O CASAMENTO DO PRÍNCIPE REAL – D. João VI no Brasil – Oliveira Lima

D. João VI no Brasil – Oliveira Lima

CAPITULO XXII

O CASAMENTO DO PRÍNCIPE REAL

Entre as negociações diplomáticas do reinado americano de Dom João VI figura, e avulta entre os seus
sucessos notáveis, o casamento do príncipe herdeiro Dom Pedro. Não,
entretanto, que fosse difícil nessa parte matrimonial a missão do marquês de Marialva em Viena. Quando o embaixador
português chegou à capital do império, os obstáculos que tinham parecido contrariar o enlace
estavam derrubados, e feito em novembro de 1816 o ajuste pelo encarregado de negócios, comendador R.
Navarro de Andrade,
persona gratíssima à corte austríaca. Não se tratava mais do que pedir solenemente a mão da
arquiduquesa Carolina Josefa Leopoldína, redigir o tratado de desposório, celebrar os esponsais
por procuração e receber
a futura soberana do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves a bordo da esquadra portuguesa
que a devia transportar para a sua nova pária.

Essa união era mesmo o fruto de uma velha combinação dinástica, que apenas razões
pessoais ameaçaram um instante comprometer, e a sua realização causou no dizer — que
nunca seria outro — dos ofícios de Ma rialva, grande satisfação à casa de
Habsburgo-Lorena, na qual abunda vam as Arquiduquesas. A nobreza da casa de Bragança, a
vastidão e apre goada
riqueza do império português, a própria garbosa pessoa do noivo, que já em 1803 dizia a duquesa de
Abrantes ser a única cara bonita num concurso monstro de fealdades em que cabiam os primeiros
prêmios ao príncipe regente e a Dona Carlota, faziam pelo prisma palaciano o
consórcio parecer particularmente auspicioso.

Ficou
viva entre nós a tradição da extraordinária doçura da imperatriz Leopoldina: sua inteligência e
instrução constam das memórias do tempo. Assim que ficou decidido seu
casamento entrou, com toda a consciência de uma boa alemã, que toma ao sério suas obrigações, a estudar não só a
língua portuguesa, como a história, geografia, produções etc, do país que ia
adotar. Especialmente afeiçoada à mineralogia e à botânica, logo falou em
carregar para o Rio uma coleção mineralógica e aclimar no Brasil diferentes
plantas européias, exultando com a certeza que, na sua mendacidade cortesã, lhe
deu sem titubear Marialva, de que o príncipe Dom Pedro também se dedicava com
fervor a semelhantes estudos.

Dos estudos amáveis a que de preferência
se entregava o fogoso mancebo não disse palavra o cauteloso embaixador e foram
esses que entristeceram e consumiram a vida da excelente arquiduquesa que,
para afastá-los, nem em si possuía o recurso da formosura. O próprio Marialva,
com todo o seu cavalheirismo, não ousava referir-se à sua beleza: limitava-se a
escrever que "em sua presença resplandece a soberania a par da mais rara
bondade".727

Esta foi, aliás, a impressão geral no
Rio, estampada numa das cartas de Marrocos:78 "A
Sereníssima Senhora D. Carolina tem agradado em extremo a todos; mui discreta,
desembaraçada e comunicativa; fala, além de sua língua pátria, o francês,
inglês e italiano; alguns conhecimentos de Belas Letras, e não menos de
botânica, além daquelas prendas que já são próprias em uma senhora, em que
dizem ser eminente: mui fértil na conversação, e mui aguda em respostas: mestra
na arte de agradar e fazer-se estimável; e para ser mais notável, até tem medo
de trovoadas. Na ilha da Madeira demorou-se três dias, donde trouxe grande
quantidade de ma cacos, papagaios etc…"

Outros encargos trazia, contudo,
para Viena, o embaixador de Portugal. Trazia a missão de promover outros
enlaces entre as duas casas reinantes, casando-se o príncipe imperial d’Áustria
com a infanta Isabel Ma ria, e o grão-duque da Toscana, irmão do imperador e
que em proveito deste se privara da sua noiva, uma princesa da Baviera, com a
princesa Maria Tereza. A corte portuguesa procurava desforra do malogro do pro jeto
matrimonial com a Casa da França, que tanto a magoara que Luxemburgo atribui à
má-vontade daí proveniente o nenhum êxito da sua missão. "On a montré
beaucoup de jalousie et même un peu d’humeur en apprenant l’alliance que vient
de former Mgr. le duc de Berry. J’ai eu beaucoup de peine a adoucir ces
regrets, et j’en retrouve souvent les traces dans mes discussions."729

Da segunda das uniões confiadas à
diplomacia de Marialva parece quase se não haver tratado. A primeira, porém,
acha-se repentinamente mencionada na correspondência oficial do marquês
estribeiro-mor. Frustrou-se afinal, segundo a versão dada, porque o físico
raquítico e mentalidade
apoucada do príncipe dissuadiram o imperador de apressar qualquer consórcio, para decidir
do qual precisaria também receber as in formações que sobre a infanta lhe devia mandar sua filha,
ou novo representante austríaco, ou mais provavelmente alguém da comitiva da
Arqui-duquesa, mais
chegado ao círculo íntimo da corte e oficiosamente incumbido dessa missãozinha confidencial e delicada.

