Ilíada de Homero – Canto XIV

Ílíada de Homero
Resumo e apresentação da Ilíada
Prefácio a Ilíada de Homero
Canto I
Canto II
Canto III
Canto IV
Canto V
Canto VI
Canto VII
Canto VIII
Canto IX
Canto X
Canto XI
Canto XII
Canto III
Canto XIV
Canto XV
Canto XVI
Canto XVII
Canto XVIII
Canto XIX
Canto XX
Canto XXI
Canto XXII
Canto XXIII
Canto XIV
Canto XV
Canto XVI
Canto XVII
Canto XVIII
Canto XIX
Canto XX
Canto XXI
Canto XXII
Canto XXIII
Canto XXIV

Ilíada de Homero – Livro 14
Tradução de Odorico Mendes

LIVRO XIV

RESUMO DO LIVRO XIV

Nestor, espantado pelos clamores dos
combatentes, sai de sua tenda.

— Observa um horrível espetáculo.
— Diomedes, Ulisses. Againémnon,

posto que feridos, vão ao encontro
de Nestor p a r a salvar o exército. —

Agamémnon vendo a ira de J ú p i t
e r e inquieto sobre a sorte do combate

p r o p õ e a fuga. — Ulisses rejeita
a pi – oposta. — Diomedes lhe persuade

p a r a voltar ao campo de batalha
e com sua presença reanimar os

guerreiros. — N e p t u n o , disfarçado
em um velho guerreiro, anima a

Agamémnon e o exército dos Gregos.
— J u n o quer p r e s t a r o seu apoio

aos Gregos e prepara – se para seduzir o p a i dos deuses no monte I d a .

— V a i a Lemnos e pede ao Sono, irmão
da Morte, p a r a adormecer

J ú p i t e r . — O Sono atende os
votos da deiisa. — N e p t u n o aproveita-se

do repouso de J ú p i t e r , anima
os Gregos e segue à sua frente. — Com-

bate. — Heitor é ferido p o r Ajax.
— Os Gregos têm a vitória.

E n t r e o beber sentiu Nestor o
estrondo:

"Que será, grita, ó nobre Esculapides?

P e r t o a voz cresce de alentados
jovens.

Liba tu roxo vinho, enquanto aquece

A de louras madeixas Hecamede

Banho em que lave da ferida os grumos:

Vou da atalaia examinar o caso."

Nisto, o insigne broquel de Trasimedes,

Que o paterno enfiara, ombreia, toma

Rija eriaguda lança; vê de fora

T r i s t e espetáculo: em destroço
o Grego,

Atrás ufano o Teucro, e rota a brecha.

Tácito quando o pélago purpúreo

Percebe o temporal, se embrusca imóvel,

E Aguarda o vento que de Jove desça:

Tal, indeciso o velho, agita n’alma

Se ao conflito se deite, ou busque
o Atrida.

Mas o segundo arbítrio enfim prefere.

Mútuo se encrua o ataque, e a brônzea
malha

De hastas e gládios percurtida soa.

Desembarcando, com Nestor se encontram

Os vulnerados reis de Jove alunos,

Ulisses e Diomedes e Agamémnon.

Longe da liça, as naus em seco tinham

N’alva areia; no plaino outras havia,

E ante as popas o muro edificador

A larga praia a todas não bastava,

E apertaria as tropas. Numa escala

Montavam pois, do golfo enchendo a
fauce

Que abrangem vasta os promontórios
ambos.

Juntos os reis, para o combate olharem,

Tristes vêm vindo às lanças arrimados.

A presença aterrou-os do Nelides,

E aflito o rei dos reis: "Da
Grécia adorno,

Por que o prélio carnívoro deixaste?

Receio o fero Heitor, que em parlamento

Jurou não recolher-se, antes que a
frota

Queime e nos extermine. Essa ameaça

Ora, oh! Céus, vai cumprir-se; e,
como Aquiles,

Enraivecido os grevados Gregos

A defender-me as popas se recusam."

