- Nascimento de Eumene. Filipe prende-o a seu serviço.
- Êle passa ao serviço de Alexandre.
- Desgostos que êle sofre.
- Quinhão de Eumene depois da morte de Alexandre.
- Êle uni-se a Pérdicas.
- Pérdicas estabelece-o na Capadócia.
- Eumene organiza enorme corpo de cavalaria.
- Êle obtém a vitória, num combate contra Neoptolemo.
- Êle recusa a proposta que Antipater lhe faz de abandonar Pérdicas para se unir a Crátero e a êle.
- Crátero marcha contra Eumene.
- Sonho de Eumene.
- Trava-se o combate; Crátero é morto.
- Duelo entre Eumene e Neoptolemo. Este é morto.
- Eumene é condenado à morte pelos macedônios.
- Como êle paga o soldo às suas tropas.
- Cuidados que elas dispensam à sua pessoa.
- Êle manda enforcar um traidor que o fizera perder um combate
- Como êle impede que seus soldados furtem a bagagem do exército de Antígono.
- Êle retira-se para a cidade de Nora.
- Entrevista de Eumene com Antígono.
- Assédio de Nora por Antígono.
- Como Eumene exercita em acanhado espaço seus homens e cavalos.
- Acordo entre Antígono e Eumene.
- Eumene recebe cartas que o obrigam a seguir para a Macedónia.
- Como Eumene acalma o ciúme de Antígena e de Teutamo.
- Manejos no exército de Eumene para suplantá-lo.
- Como êle se livra da má vontade de seus invejosos.
- Grande confiança dos soldados macedônios na habilidade de Eumene. Êle vence um combate contra Antígono.
- "Outro" encontro em que a presença de sua liteira faz Antígono retirar-se.
- Estratagema com que Eumene detém a marcha de Antígono.
- Êle é nomeado único general.
- Antígena e Teutamo conspiram assassiná-lo.
- Eumene desbarata o exército de Antígono
- Covardia de Peucestas que dá a Antígono vantagem de outro lado.
- Eumene é entregue a Antígono.
- Discurso de Eumene a seu exército
- Como é tratado por Antígono.
- Êle mata-o à fome.
- CONFRONTO ENTRE EUMENE E SERTÓRIO
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Plutarco – Vidas Paralelas VIDA DE EUMENE
BIOGRAFIA DE EUMENES DE CARDIA – Εὐμένης, General Grego
Do ano 395 até o ano 439 de Roma, antes de Jesus Cristo 315.
Nascimento de Eumene. Filipe prende-o a seu serviço.
O historiador Duris escreve que Eumene, natural da cidade de Cárdia, na Trácia, era filho de um carreiro, que, devido à sua pobreza, levava-o de carroça à península da Trácia, o que não impediu que ele se tornasse bastante conhecedor das letras e dos deveres pessoais. Era ainda criança, quando o rei Filipe da Macedónia, passando casualmente pela cidade de Cárdia, desprovido de qualquer preocupação, resolveu assistir à luta entre os rapazes e crianças da cidade. Eumene portou-se tão bem e tão cavalheiro, tão ágil e tão generoso que cativou-se dele e levou-o consigo. Dizem, no entanto, que Filipe assim procedeu em sinal de amizade e reconhecimento a seu pai, em cuja casa se hospedara.
Êle passa ao serviço de Alexandre.
II. Depois da morte de Filipe, ele conservou-se sempre às ordens do rei Alexandre, seu filho, por quem sempre foi considerado homem ajuizado e mais fiel a seu soberano do que qualquer outro. E, se o chamavam chanceler ou primeiro secretário, era porque o rei dispensava-lhe tantas e tão grandes homenagens como aos seus maiores e melhores amigos. Na viagem às índias o rei fê-lo seu tenente numa conquista, em que mandou-o como comandante-chefe de um exército, e obteve o governo da província administrada por Pérdicas, que substituiu Efestião, depois do seu falecimento. Como Neopto-lemo, primeiro escudeiro, depois da morte de Alexandre alegasse ao conselho dos nobres macedônios que havia acompanhado e servido o rei com escudo e lança, ao passo que Eumene fizera-o com papel e pena, os nobres zombaram dele, pois sabiam que, entre outras grandes homenagens recebidas por Eumene, o rei concedera-lhe a de torná-lo seu parente pelo matrimônio. A primeira senhora de quem Alexandre se aproximou na Ásia, com a qual teve um filho que denominou Hércules, foi Barsina, filha de Artabazo. Das duas irmãs desta, a chamada Apama ele casou com Ptolomeu, e a outra, também denominada Barsina, com Eumene, quando ele distribuiu em casamento, a seus amigos e fidalgos da corte, as mulheres persas.