Espalhou-se depois o boato do consórcio de Dona Isabel
Maria com o irmão do herdeiro da coroa austríaca, mas o barão de Neven, encarregado
de negócios d’Áustria, disse a Maler730 estar persuadido de que
"pour le moment ce ne pouvait être qu’un désir manifeste par la princes-se Léopoldine et rien de plus".731

Os encargos essencialmente políticos dados a Marialva,
esses eram dos mais
importantes para a monarquia portuguesa. Foi 1816 o ano das mais espinhosas negociações
relativas a Montevidéu, o período agudo nas relações entre as cortes de Madri e do Rio de Janeiro por
motivo da ocupação
militar da margem oriental do rio da Prata. Sabemos que a Ingla terra quase abandonara seu antigo
aliado, proclamando retirar-lhe a garantia da integridade territorial, sobretudo porque Dom
João VI se obstinava em não deixar o Brasil.
Fazia-se sobretudo mister achar um contra peso para o auxílio que a Rússia
estava prestando à Espanha, ameaçando transformá-lo de moral em material: o que parecia tanto
mais provável quanto
não era desinteressado, ditado apenas pelos princípios da legitimidade e da indissolubilidade dos
laços que prendem os povos aos seus soberanos.

Afirma-se — e Marialva reproduz o consta — que a Espanha prometera à Rússia consentir na
ocupação militar, pelo império, de parte da ilha de Minorca. Em vista dos desígnios constantes
nutridos pelo governo de São Petersburgo contra a Porta, não deixava de ser
valioso o dispor assim a Rússia de um porto no Mediterrâneo, onde lhe fosse dado reunir livremente
as suas esquadras e
possuir um ponto de refúgio, senão uma base de opera ções. O receio de Marialva, de
que a expedição espanhola de reconquista do Prata levasse um forte contingente russo, baseava-se
não só nesta consideração
como nas inclinações bélicas do czar, a quem, malgrado o misticismo, facilmente seduzia quanto
se referisse a guerras, e também no fato de existir um numerosíssimo e
experimentado exército russo, desocupado com a paz da Europa e naturalmente
ansioso de ir pelejar e pilhar "em um país cujo clima e riqueza são tão exaltados na
Europa".733

Não se havendo ainda por esse tempo verificado a alteração nas dis posições britânicas que o
talento diplomático de Palmela, ajeitando as circunstâncias, logrou
obter, a mediação austríaca no caso de Montevidéu afigurava-se à corte
portuguesa mais favorável do que a inglesa, julgada até nesse momento parcial à
Espanha. Metternich não se dispunha (nem lho seria consentido) a intervir só na
contenda aberta entre as duas cor tes ibero-americanas: a Europa não desistira
dos seus direitos de tutela sobre o Novo Mundo. Entretanto dava o chanceler
arras da sua dedica ção à dinastia de Bragança informando o embaixador
português de quanto ocorria e chegava ao seu conhecimento sobre o assunto, e
não hesitou mesmo, antes da partida de Marialva para Paris, onde
conjuntamente com Palmela ia prosseguir outras negociações, em expedir ao
represen tante austríaco na França, barão de Vincent, ordens muito positivas
para proteger Portugal.

Logrou assim o marquês estribeiro-mor
cumprir sua instruções polí ticas, agindo aliás de perfeita conformidade com as
vistas claras e seguras do seu amigo e colega de Londres, de quem Metternich
formava o mais elevado conceito,7" declarando ao embaixador de
Dom João VI não du vidar do feliz resultado das
negociações de Paris relativas ao Prata: "pois que por uma parte a nossa
causa, além de ser justa, era manejada por uma pessoa tão hábil, como sem
dúvida o era o conde de Palmela; e que por outra parte tínhamos também a nosso
favor a imperícia e o orgulho do plenipotenciário espanhol, que indispunha o
ânimo de alguns dos medianeiros a ser-lhe propício em pretensões já por si
mesmas tão pouco acertadas".734

