Ilíada de Homero – Canto VII

Ílíada de Homero
Resumo e apresentação da Ilíada
Prefácio a Ilíada de Homero
Canto I
Canto II
Canto III
Canto IV
Canto V
Canto VI
Canto VII
Canto VIII
Canto IX
Canto X
Canto XI
Canto XII
Canto III
Canto XIV
Canto XV
Canto XVI
Canto XVII
Canto XVIII
Canto XIX
Canto XX
Canto XXI
Canto XXII
Canto XXIII
Canto XIV
Canto XV
Canto XVI
Canto XVII
Canto XVIII
Canto XIX
Canto XX
Canto XXI
Canto XXII
Canto XXIII
Canto XXIV

 

ARGUMENTO DO LIVRO VII

 

Tradução de Odorico Mendes. Fonte : Clássicos Jackson

Heitor e Paris saem da cidade. — São vencedores: Paris,
Heitor e
Glauco. — Intervenção de Apoio e de Minerva. — Apoio propõe
suspender o combate. — Minerva consente. — Por instigação de
Heleno,
inspirado por estas duas divindades, Heitor chama o mais
bravo dos
Gregos a combate. — Silêncio entre os Gregos. — Menelau
estranha
o receio e responde ao desafio de Heitor e Agamémnon o
detém. —
Nestor lamenta a sua velhice. — Nove guerreiros se
apresentam e todos
almejam combater com Heitor. — Ajax, filho de Telamon, é
designado
pela sorte. — Pedem os Gregos a Júpiter lhes conceda a
vitória ou
a deixe indecisa. — Ajax toma suas armas. — Heitor e Ajax se
desafiam. — Combate. — Os dois arautos Ideu e Taltíbio
intervém.
—Ideu, ao aproximar-se a noite, induz os dois guerreiros a
se reti-
rarem. — Heitor consente. — Festa no campo dos Gregos. —
Nestor
propõe suspender a guerra para enterrar os mortos. —
Pretende
Antenor pôr fim à guerra e propõe a entrega de Helena e de
suas
riquezas. — Paris repele a proposta. — Príamo manda ao
acampa-
mento grego arautos comunicar as concessões de Paris, e
pedir uma
suspensão de armas para as honras fúnebres. — Ideu junto a
Aga-
mémnon expõe o objecto de sua mensagem. — O filho de Tideu
quer
que se rejeite as proposições de Paris. — Agamémnon julga
conceder
tréguas. — Ideu volta aos Troianos. — Funerais. — Os Gregos
constróem trincheiras para protegê-los e aos seus navios. —
Neptuno
na Assembléia dos deuses. — Após a ceia, os Gregos e os
Troianos se
entregam ao sono.

 

 

 

Assim, das portas rui Heitor mais Paris,

Ambos a respirar bélico incêndio:

Com tanto anelo festejados foram,

Como o vento que um deus bafeja amigo

Do afã do remo a nautas quebrantados.

Paris mata a Menéstio, que olhipulcra

Pariu Filomedusa em Arma ao régio

Areito porta-clava; o irmão, de um bote,

Sob o elmo o colo talha e estira Eione.

Ao Dexíada Ifino, que montava,

Glauco dos Lícios de azagaia a espádua

Fere, e do coche o atira agonizando.

 

Vendo a cerúlea deia o Graio estrago,

Lá do Olimpo frechou para Ílion santa;

Febo, o triunfo aos Troas desejando,

No enxergá-la de Pérgamo, apressou-se;

Topam-se ao pé da faia; o Délio enceta:

"Por que fúria e paixão voltaste, ó Palas?

A indecisa vitória aos Gregos trazes?

Não tens dos Frígios dó; mas, se me atendes,

Suste-se o morticínio; ao depois, guerra,

Té que Dardânia acabe; já que n’alma

Vos compraz sovertê-la, ó cruas deusas."

 

"Para isso cá desci, Tritónia açode;

Porém como aplacá-los?" — Segundou-lhe

O Dial Febo: "O ânimo exaltemos

De Heitor doma-corcéis, que desafie

A duelo mortal qualquer dos Dânaos;

E os de fúlgida greva, de indignados,

Algum excitarão que a briga aceite."

