Fonte: Histórias da Carochinha; Ed. Ática
MARGARIDA, A SABIDA
Era uma
vez um casal de camponeses que tinha uma filha, de nome Margarida, a quem todos
chamavam de Margarida, a sabida. Quando ela chegou na idade de casar, os pais
ficaram aflitos para lhe arranjarem um marido.
Até que um
dia apareceu um pretendente: um rapaz chamado João, muito querido na aldeia.
João queria se casar com Margarida, mas, antes de mais nada, queria saber se
ela era mesmo sabida.
Os pais
garantiram a João que ele não ia se arrepender de casar com a filha deles, pois
ela era mesmo muito esperta, tinha sal nos miolos, como se dizia por lá. Para
que o pretendente à mão de Margarida ficasse tranqüilo, a mãe da moça afirmou que ela conseguia
enxergar o vento passando e ouvir as moscas tossindo.
João
aceitou as explicações dos pais da noiva, mas, mesmo assim, avisou que, se Margarida
não fosse tão sabida quanto diziam, ele não se casaria com ela.
Dias
depois, João foi convidado para jantar na casa dos camponeses. Ao sentarem-se
à mesa, o pai pediu a Margarida que fosse até a adega buscar uma jarra de cerveja.
Ela apanhou uma
vasilha e desceu as escadas com muito cuidado para não cair. Chegando à adega,
colocou uma cadeira ao lado do barril de cerveja, para ficar sentada enquanto a
jarra enchia, pois pensou que se ficasse abaixada por muito tempo poderia ficar
doente. Abriu a torneira e, enquanto esperava, ficou olhando para os lados,
para passar o tempo. De repente bateu com os olhos no teto e viu, pendurado em
cima de sua cabeça, um machado enorme, que os pedreiros tinham
esquecido quando construíram a casa.
— Ai, meu Deus! —
disse ela. — Se eu me casar com João e tivermos um filho e, quando o menino
crescer, nós o mandarmos buscar cerveja aqui na adega, o machado
poderá cair em sua cabeça e matar o pobrezinho!
E,
pensando na desgraça terrível que poderia acontecer, começou a chorar desconsoladamente.
Vendo
que Margarida estava demorando demais para levar a cerveja, a mãe chamou uma
criada e disse:
— Vá
até a adega para ver o que está acontecendo.
A criada
desceu e foi encontrar Margarida sentada ao lado do barril de cerveja,
soluçando alto, no maior desespero. Preocupada, a mulher perguntou:
— Margarida,
por que você está chorando?
— E
não devo chorar? — retrucou a moça. — É que esqueceram aquele machado pendurado
no teto! Se eu me casar com João e tivermos um filho e, quando o menino
cres
cer, nós o mandarmos buscar cerveja aqui na adega, o machado poderá cair em sua
cabeça e matar o pobrezinho!
A criada, admirada, respondeu:
— Margarida, como você é sabida!
E,
pensando também na desgraça que poderia acontecer, sentou-se ao lado da patroa
e começou a chorar.
Enquanto
isso, na sala, o pai já começava a ficar nervoso e dizia:
— Mas
o que está acontecendo aqui?
Estou morrendo de sede e ninguém traz a cerveja!
A
mãe chamou então um criado e mandou-o ir até a adega para ver o que estava
acontecendo.
Quando
o criado desceu, encontrou Margarida sentada junto ao barril de cerveja e a
criada ao seu lado, as duas chorando desesperadamente.
— Mas o que aconteceu? — ele perguntou assustado.
— Não aconteceu
mas pode acontecer! gemeu a moça. — É que
esqueceram aquele
machado pendurado no teto!
Se eu me casar com João e tivermos um filho e, quando o menino crescer, nós o
mandarmos buscar cerveja aqui na adega, o machado poderá cair em sua cabeça e
matar o pobrezinho!
— Têm razão aqueles
que a chamam de Margarida, a sabida! — disse o criado, sentando-se ao lado das
duas e começando a chorar também.
Enquanto
isso, o pai, cada vez mais nervoso, dizia, na sala:
— Mas
por que será que ninguém volta dessa adega? Minha mulher, por favor, vá lá ver
o que está acontecendo!
A mãe de
Margarida desceu, e lá encontrou a filha, sentada na cadeira, tendo de um lado
o criado e do outro a criada, todos os três chorando desconsoladamente.
— Mas
o que foi, minha filha? — perguntou a mãe.
— Ah,
mamãe, uma desgraça! — ela respondeu soluçando. — Veja aquele machado
pendurado no teto! Se eu me casar com João e tivermos um filho, um dia vamos
acabar mandando o menino buscar cerveja aqui na adega e aquele machado poderá
cair na cabeça do pobrezinho, matando-o na hora!
