Antologia nacional de escritores (Brasil e Portugal)
JOAQUIM NORBERTO DE SOUSA E SILVA (Rio de Janeiro, 1820–1891) foi um infatigável escritor, que com felicidade cultivou a poesia, a novela, o drama e a História, onde principalmente se fêz notável.
É avultada a sua obra: Romances e Novelas, O Martírio de Tira-dentes; Modulações Poéticas, O Livro de Meus Amores, Cantos Épicos, Flores entre Espinhos, Balatas; uma tragédia em verso, Clitemnestra; um drama, Amador Bueno; uma ótima e exaustiva monografia, História da Conjuração Mineira; uma excelente Memória Histórica e Documentada das Aldeias dos índios na Província do Rio de Janeiro; as Brasileiras Célebres; um estudo sobre o Descobrimento do Brasil e diversas introduções biográficas e críticas às obras de Tomás Antônio Gonzaga, Alvarenga Peixoto, Silva Alvarenga, Casimiro de Abreu etc, nas edições que das obras desses poetas estampou a casa Garnier.
Membro do Instituto Histórico e Geográfico, cuja Revista opulentou de valiosas contribuições, Joaquim Norberto chegou a ocupar nessa douta associação o posto de presidente.
Desgostoso pela mudança do regime, e sobretudo pelo banimento do Imperador, de quem era amigo, Joaquim Norberto pouco sobreviveu à monarquia. Boatos, que se espalharam de se haver suicidado, não sendo casual a troca de medicamentos que o fêz morrer, não foram confirmados, c parece ter-se derivado de uma apologia, ou pelo menos atenuação do suicídio, produzida por Joaquim Norberto, em 1888, quando o Instituto celebrava o centenário da morte de Cláudio Manuel da Costa.
No sentir do Sr. Sílvio Romero, que não foi pródigo de elogios, é hoje impossível escrever a História literária, e mormente a História do Brasil, sem se recorrer às publicações deste laborioso escritor.
Alvarenga Peixoto e a Inconfidência
Achava-se Alvarenga Peixoto uma noite em casa do célebre contratador João Rodrigues de Macedo, a conversar (48) com algumas pessoas, quando o capitão Vicente Vieira da Mota lhe veio trazer um bilhete fechado, que lhe tinham entregue à porta da rua. Alvarenga Peixoto abriu-o imediatamente e leu o seguinte :
"Alvarenga — Estamos juntos e venha Vmcê. já, etc. Amigo, Toledo."
Era o Vigário da Freguesia da Vila de São José, Carlos Correia de Toledo, que lhe recordava que êle, e outros conjurados se deviam reunir em casa do Tenente-Coronel Francisco de Paula Freire de Andrade. Chovia, e Alvarenga Peixoto respondeu que compareceria logo que parasse a chuva.
Não faltou o poeta à sua palavra.
Era a primeira vez que se reuniam os conjurados. Aí estavam o dono da casa, o Tenente-Coronel Francisco de Paula e seu cunhado José Alves Maciel, o Vigário de São José, Carlos Correia de Toledo, o Desembargador Tomás Antônio Gonzaga, o padre José da Silva de Oliveira Rolim, a quem Alvarenga Peixoto via pela primeira vez e que lhe disse ser-lhe muito obrigado pelas obsequiosas atenções com que tratara o seu irmão, o Dr. Plácido da Silva e Oliveira, no tempo em que foi ouvidor da comarca de São João d’El-rei, e o Alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes.
