidade ele formula uma solução para os problemas (como o que é virtude, o que é o bem, o que é o conhecimento etc) com a teoria do mundo das idéias. Mas como disse, a interpretação comum é de que as Idéias são Reais, e não dependem do sujeito, mas antes são eternas, imutáveis. O mundo sensível elemental seria uma mera derivação do que existe neste outro plano.Platão é otimista no sentido que acredita ser possível conhecer. Disso se ocupa a filosofia e o filósofo. O problema do mito da caverna é também político. O prisioneiro liberto vislumbra a irradiação solar do mundo das idéias, representando a ascese dialética por degraus até a contemplação do sol, a idéia do bem, que ordena todas as outras. Uma vez que faz isso, experimentando a alethéia, sente a necessidade prementente de voltar à caverna e alertar os companheiros de outrotra, os seus semelhantes, que continuam presos lá naquelas sombras. Daí a necessidade de política. A República de Platão é a cidade ideal imaginada de forma a ser justa, de ocorrer segundo a virtude. Para isso, Platão, que não era democrata, mas sim aristocrata, pensa ser necessário que ela seja planejada e governada pelos guardiões e reis filósofos.Abs

    em resposta a: Algumas duvidas sobre descartes #84319

    http://www.consciencia.org/descartes_meditacoes.shtmlPara Descartes, o mais simples era o mais absoluto, por ser o mais universal. Até a modernidade, o objeto era considerado com características que deveriam imprimir no sujeito o conhecimento verdadeiro. Com Descartes, o sujeito deve buscar, através da razão, melhorar suas características para buscar o conhecimento verdadeiro. O método para se conduzir a razão está ligado à arte (ars), que como técnica, se opõe ao acaso. Deve ter regras simples e universais, e com o menor número de regras descobrir o maior número de coisas. Descartes tira da certeza da geometria, a noção de que é preciso um procedimento para conhecer. Daí a importância fundamental da ordem e da medida. O pensamento contínuo deve buscar uma proporção contínua, e ir aumentando gradualmente seu saber. Mas para não recorrer em erro, é preciso que se entenda ser o método necessário para a busca da verdade. A razão precisa de auxílio, e de disciplina. Uma das regras é a da enumeração. Os passos da cadeia de pensamentos devem ser repetidos várias vezes, até se aproximarem da certeza da dedução. O entendimento é o único capaz de conhecer, mas é auxiliado nessa tarefa pela memória e imaginação.    Para começar um conhecimento sólido e seguro, claro e distinto, devemos livrar nossas mentes das falsas certezas. Daí ser necessária a dúvida metódica e a meditação. O ato de meditar é um recolher-se em si mesmo, onde são passadas a limpo nossas próprias falhas, recapitulando noções marcantes, se afastando assim dos vícios corporais e buscando elevar a alma. O ato de duvidar não é à toa, mas vem por razões maduramente  consideradas, tanto que Descartes só o fez quando já tinha esperado tanto a hora certa, que não mais poderia fazer novamente. A dúvida cartesiana não é cética, pois o cético não acredita ser o homem capaz de ver qualquer verdade. Antes disso, a dúvida é um instrumento epistemológico, um recurso que o sujeito do conhecimento tem a seu dispor.    O que é duvidoso é aquilo a respeito do qual eu posso perguntar ser de uma maneira diferente. Ou seja,  pode ser considerado possível ilusão aquilo que é inseguro. Todo o processo passível de dúvida gera uma série de conhecimentos  que estão na alçada da dúvida. A dúvida não é idiossincrática,  mas trata dos alicerces e bases do conhecimento. A primeira meditação é conhecida como a da dúvida hiperbólica, exagerada. A primeira dúvida é a dos sentidos. Os sentidos algumas vezes são enganosos. Para validar a dúvida dos sentidos, Descartes retoma o argumento dos sonho. Não sabe se está sonhando ou acordado. Afinal estou aqui nesta cadeira, mas muitas vezes tive impressão de algo com aparência semelhante quando estava sonhando. Ou seja, você é iludido durante o sonho achando que está acordado. Daí a importância fundamental de se perceber estar em um sonho e a começar a explorar o espaço-éter. Como todos sonham, o argumento do sonho é válido, e o meditante não está louco, como os mendigos que juram estar cobertos por ouro. http://www.consciencia.org/descartes_meditacoes.shtml