 

Ela consente. Ao genitor benquisto

Heleno, este aventando arbítrio e acordo,

Apresenta-se a Heitor: "Ó tu Priâmeo,

Como Jove sensato, o aviso queres

Seguir paterno? Aquieta Aqueus e Troas:

A duelar provoca os mais famosos;

Inda não te é chegada a hora extrema;

Isto mesmo colhi da boca a numes."

 

Regozijou-se Heitor com tal conselho:

A haste ao meio pegando, avança, e as hostes

Retém, sossega. O Atrida os seus refreia.

N’alta faia de Jove Apoio e Palas,

De abutres sob a forma, alegres pousam,

Vigiando os guerreiros que descansam,

De elmos, broquéis, de lanças irriçados.

Qual, de Zéfiro à súbita refega,

Negreja o ponto e freme, as densas turmas

Acaica e Frígia na campanha ondeiam.

 

Eis de permeio Heitor: " Aquivos, Teucros,

O que encerro no peito ouvi-me atentos.

Não manteve o Satúrnio os pactos nossos;

Mil desastres medita e nos reserva,

Té que ajoelhe a turrígera cidade,

Ou em destroço as naus vogando fujam.

Cavaleiros de prol na Grécia há tantos:

Um de mor brio, em singular certame,

Se atreva ao divo Heitor, medir-se venha.

Proponho, e o testemunhe o padre sumo:

Se do herói caio ao bronze, leve as armas,

Deixe porém que Ilíacas matronas

Em piedosa fogueira me consumam;

Se a cruenta vantagem dá-me Apoio,

O arnês lhe tirarei, que em Ilio sacra

Do Longe-vibrador pendure ao templo,

E rendido seu corpo à instruía armada

E exéquias feitas, os crinitos sócios

Do amplo Helesponto às abas o tumulem.

Em remeira galé do pego bradem:

— Um valente ali jaz de antigas eras,

Que arrostando-se a Heitor morreu com honra.

E eterno passarei de boca em boca."

 

Entre o pejo e o temor, tudo é silêncio.

Menelau mesto surge e exprobra e geme:

"Quê! jactantes Aqueus, antes Aquivas,

A Heitor nenhum se afouta? oh negra infâmia!

Quedos, em água e pó sejais desfeitos,

Cobardes sem pudor. À liça eu parto;

Que afinal o vencer do Céu depende."  

 

Louça o já se arretava: e ao Teucro braço,

Que o seu muito mais forte, a luz perdera,

Se, em pé da Grécia os reis, o irmão potente

Não lhe aferrasse a dextra: "Enlouqueceste?

Siso, aluno de Jove, a dor sopeia;

De afrontar ao Priâmeo não capriches

Terror dos campeões: o próprio Aquiles

Teme encontrá-lo e ter na glória quebra.

Entre os sócios te assenta: os Gregos outrem

Suscitarão. Pugnaz e insaciável

Seja Heitor, eu presumo que de veras,

A salvar-se do lance e ardente lide,

Os joelhos curve e refocile os membros."

 

Da razão convencido e mitigado,

Os servos seus com júbilo o desarmam.

Então Nestor: "Que luto invade a Grécia 1

Que ais soltará Pelcu, facundo e sábio,

Équite aos Mírmidões antigo espelho,

Que alvoroçado em casa me inquiria

De Aqueus filhos e pais, se ora abatidos

O saiba todos e de Heitor medrosos!

Alçando as palmas, rogará que a Dite

A alma se vá dos órgãos desatada.

Fosse eu qual era, oh! Jove, Palas, Febo,

Quando os hastatos Árcades e os Pílios

Ante o rápido Céladon pugnavam,

De Feia aos muros, do Jardano às ribas!

