A cachoeira de Paulo Afonso

A cachoeira de Paulo Afonso
Afonso Celso.

Os Americanos do Norte têm imenso orgulho da sua catarata lo Niágara, que Chateaubriand qualificou — uma coluna d’água tio dilúvio.

O Brasil possui maravilha igual, senão superior, — a cachoei­ra de Paulo Afonso.

Encontra-se nesta tudo quanto naquela encanta, apavora, e maravilha.

E’ a mesma enorme massa líquida a rolar de vertiginosa [1]) altura em fervilhante2) precipício: o mesmo estrondo, repercutin­do, em prodigiosa distância; a mesma trepidação3) dos arredores, • como que a prenunciar um terremoto; o mesmo abismo continua­mente trovejante, formigando de espumas e do qual se elevam nu vens de alvos vapores, cortados de arco-íris permanentes; a mes­ma imagem turbilhonante4) do caos[2]); — produzindo tudo a mesma impressão, a princípio confusa e aterradora, depois extraordinária, miraculosa, sublime, paj^^^^menos um espetá­culo do que portentosa visão.

cachoeira de paulo afonso

Porém Paulo Afonso oferece mais selvagem poesia e maior variedade de aspectos do que o Niágara.

O Rio São Francisco, que a forma, desfila, antes de chegar a cia, no meio de um dédalo [3]) de ilhas, ilhotas, recifes, pedras iso­ladas, de surpreendente efeito pitoresco.

De súbito, apertada entre colossais muralhas graníticas, di vide-se a torrente, para o salto tremendo, em três gigantescos braços,—quatro no tempo da cheia, — separados por estranhos grupos de rochedos, enquanto múltiplos jactos copiosos e independentes, entrechocam-se no ar, projetando em tôdas as direções, flecha? irisadas, flocos argênteos, nevoeiros diamantinos, poeira úmida..

Transposto o estreito canal, continua o rio seu curso, oitenta metros abaixo, no fundo da voragem, com violência, rapidez e im­petuosidade indizíveis, despenhando-se ainda em pequenas cachoei­ras, fumegante, retorcendo-se em vascas desesperadas, espadanan­do, pulando, borbulhando, com rufos, estouros, brados surdos, for­midáveis e ininterruptos mugidos.

Não há vivente que caindo ali não sucumba. O penhasco em que sé acha o observador parece agitar-se, tremer, prestes a fugir com a correnteza. E’ o verdadeiro inferno das águas de que fala Byron [4]).

O Niágara, cujas quedas são apenas duas, longe está de osten­tar as singularidades, os contrastes, e profusão de quadros de Paulo Afonso, que dir-se-ia modificar-se e mudar de posição todos os dias.

E, além de Paulo Afonso, admiram-se no Brasil muitas outras cachoeiras, rivais do Niágara que, tão bastas como as suas ondas, atraem visitantes do mundo inteiro.

Tais por exemplo, o salto do Avanhandava, o de Santa Maria, o de Iguaçu, o de Itapura, o de Sete Quedas ou Guaíra, o de Pirapora, o de Jequitinhonha, o de Itu, todos assombrosos de majesta­de, fôrça e beleza. Afonso Celso.

Fonte: Seleta em Prosa e Verso dos melhores autores brasileiros e portugueses por Alfredo Clemente Pinto. (1883) 53ª edição. Livraria Selbach.


[1]

[2] caos — confusão, desordem.

[3] dédalo de ilhas — labirinto, grande número de ilhas separadas

[4] Byron — (pronuncia-se Báiron), notável poeta inglês (1768-1824).

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