    em resposta a: Aristóteles #79290

    O primeiro termo tem que sempre ser mais geral… o seu silogismo não está na estrutura formal. Para ler sobre o silogismo recomendo o Curso de Filosofia de Jolivet, tem toda a explicação da lógica formal lá:"Art.    III.    O SILOGISMO § 1.  Noções Gerais]22      1.    Natureza do silogismo.  —  O  silogismo  é  um  argumento pelo qual, de um antecedente que une dois termos a um terceiro, tira-se um conseqüente que une estes dois termos entre si.a)    Composição do silogismo. Todo silogismo regular se compõe então de três proposições, nas quais três termos são comparados dois a dois. Estes termos são:O termo maior (T), assim chamado porque é o que tem maior extensão.O termo menor (t), assim chamado porque é o que tem menor extensão.O termo médio (M), assim chamado porque é o intermediário entre o termo maior e o menor.As duas primeiras proposições, que compõem coletivamente o antecedente, se chamam premissas, e a terceira, conclusão. — Das duas premissas, a que contém o termo maior se chama maior. A que contém o termo menor se chama menor."http://www.consciencia.org/cursofilosofiajolivet5.shtml

    Olá MamãoPor favor não repita a mesma mensagem em tópicos diferentes.Aqui no site Consciência Nietzsche é um dos filósofos sobre o qual mais disponibilizamos material. Abaixo uma lista de artigos e textos sobre este filósofo:http://www.consciencia.org/nietzsche.shtmlhttp://www.consciencia.org/nietzsche2.shtmlhttp://www.consciencia.org/nietzsche3.shtmlhttp://www.consciencia.org/rousseaunietzscherafael.shtmlhttp://www.consciencia.org/nietzscheabath.shtmlhttp://www.consciencia.org/nietzschefoucaultlucariny.shtmlhttp://www.consciencia.org/nietzschevera.shtmlhttp://www.consciencia.org/mortededeuslucio.shtmlhttp://www.consciencia.org/nietzscherizatti.shtmlhttp://www.consciencia.org/nietzsche_educacaoneukamp.shtmlhttp://www.consciencia.org/nietzsche_genealogia_da_moralroberto.shtmlhttp://www.consciencia.org/nietzsche_sentido_da_terraroberto.shtmlhttp://www.consciencia.org/heidegger_nietzscheroberto.shtmlhttp://www.consciencia.org/metafisica_nietzscheroberto.shtmlhttp://www.consciencia.org/nietzschelucieudo.shtmlhttp://www.consciencia.org/nietzschehalevy1.shtmlhttp://www.consciencia.org/wiki/index.php/Nietzsche_Letters_1884:pthttp://www.consciencia.org/wiki/index.php/Nietzsche_Letters_1885:pthttp://www.consciencia.org/wiki/index.php/Nietzsche_Letters_1886:pthttp://www.consciencia.org/wiki/index.php/Nietzsche_Letters_1887:pthttp://www.consciencia.org/wiki/index.php/Nietzsche_Letters_1888:ptExistem ainda outros recursos sobre Nietzsche disponíveis no site, como links, enquetes, a busca do Argos  e imagens.Como se vê, basta por mãos à obra para ter você mesmo visões acerca desse autor, tanto de sua vida, como de sua obra - e nesta, tanto sínteses quanto análises.Além disso podemos indicar alguns outros links externos. Se você lê em espanhol - e isso é essencial para um estudante de filosofia, recomendamos o tradicional sítio de Potel:http://www.nietzscheana.com.arVocê pode pesquisar livros de e sobre Nietzsche no Buscapé:http://compare.buscape.com.br/procura?id=3482&raiz=3482&ps=1&kw=Nietzsche&site_origem=1172262&flagonline=0&estado=0Eu recomendo o livro de Carlos Alberto Ribeiro de Moura... Nietzsche, Civilização e cultura, para entender a crítica à civilização que Nietzsche empreende.E no esnips, por exemplo, existem ainda vários ebooks em português disponíveis para download:http://www.esnips.com/_t_/Nietzsche?q=NietzscheSe você já pesquisou nestes recursos, e não conseguiu entender, por favor torne a postar.Abs