O futuro de Portugal, cuja conquista a Espanha ruminava
empreender — pelo menos esta era a impressão geral — ficaria pois, à falta da
garantia britânica, repousando sobre o prestígio da chancelaria e da dinastia
austríacas, empenhadas na preservação de uma casa real, tão proximamente
parente quanto era a de Bragança, em sua completa autoridade. Outra prova de
como se achavam entrelaçados os fios da diplomacia, é que mesmo na sua
agradável embaixada de Viena, teve o marquês estribeiro-mor que se ocupar, como
vimos, da questão da Guiana, cuja devolução o duque de Richelieu queria a todo
o transe apressar, influindo sobre o negociador português em Paris por
intermédio de Marialva ou mes mo deslocando as negociações para a capital
austríaca.

Desde começo compreendera o governo
francês perfeitamente que a inclusão um tanto arbitrária da restituição da
Guiana no tratado de paz de 30 de maio de 1814 era apenas o pretexto para
não ratificá-lo o prínci pe regente, pois que estando acordada a restituição
entre Portugal e sua aliada, tal inclusão não podia na verdade ferir nem
humilhar o governo do Rio.
Depois, em face dos compromissos tomados, outro não pôde ser o desenlace da
questão senão a restituição daquela conquista das armas portuguesas,735 que a
indiferença da Inglaterra em 1814 e o constrangi mento dos plenipotenciários portugueses ao
Congresso de Viena em 1815 assim tornaram efêmera, mas que a previsão de Palmela e a tenacidade de Brito souberam converter pelo
menos num ganho positivo qual o da delimitação
ao sabor das aspirações portuguesas.

As satisfações de vaidade, pessoal e patriótica ou mais precisamente dinástica, teriam amplamente
consolado o embaixador português de quais quer sensaborias políticas e diplomáticas, quando por
acaso as houvesse contado
a sua missão. As ordens do Rio mandavam fazer figura, gastar muito para parecer bem, e a
Marialva seria lícito escrever com justo desvanecimento que ‘ ‘ainda se não havia visto em
Viena uma tão aparatosa embaixada, como
aquela que S. M. me confiou".

Os gastos dela, compreendida a distribuição de jóias e
até de barras de
ouro pelo pessoal da corte e do ministério de Estrangeiros, inclusive o
Príncipe de Metternich, subiram a mais de milhão e meio de francos — exatamente a francos 1.573.443,80
cêntimos —, despendendo o embai xador da sua fazenda, segundo ele próprio referia sem
contudo solicitar o
reembolso, mais de 106 contos. A principal despesa fora feita com a es-plendorosa festa dada no jardim
imperial de Augarten, onde o marquês de Marialva mandou expressamente construir um salão que
depois serviu para várias festas de caridade e ofereceu, após as danças, uma
ceia a mais de 400
convidados: os diamantes remetiam-se naturalmente do Brasil, não entrando nos gastos da embaixada senão a sua montagem.

E tão escolhidas e magníficas eram as pedras que, no
dizer da correspondência
de Marialva, fizeram pasmar a corte de Viena comunicando-lhe um estremecimento o contato
de toda essa riqueza digna dos contos orientais. Eis como num belo desenvolvimento de estilo
cortesão, descre ve
o embaixador736 a apresentação à arquiduquesa do retrato de Dom Pedro, num medalhão cercado de
diamantes da mais pura água: "… Ser-me-ia
difícil expressar a V. Ex. o júbilo de S. A. I. vendo o
retrato de seu augusto futuro esposo:
imediatamente o pôs ao peito, e nesta oca sião lhe ouvi as mais
lisonjeiras expressões sobre a felicidade que tão são e bem acertado consórcio
lhe fazia esperar. Por extremo agradou à
Sereníssima Senhora Arquiduquesa a fisionomia de S. A. o príncipe real. dizendo-me a mesma senhora que muito coincidiam
as feições que observava naquele
retrato com a idéia que ela formava das virtudes morais possuídas pelo augusto
original delas. Sem dúvida foi grande a im-pressão que fez no ânimo de
S. A. I. a magnificência da cercadura que guarnecia o retrato; e ainda
que a Sereníssima senhora arquiduquesa mais atendesse, e sem afetação, à imagem
do seu real futuro esposo, do que ao riquíssimo ornato que adornava, não deixou
contudo de me expressar o quanto a enchia de satisfação e reconhecimento um tão
magnífico pre sente; porém a camareira-mor da mesma senhora e o seu
mordomo-mor, que se achavam presentes, estavam como surpreendidos de ver a
beleza daquela jóia, asseverando-me que jamais se tinha visto aqui, nem mes mo
se havia formado idéia de tal riqueza. O príncipe de Metternich a quem depois
mostrei aquele precioso donativo, me observava que só nas fabulosas crônicas
orientais é que se poderia encontrar a descrição de algum objeto análogo, que
lhe fosse comparado."

