AVERTCHENKO – Biografia e Obras
(1881 — 1925)
ARCÁDIO TIMOFEEVITCH AVERTCHENKO nascido em 1881 e falecido em 1925, foi editor da revista "Satyricon", na qual colaborolou também a poetisa Teffi e teve como seu poeta Sacha Tcherngi (pseudônimo de A. Gluckberg) autor de poesias para crianças. "Satyricon" foi uma revista satirico-humoristica (não a única em seu tempo) que publicava contos e folhetins satíricos, e cômicos, tendo mesmo aberto suas portas a Vias Mikháilovitch Borosevitch 186-‘¡-1921) autor muito querido de Tolstói.
A verve de Avertchenko pode ser apreciada neste pequenino conto que aqui vai inserto, o qual tem a qualidade de trazer para esta, coleção de contos célebres da literatura russa, o traço de humorismo que, muitas vezes, reponta entre os autores eslavos. Neste mesmo gênero’ conhecemos as histórias que com os títulos de "Sob as nuvens", "Confissão inútil", "Os dias negros", "O velho alegre", "Como foi salvo o jornal" e tantos outros apareceram na imprensa sob a responsabilidade do nome de Avertchenko. Tchékhov não menosprezava os contos humorísticos que cultivou também com êxito. "Sim ou não?", "A obra de arte", "O drama", "A cirurgia" entre outros são conhecidos como dos melhores do famoso autor.
Os contos de Avertchenko, embora ligeiros de espírito, levam sempre uma dose de amargura constante e quase secreta.
O CRIME DA RUA BARMALÉIEVA
Aquele verão estava muito estranho: a pobreza era forte e a vida da cidade muito fraca: de moscas uma quantidade extraordinária e de assuntos para os jornais, nada.
E o nosso jornalzinho "Correio de Cebocsar" arras-lava naquele verão uma vida tão miserável que nós, redatores, contemplando as suas convulsões pré-agônicas, choramos. Os espertos leitores quase nem mais compravam o "Correio de Cebocsar" sabendo muito bem que, além dos anúncios, dos artigos sobre a questão albanesa e das transcrições dos jornais de São Petersburgo a propósito do "renascimento da cidade", não encontrariam mesmo mais nada.
— "É curioso que não aconteçam homicídios na cidade — observou um dia o diretor, inteiramente assustado. Se ao menos acontecesse de ter alguém a boa idéia de matar um conhecido!"
— "Por qual motivo?" perguntou o redator-chefe.
— "Sei lá… É você que tem de saber. Cambada de vagabundos! Não corre sangue nas suas veias, mas água. Nenhuma avidez de lucro, nem mesmo a vontade de tomar, de lançar mão de alguma coisa do próximo!"
— "Que está dizendo"? rebateu o redator-chefe.
— "Mas é isso mesmo! Se pelo menos fossem honestos por virtude, mas nem isso. .. São por mera falta de vergonha. Almas de lama!"
Tal conversa se desenrolava a 5 de julho; a 6 de julho aconteceu o crime da rua Barmaléieva.
O crime consistia nisto: um malfeitor desconhecido tinha-se metido no quarto do inspetor ginasial Tcha-pliughin, aproveitando-se de sua ausência, e havia arrebentado a cômoda do inspetor, apropriando-se das suas economias na cifra de 140 rublos, além de uma casaca nova, confeccionada pelo alfaiate Canzler.
Imediatamente a 7 de julho o "Correio" escrevia a propósito:
O crime da rua Barmaléieva
"Um nefando crime, ontem perpretado, comoveu e indignou os cidadãos…" Depois de uma minuciosa exposição do acontecimento e dos primeiros passos da polícia investigadora, o jornal perguntava com insistência :
"Podemos estar certos que tais delitos, os quais enregelam o sangue, não se repetirão? Podemos dormir tranqüilos enquanto o delinqüente, este tigre com semblante humano, este ser sem piedade e sem misericórdia, ande vagando por aí talvez, neste mesmo instante, sob a proteção da noite, apertando na mão o punhal, ainda sujo do sangue da vítima infeliz, e meditando um novo crime?"
Certamente ninguém podia dormir tranqüilo. E ninguém dormiu.
No dia 8 de julho não se fazia outra coisa na cidade senão falar no crime da rua Barmaléieva e o jornal, naguela mesma data, escreveu no seu artigo de fundo: "A terceira Duma descansa no seio da natureza e da sorte do país importa-se tanto quanto da neve que caiu no ano passado. O projeto sobre a instrução elementar obrigatória jaz até agora no meio do pó das estantes e, no entanto, o povo infeliz, analfabeto, não iluminado pela luz da ciência, vira selvagem, bestifica-se, caindo sempre mais baixo e rolando quem sabe até à roubalheira e aos crimes. O caso da rua Barmaléieva mostra bem até que ponto pode conduzir o criminoso descaso do exame do projeto da instrução obrigatória". O apêndice levava este título:
"Os senadores e o crime da rua Barmaléieva"
"Cumpriu-se exatamente aquilo que tínhamos previsto… A criminosa indiferença dos nossos "conselheiros" (não se pode grafar esta palavra senão entre aspas), a sua falta de interesse na questão dos guardas-noturnos conduziram-nos a isto que podemos chamar uma nova Tsu-shima… Sim, na rua Barmaléieva a administração municipal sofreu ura desastre comparável ao de Tsushima, e tudo por causa da mesma maldita indolência russa, da mania russa do "quem sabe" dos "se" e dos "mas". Ah! ah os senhores estão com a palavra, senhores "conselheiros". ..!