Desgostos que êle sofre.
III. Apesar disso, ele caiu diversas vezes no desagrado do rei Alexandre, e correu grande risco, devido a Efestião, que seguindo o exemplo do rei, alojou um dia Évio, flautista, que os criados de Eumene haviam retido e tomado como seu professor. Eumene, indignado, seguido de um outro indivíduo, chamado Mentor, foi ter com Alexandre e vociferou que melhor seria jogar fora as armas e aprender a tocar flauta e a representar tragédias, já que davam mais valor a- tais indivíduos do que aos que carregavam arneses às costas. No momento Alexandre indignou-se e condenou Efestião. Logo depois, porém, mudando de atitude, ele censurou severamente Eumene, por ter-se utilizado do nome de Efestião para pôr em relevo a sua,bravura e audácia. De outra vez, desejando Alexandre que Nearco fosse com sua esquadra descobrir as costas do Oceano, e não se achando no momento provido de dinheiro, pediu-o emprestado a todos os seus amigos, inclusive a Eumene, a quem solicitou trezentos talentos. Eumene só lhe ofereceu cem, alegando que os conseguira a custo dos seus cobradores. Alexandre nada disse; não permitiu que se recebesse tal quantia, e ordenou a alguns dos seus oficiais que ateassem fogo à tenda de Eumene, para poder chamá-lo de mentiroso, quando o visse carregar todo o seu ouro e prata. Disto se arrependeu Alexandre, porque a tenda ficou completamente queimada antes que pudessem transportar qualquer coisa, sendo destruídos todos os documentos e cartas. Extinto o fogo, encontraram-se ali mais de mil talentos de ouro e prata fundidos, dos quais Alexandre não se aproveitou. Quanto aos documentos destruídos, ordenou a todos os seus tenentes, comandantes e governadores de todas as regiões que lhe remetessem cópias de todas as cartas enviadas a Eumene até então, porque os originais haviam sido queimados, e mandou que Eumene as guardasse. De outra vez Eumene discutiu acerbamente com Efestião, devido a certa concessão que lhe fora feita, dirigindo-se ambos muitos desaforos e palavras ofensivas. O rei, no momento nada disse, nem lhe demonstrou pior caia do que já lhe apresentava. Pouco depois, porém, repassado de dor pela morte de Efestião, a quem tanto bem ele queria, carregou o sobrecenho e falou asperamente a todos os que ele sabia terem inveja de Efestião em vida, por julgá-los muito satisfeitos com a sua morte, e de modo especial a Eumene, de quem ele muito suspeitava, e a quem diversas vezes reprovou os insultos que lhe dirigira. Mas ele, que estava atento, e sabia receber a carranca e a linguagem como o exigiam as circunstâncias e o momento, procurou garantir-se de modo bem diferente de quem procurou arruiná-lo. Estudando o meio de satisfazer a vontade a Alexandre, que só procurava honrar a memória de Efestião o mais suntuosamente possível, apresentava-lhe novos planos de homenagens para enaltecer a memória do defunto, fornecen-do-lhe liberalmente dinheiro para os funerais e para fazer-lhe erguer suntuosa sepultura.
Quinhão de Eumene depois da morte de Alexandre.
IV. Depois da morte do rei Alexandre houve discórdias entre os soldados de infantaria macedônios e os fidalgos mais achegados ao rei, nas quais Eumene aderiu de fato e voluntariamente ao partido dos fidalgos da corte, declarando, porém, preferir conservar-se neutro e amigo de ambas as partes, porquanto, na sua qualidade de estrangeiro, não devia intrometer-se nas questões dos macedônios.
Como os outros fidalgos se tivessem ausentado de Babilônia, ele, conservando-se a postos, acalmou extraordinariamente grande parte dos soldados, tor-nando-os mais dóceis e obedientes a seus senhores, o que permitiu que estes e os comandantes, depois de discutirem e eliminarem as suas primitivas discórdias, repartissem o governo das províncias que denominavam Satrápias, recebendo Eumene a Capadócia, a Paflagônia e toda a costa abaixo do mar Pôntico, até à cidade de Trapezúncia, que então não pertencia ao império macedónico, pois Ariarates mantinha-a sob seu domínio. Falava-se, entretanto, que Leonato e Antígono iriam apoderar-se delas, para si, com um grande exército.
