Silvio Romero sobre Manuel de Araújo Porto-alegre

Silvio Romero (Lagarto, 21 de abril de 1851 — 18 de junho de 1914) – História da Literatura Brasileira

Vol. III. Contribuições e estudos gerais para o exato conhecimento da literatura brasileira. Fonte: José Olympio / MEC.

TERCEIRA ÉPOCA OU PERÍODO DE TRANSFORMAÇÃO ROMÂNTICA — POESIA (1830-1870)

CAPITULO II – continuação

PRIMEIRA FASE DO ROMANTISMO: O EMANUELISMO DE GONÇALVES DE MAGALHÃES E SEU GRUPO

Manuel de Araújo Porto Alegre (1806-1879). — Este escritor ainda não foi bem estudado. Coberto de exagerados elogios pela velha crítica do país, alçado ao sétimo céu por Fernandes Pinheiro e Wolf, não é diretamente conhecido pelo público. Sabe-se que foi autor de uma coleção de versos sob o título de Brasilianas e de um enorme poema em dous volumes sobre Colombo. Hoje a idéia geralmente aceita é a de ser esse homem a encarnação da poesia prosaica, empolada, campanuda. Entretanto, é preciso rever estes juízos e estudar o amorável rio-gran-dense com doçura e imparcialidade.

E um tal estudo não é fácil, como à primeira vista se pode supor.

Araújo Porto Alegre teve uma vida trabalhosa e exercida em mais de uma atividade. Foi pintor, arquiteto, poeta lírico, poeta épico, dramatista e crítico. Seus produtos de pintor e de arquiteto estão quase esquecidos.

Não são de uma grandeza que se imponha; o selo da mediania é neles irrecusável. Os principais dentre todos são: um Hércules na fogueira, um retrato de D. Pedro I, o quadro da fundação da Academia das Belas-Artes, a antiga decoração do teatro de S. Pedro de Alcântara, a galeria da Sagração de D. Pedro II, o plano da igreja de SanfAna e do Banco do Brasil. O desenho é bom; a pintura de pouca vida, e a arquitetura sem audácias e sem originalidade.

Os ensaios de Porto Alegre para o teatro são também de pequena monta. Não assim os produtos do lirista, do épico e do crítico.

Por eles é que o ilustre rio-grandense é um imortal para este país. É onde vai ser o centro de minhas apreciações. A biografia do autor do Colombo vem muito bem traçada em Fernando Wolf, sobre apontamentos fornecidos pelo próprio escritor. Darei uns ligeiríssimos toques.

Porto Alegre nasceu em Rio Pardo, no Rio Grande do Sul, em 1806; estudou Humanidades na capital da província. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1826. Estudou Pintura com João Batista Debret; viajou a Europa de 1831 a 37. De volta ao Brasil residiu no Rio de Janeiro até 1859.23 Neste ano abraçou a carreira consular na Europa, onde morreu, em 1879, vinte anos depois.

23. Le Brésil Littéraire, págs. 169 e segs.
24. Brasilianas, Viena, 1863, Observação.

 

Para bem compreender a vida intelectual de Porto Alegre e assistir à sua evolução íntima, é mister recorrer às datas de suas obras.

A pintura foi seu ponto de partida; a escola das Belas-Artes serviu-lhe de aprendizado (1826-1828). Seus primeiros quadros são de 1829 e 30. Isto foi passageiro; de 1835 em diante a poesia, a crítica, a literatura em geral, são a sua principal preocupação.

Em 1836 redige com Magalhães e Torres Homem a pequena revista Niterói em Paris; aí aparecem um estudo sobre a Música no Brasil, um artigo de viagem sobre os Contornos de Nápoles, e o Canto Sobre as Ruínas de Cumas.

O Prólogo Dramático é de 1837; os primeiros artigos sobre a escola fluminense da pintura de 1841; Angélica e Firmino de 1843; deste ano são O Voador e diversos artigos de crítica artística publicados na Minerva Brasiliense.

A Destruição das Florestas é de 1845; o Corcovado de 1847, a Estátua Amazônica de 1848.

Estas datas não vêm a esmo; servem bem para marcar o lugar do escritor em nossa literatura e determinar os degraus de sua evolução intelecto-emocional.