Responde-lhe o Gerénio: "É mais
que certo,

Nem o feito mudar poderá Jove:

O muro, que fiávamos da frota

Fosse reparo e nosso, está caído;

O incessante conflito às naus se estende;

Nem saberás onde ele é menos acre,

Pois destroço geral perturba os Dânaos;

No éter freme o alarido, e a morte
reina.

Se inda há remédio, agora o consultemos.

Combater não vos cumpre assim feridos."

Mas o rei: "Já que as popas nos
debelam,

Sem valer fosso e muro, em que infalível

Ter críamos refúgio, e construídos

Com tanto custo, é que ao Supremo
agrada

Que em terra estranha inglórios feneçamos.

Nunca o pensei, quando ajudados fomos:

Exalta hoje os Troianos como a deuses;

Os ânimos nos liga e as mãos nos tolhe.

Eia, escutai-me: as naus do mar vizinhas

Ponham-se em nado e em âncoras, à
espera

Da calada erma noite; eles da pugna

Se absterão por ventura, e poderemos

Deitar n’água as demais. Da noite
à sombra

Menor culpa é fugir que ser cativo."

O fecundo em recursos torvo o encara:

"Desses dentes, Atrida, que proferes?

A vis antes mandasses, nunca a homens

A quem, dos verdes anos à velhice,

Deu Jove árduas facções levar ao cabo,

Até que morte honrada consigamos!

Como! a suberba Tróia abandonares,

Que tanta pena e afã nos tem custado!

Cala, não te ouçam feio e insano voto,

Indigno de um ceptrado, a quem de
Argivos

Tal e tamanho exército obedece.

Condeno o parecer de ao mar deitarmos

No fervor da contenda as naus remeiras:

Isso era incitamento aos vencedores,

E a nós ruína; que, à manobra voltos,

Os Dânaos da batalha afrouxariam.

Rei dos reis, teu projecto é pernicioso."

E Agamémnon: "Tocou-me, ó sábio
Ulisses,

A lua increpação: nem mando à força

As naus desencalhar: de velho ou moço,

Que ora opine melhor, o arbítrio aceito."

Logo Diomedes: "Junto a vós o
tendes,

Longe não vades, se quereis conselho;

Nem vos indigne que eu mais moço fale:

De Tideu prole sou, de estirpe ilustre,

Que em Tebas jaz sepulto. Claros filhos,

Que habitavam Pleurona e Calidona,

T e v e Porteu, chamados Ágrio e Meias

E Eneu, pai de meu pai, terceiro em
anos

E o primeiro em valor: viveu na pátria

Meu avô; mas, depois de errores tantos,

(Foi permissão do Céu) de A d r a
s t o em Argos

Meu pai tendo esposado uma das filhas,

H e r d o u casa opulenta, grossas
lavras

De alamedas em torno, e muito g a
d o ;

E excedia na lança os Dânaos todos.

Que é verdade o sabeis; que não provenho

De imbele geração nem baixa origem:

N ã o desprezeis portanto o meu conselho,

U r g e a necessidade; à liça, amigos,

Mesmo feridos: fora sim dos tiros,

P a r a evitarmos golpe sobre golpe,

Com palavra e presença os despeitados

E os remissos ao prélio excitaremos."

M a r c h a m de acordo os reis, o
Atrida à frente.

N e m cego os espreitava o grã Neptuno,

Que, em figura de velho, de Agamémnon

Pega a dextra a exclamar: "À
vista agora

Do Aquivo estrago e susto, o cru Pelides,

Sem de senso haver sombra, está folgando;

Pois morra, e de vergonha um deus
o cubra I

N e m todo o Céu te odeia; os chefes
Tcucros

Pelo campo, das naus para a cidade,

Verás de novo em pulverosa fuga."