Êle uni-se a Pérdicas.
V. Todavia, Antígono depois não ligou importância ao que Pérdicas lhe escrevera, pois havia arquitetado coisas fantásticas, capazes de desfazer tudo quanto lhe apresentassem. Leonato foi à Frigia, empreendendo esta conquista em atenção a Eumene. Mas, nem bem se pôs a caminho, Hecateu, tirano dos cardianos, foi-lhe ao encontro, pedindo-lhe que fosse antes socorrer Antipater e outros macedônios, sitiados na cidade de Lâmia. Por mais que ele invejasse Leonato, vendo-o pronto para se ir embora, procurou torná-lo benquisto de Eumene e reconci-liá-lo com Hecateu, pois eles não se davam, devido a uma desavença havida entre os pais destes por causa do governo da cidade. Muitas vezes Eumene acusara-o publicamente, diante do rei Alexandre, qualificando-o de tirano e pedindo" ao rei que restituísse a liberdade aos cardianos. E, recusando-se Eumene a guerrear os gregos, por considerar Antipater de há muito seu inimigo e recear que, devido ao seu velho rancor, e para galardoar Hecateu, o que ele buscava era a sua morte, Leonato abriu-se com ele, manifestando-lhe toda a sua intenção, que era a de fingir transpor o mar para socorrer Antipater, mas na realidade para apoderar-se do reino da Macedónia. E mostrou-lhe algumas cartas de Cleópatra, pedindo-lhe que fosse à cidade de Pela, onde ela o desposaria. À vista disso, ou porque de fato receasse Antipater, ou porque duvidasse da sinceridade de Lenonato, que sabia ser impetuoso e imprudente, certa noite Eumene reuniu os trezentos soldados de cavalaria e duzentos de infantaria que lhe restavam, e, levando os seus haveres em ouro, num total de cinco mil talentos, fugiu para junto de Pérdicas, a quem contou os desejos de Leonato, merecendo por isso a maior consideração, sendo chamado ao conselho.
Pérdicas estabelece-o na Capadócia.
VI. Pouco depois, à frente de um grande exército sob seu comando, Pérdicas levou-o à Capadócia. Ariarates foi feito prisioneiro; e Eumene, tornado governador do país, entregou as boas cidades ao cuidado de seus amigos, fornecendo-lhes guarnições e comandantes, e nomeando juízes, recebedores, administradores e mais agentes indispensáveis e que julgou necessários, sem qualquer interferência de Pérdicas. Contudo Eumene partiu com ele, não só para cortejá-lo como para não separai-os reis. Pérdicas, porém, certo de que sozinho alcançaria bom resultado no empreendimento que tinha em vista, e calculando que o que ele deixava necessitava de um homem de ação e de juízo, em cuja palavra pudesse confiar, ao chegarem à Cilicia fez Eumene voltar, alegando ser indispensável ao governo da região, mas, na verdade, para proteger o reino da Armênia, confinante com a Capadócia, onde Neoptolemo, às ocultas, fazia enredos e tramava alguma traição. Embora Neoptolemo fosse por natureza pretensioso e altivo, estudou o meio de contê-lo e de impedir que agisse de qualquer modo, por meio de agrados e conselhos.
Eumene organiza enorme corpo de cavalaria.
VII. Por fim, vendo que o ataque da infantaria macedónia tornara-se extraordinariamente audacioso e atrevido, êle enfrentou-a com poderosa força de cavalaria. Para tal conseguir, isentou de todas as contribuições os habitantes da região capazes de servir na cavalaria, comprou numerosos cavalos, que distribuiu aos mais achegados e de sua inteira confiança, incutindo-lhes coragem, por meio de dádivas e honrarias que concedia aos que bem cumpriam o seu dever; para adestrá-los, e torná-los insensíveis à dor, removia-os continuamente de um lugar para outro. Alguns fidalgos macedônios ficaram pasmos, ao passo que outros julgaram-se mais garantidos, ao verem que, por este meio, ele conseguiu, em pouco tempo, reunir seis mil e trezentos cavaleiros.
Êle obtém a vitória, num combate contra Neoptolemo.