    em resposta a: Diálogos de Platão #79735

    OláVocê já deu uma olhada no nosso "thread" sobre o Banquete? Tem algumas informações lá:http://www.consciencia.org/forum/index.php/topic,158.0.htmle http://www.consciencia.org/forum/index.php/topic,1215.0.htmlNeste último tem para download uma digitalização da obra História da Filosofia Antiga do Reale.Uma das partes do livro que talvez possam ajudar eu colo abaixo, apesar da digitalização não estar 100%:_______________________________2. O “amor platônico”Já vimos que a temática da beleza não está ligada, para Platão, à temática da arte (a qual é imitação de mera aparência, e não reveladora da beleza inteligível), mas à temática do eros e do amor, entendido esse como força mediadora entre o sensível e o supra--sensível, uma força que dá asas e eleva, através dos diversos graus da beleza, à Beleza meta-empírica em si mesma. E já que o Belo, para o grego, coincide com o Bem ou, em todo o caso, é um aspecto do Bem, assim Eros é uma força que eleva ao Bem: a erótica platônica, bem longe de se opor ao misticismo e ao ascetismo platônicos, é um aspecto fundamental e genuinamente helênico de ambos.A análise do Amor conta-se entre as mais esplêndidas entre as que Platão nos deixou O Amor não é belo nem bom, mas é sede de2. Lisis, 219 c-d.3. Sobre o tema do amor, pode-se ver, para eventuais aprofundamentos: G. Krüger, Eisicht und Leidenschaft, Frankfurt 1939 (1 963 G. Calogero, II Simposio di Platone,1. Para uma acurada exegese do Lisis, remetemos ao trabalho de nossa aluna M.Lualdi, 11 problema delia philia e ii Liside platonico, Celuc, Milão 1974.218PLATÃO E A DESCOBERTA DO SUPRA-SENSÍVEL A MÍSTICA DE PHILIA E EROS219beleza e de bondade. O Amor não é um Deus (só Deus é sempre belo e bom), mas também não é um homem. Não é mortal, mas também não é imortal: é um daqueles seres demônicos “intermediários” entre o homem e Deus. Eis como esses seres demônicos são descritos: Eles interpretam e transmitem aos Deuses os desejos humanos; e assim também aos homens as vontades divinas. Da parte dos primeiros, preces e sacrifícios; da parte dos segundos, ordens e a retribuição dos sacrifícios. Em meio a um e outro mundo, enchem o vazio que há entre eles, unindo assim o Todo consigo mesmo. Por obra do ser demônico, desenvolve-se a arte de predizer o futuro; e também toda a arte dos sacerdotes em sacrifícios, inicia ções e encantamentos; em suma, toda a arte profética e mágica. A divindade E...] não tem nunca uma relação direta com o gênero humano; somente por meio de demônios tem relação conosco; todo o seu falar com os homens, seja na vigília como no sono, acontece por meio deles. Por isso mesmo se diz que quem possui um seguro conhecimento disso é um homem em relação com poderes superiores, um homem demônico E...]. Estes demônios são muitos e de toda espécie. Um deles é o Amor. O demônio Amor foi gerado por Penia (que quer dizer pobreza) e por Poros (que quer dizer expediente, recurso, aquisição), no dia do nascimento de Afrodite. Por isso, Amor tem uma dupla natureza:Pois que o Amor é filho de Penia e Poros, eis qual é a sua condição. E sempre pobre; não é de maneira alguma delicado e belo como geralmente se crê; mas sim duro, hirsuto, descalço, sem teto. Deita-se sempre por terra e não possui nada para cobrir-se; descansa dormindo ao ar livre sob as estre las, nos caminhos e junto às portas. Enfim, mostra claramente a natureza da sua mãe, andando sempre acompanhado da pobreza. Ao invés, da parte do pai, o Amor está sempre à espreita dos belos de corpo e de alma, com sagazes ardis. E valoroso, audaz e constante. O Amor é um caçador temível, astucioso, sempre armando intrigas. Gosta de invenções e é cheio de expediente para consegui-las. E filósofo o tempo todo, encantador poderoso, fazedor de fil tros, sofista. Sua natureza não é nem mortal nem imortal; no mesmo dia em um momento, quando tudo lhe sucede bem, floresce bem vivo e, no momento seguinte morre; mas depois retoma à vida graças à natureza patema. Mas tudo o que consegue pouco a pouco sempre lhe foge das mãos. Numa pala Bai-i 19462; L. Robin, La théorie platonicienne de I’amour, Paris 19682, assim comoStenzel, Platone educatore, pp. 1 42ss. e Jaeger, Paideia, 11, pp. 299ss. Cf. bibliografiano volume V.4. Banquete, 202 e-203 a.vra, o Amor nunca é totalmente pobre nem totalmente rico. Ele está no meio entre a ignorância e a sapiênciaPortanto, o Amor é filósofo no sentido mais significativo do termo. A sophía, isto é, a sapiência, é possuída somente por Deus; a ignorância é própria daquele que está totalmente alienado da sapiên cia; ao contrário, a filo-sofia é própria de