No ato do casamento, que se celebrou com a ostentação
habitual às cerimônias da corte austríaca no dia 13 de maio, natalício de Dom
João VI, representou o noivo o arquiduque Carlos, irmão
do imperador, a quem o embaixador português entregara dois dias antes, com toda
a solenidade, a procuração do príncipe Dom Pedro. A 2 de junho partiam a noiva
e sua comitiva para Florença, onde chegaram a 14, a fim de aguar darem junto ao
grão-duque da Toscana a chegada a Liorne da esquadra portuguesa que, vinda de
Lisboa, devia transportar ao Brasil a sua nova princesa.737 No
caminho tiveram a notícia do levantamento de Pernambuco, a qual, segundo
comunicava Marialva, só fez aumentar a ânsia da Princesa de reunir-se à família
de adotação para compartilhar das amarguras e provações do momento
revolucionário. Nem o espectro de Maria Antonieta, sua tia, demoveu um instante
a Arquiduquesa Leopoldina do cumprimento desse régio dever, só
involuntariamente adiado.

Escrevia o marquês estribeiro-mor
para o Rio de Janeiro que a ter de dar-se, por motivo da rebelião, maior
tardança do que a já ocasionada pela chegada das naus, preferia muito ver a
Princesa em Florença, corte aliás austríaca e onde se achavam, com o fim de
acompanhá-la nos últimos dias de residência européia, suas duas irmãs, a
duquesa de Parma (imperatriz Maria Luiza) e a princesa de Salerno. Em Viena
havia o grave inconveniente de estar o governo britânico — empenhado sempre em
tra zer a corte portuguesa de novo para Lisboa e singularmente ajudado na seu
intento pela sediçâo de Pernambuco e pela conspiração de Gomes Frei re, ambas
em 1817 — intrigando para que a princesa Leopoldina permanecesse na Áustria ou
pelo menos, em vez de dirigir-se para o Brasil, se dirigisse para Portugal a
fim de aí esperar o regresso inevitável da família real em cujo seio entrara.

As razões sentimentais eram
óbvias e bastantes para o coração paternal do imperador Francisco. Junto a
Metternich, cujas boas disposições para com o governo português o consórcio da
arquiduquesa ativara, passando o poderoso chanceler, segundo refere Marialva,
a achar muito jus tas as razões da ocupação de Montevidéu, e injustificáveis as
desconfianças do rei católico738 era necessário ao embaixador
britânico fazer valer as razões políticas. Aduzia por isso que o estado de
agitação demagógica do Brasil, e a demagogia era o terror constante de
Metternich, não aconselhava a ida de uma arquiduquesa educada na mais
aristocrática das cor tes; sendo que, pelo contrário, sua aparição em Lisboa
teria o condão de contentar os portugueses, ansiosos por abrigarem outra vez a
sua velha corte, e de desvanecer os enredos espanhóis tendentes à incorporação
do reino e conseqüente unificação peninsular.

Metternich mostrou-se meio abalado com as razões
invocadas, mas finalmente recusou a Áustria entrar no jogo da Inglaterra, e o
próprio chanceler foi a Liorne efetuar a entrega da arquiduquesa ao marquês de
Castelo Melhor, comissário especial de Dom João VI —
que para tal fim embarcara na resumida esquadra da regência juntamente com o
conde da Louzã, mordomo-mor da princesa, e o conde de Penafiel, seu veador. Na
serenata do palácio de São Cristóvão, por ocasião do casamento no Rio, o
próprio rei referiu a Maler759 quanto trabalhara o embaixador
britânico em Viena para impedir a vinda da arquiduquesa até ao Brasil; mas que,
instado a respeito, o imperador d’Áustria respondera que sua filha passara a
ser filha do rei de Portugal, cabendo portanto a S. M. F. designar-lhe a
residência. "Devo ajuntar — comentava o agente francês – que o monarca,
apesar da sua profunda dissimulação, não pode ocul tar os sentimentos de
oposição que nutre contra as vistas do gabinete in-glês; tenho freqüente ensejo
de fazer esta observação." A contínua pres-são exercida pelo governo
britânico para que se realizasse uma viagem que a Dom João era antipática, ao
corpo e ao espírito, não podia menos do que exacerbar o mau humor régio ao
ventilar-se esta questão.