VIII. Mais ou menos nesse tempo, depois de subjugarem os gregos, Crátero e Antipater passaram com seu exército à Ásia, para arrumar o estado e o poder de Pérdicas, correndo a notícia de que não tardariam a invadir a Capadócia. Achando-se Pérdicas empenhado em guerra contra Ptolomeu, nomeou Eumene comandante-geral, com plenos poderes sobre todos os guerreiros, seus partidários, tanto na Capadócia como na Armênia, e escreveu a Neoptolemo e a Alceias que obedecessem a Eumene e o deixassem agir livremente. Alcetas respondeu-lhe francamente que não seria visto nesta guerra, portanto os macedônios que se achavam sob suas ordens envergonhavam-se de pegar em armas contra Antipater, e não só se negavam a fazê-lo contra Crátero como haviam deliberado tomá-lo como comandante, devido ao grande afeto que lhe consagravam. Quanto a Neoptolemo, bem vontade tinha êle de praticar alguma traição e de por Eumene em má situação, pois, quando sob suas ordens, em lugar de obedecer, dispôs sua gente em posição de combate, para atacá-lo. Foi quando Eumene colheu o primeiro fruto de sua previdência e da cavalaria que preparara para enfrentar a infantaria macedónia, pois venceu e pôs Neoptolemo em fuga, apoderando-se de toda a sua bagagem. Isto feito, atacou os macedônios, dispersos por toda a parte; e, apanhando-os em desordem, obrigou-os a depor as armas e a render-se além de prestar-lhe juramento de fidelidade e de acompanhá-lo na guerra, onde quer que ele os levasse.
Êle recusa a proposta que Antipater lhe faz de abandonar Pérdicas para se unir a Crátero e a êle.
IX. Neoptolemo reuniu certo número de fugitivos, indo ter com Crátero e Antipater, que mandaram pedir a Eumene que se colocasse a seu lado, sob condição de não só desfrutar os países e províncias que lhe foram outorgados, como outras que lhe cederiam, e forças, tornando-se assim bom amigo de Antipater, ao invés de inimigo como até então. Eumene respondeu que, tendo sido sempre inimigo de Antipater, não podia de repente tor-nar-se-lhe amigo, vendo-o tratar seus amigos do mesmo modo que aos inimigos; mas que estava disposto a restabelecer a amizade entre Crátero e Pér-dicas, sob condições iguais, justas e razoáveis, prestando-lhes todo o auxílio, enquanto tivesse um sopro de vida.
Crátero marcha contra Eumene.
X. Levada esta resposta a Antipater, todos se reuniram em demorado conselho, para deliberar, quando chegou Neoptolemo, que lhes fora ao encontro, após a sua derrota. Contou-lhes como se dera o combate, e pediu-lhes instantemente que o socorressem, todos, se possível ou por meio de Crátero, muito amado e desejado principalmente pela infantaria macedónia, pois tinha certeza que, nem bem lhe vissem o chapéu e lhe ouvissem a voz, todo correriam alegremente a render-se a ele. Crate era muito reputado entre os macedônios, principal mente entre as forças armadas, que, depois da morte de Alexandre, desejavam-no como comandante Isto porque, defendendo sem cessar os usos e costu mes macedônios, incorrera no desagrado do rei Alexandre, propenso aos hábitos e afetações dos reis da Pérsia. Devido a isso, Crátero mandou Antipa-ter à Cilicia, e ele, com Neoptolemo e a maior parte do exército, seguiu contra Eumene, certo de apanhá lo desprevenido e em desordem, a festejar desenfrea damente a sua recente vitória.
Sonho de Eumene.