quem não é nem sábio nem ignorante, não possui o saber mas a ele aspira, está sempre procuran do e o que encontra sempre lhe escapa e deve buscar mais além, justamente como faz o amante.O que os homens chamam de amor não é senão uma pequena parte do verdadeiro amor: amor é desejo do belo, do bem, da sapiên cia, da felicidade, da imortalidade, do Absoluto. O Amor tem muitos caminhos que conduzem a vários degraus de bem (toda forma de amor é sempre desejo de possuir o bem); mas, o verdadeiro amante é o que sabe percorrê-los todos até alcançar a visão suprema, a visão do que é absolutamente belo.O degrau mais baixo na escala do amor é o amor físico, que é desejo de possuir o corpo belo, a fim de gerar na beleza um outro corpo; já esse amor físico é desejo de imortalidade e de eternidade,[ porque a geração, mesmo sendo em criatura mortal, é perenidade e imortalidadeEm seguida, há o grau dos amantes que são fecundos não nos corpos, mas na alma, que trazem sementes que nascem e crescem na dimensão do espírito. Entre os amantes na dimensão do espírito en contram-se, cada vez mais no alto, os amantes das almas, os amantes das artes, os amantes da justiça e das leis, os amantes da ciência pura.Finalmente, no alto da escala do amor, há a visão fulgurante da Idéia do Belo, do Belo em si, do Absoluto.Leiamos as páginas maravilhosas nas quais Platão descreve a escala do amor que leva do belo corpóreo à Idéia pura do Belo: estão entre as mais elevadas da literatura de todos os tempos:Também tu, Sócrates, poderás talvez ser iniciado a essa parte da doutri na do amor. Há, todavia, as iniciações perfeitas e supremas; há a visão final.5. Banquete, 203 c-e.6. Banquete, 206 e.A MÍSTICA DE PHILIA E EROSTodo esse prelúdio é feito tendo em vista aquela visão, desde que se siga o caminho direito. Não sei se serás capaz de chegar lá. Em todo caso, disse ela [ falarei e tudo tentarei. Esforça-te por seguir-me na medida das tuas forças.Portanto, continuou ela, quem quer seguir nessa tarefa pelo reto caminho deve, quando ainda é jovenzinho, começar por andar atrás da beleza nos corpos belos. Primeiramente, se é bem conduzido, deve dirigir seu amor a um só corpo belo e a partir daí gerar belos discursos. Em seguida, refletindo, pensar que a beleza que está em tal corpo é irmã da que está em qualquer outro corpo; pensar que, se a meta a alcançar é a beleza na sua forma, seria rematada insensatez não considerar uma e a mesma a beleza em todos os corpos E...1.Pensando nisto, ficará enamorado da beleza em todos os corpos e dei xará arrefecer o amor por um só, julgando ser ele de pouca valia.Depois disso considerará mais preciosa a beleza das almas do que aque la que transparece nos corpos, de tal sorte que, se for bela e gentil uma alma em um corpo cuja beleza corporal quase não floresceu, ficará contente de amar essa alma e de gerar discursos parecidos com ela e procurar aqueles que tomarão melhores as almas jovens. Assim será forçado a contemplar a beleza que está nos costumes e nas ações, e verá o parentesco que une todas essas coisas, de modo a considerar bem pequena a beleza que está nos corpos.Depois das ações será levado aos conhecimentos e à ciência para ver a beleza que há nelas. Daqui estenderá sua vista sobre todo o vasto domínio da beleza e deixará de servir, como um escravo, à beleza de um só, de um jovenzinho, de um homem ou de uma só ocupação, nem será, como um vil escravo, recitador de pobres discursos. Voltado agora para o vasto oceano da beleza e contemplando-o, poderá dar à luz belos, numerosos e magníficos discursos, bem como pensamentos nascidos de uma incansável aspiração ao saber até que, assim fortalecido e crescido, poderá vislumbrar uma ciência única, cujo objeto é essa Beleza da qual falaremos.Deves prestar agora, disse Diotima, o máximo de atenção ao que vou dizer-te.Quem foi conduzido passo a passo a essas alturas da ciência do amor, contemplando as coisas belas pela sua ordem e seguindo o caminho reto, chega finalmente à meta da ciência do amor. Ele contemplará subitamente um Belo maravilhoso na sua natureza, aquele mesmo, Sócrates, em razão do qual foram empreendidos todos os trabalhos anteriores; essa Beleza é eterna, não conhece geração nem corrupção, nem crescimento nem diminuição, nem é bela sob um aspecto e feia sob outro, bela aos olhos de alguns, feia aos olhos de outros. Não deve ser representada como dotada de face, de mãos, de nada que pertence ao corpo; nem ainda como uni discurso ou como umconhecimento ou como existindo num sujeito dela distinto, como num viven te na terra ou no céu ou em qualquer outro elemento. Essa Beleza é em si e por si, sempre ela