Tinham surgido dúvidas sobre a nacionalidade a que devia pertencer a
comitiva da princesa, preferindo o imperador d’Áustria, segundo a prag-mática
por ele seguida, que a compusesse gente portuguesa. Havia porém para isto,
entre outras dificuldades, a da enorme distância que separava as duas cortes,
uma européia e outra sul-americana, obstando à rápida deslocação do seu
pessoal. Chegou-se por fim à combinação de ser desde logo portuguesa, como
vimos, a parte masculina da casa oficial da prin-acesa, e austríaca, até o Rio
de Janeiro, a parte feminina, formando-a as condessas de Kunburg, Sarentheim
e Lodron, a primeira como camareira-mor e
as duas outras como darnas.

O embaixador especial, conde de Eltz, incumbido de apresentar as felicitações do soberano
austríaco pela elevação de Dom João VI ao tro no e que, na frase por vezes cáustica de Maler, nem encontrou com quem falar francês no gabinete do
monarca, que então se compunha do portuguesissimo Thomaz Antônio,740 uma vez falecido
Bezerra, seguiu também na São Sebastião, tendo-o precedido a missão ordinária, composta do en carregado de negócios Neven741
com dois secretários e dois camaristas do imperador.

Além das damas de honor, outras damas do serviço
particular da prin cesa,
retretas, açafatas, criadas, um capelão, um bibliotecário, vários ser-viçais de libre aboletaram-se
nas naus, todos de nacionalidade austríaca. Os médicos eram portugueses, porque a regência de Lisboa
para este fim despachara
o cientista Francisco de Mello Franco e o abalizado clínico Bernardino Antônio Gomes. O
chefe de cozinha, esse exigiu Marialva, com o seu apurado senso de gastrônomo, que fosse austríaco,
explicando num dos
seus ofícios que "os cozinheiros que vieram de Lisboa talvez sejam bons, porém um jantar feito por
eles que me deram a bordo, tinha péssi ma cara e pior gosto". E rematava enfastiado:
"enfim tenho passado por algumas
vergonhas…"

A embaixada austríaca foi recebida no Rio, ao que reza a crônica de Maler, com distinções especiais
que não tiveram outras missões da mesma categoria — a de Luxemburgo e muito menos ainda a de
Balk-Poleff — sendo
o embaixador cumprimentado a bordo pelo oficial maior da Secre taria de Estrangeiros, e
transportado para a sua audiência, a qual teve lu gar imediatamente no Paço da
cidade, num coche da Real Casa, com o introdutor ao lado e acompanhando o
cortejo os coches de todos os gran des da corte. No baile dado em honra de Eltz pelo
inválido e quase agoni zante Bezerra, na sua fazenda de Maracanã, forças de infantaria estavam postadas desde a grade do parque
até a porta de entrada, e piquetes de cavalaria
formados pelo caminho.

Foi um período de festas consecutivas, que corresponderam aos "imensos preparativos"
de que falava Marrocos nas suas cartas para Lis boa, e em que cada um tinha seu papel. Na serenata de São Cristóvão a 7 de novembro, em celebração dos esponsais, e
para a qual refere Marrocos que se fizeram os ensaios nas salas da Real
Biblioteca, o príncipe Dom Pedro, a
princesa Maria Tereza e a infanta Isabel Maria cantaram sucessi vamente uma arieta, e os músicos da Real Câmara
com os da Real Capela executaram uma
peça dramática composta para a ocasião e que se prolon gou até duas horas da
manhã. No mesmo mês oferecia a rainha Dona Carlota a sua nora um "esplendidíssimo e mui delicado jantar",
entrando os noivos a aparecer em
passeio, "e com estado separado".742

Pouco depois743 comunicava ao pai esse
assíduo correspondente fi lial que "a Sereníssima Senhora D. Carolina tem desfrutado muito
boa saúde, sem
estranhar o clima, nem o seu novo estado, em que com satisfa ção se sabe ter já dado a
conhecer a sua fecundidade"; ajuntando que "passeia muito e com aproveitamento,
mostrando nestes recreios não só um método singular, nascido de uma regular educação, mas
o estudo que tem tido em Ciências Naturais".

Nas cartas para a família parece que se mostrava a
arquiduquesa me nos
ditosa do que a enxergava Marrocos. Suportava mal o clima, tendo com este travado conhecimento nos
começos do verão, e o meio social e sobretudo palaciano não podia corresponder ao que ela
ingenuamente ima ginara,
mesmo dando desconto à diferença de continente. Em todo caso as ilusões conjugais da princesa
real ainda duravam quando já tinham so frido o primeiro e rude golpe a ilusões políticas do seu
sogro e rei, que era na corte o seu
melhor, talvez o seu único amigo.

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