Disse, e a correr soltou N e p t u
n o um grito:

Qual de nove ou dez mil que o marte
encetam,

Ressoa a voz, nos corações metendo

Força e vivo desejo de combates.

Do vértice do Olimpo, mui gozosa,

Acérrimo o cunhado e irmão pugnando

A auritrónia descobre, e no Ida sumo

Multimanante a Júpiter sentado,

Consorte aborrecido; como o engane

A olhitáurea cogita augusta Juno:

Óptimo pareceu-lhe ir ter com ele

Guapa e ornada e ao concúbito inflamá-lo,

E um dormente sossego doce e meigo

Nos sentidos e pálpebras verter-lhe.

À câmara se foi, do seu Vulcano

Obra, a que ele ajeitou secreta chave,

Que nenhum deus a abrisse; fecha entrando

Os fúlgidos batentes: com ambrosia

Purifica primeiro o corpo amável,

Unge-o de óleo suavíssimo e sagrado,

Cuja fragrância, no Dial palácio

Esparsa, o pólo banha e a terra o
sente;

Perfumada, penteia e anela a coma,

Que da imortal cabeça em flocos brilha;

Dedálco odoro peplo airosa veste,

Bordado por Minerva, e ao peito o
enlaça

Áurea presilha; um cinto em franjas
belo

Ajusta; nas orelhas bem furadas

Pingentes mete insignes, de três gemas

De água ofuscantes; enrola à testa
regia

Faxa nova e louça, como o Sol clara;

Ata aos pés luzidíssimas sandálias.

Do camarim saiu toda enfeitada,

E a parte a Vénus chama: "Escuta,
filha:

Ncgar-me-ás um favor, porque te enfada

Ser eu contrária a Tróia e a pró dos
Gregos?"

Respondeu-lhe a enteada: "Augusta
prole

Do Grã Saturno, dize o que tens n’alma;

Que a minha é prestes a cumprir teu
mando,

Se for possível." — E a matreira
Juno:

"Concede-me os desejos com que
dornas

Humanos e imortais: aos fins do globo

Visitar o Oceano pai dos deuses

E a Tetis madre vou, que em seus palácios,

‘Tomada a Reia, me criaram, quando

Exul a terra e ao mar ínsemeável

A Saturno arrojou previsto Jove:

Congraçá-los pretendo; há largo tempo

Do amor se abstém, de cólera assaltados.

Se os reduzo no leito a se afagarem,

Ser-lhes-ei cara sempre e veneranda."

E dos risos a mãe: "Nem recusar-to

Posso nem devo, a ti que em braços
dormes

Do nume soberano." Eis da petrina

Desprende o vário pespontado cesto,

Onde havia em desenho os amorosos

Deleites, os colóquios, as blandícias,

Que abrem na mente ao sábio oculta
brecha;

E ao lho emprestar: "Esconde-o,
ele os mistérios

Do amor encerra todos; não presumo

Que sem lograr o intento aqui retornes."

A olhitáurea sorriu, sorrindo o guarda

No alvo seio; e, mal Vénus se recolhe,

Ela do Olimpo rápida à Pieria

Desce e à risonha Emátia, aos níveos
serros

Traces prossegue, e a planta o chão
nem roça.

Do Atos sulcando ao fluetuoso ponto,

Pousa em Lemnos, donde era o divo
Toas;

Tá se encaminha ao Sono irmão da Morte,

A dextra lhe estreitou: "Como
antes, Sono,

Senhor de homens e deuses, tu me atendas,

E a minha gratidão será perene :

Depois de estarmos no amoroso leito,

Supita a Jove os perspicazes lumes.

Terás pulcro áureo trono incorruptível,

Em que se esmere o coxo meu Vulcano,

Mais um lindo escabelo onde repouses

Os refulgentes pés nas lautas mesas."