Cada um dos conjurados quis ser o expositor do que se havia tratado na ausência do recém-chegado (49), e Alvarenga Peixoto ficou sabendo como se havia elaborado o plano para a revolução. Era coisa assentada entre eles que se esperasse pela notícia do movimento insurrecional do Rio de Janeiro, segundo as asserções afirmativas, ou antes imaginárias, do Alferes Joaquim José, e bem assim, que se deixasse igualmente publicar a derrama, que necessariamente deveria levantar clamores em toda a capitania, pela excessiva contribuição a que eram os povos obrigados. No meio da geral consternação e favorecido pelas sombras da noite, se apresentaria o alferes Joaquim José, com alguns companheiros, gritando pelas ruas de Vila-Rica: "Viva a Liberdade!" O povo, avexado pelo pesado tributo, acudiria ao alarme e apoiaria a revolução. Acudiria ao tumulto o tenente-coronel Francisco de Paula, à frente da tropa, e, como parte dos oficiais e soldados não era estranha ao movimento, segundo a fácil credulidade de Tiradentes, o tenente-coronel daria tempo a que o alferes fosse a Cachoeira, à casa de campo do governador, onde se achava o general visconde de Barbacena, para conduzi-lo com toda a sua família até à serra, aonde lhe diria que fizesse muito boa jornada e dissesse em Portugal que já se não precisava de generais na América, ou então que sacrificá-lo-iam, levando a sua cabeça a Vila-Rica para com ela impor ao povo o respeito pela nova república. Então, no meio do geral entusiasmo, o tenente-coronel arengaria (50) à multidão, perguntando ao povo o que queria, que motivo tinha para aquele levante (51), a que os conspiradores responderiam que desejavam a sua liberdade, e o tenente–coronel acabaria por dizer que o motivo era tão justo que êle se não podia opor.
(48) Construções paralelas: estava a conversar e estava conversando, esta mais brasileira, a outra mais lusitana. Conversar com alguém é a sintaxe mais vulgar; mas nos clássicos usou-se conversar alguém no sentido de freqüentar a intimidade, ter trato, ou manter relações com alguém: conversar os sábios; …"que poetas eu conversei na minha infância". (Camilo, ap. M. Barreto, Novos Estudos, 2.a ed., p. 475), e conversar a história, a ciência, o passado, no sentido de estudá-los ou perquiri-los: "…o fruto dos trabalhos daquele que conversa o passado…)) (Herculano). Significa também namorar, em Portugal: conversar a rapariga; e Camilo usou dele várias vezes. Como se sabe, a conversada é a namorada entre os Portugueses. (49) Recém é apó-cope de recente, como mui de muito, dês de desde, são. de santo, tão de tanto, quão de quanto, cem de cento, grão de grande. Evite-se o grave erro de pronúncia récem. (50) Arengar, de arenga (m. lat. harenga, discurso em público) depreciou-se-lhe o sentido. (51) Levante — sedição, motim, é deverbal de levantar; este formou-se do p. pres. de levare (levans, antis). Levar a âncora (Os Lusíadas, II, 18, 65, 66; V, 64) = levantar, suspender, alçar a âncora. Levar a espada: "largou a lança e, levando da espada, deu ua boa ferida pola cabeça ao mouro". (Fr. L. de Sousa, Anais de D. João III, parte l.a, L. III, cap. V). Hoje é outro o sentido de levar (= conduzir, transportar); a significação antiga permanece em elevar e levantar.
Anuiu Alvarenga Peixoto ao plano da revolução, refletindo, todavia, que não era necessário que o tenente-coronel dirigisse fala alguma ao povo, pois bastava-lhe dizer que quem tinha tirado aquela cabeça podia tirar outras.
Escolhido o plano, restava dividir os papéis do drama pelos principais conspiradores.
A Alvarenga Peixoto incumbia angariar gente entre os ha-bitantes da Campanha do Rio Verde, onde gozava de grande Influência como coronel do primeiro regimento da cavalaria auxiliar. Houve ainda outra conferência em que se achou Alva-renga Peixoto. Os conjurados reuniram-se desta vez em casa de Cláudio Manuel da Costa e tratou-se da adotação da bandeira para a nova república.
Propôs o alferes Joaquim José que se tomassem por símbolo três triângulos entrelaçados, em comemoração da Santíssima Trindade.
Cláudio Manuel da Costa lembrou que o emblema da bandeira dos Estados Unidos era o gênio da América quebrando as cadeias do cativeiro com esta inscrição: Libertas aequo spiritus e que nenhuma inconveniência havia em que se adotasse a mesma.
Alvarenga Peixoto impugnou a idéia como pobre; Cláudio propôs ainda a seguinte inscrição: Aut libertas, aut nihil!
Alvarenga Peixoto propôs então o versículo de Virgílio: Libertas quae sera tamen.
E os conjurados a aprovaram, achando-a muito apropriada.
(Notícias sobre I. J. de Alvarenga Peixoto e suas Obras).
Seleção e Notas de Fausto Barreto e Carlos de Laet. Fonte: Antologia nacional, Livraria Francisco Alves.
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