mesma na sua forma e todas as outras coisas belas são belas enquanto dela participam; o nascer e o morrer dos outros seres belos nada produz nela, nem acrescenta algo nem diminui nem a faz padecer qual quer efeito.Quando, partindo das coisas desse mundo, e compreendendo retamente o que seja o amor dos jovens, alguém se eleva a tal Beleza e começa a contemplá-la, pode-se dizer que esse quase já chegou à meta. Tal é o caminho direito na ciência do amor, ou caminhando por si mesmo ou sendo conduzido por outro: partir das belezas deste mundo sempre tendo em vista a Beleza e elevar-se continuamente, usando como que degraus, de um para dois e de dois para todos os corpos belos e dos corpos belos às belas ocupações, das belas ocupações para os belos conhecimentos; finalmente, dos belos conhe cimentos, acabar naquele conhecimento do qual falei, uma ciência que não tem outro objeto senão a Beleza em si mesma, de sorte a se conhecer, ao termo de tudo, o Belo que existe em si.Eis aqui, caro Sócrates, disse a Estrangeira de Mantinéia, o ponto da vida no qual, mais do que em qualquer outro, vale a pena viver para o homem: contemplar a Beleza em si mesma. Desde quando a possas ver, não a julgarás segundo a medida de objetos preciosos, de belas vestes, da beleza de adolescentes e de jovens ou segundo a beleza que ora te deixa abalado, a ti e a muitos outros, de sorte a querer sempre vê-la e estar junto dela, sem comer nem beber, mas somente contemplá-la e fazer-lhe companhia. Que devemos pensar então se fosse dado a alguém intuir o próprio Belo, inteli gível, puro, sem mistura; em lugar do belo revestido de carnes humanas, de cores, de mil outras vaidades mortais, contemplar a beleza divina na unici dade da sua forma? Pensas que deve ser uma vida miserável a de quem dirige seu olhar lá para o alto, do homem que, com o órgão próprio, contempla essa Beleza e junto dela faz sua morada?Não percebes, continuou ela, que a esse homem, enquanto tem o olhar voltado para o alto, vendo como se deve ver o Belo, será dado produzir não fantasmas de virtude, pois ele não está em contato com um fantasma, mas virtude verdadeira, pois está em contato com o Verdadeiro? E a esse homem que produz a virtude real e a alimenta não acontece tomar-se amigo de Deus? A ele, mais do que a qualquer outro é dado tornar-se imortalNo Fedro, Platão aprofunda mais ainda a natureza sintética e mediadora do amor, unindo-a com a doutrina da reminiscência. Como7. Banquete, 210 a-212 a.já sabemos, a alma, na sua vida originária no séquito dos Deuses, contemplou o Hiperurânio e as Idéias; depois, perdendo as asas e precipitando-se cá para baixo, esqueceu tudo. Mas, embora trabalho samente, filosofando, a alma “se recorda” das coisas que viu outrora. No caso específico da Beleza, essa recordação acontece de um modo todo particular porque, entre todas as outras Idéias, somente a Beleza teve a sorte de ser “extraordinariamente brilhante e extraordinaria mente amável” Esse transiuzir da Beleza ideal no belo sensível in flama a alma, que é tomada pelo desejo de levantar vôo para voltar para o lugar de onde desceu. Esse desejo é, justamente, Eros que, com o anélito transcendente do supra-sensível, faz renascer na alma suas antigas asas.Quanto ao que acaba de ser iniciado, que durante um tempo muito contemplou, se vê uma face de feições divinas que seja perfeita imitação do bem e do belo, ou uma imagem ideal do corpo, primeiramente tem um es tremecimento e alguma coisa o penetra dos seus temores de outrora; conti nuando a olhar, sente veneração como a um deus [ Depois que viu, com o estremecimento o invadem um suor e ardor desacostumados. Com efeito, recebendo através dos olhos o eflúvio do belo, continua inflamado, o que dá nova vida à natureza das asas; o calor derrete a crosta dura que impedia as asas de crescer. O fluxo de alimento produz uma dilatação e um ímpeto desde as raízes das asas em toda a forma da alma: pois antes a alma era totalmente aladaO amor é nostalgia do Absoluto, uma tensão transcendente para o meta-empírico, e uma força que nos impele a retornar ao nosso originário ser-junto-dos-Deuses._____________________________em http://teses.usp.br , na Seção de Filosofia, tem uma dissertação sobre o Mênon de Platão, que contém a algumas considerações sobre a questão da doxa X episteme:http://www.teses.usp.br/download.php/teses/disponiveis/8/8133/tde-20052003-141051/publico/menon.pdfA questão da doxa X a episteme é tratada em vários livros, especialmente na República. O amor é capaz de "entusiasmar" os corpos na direção do Belo, mas ele, em si, não chega à ser episteme, pois esta é inteiramente racional.abs

