BOCAGE – Biografia e Poemas

MANUEL MARIA BARBOSA DU BOCAGE, Setúbal (1765-1805)
partiu como guarda-marinha para a Índia e de lá se escapou para Lisboa,
onde tomou o nome de Elmano Sadino e granjeou suma popularidade pela
melodia de seus versos e pasmosa faculdade de improvisar.

Foi uma vez preso por divulgar idéias ímpias e sediciosas, e cantou
a palinódia em poesias mais sinceras, pois que neste boêmio, como depois
o chamariam, havia momentos de verdadeira piedade.

Exímio sonetista, escreveu igualmente fábulas, cantatas, sátiras, epi-
gramas e verteu com suma felicidade trechos latinos, italianos e franceses.

Sonetos de Bocage

DEUS

Os milhões de áureos lustres coruscantes
Que estão da azul abóbada pendendo,
O sol, e a que ilumina o trono horrendo
Dessa que anima os ávidos amantes;

As vastíssimas ondas arrogantes,
Serras de espuma contra os céus erguendo,
A lêda fonte humilde o chão lambendo,
Lourejando as searas flutuantes;

O vil mosquito, a próvida formiga,
A rama chocalheira, o tronco mudo,
Tudo que há Deus a confessar me obriga;

E para crer num braço autor de tudo,
Que recompensa os bons, que os maus castiga,
Não só da fé, mas da razão me ajudo. (744)

DOÇURA DA VIDA CAMPESTRE

Nos campos o vilão (745) sem sustos passa,
Inquieto na corte o nobre mora;
O que é ser infeliz aquele ignora,
Este encontra nas pompas a desgraça;

Aquele canta e ri, não se embaraça
Com essas coisas vãs que o mundo adora;
Este (oh! cega ambição!) mil vezes chora,
Porque não acha bem que o satisfaça.

Aquele dorme em paz no chão deitado;
Este no ebúrneo leito precioso
Nutre, exaspera velador cuidado.

Triste, sai do palácio majestoso;
Se hás de ser cortesão, mas desgraçado,
Antes sê camponês e venturoso!

RESIGNAÇÃO DO SÁBIO

Em sórdida masmorra aferrolhado,
De cadeias aspérrimas cingido,
Por ferozes contrários perseguido,
Por línguas impostoras criminado;

Os membros quase nus, o aspecto honrado
Por vil boca, e vil mão, roto e cuspido,
Sem ver um só mortal compadecido
Do seu funesto, rigoroso estado;

O penetrante e bárbaro instrumento
De atroz, violenta, inevitável morte
Olhando já na mão do algoz cruento:

Inda assim não maldiz a iníqua sorte,
Inda assim tem prazer, sossego, alento,
O sábio verdadeiro, o justo, o forte.

UM CONDENADO À MORTE

Ao crebro som (746) do lúgubre instrumento
Com tardo pé caminha o delinqüente;
Um Deus consolador, um Deus clemente
Lhe inspira, ,lhe minora o sofrimento.

Duro nó pelas mãos do algoz cruento
Estreitar-se no colo o réu já sente;
Multiplicada a morte, anseia a mente,
Bate horror sobre horror no pensamento.

Olhos e ais dirigindo à Divindade,
Sobe, envolto nas sombras da tristeza,
Ao termo expiador da iniqüidade.

Das leis se cumpre a salutar dureza;
Sai a alma dentre o véu da humanidade,
Folga a justiça e geme a natureza!

CONTRIÇÃO

Meu ser evaporei na lida insana
Do tropel das paixões que me arrastava;
Ah! cego, eu cria, ah! mísero, eu pensava
Em mim quase imortal a essência humana.

De que inúmeros sóis a mente ufana
A existência falaz me não doirava!
Mas eis sucumbe a natureza escrava
Ao mal que a vida em sua origem dana.

Prazeres, sócios meus, e meus tiranos!
Esta alma, que sedenta em si não coube,
No abismo vos sumiu dos desenganos.

Deus, ó Deus! Quando a morte a luz me roube,
Ganhe um momento o que perderam anos,
Saiba morrer o que viver não soube.

  • (744) — ajudar-se de ou com z= valer-se, servir-se, pedir ajuda ou auxílio.
  • (745) vilão está aí no bom sentido originário, de habitante da vila, aldeão. Como se sabe, este termo sofreu deturpação de sentido.
  • (746) crebro = repetido, freqüente, amiudado; adjet. poético, do lat. crebru-.
    Superlat. crebrérrimo, pouco empregado. Em Os Lusíadas apenas uma
    vez:
    "Crebros suspiros pelo ar soavam" (IX, 32).

 


Seleção e Notas de Fausto Barreto e Carlos de Laet. Fonte: Antologia nacional, Livraria Francisco Alves.

 

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