Geralmente se repete que Porto Alegre foi um discípulo subserviente de Magalhães, por um lado, e por outro, o pai intelectual de Gonçalves Dias. Erro e erro nocivíssimo. O próprio poeta era o primeiro a colocar-se assim por aquele modo incorretamente. No prólogo de suas Brasilianas declara ser discípulo e continuador de Magalhães e dá a entender que influiu noutros poetas: "O nome Brasilianas, que dei a este livrinho, provém das primeiras tentativas que se estamparam há vinte anos na Minerva Brasiliense, e da intenção que tive; a qual me pareceu não ter sido baldada, porque foi logo compreendida por alguns engenhos mais fecundos e superiores, que trilharam a mesma vereda.

"Assim, pois, esta pequena coleção não tem hoje outro merecimento além do de mostrar que também desejei seguir e acompanhar o Sr. Magalhães na reforma da arte, feita por ele em 1836, com a publicação dos Suspiros Poéticos, e completada em 1856 com o seu poema da Confederação dos Tamoios."24

Não há contestar uma tal ou qual influência de Magalhães no espírito de Porto Alegre, quanto às tendências gerais da poesia.

Uma influência oriunda das relações da amizade e nada mais.

Porto Alegre era talento muito diverso e muito mais bem dotado. Tinha mais objetividade intelectual, mais imaginação, maior profusão de linguagem, mais colorido, mais vida em suma.

Em Porto Alegre predominava o talento descritivo, em Magalhães um filosofismo impertinente que lhe inspirava declamatórias tiradas.

De resto, os dois amavam-se muito e citam-se nos respectivos poemas. Pode-se dizer que o poeta rio-grandense pertencia ao cenáculo de Magalhães, mas "entrava em perfeito pé de igualdade.

Filosofia Grega – Noções de Filosofia

Escola de Atenas de Rafael Sanzio

12. A FILOSOFIA NA GRÉCIA — "O pequeno território da Hélade foi como o berço de quase todas as idéias que na filosofia, nas ciências, nas artes e em grande parte nas instituições vieram incorporar-se à civilização moderna" (13). Providencialmente situado entre o Oriente asiático e a Europa ocidental, liberalmente aquinhoado pela natureza de eminentes dotes espirituais — fantasia criadora e raro poder de generalização — dotado de instituições sociais e políticas que estimulavam a iniciativa individual, o povo grego recolheu os materiais das grandes civilizações, que al-voreceram nos impérios da Ásia, trabalhou-os com o seu espírito sintético e artístico e, com eles, elevou este grandioso e soberbo monumento de cultura, objeto de imitação e admiração dos séculos posteriores.

A filosofia, sobretudo, medrou na Grécia como em terra nativa. Seus grandes gênios dominaram as gerações pelo vigor incontestável do pensamento. Pode mesmo afoitamente afirmar-se que não há, no campo da especulação, teoria moderna que não encontre o seu germe nas idéias de algum pensador grego.

Este grande movimento filosófico, que abrange um período de mais de dez séculos, segue a princípio uma direção centrípeta. Parte das numerosas colônias gregas da Itália e da Ásia Menor e converge para Atenas. Neste foco de cultura atinge, no século de Péricles, o fastígio de sua perfeição, para daí dispersar-se mais tarde e irradiar pelo mundo helenizado, fundindo-se e modificando-se em contato com as idéias cristãs e com outras correntes intelectuais do pensamento.

O Mito e a Filosofia

Mircea Eliade, em sua obra “História das Crenças e das Idéias Religiosas” nos dá uma boa indicação do porque do desenvolvimento da filosofia na Antiga Grécia. Segundo Eliade, a religião grega sempre foi um politeísmo, no qual os deuses tinham comportamento parecido aos dos homens; os mesmos desejos, impulsos e emoções, com a diferença de que eram imortais. A religião grega, pelas suas características, nunca chegou a ser uma religião estritamente normativa e ligada a um povo específico (os gregos também dividiam muitos deuses com outros povos), como o foram a religião egípcia e a judaica.

Os gregos nunca tiveram um Livro dos Mortos ou um Decálogo. Todavia, os relatos dos bardos – entre eles os mais famosos Homero e Hesíodo – influenciaram a cultura grega da mesma forma

A RELIGIÃO E O RISO

maravilhas das antigas civizações

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Ricardo Rose para o curso de Licenciatura Plena em Filosofia no Centro Universitário Claretiano.

A idéia de escrever este ensaio sobre o tema da religião e do riso
me ocorreu há cerca de um ano, quando assisti no Youtube a um vídeo do
humorista americano George Carlin, falecido por aquela época. No filme, Carlin
faz uma engraça crítica à religião (Religion is bullshit -Religião é
besteira
), que arrancou muitas gargalhadas da audiência em Nova York. Ator,
humorista e comediante, George Carlin (1937­2008) sempre foi um grande crítico
do “American way of living” (o jeito americano de viver). Ridicularizava
o excessivo patriotismo dos americanos, seu impulso consumista e até o
exagerado engajamento ambiental. O maior alvo de Carlin, no entanto, sempre
foram as religiões; em tudo o que elas têm de autoritário, obscurantista e
fanático. O comediante era um ardoroso defensor da democracia, da liberdade
individual e dos valores seculares.

