O Que é Guerra? Dicionário de Voltaire

Dicionário Filosófico de Voltaire – verbetes selecionados

GUERRA

É sem dúvida uma bela arte essa que desola os campos, destrói as habitações e faz perecer num ano quarenta mil homens sobre cem mil. Tal invenção foi primeiro cultivada pelas nações congregadas por um interesse comum; por exemplo, a dieta dos Gregos declarou à dieta da Frigia e dos povos vizinhos que ia partir com mil e tantos barcos de pescadores para exterminá-los, se lhes fosse possível.

O povo romano, em assembleia, julgava do seu próprio interesse ir bater-se, antes da colheita, com os Veienses ou os Volscos. E alguns anos depois, todos os Romanos, encolerizados com os Cartagineses, com eles se batiam por muito tempo no mar e em terra. Não acontece o mesmo hoje. Um genealogista prova a um príncipe que este descende, em linha recta, de um conde, cujos pais haviam feito um pacto de família, há trezentos ou quatrocentos anos, com uma casa cuja memória já nem mesmo subsiste. Esta casa tinha pretensões, vagamente justificadas, sobre uma província, cujo último donatário morrera de apoplexia: o príncipe e o seu conselho julgam o direito evidente. A província, situada a uma centena de léguas, protesta não reconhecê-lo, não ter nenhuma vontade de ser governada pelo príncipe; que para ditar leis a um povo é preciso pelo menos o consentimento deste último; mas os discursos não chegam aos ouvidos do príncipe, cujo direito parece incontestável; e ei-lo reunindo logo grande número de homens que nada têm a perder, vestindo-os com uma grosseira fazenda azul de cento e dez sous, bordando-lhes os chapéus com grossos fios brancos, fazendo-os voltar para a direita e para a esquerda e marchar para a glória.

Os outros príncipes, ouvindo falar dessa equipagem guerreira, nela tomam parte, cada um segundo o respectivo poderio, e cobrem uma pequena extensão do país de mais assassinos mercenários do que Gengis-Khan, Tamcrlão, Bajazé arrastariam consigo. Dois povos muito afastados ouvem dizer que haverá guerra e cinco ou seis sous diários a ganhar, se nela quiserem tomar parte; dividem-se logo em dois bandos, como os ceifeiros, e vão vender seus serviços a quem quiser empregá-los. Esses grupos se empenham uns contra os outros, não somente sem ter interesse em jogo, mas sem saber do que se trata. Vêem-se, por fim, cinco ou seis potências beligerantes, ora três contra três, ora duas contra quatro, ora uma contra cinco, detestando igualmente umas às outras, unindo-se e atacando cada uma por sua vez, todas de acordo num único ponto: o de fazer o maior mal possível.

A maravilha desse empreendimento infernal é que cada chefe de matadores faz benzer bandeiras e invoca Deus solene mente antes de ir exterminar o próximo.

Filósofos moralistas, queimai todos os vossos livros. Enquanto o capricho de alguns homens fizer estrangular lealmente os nossos irmãos, a parte do género humano consagrada ao heroísmo será o que há de mais horroroso na natureza humana. Que me importa a humanidade, a bondade, a modéstia, a temperança, a doçura, a sabedoria, a piedade? que é feito de tudo isso, quando meia libra de chumbo atirada de seiscentos passos me arrasa o corpo e morro aos vinte anos em tormentos inexprimíveis, em meio de cinco ou seis mil moribundos, enquanto meus olhos, a brindo-se pela última vez, vêem a cidade onde nasci destruída a ferro e fogo e os últimos sons a me chegarem aos ouvidos são gritos de mulheres e crianças expirando sob ruínas, tudo pelos pretensos interesses de um homem que não conhecemos!

Fonte: Clássicos Jackson. Trad. De Brito Broca

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