E o Sono: "De Saturno ó régio
garfo,

Outro imortal sem custo eu supitara,

Mesmo o rio Oceano amplo-fluente,

Gérmen de t u d o ; a Jove, não me
atrevo,

Salvo se ele o mandar. Já, por servir-te

Me expus, no dia que da rasa T r ó
i a

Seu magnânimo filho navegava:

No Egífero eu suave e subtilmcnte

Mc insinuei: borrasca seva erguendo

O destroço do herói tu maquinaste;

Longe de seus amigos o impeliste

A populosa Cós. Desperto o P a d r
e ,

D Olimpo assombra, em fúria a mim
se envia,

E do éter me jogara ao mar, se a Noite,

Dos homens e dos deuses domadora,

Não me abrigasse: irado, se conteve,

A celérrima N o i t e respeitando.

E ordenas que hoje corra igual p e
r i g o ? "

Juno assim contestou: "Que temes,
Sono?

Pensas que Jove troe a bem dos Frígios,

Qual se agastou por Hércules seu filho?

Anda; cm prêmio haverás p a r a consorte

A mais jovem das Graças Pasiteía,

Que hás sempre suspirado e almejastanto
. "

Contentíssimo o Sono: " T u mo
jures

Pela água Estígia; n’alma terra a
dextra

E no mar cristalino toque a sestra:

Inferos numes, que a Saturno cercam,

Testemunha que em paga me prometes

A mais jovem das Graças Pasiteia,

Que hei sempre suspirado e almejo
tanto . "

A bracicândida obedece, e invoca

Tártareos deuses, os Titães chamados.

Perfeito o juramento, Lemnos e Imbro

D e s r t a n d o , cnublados se apressuram;

Do Ida, em feras e arroios abundante,

Largam Lectos e o m a r ; o monte
sobem,

E andando os cimos da floresta abalam

Sem que o lobrigue Jove, na ramada

Se oculta o Sono de um gigante abeto,

Que pelo éter o tope desferia:

Lá num gárrulo pássaro das selvas

Se transforma, Cimíndis nomeado

Pelos mortais, e pelos deuses Caleis.

Ao trepar Juno ao Gárgaro, eminente

Pico do Ida, o Nubícogo a descobre:

Ao vê-la, o amor enturva-lhe o juízo,

Como a primeira vez que, subtraídos

A seus pais, ternamente se ajuntaram;

Veio encontrá-la e disse: " P
o r que, ó Juno,

Sem carro nem corcéis do Olimpo desces?"

A ardilosa responde: "Aos fins
do globo

Visitar o Oceano pai dos deuses

E a Tétis m a d r e vou, que em seus
palácios,

De Reia a pedimento, me criaram:

Congraçá-los pretendo; há largo tempo

Do amor se abstêm, de cólera assaltados.

À raiz tenho do Ida os corredores

Que por húmido e seco me caminham.

Cá por ti venho, a fim que não te
agaste

Ir eu silente aos paços do Oceano."

Replicou-lhe o Nubícogo: "Vai,
Juno,

Depois que em doce enleio adormeçamos.

Nunca deusa ou mulher me inflamou
t a n t o :

Nem de Ixion a esposa, que o valente

Me produziu divino P i r i t ô o ;

N e m a filha de Acrísio delicada,

Que me pariu Perseu de heróis espelho;

Nem a do ínclito Fénix, de quem tive

Minos e Radamanto igual aos numes;

N e m de Baco, alegria dos humanos,

A mãe Semeie; nem Alcmena em Tebas,

A do indomável Hércules meu filho;

N e m inda a regia criniflava Ceres,

A gloriosa Latona, nem tu m e s m
a :

Hoje em fogo mais vivido me acendes."

Ela acode: "Gravíssimo Satúrnio,

Que proferistes? Se amoroso queres

Dormir hoje comigo no Ideu cume,

Tudo, olha, está patente: que seria,

Se aqui nos visse algum dos sempiternos

E aos demais nos mostrasse? Eu com
que rosto

Para os céus dos teus braços voltaria?