XI. Mas Eumene, comandante ajuizado e atento, dispusera tão bem seus afazeres que foi prevenido a tempo da chegada de seu inimigo e manteve o exército a postos e pronto para defender-se. A sua habilidade no caso foi tão grande que os inimigos não só nada souberam do que pretendiam como mataram Crátero no campo da luta, antes de saberem contra quem iriam lutar. O seu trabalho foi perfeito, não há dúvida, próprio de um grande e excelente comandante; e, para produzir o resultado desejado, usou do seguinte artifício: fez constar em todo o exército que Neoptolemo e Pigres voltavam contra ele, com cavaleiros capadócios e paflagonia-nos, juntados em toda parte. Tendo decidido partir à noite, foi acometido de sono; e, dormindo, teve uma visão muito esquisita, pois pareceu-lhe ver dois
Alexandres prepararem-se para um mútuo ataque, com soldados de infantaria dispostos à Macedónia. Quando eles se entrechocaram, a deusa Minerva foi em socorro de um, e Ceres em auxílio de outro. Depois de lutarem bastante, o favorito de Minerva foi derrotado. Ceres, então, colheu espigas de trigo, com as quais fez uma coroa que entregou ao vencedor. Eumene achou que o sonho dizia-lhe respeito e prometia-lhe a vitória, por lutar em favor de uma província especializada na cultura do trigo, onde os trigueirais abundavam em toda parte, dando à vista um aspecto muito agradável. Esta suposição tornou-se mais acentuada, quando ele soube que os inimigos haviam dado à sua gente, como palavras de combate, Minerva e Alexandre. Dando, então, aos seus, as de Ceres e Alexandre, ordenou-lhes que cada um fizesse uma coroa de espigas de trigo e a pusesse à cabeça, e enrolasse festões em seu bastão. Várias vezes ele esteve a ponto de declarar aos seus comandantes mais fiéis contra quem iriam combater, por não confiar unicamente em si, guardando disto o maior segredo. Todavia evitou fazê-lo, conservándole firme em sua primeira resolução, deixando que os perigos atuassem só no pensamento. Ao travar-se o combate, ele não colocou um único macedónio contra Crátero, e sim duas companhias de guerreiros estrangeiros, comandados por Farna-bazo, filho de Artabazo, e Fênix, o Tenediano, aos quais ordenou terminantemente que, logo que defrontassem os inimigos, os atacassem, sem lhes dai tempo de falar ou de se retirar, e sem dar ouvidos aos arautos e trombetas, por ter certeza que os macedônios, reconhecidos a Crátero, nunca se volta riam contra ele. A seguir, colocou-se na extremidade direita dos combatentes, com trezentos guer reiros, que constituíam a elite de todo o seu exército, no ponto em que devia enfrentar Neoptolemo.
Trava-se o combate; Crátero é morto.
XII. Depois de transporem uma pequena barreira existente entre os dois contendores, segundo o que lhes fora ordenado, os de Eumene puseram s< logo a galope ao encontro de seus inimigos. À vista disso, Crátero ficou pasmo, amaldiçoando e injuriando Neoptolemo, que o iludira, declarando-lhe que os macedônios passariam para seu lado, nem bem dessem com ele ali. Todavia, pediu aos que o rodeavam que, naquele dia, se portassem honestamente, e, sem demora, deu de esporas contra seus inimigos. Este primeiro choque foi bastante vigoroso e árduo de parte a parte, sendo logo inutiliza das todas as lanças e azagaias. Ordenando a seus homens que desembainhassem as espadas, a lula prosseguiu, e Crátero não desonrou a memória de Alexandre naquele dia, pois matou -muitos inimigos que o rodeavam e repeliu valentemente os que se achavam à sua frente. Por fim um guerreiro tra ciano aproximou-se dele, desferindo-lhe um golpe que o jogou ao chão. Um dos comandantes de Eumene, chamado Górgia, reconheceu-o e colocou guerreiros junto dele, para protegê-lo. Crátero, porém, fora gravemente ferido e caminhava a passos largos para a morte.
Duelo entre Eumene e Neoptolemo. Este é morto.
XIII. Do outro lado, Eumene e Neoptolemo, que de há muito se votavam ódio de morte, buscavam-se um ao outro. Nas duas primeiras passagens, eles não se puderam encontrar; na terceira, porém, nem bem se reconheceram, esporearam os cavalos um contra o outro, empunhando as espadas e emitindo grandes gritos. Os animais toparam, como se fossem duas galeras armadas que se entrechocassem; e os dois comandantes, largando as rédeas, agarram-se, procurando arrancar os capacetes, um do outro, e inutilizar as correias que lhes prendiam as couraças aos ombros. Durante a luta os cavalos jogaram-nos ao chão e fugiram, continuando os dois a lutar corpo a corpo. Neoptolemo foi o primeiro a levantar-se; mas, nem bem o fez, Eumene cortou-lhe o jarrete, e pôs-se logo de pé. Apoiando-se no outro joelho, por não poder manter-se na perna ferida, Neoptolemo defendeu-se o melhor que pôde contra Eumene, que se mantinha de pé, sem poder desferir-lhe o golpe mortal, por que ansiava. Eumene, entretanto, despejou-lhe um na garganta, que estendeu-o ao chão; e, ardendo em raiva pelo antigo ódio que lhe votava, começou a despi-lo e a insultá-lo, não reparando que Neoptolemo ainda conservava a espada, com a qual feriu-lhe o órgão genital. O golpe, porém, causou-lhe mais medo do que mal, porque Neoptolemo já se achava sem forças quando o feriu, e faleceu a seguir.