— Oh,
filhinha! — exclamou a mãe. — Como temos razão em chamá-la de Margarida, a
sabida!
Depois, sentou-se ao lado dos três e começou a chorar, pensando na desgraça que poderia
acontecer.
Vendo
que ninguém voltava da adega, o pai ficou impaciente e disse a João:
— Espere
um pouco aqui, que eu vou ver o que aconteceu e já volto com a nossa cerveja!
O pai
desceu e, vendo o coro de choradeira que Margarida, a criada, o criado e a mulher
faziam, perguntou o que estava acontecendo.
— Ah, papai! — disse Margarida. — Uma verdadeira
desgraça! É que se eu me casar com João e tivermos um filho, quando o menino
crescer, nós talvez o mandemos buscar cerveja aqui na adega. E aquele machado
que esqueceram pendurado no teto poderá cair em sua cabeça, matando o
pobrezinho! O pai disse admirado:
— Mas como
é sabida a nossa Margarida!
E
depois sentou-se e começou a chorar junto com os outros.
João,
que esperava na sala, quis saber por que motivo todo mundo ia para a adega e
não voltava mais para a sala. "Vai ver estão lá esperando por mim",
pensou. E desceu para procurá-los.
Ao
encontrar os cinco sentados, chorando de cortar o coração, o rapaz perguntou:
—
Que desgraça aconteceu aqui?
— Ai, João! — disse Margarida, inconsolável. — Não
aconteceu, mas pode acontecer! Se casarmos e tivermos um filho, e quando ele
crescer o mandarmos vir buscar cerveja, aquele machado poderá cair em sua
cabeça e matar o pobrezinho!
— Bem — respondeu João —, acho que para ser minha esposa
basta ser sabida como você é!
Tomou
então a mão da noiva e levou-a de volta para a sala, para combinarem a data do
casamento.
Margarida
e João se casaram e foram morar na cidade.
Algum tempo
depois João disse a Margarida:
— Mulher, eu vou sair para trabalhar fora e ganhar um
dinheiro a mais para nós. Por isso, você precisa ir ao campo colher o trigo no
meu lugar.
— Sim, meu querido João — ela respondeu. — Farei o que
você me pede.
João
saiu e Margarida, muito esperta, achou melhor preparar um mingau bem gostoso
para levar de lanche.
Mas, quando
chegou ao campo, ficou numa dúvida terrível: não sabia se primeiro comia ou
trabalhava.
Pensou,
pensou, pensou, e acabou resolvendo comer antes para ficar bem forte e trabalhar bastante. Entretanto, como havia levado
muito mingau, depois de comer estava tão empanturrada que ficou
morrendo de sono.
"E
agora?", pensou. "Devo dormir ou trabalhar primeiro? É melhor
descansar um pouco, pois assim ficarei mais disposta para trabalhar!"
Deitou-se, então, no meio do trigal e adormeceu. Mas havia comido tanto que dormiu horas a fio e
nem sentiu o dia passar.
Enquanto
isso, João, que já tinha voltado para casa há muito tempo, disse para si mesmo:
"Como minha mulher é trabalhadeira! Nem tempo para vir almoçar ela teve,
coitada!". Mas como logo começaria a anoitecer, ele achou melhor ir ver
quanto trigo Margarida havia colhido.
Mas ela não tinha
colhido nada, e estava dormindo profundamente no meio do trigal. João, muito
zangado, voltou correndo à cidade e trouxe de lá uma rede de espantar passarinhos,
cheia de sinos pendurados. Sem acordar a mulher, passou a rede em torno
dela e voltou para casa a fim de esperá-la.
Margarida
só foi acordar quando a noite estava bem escura. Quando se levantou, os sinos
da rede fizeram um barulho tão grande que ela se assustou e começou a andar
depressa. E quanto mais corria, mais barulho os sinos faziam, e a dorminhoca,
confusa, começou a pensar: "Sou eu, ou não sou eu quem faz esse
barulho?". E fez uma confusão tão grande que já não sabia se ela era ela
ou se era uma outra pessoa. "Bom", pensou, "vou voltar para casa
e lá João me diz se eu sou eu ou não".
Correu até a casa, e
encontrou a porta fechada. Bateu então na janela, perguntando:
— João! João, Margarida
está aí?
João reconheceu a voz da esposa e respondeu, para zombar dela:
— Está sim! Está deitada aqui ao meu lado.
—
Ai, meu Deus! — gemeu Margarida. — Então
eu não sou eu mesmo!
E, em seguida, foi
bater na casa da vizinha, mas, quando ouviram o barulho que os sinos faziam,
ninguém teve coragem de abrir u porta. Margarida bateu em muitas outras casas,
mas em nenhum lugar encontrou abrigo. Cada vez mais assustada, saiu correndo
da cidade onde morava e, desde então, nunca mais ninguém a viu.
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