Divo Ereutalion, na frente as armas

Tinha de Areito. Areito rei, que as damas

E os varões Corinete apelidavam,

Pois, de arco e pique, não de férrea maça

Hostes batia. Num carreiro, estorvo

A manejá-la, por traição Licurgo

De hasta o salteia, ressupino o calca,

Despe-lhe o arnês, do brônzeo Marte prenda:

Sempre ao depois o trouxe nas batalhas,

Té que envelhece e o doa ao companheiro

Fido Ereutalion. Com tal socorro

Esse atrevido provocava a todos,

E todos de encará-lo estremeciam;

Mas eu, do exército o menor, seguro

Na força e ardência, me travei com ele:

De Minerva por graça, obtive os gabos

De conculcar o aspérrimo gigante,

Que na arena vastíssimo estendeu-se-me.

Tivesse o meu vigor e aquela idade,

Que não me aguardaria o herói Troiano;

Mas, da Grécia os fortíssimos guerreiros,

Nenhum de vós se move a combatê-lo!"

 

A repreensão do velho incitou nove:

O mor cabo se ergueu, Diomedes  logo;

Os robustos Ajax de ardor vestidos;

Idomeneu e Merion seu pajem,

Do homicida  Eneiálio émulo digno;

Eurípilo Evemónides preclaro,

E Toas de Ardremon e o grande Ulisses:

Cada qual ser primeiro ambicionava:

 

O Gerénio tornou: "Decida a sorte;

O que for designado a Grécia o aprove:

Ele na alma terá do esforço o prêmio,

A livrar-se da luta e afronta grave."

Nisto, um por um, a cédula marcada

No capacete a lançam de Agamémnon;

Mãos e olhos para os céus, a turba orava:

"Padre, caia em Ajax, caia em Tidides,

Caia a sorte no rei da áurea Micenas."

 

O elmo agita Nestor: sai um que espalha

Geral contento: a cifra à dextra e em roda

l;i o arauto mostrando, e a recusavam;

Té que Ajax, que a traçou, de um só relance

A reconhece, imerso em gozo a toma,

Larga-a no chão gritando: "É minha, ó sócios,

Oh! que prazer! de Heitor vitória espero.

Sua,, enquanto me arneso, ao bom Satúrnio

 

 

Convosco deprecai, não o ouçam eles;

Ou seja em alta voz, ninguém tememos.

Na pátria Saiamina exercitado,

Força ou perícia alheia não me abala."

 

Fitando o azul convexo, entoam preces;

E um do povo: "Triunfe o Telamónio,

Do Ida augusto senhor, máximo c eterno I

Mas, se amas o Troiano e dele curas,

Equilibra o valor e a glória de ambos."

 

Arma-se Ajax, de ponto cm branco fulge.

Qual Marte giganteu marcha entre humanos,

Por Jove expostos à roaz discórdia

E a guerra atroz; com vulto assim medonho

Sorrindo o herói, muralha dos Aquivos,

Alarga os passos, a hasta ingente libra:

Do aspecto os seus com rigozijo fremem;

Aos Troas frio susto os ossos corre;

Mesmo de Heitor o coração palpita:

Mas não pôde evadir-se e entrar na chusma,

Sendo quem promovera o desafio.

 

Vinha Ajax de pavês como érea torre,

Que em Hila o exímio correeiro Tíquio,

Seu apaniguado, lhe muniu de sete

Coiros de nédios bois, e em cima de énea

Lâmina oitavo o reforçou; com ele

Dos peitos resguardado, perto e firme

Troveja: "Agora provarás, Dardânio,

Quão lesto os Graios príncipes duelam.

Bem que o rompe-esquadrões Peleio Aquiles,

Animoso leão, curta a seu bordo

Ira e despeito contra o sumo Atrida,

Restam muitos e tais que barba a barba

Te resistamos. O combate enceta."

 

E o magno Heitor: "Ó maioral divino,

Grã Telamónio, imbele não me julgues

Ou menino ou mulher: eu sei batalhas

E matanças dispor, zombar de ataques;

Mover sei na direita, sei na esquerda

O ardente escudo; em prélio sei pedestre

Do sevo Marte ao som medir meus passos,

Montar de salto, afoguear as éguas.

Mas  homem tal  ferir  não quero  a  furto;

Aguarda o bote, que oxalá te alcance!

 

E o longo arremessão da enorme adarga

Seis coiros entra, ao sétimo se apega;

Da lança indómita o reparo extremo,

Que era oitavo e de bronze, intacto fica.