Eumene é condenado à morte pelos macedônios.
XIV. Vendo que Neoptolemo apresentava os braços e as coxas crivados de golpes, Eumene arrependeu-se de havê-lo despido. Montou a cavalo, e dirigiu-se para o outro extremo da lula, esperando ainda ali encontrar seus inimigos. Prevenido que Crátero fora mortalmente ferido, partiu às pressas para o lugar em que êle se achava, encon-trando-o ainda com vida, não tendo ainda perdido completamente a razão. Derramando sentidas lágrimas, tomou-lhe a mão direita, maldizendo Neoptolemo, que o obrigava a combater um dos seus mais caros amigos, para fazê-lo sofrer um golpe tão cruel. Eumene venceu este segundo combate dez dias depois do primeiro, adquirindo grande fama, por haver derrotado um dos seus adversários por bom senso e o outro por bravura. Isto mesmo provocou grande inveja e malquerença entre os seus inimigos e os próprios partidários, quando consideraram que êle, estrangeiro, com as armas e as mãos dos mace-dônios, derrotara o maior e mais querido dos seus comandantes. Se a sorte tivesse permitido que Pér-dicas fosse prevenido mais cedo da morte de Crátero, ter-se-ia tornado, sem dúvida, o maior personagem de todos os macedônios. Infelizmente, porém, dois dias depois de haver sido Pérdicas morto por um levante de seus guerreiros no Egito, chegou a notícia da vitória de Eumene e da morte de Crátero, pondo os macedônios tão indignados contra Eumene, que o condenaram à morte e encarregaram Antígono e Antipater de executar esta vingança.
Como êle paga o soldo às suas tropas.
XV. Tendo Eumene percorrido o monte Ida, onde havia uma das coudelarias do rei, apoderou-se de quantos cavalos quis, levando-os consigo, dando como garantia, aos coudéis, uma declaração escrita. Antipater, dizem, desandou a rir ao saber disto, declarando, em ar de gracejo, que se admirava que Eumene houvesse fornecido tal documento e esperasse que lhe dessem ou pedissem contas dos bens do rei. Sendo o mais forte em cavalaria, e desejando mostrar a Cleópatra o valor do seu exército, Eumene decidiu combater nas grandes planícies da Lídia, próximo à capital de Sardis. Todavia, a pedido dela mesma, que temia ser obrigada a agir por Antipater, ele decidiu dirigir-se à Frigia, onde invernou na cidade de Celena. Ah, Polemão, Alcetas e Docimo declararam-se ambiciosamente contra ele, quanto à superintendência do exército, considerando-se com igual direito ao comando supremo. Eumene respondeu-lhes: "E bem verdade o que geralmente se diz: ou se arrisca a perder tudo, ou não se liga às ameaças". Tendo prometido aos soldados pagá-los dentro de três dias, para cumprir a sua palavra vendeu-lhes as quintas, as correções e os castelos provinciais, com o gado e as pessoas ali existentes. Feita a aquisição, o comandante ou chefe de tropa apoderava-se à força do que fora adquirido, com armas que Eu-mene lhes fornecia. Conquistada a propriedade repartiam entre os soldados os bens que nela encontravam, de acordo com o que lhes fosse devido.
Cuidados que elas dispensam à sua pessoa.
XVI. Esta esperteza de Eumene reconduziu-o logo às boas graças de sua gente, e de tal modo que um dia, sendo encontrados em seu acampamento alguns bilhetes que seus inimigos mandaram espalhar, prometendo grandes vantagens e cem talentos a quem matasse Eumene, os macedônios que se achavam sob suas ordens ficaram muito indignados e deliberaram que, dali em diante, ele teria sempre ao seu dispor mil dos seus guerreiros mais valentes, que não se afastariam dele, para escoltá-lo e vigiá-lo durante a noite, revezando-se uns aos outros, prestando-lhe as mesmas honras que os reis da Macedónia costumavam tributar aos seus amigos, sendo-lhe permitido dar, a quem bem lhe parecesse, chapéus e mantos de púrpura, os donativos mais preciosos que o rei podia fazer na Macedónia.