Se o desejas, ao tálamo nos vamos

De rijas portas que te obrou meu filho:

Quanto for de teu gosto, ali durmamos."

"Juno, torna o marido, não receies

Deus nem homem; tecer vou nuvem de
ouro,

Que ao mesmo Sol impedirá de ver-nos,

Cujo olho é o mais fino e penetrante."

Xisto, ao colo o Satúrnio abraça a
esposa:

Télus brota erva tenra, cróceas flores,

Mole jacinto, rosciado loto,

Fofa e macia cama que os soleva;

Lúcido orvalho da áurea nuvem côa.

Pelo amor subjugado, enquanto Jove

Do regaço de Juno enlanguescia,

Do Gárgaro aos baixeis desliza o Sono,

Para avisar o deus que abala a terra:

"Já já, socorre os Dânaos, glorifica-os,

Pois que Júpiter jaz por mim sopito,

Em carícias de Juno adormentado."

Instante assim o anima, e aleia e
parte

Várias famosas tribos invadindo.

Salta à frente Neptuno: "Outra
vitória

Cederemos, Aqueus? Heitor blasona

Render as naus, por ver em ócio Aquiles;

Mas fará menos falta esse iracundo,

Se recíproco apoio nos prestarmos.

Segui-me pois; adarguem-se os melhores;

De elmos e piques fúlgidos, marchemos;

Diante irei, nem cuido nos resista,

Por ardente que seja, o Priamides.

Seu pequeno broquel mutue o forte

Pelo escudo maior do mais imbele."

Dóceis o escutam, mesmo os reis feridos,

Ulisses e Diomedes e Agamémnon.

Ao forte as fortes, ao mais fraco
as fracas,

Revestem márcias armas: coruscantes

Em éreo arnês os guia o rei das ondas,

Fulgúreo a manejar montante horrível;

Mas, crendo injusto combater, assusta

E reprime os contrários. Os Troianos

Se aparelham também. Crua batalha

Vai medonha empenhar-se: de uma parte

Assiste o azul Neptuno; de outra,
ordena,

E exorta e inflama os seus, o herói
Dardânio.

Incha o pego inundando as naus e as
tendas;

Com tremendo alarido se abalroam.

Nem tanto, a impulsos do sanhudo Bóreas,

Brame na praia a salsa equórea vaga;

Nem tanto o incêndio cm labaredas
freme,

Ao queimar incitado o monte e a selva

Nem tanto pela coma dos carvalhos

Muge o vento mais sevo, quão ruidoso

Toa o geral clamor no ataque horrendo.

Sem se esgarrar, estreia o Hectóreo
dardo

Por Ajax, que arrostava; mas dois
bálteos,

O da tarja e do gládio claviargênteo,

Cercando o peito as carnes lhe preservam.

Raivoso Heitor de lhe falhar o tiro,

Por salvar-se recua: Ajax um seixo,

Dos muitos que das naus escoras eram

E topavam-se a rodo, agarra e joga;

O seixo a revoltões, por sobre o escudo,

Junto ao pescoço lhe acertou nos peitos.

Robre que extirpa o fulminante Jove,

Trescala odor sulfúreo, e quem vê
treme,

Do raio e da caída: assim baqueia

Heitor no pó; largado o pique, o seguem

O escudo e casco, e o vário arnês ressoa.

Oss Aqueus, na esperança de arrastá-lo,

A gritos correm, jaculando crebros:

Ninguém pôde ferir de perto ou longe

De povos o pastor; que em roda açodem

Com Polidamas Agenor e Eneias,

Sarpédon chefe Lício e Glauco insigne,

E os mais guerreiros de broqueis o
escudam.

I ,evam-no em braços aos frementes
brutos,

Atrás pelo escudeiro ao coche atados,

Que a Ílio gemebundo o conduziram;

Mas ante o vau do Xanto revoltoso,

Rio gentil progénito de Jove,

De água fresca o borrifam desmontado:

Ele o espírito cobra, o céu fitando,

E em joelhos vomita um sangue negro;

Tomba de novo, e os olhos se lhe enturvam,

A alma do golpe ainda esmorecida.