    em resposta a: Descartes #85386

    Bom, o Descartes tinha este conceito do “claro e distinto”. A certeza clara e distinta é necessária para começar a construir os alicerces do edíficio do saber. Mas se você pegar as Meditações Metafísica, verá que ele, num primeiro momento, o da dúvida hiperbólica, duvida de tudo, até mesmo das certezas matemáticas. A única coisa que ele não pode por em dúvida é a certeza do cogito. A partir desta subjetividade, então, ele começa a resgatar os objetos externos e teorizar sobre a possibilidade da ciência. Já tem alguns textos nossos aqui sobre isso.

    em resposta a: Diálogos de Platão #79733

    Olá Mamão…talvez eu possa tentar ajudar… Poste alguma colocação ou dúvida aqui para irmos vendo.

    em resposta a: Privatizações #71396

    Olá!Já viram o movimento que se esboça pedindo um plebiscito pela restatização da Companhia Mineradora Vale do Rio Doce?http://www.avaleenossa.org.br/http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=6992424

    em resposta a: Movimentos sociais #81274

    DEBATE ABERTOOs marcos e as marcas de 32O levante paulista de 1932 é um dos movimentos armados brasileiros mais controversos. Apesar de açambarcado pela oligarquia, a insatisfação em S. Paulo tocou outros setores, como o movimento estudantil. Há quem diga, ainda, que 1964 realizava os ideais de 32.Flávio Aguiar Dos controversos movimentos armados brasileiros, o levante paulista de 1932 é um dos mais. A memória me diz que em outro levante armado, o de 1964, que desembocou no regime ditatorial mais longo, repressivo e reacionário do Brasil, houve quem tentasse reivindicar que este realizara os ideais da “Revolução de 1932”. Havia semelhanças, ou melhor, analogias:1) Como S. Paulo foi um dos Estados onde houve forte mobilização das classes médias, da burguesia e dos militares contra o governo de um gaúcho, João Goulart, houve um sentimento de que a vitória de 64 era a vingança contra a derrota em 32.2) Houve campanhas parecidas: em 32, diante da escassez de recursos, os revoltosos lançaram a campanha de “dar ouro” para S. Paulo, a fim de comprar armas, suprimentos e remédios. Em 64, os vencedores lançaram a campanha “dê ouro para o bem do Brasil”, mas confesso que não me lembro muito bem dos objetivos. Aliás, duvido que haja muita gente que possa ou mesmo queira lembrar.3) A imprensa da época, que na quase totalidade apoiou o golpe, ajudou a criar esse clima de revanche paulista. Houve uma edição especial da revista Manchete que comemorava a “união” de S. Paulo, Rio e Minas contra o governo de Goulart.Em S. Paulo, a comemoração do movimento lembra a que os gaúchos fazem com a Revolução Farroupilha. É a segunda comemoração oficial em importância depois da do 7 de setembro. Mas não tem os ares, por exemplo, da celebração que os mesmos gaúchos guardam (ainda que não tenha a pompa das outras) em torno da resistência de 1961, contra o golpe que desejava impedir a posse de Goulart depois da renúncia de Jânio, a famosa Rede da Legalidade, ainda que esta não tenha desembocado em conflito armado.Na cidade de S. Paulo a comemoração de 1932 tem agitado seguidamente manifestações conservadoras, o que, sem dúvida, corresponde a um dos aspectos principais, senão o principal, daquela revolta, também chamada de “Constitucionalista”, porque reclamava o fim do governo provisório de Vargas, depois de 30, e o estabelecimento de nova Constituição Federal.A revolta de 32, no Estado, foi planejada, realizada e açambarcada ideologicamente pela oligarquia cafeeira que se sentira (e com razão...) apeada do poder federal em 1930, depois do vitorioso movimento liderado por Vargas. Esta burguesia tinha sólidas razões de descontentamento:1) Como já aludi, sentia que seu poder fora “roubado” pela deposição de Washington Luís e pelo movimento que impediu a posse de Júlio Prestes como presidente.2) A burguesia se sentia descontente pela nomeação de um “forasteiro”, o coronel do exército João Alberto de Barros, como interventor no Estado.3) Essa mesma burguesia ansiava por um espaço político (a Constituinte) onde pudesse repactuar seu predomínio no país, que se rompera antes de 30 com a indicação de Prestes, paulista, como candidato à sucessão de W. Luís, o que afastara os mineiros em direção aos gaúchos e seus seguidores.4) Há um quarto motivo, nunca lembrado, para essa insatisfação. A burguesia paulista mostrava-se extremamente insatisfeita e sentia-se ameaçada pela criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, que entre 1930 e 1932 já dera passos decisivos para a criação de uma legislação trabalhista moderna no país, liderado por Lindolfo Collor, que trabalhou em conjunto com um grupo de assessores que se intitulavam “socialistas humanitários”, como Evaristo de Moraes, Joaquim Pimenta, Agripino Nazareth, Deodato Maia, Carlos Cavaco e Américo Palha (v. “Lindolfo Boeckel Collor [1890 – 1942] e as bases estratégicas do Estado getuliano”, por Ricardo Vélez Rodríguez, Coordenador do Centro de Pesquisas Estratégicas “Paulino Soares de Sousa”, da Universidade Federal de Juiz de Fora. http://www.defesa.ufjf.br/fts/LINDOLFOCOLLOR.pdf)Apesar de açambarcada pela oligarquia, a insatisfação em S. Paulo tocou também outros setores da sociedade, como o movimento estudantil. Getúlio era um contemporizador de marca e carteirinha. Mesmo a criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, só se dera pela insistência de Lindolfo Collor. A contemporização como estilo do novo governo, que inicialmente tivera enorme popularidade ao por fim o estratificado regime da República Velha, provocou muita decepção. É bom lembrar que nessa época Getúlio ganhou o apelido de “Xuxu”, isto é, coisa sem gosto e que combina com qualquer outra iguaria.Um incidente com estudantes foi o estopim da revolta e da conspiração que levaria à luta armada. As versões divergem: pode-se ler que no dia 23 de maio de 1932 os estudantes, em número de cinco, foram “assassinados” por elementos governistas; ou que os estudantes tentaram “invadir” a Liga Revolucionária, favorável a Vargas, no centro da cidade. No confronto, vários foram feridos. Três morreram na hora, um alguns dias depois e mais um meses depois, mas ainda em conseqüência do ferimento.A partir daí acelerou-se a convocação às armas, e a revolta começou em 9 de julho.A luta foi muito desigual em todos os planos. As forças estaduais paulistas tinham armamento deficiente e, com o porto de Santos bloqueado, tornou-se impossível adquirir armas no exterior. Apoios que os paulistas esperavam em outros estados não se concretizaram.Militarmente, tiveram apoio apenas no sul do Estado do Mato Grosso (fato que antecipava o posterior movimento de “independência” desta parte do estado em relação ao governo de Cuiabá). Além disso, a hegemonia oligárquica na condução do movimento cerceou e “envelheceu” seus apoios. No Rio Grande do Sul, por exemplo, a liderança do apoio coube ao veteraníssimo Borges de Medeiros, patriarca que governara o estado por 25 anos. Mas assinale-se que o veterano Borges, que no fim de 1932 ia completar 69 anos, “foi para a coxilha”, dizer gaúcho que significa a adesão a um movimento armado. Acabou preso, mas foi anistiado, concorrendo contra Vargas na eleição para presidente (indireta) em 1934.No entanto, não pode se descartar o fato de que o movimento de 32 teve apoios importantes, mostrando que o grupo que apoiara Vargas em 30 se cindira. Entre eles, estava o de João Neves da Fontoura, político gaúcho cujo concurso fora essencial não só para a candidatura de Vargas em 1930 como para o próprio movimento armado que o levara ao poder. É conhecida a cena de João Neves da Fontoura agarrando a lapela de Vargas com o punho fechado e interpelando-o, “Afinal, de que lado estás?”, pois a grande esfinge gaúcha oscilava entre a lealdade ao movimento e a “fidelidade” a Washington Luís, de quem fora nada mais nada menos que Ministro da Fazenda.Até mesmo Lindolfo Collor apoiou a revolta, depois de se ter afastado do Ministério que criara e animara, levando inquietação aos burgueses paulistas, em abril de 1932 por desavenças internas, particularmente com o meio militar. Depois João Neves se reaproximaria de Vargas, tornando-se um dos expoentes da política externa brasileira em três governos (Vargas I, Dutra e Vargas II), até a morte do caudilho, em 54. Lindolfo Collor, nunca mais se reconciliou com Vargas, embora este procurasse atraí-lo com cargos diplomáticos. Amargou exílio prolongado e algumas prisões. Ficou célebre sua tirada diante da pergunta “por que o sr. foi preso?”: “porque estava solto”.Sentindo os riscos do isolamento, Vargas, que já nomeara outros interventores para S. Paulo, primeiro Pedro de Toledo e depois Armando Salles de Oliveira, convocou a Assembléia Constituinte. Nesta eleição, em 1933, as mulheres votaram pela primeira vez em nível nacional. Já haviam votado antes, a partir de 1928 no Rio Grande do Norte, e depois em outros oito estados (segundo o Centro Feminino de Estudos e Assessoria, http://www.cfemea.org.br/publicacoes/). Esse clima de liberalização criou terreno para a consigna de que os revoltosos “perderam nas armas mas venceram na idéia”, característica das conciliações “à brasileira”.A reconciliação de fato consumou-se alguns anos mais tarde, quando da inauguração da Avenida Nove de Julho, cujo nome homenageia a revolta, com a presença de... Vargas!(Várias destas informações constam do verbete da Wikipédia. Outras tirei de leituras como as de Hélio Silva, memórias de João Neves da Fontoura, sucessivos especiais da TV Cultura de S. Paulo, e assim por diante).Flávio Aguiar é editor-chefe da Carta Maior.http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=3658