Êle manda enforcar um traidor que o fizera perder um combate
XVII. Indivíduos há que, bafejados pela sorte ou por ela conduzidos a elevado grau de prosperidade, se tornam algumas vezes magnânimos, embora não o sejam por natureza. Os que o são na realidade, como Eumene, melhor o demonstram na adversidade, não se curvando nem sucumbindo às aflições. Tendo perdido um combate contra os orcinianos, na Capadócia, devido à traição de um dos seus homens, e sendo perseguido, Eumene tanto perseguiu o traidor que o apanhou, mandando-o enforcar no acampamento. Depois de haver fugido durante algum tempo, voltou de repente; e, retomando seu caminho um pouco de flanco, ao contrário dos que o perseguiam, passou sorrateiramente por eles, sem ser percebido, e tanto andou que voltou ao mesmo ponto em que se ferira o combate. Assentou ali seu acampamento, fez recolher os corpos dos seus guerreiros mortos, colocando os dos comandantes de um lado e os dos soldados de outro, queimando-os com os batentes, portas e janelas que mandou arrancar cm todas as aldeias e vilas dos arredores, cobrindo-os depois com grande quantidade de terra. Voltando também para lá pouco depois, Antígono admirou-se extraordinariamente da sua audácia e confiança.
Como êle impede que seus soldados furtem a bagagem do exército de Antígono.
XVIII. Ao partir dali, ele encontrou a bagagem de Antígono em lugar onde pode, sem risco e sem dificuldade, aprisionar numerosos criados e libertos, e apoderar-se de todas as riquezas que haviam acumulado ém todas as lutas, nas regiões e cidades por eles saqueadas. Receou, porém, que seus homens se sobrecarregassem de despojos, tornando-se tão pesados que não pudessem fugir, e incapazes de suportar durante muito tempo o sacrifício de andar errantes de um lado para outro, e no qual ele esperava chegar ao fim da guerra, certo de que Antígono se enfadaria de persegui-lo tão longamente e se dirigiria para outro lado. Êle bem via, porém, ser impossível impedir que os macedônios se apoderassem o mais possível dos bens que tão bela presa lhes oferecia. Por isso, recomendou-lhes que primeiro alimen tassem seus cavalos e depois se apoderassem da bagagem de seus inimigos. Ao mesmo tempo mandou um mensageiro secreto prevenir Menander, encarre gado de vigiar e conduzir tal bagagem, que se afas tasse sem demora da planície para a montanha pró xima, inacessível à cavalaria, onde não o poderiam cercar, e que se fortificasse, cientificando-o que assim agia atendendo à amizade e familiaridade que outrora unira. Vendo o risco que corria, Menander movimentou-se sem demora, com toda a bagagem e seus condutores. Eumene mandou então, publicamente, que os batedores fossem sondar o terreno e o vulto da bagagem, para poder agir, e ordenou à sua gente que se armasse e bridasse os cavalos, mantendo-se pronta para ir ao encontro dos inimigos. De volta de sua missão, os batedores declararam ser impossível apanhar ou atacar Menander, porque fugira para um lugar tão acidentado que qualquer tentativa para agarrá-lo seria inútil. Eumene fingiu-se muito aborrecido, e afastou dali seu exército. Tendo Menander comunicado o fato a Antígono, os mace-dônios do seu exército louvaram extraordinariamente Eumene, devotando-lhe maior afeição, porque, estando em suas mãos levar-lhes os filhos como escravos e submeter-lhes as mulheres à sanha dos soldados, poupara-os. Antígono, no entanto, para afugentar-lhes tal idéia, dizia-lhes; "Vós vos iludis, meus amigos. Não foi em atenção a vós que Eumene não se apoderou de vossas mulheres, de vossos filhos e de vossos bens, e sim por temer que lhe entravassem a fuga apressada".
Êle retira-se para a cidade de Nora.
XIX. Ao partir dali, sempre adiante de An-tígono, e vagando pelos campos, Eumene aconselhou a muitos dos seus soldados que se retirassem para suas casas, seja porque realmente lhes quisesse garantir os bens que possuíam, ou por considerá-los poucos para sustentar um combate e muitos para acompanhá-lo na fuga. Por fim acolheu-se à praça forte de Nora, nos confins da Licaônia e da Capadócia, com quinhentos cavaleiros e duzentos soldados de infantaria, muito bem armados; dispensou do serviço os que lhe pediram, para que não fossem obrigados a suportar a natureza incômoda do local e a falta de víveres e de outras provisões, se o sítio se prolongasse demasiadamente, o que fez com boas palavras e vivas demonstrações de carinho.