Fora da liça Heitor, mais se enfurecem

Os Dânaos. Lesto pula e fere de hasta

O Oilíades a Satnio, que uma Náíada

Linda pariu do Satnióis à margem,

De Enopo que seu gado ali pascia;

Apanha-lhe o quadril, supino o abate:

Em torno ao corpo assanha-se o conflito.

Por vingá-lo, o Pantóídes Polidamas

Brande a Protoenor Arcilícides

Cruel dardo, que o fisga no ombro
dextro;

Vai de palmas à terra, e Polidamas

A bradar sem medida se ufaneia:

"O Pantóídes brioso um dardo
inútil

Por certo nâo vibrou: nele apoiado

Um Dânao, creio, a Dite baixa agora."

Sente, mais do que todos, estes gabos

O belaz Telamónio, a cujo lado

Caiu Protoenor, e expede o bronze;

Num salto oblíquo, furta-se o Troiano

Ao golpe atroz, que, por querer divino,

Arquéloco Antenórida recebe:

Na junta que ao pescoço une a cabeça,

T a l h a a vértebra extrema e os
tendões ambos;

Primeiro do que as pernas e os joelhos,

No chão batem-lhe a testa e boca e
ventas.

Chasqucia Ajax também: "Falemos
sério,

Bom Polidamas, no varão prostrado

Vingo a P r o t o e n o r ; nem me
parece

Ignóbil ou cobarde, e pelos traços

De Antenor é parente, irmão ou filho."

Ele o conclui, e a mofa os Teucros
pungc.

Acorrendo lanceia o irmão Acamas

A Prómaco Beócio, que puxava

Pelos pés o defunto, e ovante b r
a d a :

"Valentões de balhesta e de bravatas,

N ã o sós teremos l u t o ; a vós
alquando

Vos ceifa a m o r t e : ao gume desta
lança,

Vosso Prómaco d o r m e ; inulto,
vede,

Longe não jaz Arquéloco. O valente

Sempre em seu lar depreca a irmão
que o vingue."

Isto os Gregos magoa, e mais ao régio

Peneleu, cuja fúria contra Acamas,

Que a não susteve, r u i ; o bote
alcança

A Ilioneu, que o pecoroso Forbas,

De Mercúrio o Troiano predilecto,

Único a mãe pariu: da sobrancelha

P o r baixo, a ponta o lagrimal penetra,

E vaza-lhe a pupila e sai à nuca;

Ele de palmas tomba. A gládio o Aquivo

A cabeça decepa-lhe, que elmada

Como a da dormideira foi rolando;

E, inda no olho metida a farpa aguda,

Ergue o troféu sanguento, a l a r
d e a n d o :

" D e Ilioneu preclaro aos pais
queridos

Anunciai-me, ó T r o a s , que o lamentem

No ululante palácio, já que a esposa

Do Alegenório Prómaco ao marido

Não saudará também com rosto ledo,

Ao regressar a Graia mocidade."

Cessa, e medrosos pálidos os Frígios

Contra a Parca um refúgio em roda
esguardam.

Celestes Musas, declaraí-mo agora,

Que Argeu cruentos conseguiu despojos,

Dês que a vitória desviou Neptuno?

Ajax primeiro imola o Mísio cabo

Girtíade Hírcio; Antíloco a Mermero

Desarma e a Falces; Merion derriba

A Hipótio e Móris; Teucro, a Perifetes

E Protoon; na ilharga o Atrida ensopa

Do maioral Hipérenor o bronze,

E os rotos intestinos lhe derrama;

Em treva os olhos fecha, o alento
exala

Pela crua ferida. A muitos prostra

O ágil filho de Oileu; pois, do inimigo

No encalço, a pé ninguém se lhe igualava,

Quando fuga e terror Jove incutia.

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