No que se refere ao noticiário do "Correio" este se enfurecia totalmente. Havia a descrição da rua e do lugar do crime, a planta da casa com o suposto caminho (pontilhado) seguido pelo criminoso, uma entrevista com Tchapliughin muito minuciosa e exaustiva… o repórter escrevia:
"Fizemos ontem uma visita à vítima do crime da rua Barmaléieva. O infeliz está muito abatido e não fala do depredador senão com um sentimento de profunda consternação. Ficou até enfermo e passa de cama a maior parte do dia. Comunicam-nos que a polícia está na pista do malfeitor. Interrogamos ontem o alfaiate Canzler, que fêz a casaca para Tchapliughin. Um pequeno particular: no momento do crime o danificado estava com amigos no restaurante "Pequin".
A 9 de julho lia-se no artigo de fundo do "Correio": "Por mais que seja triste, é um fato que todo nosso balanço se baseia no sangramento do monopólio do "vodka" e o governo conscientemente difunde a praga da embriaguez, que arrasta o povo à desgraça e à ruína. Que o crime da rua Barmaléieva fique perante o Ministério da Fazenda como uma viva reprovação! Se o dono do quarto, Tchapliughin, não estivesse, no momento do crime, no restaurante "Pequim" — com espaço anexo para bebidas alcoólicas, mas tivesse ficado em casa, o crime não teria sido cometido… Afinal de contas, de que adiantam estas admoestações para o Ministério da Fazenda?"
O noticiário informava que a mulher de Tchapliughin, tendo sabido do trágico delito, havia deixado de repente Stara Russa, onde era hóspede da irmã. O noticiário reproduzia o depoimento do porteiro e as indicações do alfaiate Canzler, e prometia, dada a natureza impressionante de toda a história, publicar o retrato da vítima e um desenho (à mão) da casa onde se dera o crime. E o noticiário manteve a promessa.
Tchapliughin tornara-se o homem mais famoso de toda a cidade. Toda a gente se interessava por êle; este admirava a sua coragem e a sua firmeza e este o invejava, mas a maioria esperava com febril curiosidade que o crime fosse desvendado…
Aos poucos a cidade começou a se animar. Apareceram anúncios novos no jornal: o do alfaiate Canzler, o do restaurante "Pequim", e de certo serralheiro que se prontificava a construir para os habitantes fechaduras de tal solidez para evitar a repetição dos "horrores da rua Barmaléieva".
A mulher de Tchapliughin já tinha voltado do campo, êle tinha sido escolhido como sócio do Clube de Cebocsar e alguns desconhecidos lhe tiravam o chapéu na rua… Outro artigo de fundo já tinha aparecido sobre a reforma da polícia em relação ao mistério, até agora sem solução do crime da rua Barmaléieva, mas o criminoso continuava livre como um passarinho.
Enfim foi descoberto do modo mais estranho e ao mesmo tempo, do modo mais simples: entrou, um dia, no restaurante "Pequim" o vagabundo Gueranca, filho de um padre, e como estivesse vestido com a casaca do inspetor e queria trocar a nota de 100 rublos do mesmo, foi logo agarrado. Êle começou a chorar, pôs-se de joelhos e beijou a mão do garção.
O malfeitor foi algemado e, com enorme acompanhamento de gente, levado à prisão… Eletrizada pelos artigos calorosos do "Correio" faltou pouco para que a multidão não linchasse o patife.
O repórter do "Correio" visitou-o na polícia e teve com êle uma conversa. Publicou depois no jornal particularidades de arrepiar.
O artigo de fundo era "Sobre a reorganização do departamento dos cultos em relação à participação de filho de um sacerdote no crime da rua Barmaléieva".
Saiu mesmo uma poesia anticlerical a respeito do terrível filho do padre, com o título "A mão direita de Deus".
Todo o mês de agosto foi ocupado por inteiro pelo impressionante crime da rua Barmaléieva, com o processo do criminoso e pela condenação. (Artigo de fundo: "Reforma da magistratura local e deficiências no Ministério da Justiça").
Parte de setembro foi cheio de ecos sempre mais fracos sobre o delito, descrição da psicologia do criminoso na prisão e traços característicos da vida de Tchapliughin …
Mas a partir de outubro, começou a soprar em nosso jornal um vento de prosperidade, que lhe inchou as velas, c nós nos atiramos com ardor na luta contra a redação…
Num dia chuvoso de novembro apresentou-se na redação Tchapliughin. Tinhamo-nos esquecido dele e ficamos muito espantados com a sua visita.
— "Que é que deseja?"
— "Oh, uma desgraça! disse ele. E é tal que diante dela empalideço "o crime da rua Barmaléieva". Eis aqui, meus senhores, um material de primeira ordem para os seus artigos!"
— "Mas de que se trata? perguntamos sem interesse.
— "Esta noite apareceram em casa três homens mascarados, que nos amarraram e carregaram com eles tudo quanto puderam. Um deles tinha mesmo um revólver. Minha mulher ficou ferida…
— "Está bem — disse, com ar desinteressado, o redator-chefe. Pode ir-se embora, muito obrigado."
E no dia seguinte apareceu no noticiário, em corpo miúdo, esta notinha:
"ontem três desconhecidos, tendo entrado em casa do inspetor ginasial Tchapliughin, agrediram-no e levaram alguns objetos. Tudo se limitou a um pouco de susto e a pequenas arranhaduras na mulher de Tchapliughin. O inquérito segue o seu andamento".
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