Veio o turno de Ajax, cuja hasta horrenda

Na hostil profunda lúcida rodela,

Finca-se entre a coiraça artificiosa,

Junto ao vazio a túnica espedaça;

Heitor se torce e a feia morte ilude.

 

Seu pique um do outro saca, investem-se ambos,

Crus famintos leões ou renitentes,

Híspidos javalis. No escudo amolga,

Sem penetrá-lo, a cúspide Priâmea.

A rodela, num pulo, Ajax perfura,

Sangra o pescoço ao dono arremetente;

O cruor mana escuro. Mas não cessa

O galeato herói: retrocedendo

No campo agarra válido um penedo

Áspero e denegrido; o centro abola

Ao dobrado broquel de tergos sete;

Círcunsoa o metal. Mor pedra erguida,

Ajax com fúria imensa a expede e roda;

O molar seixo quebra a Heitor a tarja,

Que, nos joelhos magoado e a tarja aos peitos,

Cai de espinhaço; mas levanta-o Febo.

 

Já se iam vulnerar de espadas, quando

Núncios de Jove e dos  mortais, o  Acaico

Taltíbio e Ideu Troiano, cautelosos

Os ceptros seus na briga interpuseram.

E Ideu falou perito nos conselhos:

"Não mais, dilectos filhos: do Tonante

Ambos amados sois, terríveis ambos,

Confessamo-lo todos; mas é noite,

Cumpre à noite ceder." — E o Telamónio:

"Ideu, pronto obedeço; Heitor concorde,

Que  os  Dânaos provocou mais destemidos."

 

Açode o bravo Teucro: "Ajax, dos Gregos

És lanceiro o mais guapo; o Céu doou-te

A grandeza, a prudência, a valentia:

Suspendamos, até que noutro encontro

A um de nós a fortuna entregue a palma.

Noite é, ceda-se à noite: às naus Aquivas

A alegrar volve amigos e consócios;

Volvo de Príamo à cidade vasta

A consolar os meus e as pias donas

De roçagantes vestes, que suplicam

Por mim no santuário. Mutuemos

Comemoráveis dons; e os nossos digam:

— Eles em voraz sanha combateram,

Mas com sinais de estima se apartaram."

 

Nisto, ofertou-lhe a espada claviargêntea,

De primor a bainha e fino bálteo;

Purpúreo cinto recebeu lustroso.

Aos Aqueus um regressa e o outro aos Frígios;

Que, cm susto há pouco, ao vê-lo exultam salvo

Do invicto braço, e às portas o acompanham.

Ovante Ajax, à tenda Agamemnónia

Seus grevados Grajúgenas o escoltam.

O amplo-reinante ali sacrificava

Quinquene touro ao padre omnipotente:

Esfolam-no, retalham-no, espostejam,

De espeto as carnes cuidadosos assam.

Pronto o festim, regalam-se os convivas

De iguais porções; a Ajax embora desse

O rei dos reis em honra o dorso inteiro.

 

Exausta a fome e a sede, abre a consulta

O facundo Nestor, cordato sempre:

"Atridas e mais chefes, confundido

O atro sangue no límpido Escamandro,

Muitos crinitos Graios Marte acerbo

Tem mandado a Plutão; na aurora, tréguas.

De mus e bois em carroções colhidos,

Queimem-se os mortos junto à frota; as cinzas

De volta à pátria, aos filhos seus rendamos.

Todos numa fogueira e num sepulcro,

Das naus e deles em defesa, torres

Com portões para carros perto alcemos;

Cave-se em roda um fosso, que proíba

De équites e peões o ardido assalto."

O ancião termina, os príncipes aplaudem.

 

Na cidadela, ao pórtico Priâmeo

Tumultuava trepida assembléia;

Sábio Antenor discorre: "O que em mim sinto

Ei-lo, Dardanos, Teucros e aliados.

Perjúrio é contender contra os Atridas:

Restitua-se Helena e seus tesouros;

Senão, vos digo, triste fim teremos."