[…]
O trabalho A religião e o riso, abordará o tema
inicialmente em sua dimensão propriamente dita, descrevendo o significado do
riso e sua relação com a religião ao longo do tempo. O período considerado
neste estudo vai aproximadamente da Pré-História ao Renascimento, já que é
neste espaço de tempo que a influência da religião sobre as sociedades é mais
acentuada. O texto, entretanto, não esgota o assunto; apresenta apenas alguns
fatos e análises que caracterizaram a relação do riso com a religião durante
este período histórico.

Em seguida, serão descritos
alguns aspectos da relação entre a religião e o riso, sob ponto de vista
filosófico e cultural. É fato que pouquíssimos filósofos se ocuparam
especificamente do fenômeno do riso, menos ainda do riso em relação à religião,
o que fez com que as fontes de pesquisa para este trabalho fossem bastante
reduzidas e tivessem que ser encontrados subsídios em um universo bibliográfico
mais amplo e não dirigido exclusivamente para este tema. Assim, o estudo se
vale das contribuições de filósofos e escritores que abordaram o assunto da
religião sob um aspecto crítico, mas que também olharam além do simples
fenômeno religioso, tentando apontar-lhe outros significados. A análise
filosófica e cultural, todavia, não coincidirá necessariamente com os períodos
históricos focados, já que as informações disponíveis sobre a história da
religião e da filosofia, no que se refere ao riso, não são necessariamente de
períodos históricos coincidentes.

Ao
final o estudo apresenta uma conclusão, na qual se pretende demonstrar que a
crítica da religião, seja através do riso ou da argumentação, longe de ter como
alvo principal a divindade e sua instituição é, na realidade, um estudo crítico
da sociedade e do homem. Examinar o fenômeno religioso, seja sob que aspecto
for – inclusive o riso – é analisar o homem e sua cultura, tentando entendê-los
através de uma abordagem diferente.

A FILOSOFIA DO HELENISMO E DO IMPÉRIO ROMANO – História da Filosofia Antiga

mapa roma itália

Na
época helenística, consuma-se um processo histórico espiritual, cujo resultado
ainda é importante para a nossa moderna concepção da Filosofia: a evolução da
Filosofia no sentido de uma ciência especial. No período pré-socrático, o
filósofo era tudo: cientista, médico, técnico, político e sábio. A Academia e o
Perípato abrangem, como organizações científicas, a totalidade do saber. Mas já
no antigo Perípato. vemos que as ciências particulares absorviam a atividade
total de todo um homem, e lhe davam a sua fisionomia espiritual, embora êle
ainda filosofasse no sentido da antiga sabedoria. No período helenístico as
ciências particulares se desmembram em disciplinas independentes. Nascem
centros próprios de investigação, onde essas ciências são cultivadas ex
professo:
Alexandria, Antioquia, Pérgamo, Rodes. Mas a Filosofia se
pronuncia apenas sobre as grandes questões que Platão e Aristóteles tinham
indicado como propriamente filosóficas: a lógica, a ética e a metafísica. Exatamente
por isso essas questões são aprofundadas e se transformam em mundividências. Ocupa-se a Filosofia com o homem como tal e, nesses tempos tão incertos,
revoltos pelas guerras de Alexandre e dos Diadocos, busca ela a salvação e a
felicidade no homem interior, o que já não podem proporcionar as relações
externas, a sonharem sempre novas grandezas, para criarem, apenas, em lugar
delas, ruínas sobre ruínas. Por isso prepondera nessa época o papel da ética.
Ela deve, ao mesmo tempo, exercer a função outrora desempenhada pelo mito
religioso. Êste se dissipa cada vez mais, sendo substituído pelo pensamento
racional. O estoicismo e o empirismo despertam novas preocupações psíquicas e
atuam sobre círculos mais vastos, muito mais do que o puderam a Academia e o
Perípato. As "mundividências", uma vez constituídas,
funcionam como centros de cristalizagão, formando–se nos tempos do helenismo
marcantes centros escolásticos, típicos desta época: o Pórtico e o Jardim de
Epicuro; ao lado das já existentes escolas da Academia e do Perípato.