    em resposta a: Isaac Newton e o Apocalipse #85197

    Brasil, o que você acha do Pandemônio na mídia com a questão do Aquecimento Global ?Em termos políticos, eles (EUA) parecem querer que nós e o resto dos "países em desenvolvimento" (novo eufemismo para o termo defasado terceiro mundo) façamos algo. Mas eles próprios não estão dispostos a fazer. O Al Gore, que é político, passeia pelo mundo agora promovendo o seu documentário pretensioso, e patrocina espetáculo "Live Earth", em cartaz no Brasil. No entanto saiu uma reportagem dizendo que a casa de Al Gore consome dezenas de vezes mais energia que a de um cidadão comum. O governo Bush se recusou a assinar o protocolo de Kyoto e surgiu esse história de créditos carbono. Na substituição da gasolina, que é um combustível tacanho e barbário, pelo biodiesel, O Brasil continua a oferecer suas terras para "plantation" de cana-de-açucar, de forma tipicamente colonial. O Al Gore seria oposição verdadeira ao Bush? Quando foi fraudado, foi o primeiro a admitir a derrota.Todo esse exército de cientistas-para-a-mídia nos bombardeiam com dados alarmantes, sem que o assunto seja aprofundado, tornando nossa estada no planeta desconfortável. A questão não é questionar o problema ambiental, que existe há tempos, mas o uso político que estão fazendo dessa nova febre apocaliptica para movimentar a boa vontade da pessoa e passar a justificar várias questões que nos interessam, como o desenvolvimento do país, a indústria, a soberania da Amazônia etc.

    em resposta a: Isaac Newton e o Apocalipse #85196

    Se não me engano, Voltaire faz referências a Newton e suas interpretações do Apocalipse nas "Cartas Inglesas". Ou no "Dicionário Filosófico", not sure... Preciso procurar.

    Não sei se é esse trecho que você se refere, mas no verbete "Apocalipse" do Dicionário Filosófico de Voltaire, ele escreve o seguinte: "Bossuet et Newton ont commenté tous deux l’Apocalypse; mais, à tout prendre, les déclamations éloquentes de l’un, et les sublimes découvertes de l’autre, leur ont fait plus d’honneur que leurs commentaires.""Bossuet e Newton comentaram o Apocalipse. As declamações eloqüentes de um e as sublimes descobertas de outro foram-lhes, todavia, muito mais honrosas que seus comentários."e no verbete "Fim do Mundo", o seguinte:"Étonnez-vous encore davantage: le grand Newton pense comme Cicéron. Trompé par une fausse expérience de Boyle(28), il croit que l’humidité du globe se dessèche à la longue, et qu’il faudra que Dieu lui prête une main réformatrice, manum emendatricem. Voilà donc les deux plus grands hommes de l’ancienne Rome et de l’Angleterre moderne qui pensent qu’un jour le feu l’emportera sur l’eau. " -> http://www.voltaire-integral.com/Html/19/fin_du_monde.htmEsse verbete não está no ebook em português disponível na Internet. Estou sem meu "Pensadores" do Voltaire aqui, mas quem tiver o livro em papel pode consultar, para ver se tem. O Voltaire era fã do Newton, tem até um livro só sobre ele, mas nesse caso, parece que ele discordou veementemente.

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