 

Mal acabava, arrebatado surge

Paris, da loura bela Argiva esposo:

"Agravas-me, Antenor; ai tu podias

Excogitar: se falas sério, os deuses

Roubaram-te o juízo. A minha Helena!

Ah! não, declaro à face dos Troianos;

Sim de Argos restituo o espólio todo,

Mais do meu lhe acrescento." E foi sentar-se.

 

Então Príamo, igual no siso aos numes,

Ergueu-se: "Ouvi, Dardânios e aliados,

O que hei no peito. O exército se esparza,

Depois da ceia, em rondas e atalaias;

Vá-se Ideu na alvorada à grega frota,

E anuncie aos Atridas a promessa

Do autor desta pendência. Em tal ensejo,

Para os mortos queimarmos tréguas peça;

E findas, só da guerra o estrondo pare

Ao dispor a fortuna da vitória."

Todos, com mais respeito, lhe obedecem;

Em ranchos vão cear. N’alva Ideu parte;

Em parlamento, à popa Agamemnónia,

Achando os Graios servos de Mavorte,

No meio anunciou com voz canora:

"Atridas, vós Aqueus de fina greval

Príamo e outros senhores me ordenaram,

Grato vos seja! que a promessa exponha

Do autor desta pendência: os bens que trouxe

(Ele antes acabara!) em cavos bojos,

Dar-vos quer todos, e acrescenta muitos;

Mas, apesar da instância dos Troianos ,

Vos denega a mulher que em virgem teve

Menelau generoso. E também tréguas

Pedem, para os cadáveres queimarmos;

E findas, só da guerra o estrondo pare

Ao dispor a fortuna da vitória."

 

Silêncio em torno reina, até que a márcio

Diomedes o quebrou: "Ninguém receba

Riquezas de Alexandre, ou mesmo Helena:

A quem não for criança é manifesto

Que iminente ruína os Teucros urge."

A aclamação geral seu dito aprova.

E Agamémnon a Ideu: "Já tens, arauto,

A unânime resposta, e eu dela folgo.

Quanto à queima dos mortos, consentimos;

Dilatar não se deve a cerimônia

Jucunda aos manes: este pacto assele

De Juno o excelso troador marido."

E aos imortais aqui seu ceptro eleva.

 

Dardanos e Troianos congregados

O núncio aguardam, que, de volta a Ílio,

A resulta expendeu no ajuntamento.

Uns a lenhar, a carrear os corpos

Aprestam-se outros: por igual motivo,

Das instrutas galés desembarcavam.

 

Tanto que o sol, ferindo monte e vale,

Do manso undoso pélago arraíva,

Topam-se todos. Cada um seus mortos

Só distingue ao lavá-los da sangueira,

E lamentando os metem nas carroças.

Do grã Príamo aos seus vedado o choro,

Tácitos os cadáveres cumulam,

E celebrada a queima, se recolhem.

Reprimindo igualmente a pena e o pranto

Combustos numa pira os tristes restos,

Volvem-se às naus os de elegante greva.

Antes d’alva, ao crepúsculo, operários

Um túmulo comum, junto à fogueira,

Aos finados erigem: muro e torres,

Das naus e deles em defesa, perto

Com portões para carros edificam;

Fosso profundo e largo externo cavam,

De paliçada em roda guarnecido.

 

A arte e perícia dos comantes gregos,

Do senhor dos trovões a par, os deuses,

Olham com pasmo. O Enosigeu Neptuno:

"Júpiter, vozeou, quem há no mundo

Que de ora avante nos consulte e implore?

Não vês como os Aqueus de énea loriga,

Bem preces nem solenes sacrifícios,

Trincheira e fosso e torreões fabricam?

Por onde a luz se expande, irá seu brado

( alar o das muralhas que eu e Apoio

A Laomedonte a custo levantamos."

 

Carrega-se o Nubícogo enfadado:

"Poderoso Neptuno, hui! que proferes?

A deidade inferior fique esse medo:

Por onde a luz se alargue, a tua glória

Se alargará. Tolera, e assim que os Dânaos

Do caro ninho em busca se embarcarem,

Para que de obras tais o rasto apagues,

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