Entrevista de Eumene com Antígono.
XX. Dias depois Antígono chegou à praça, e antes de sitiá-la, mandou pedir a Eumene que fosse falar-lhe em confiança. Eumene respondeu-lhe que Antígono tinha em seu exército muitos amigos que podiam representá-lo, ao passo que ele não tinha a quem pudesse confiar tal tarefa, isto é, confiar o comando das forças, durante a sua ausência. Assim, se Antígono desejava que êle fosse falar-lhe, precisava mandar-lhe, como garantia, alguns dos seus melhores amigos. Como Antígono insistisse, alegando ser justo que o atendesse, dada a sua condição de superior e mais forte, Eumene respondeu: "Eu nunca considerei qualquer homem superior a mim, enquanto de posse de minha espada". Tendo Antígono satisfeito à exigência, mandando como garantia seu próprio sobrinho Ptolomeu, Eumene atendeu ao convite. À sua chegada, ambos se cumprimentaram e abraçaram afetuosamente, como faziam outrora, quando se estimavam como verdadeiros amigos. Ao tratarem dos seus afazeres, muita sujeira veio à baila, não temendo Eumene que a sua franqueza lhe pudesse custar a vida. E acabou pedindo que aprovassem as suas administrações e lhe restituíssem o que lhe haviam dado e lhe fora arrebatado. Os que testemunharam este encontro ficaram pasmos, e melhor lhe admiraram a generosidade e o destemor. Durante a entrevista, os macedônios acorreram de todas as partes do acampamento, para ver que espécie de homens era este Eumene, porquanto, depois da morte de Crátero, não houve comandante de quem mais se falasse entre os soldados macedônios. Antígono, porém, temendo que lhe fizessem algum mal, ordenou-lhes em voz alta que se retirassem, e fê-los apedrejar, para impedir que se aproximassem. Por fim, foi obrigado a afastá-los à força, valendo-se dos seus guardas, e a tomar Eumene nos braços, custando bastante a reconduzi-lo são e salvo ao acampamento.
Assédio de Nora por Antígono.
XXI. Depois deste encontro Antígono fez rodear de muralhas toda a fortaleza de Nora, deixando ali gente suficiente para continuar o sítio, e partiu com o resto do exército. Eumene permaneceu sitiado naquela praça, onde havia abundância de água, sal e trigo, mas não de alimentos que despertassem o apetite ou que pudessem ser utilizados como pão. No entanto, com o que ele possuía, mantinha satisfeitos os sitiados, pois fazia-os comer alternadamente em sua mesa, tratando-os com sincera e alegre familiaridade, repartindo com eles o que de bom possuía em comida e bebidas. O que ele mais procurava era mostrar-se sempre alegre, no que era ajudado pela meiguice e beleza do rosto, próprias de um moço de vida despreocupada e alegre, e não de um guerreiro inteiramente entregue às armas e aos trabalhos de guerra. Era tão proporcionado que o melhor artista seria incapaz de produzir trabalho de membros mais perfetos que os dele. O seu falar, longe de ser áspero e autoritário, era afável e atraente, como no-lo demonstram as suas ordens escritas.
Como Eumene exercita em acanhado espaço seus homens e cavalos.
XXII. O que mais prejudicava os sitiados era a pequenez da praça, que não tinha mais de um oitavo de légua de circunferência, e na qual estavam alojados em cubículos tão acanhados que mal podiam mover-se, e eram obrigados a alimentar-se sem fazer o menor exercício. O mesmo acontecia com os cavalos. Desejando Eumene livrá-los da tortura que a inércia produz aos indivíduos habituados ao trabalho, e tê-los alertos e prontos para fugir ao primeiro sinal, se a sorte lhes apresentasse uma oportunidade, cedeu aos homens a maior sala ah existente, de quatorze côvados de comprimento, para passearem nela, acon-selhando-os a marchar apressadamente no início e a seguir diminuir pouco a pouco os passos. Quanto aos cavalos, fazia-os cilhar a um por vez, e depois, amarradas às vigotas as rédeas e as polés, fazia-os erguer um pouco, de modo a se firmarem nas patas traseiras e apenas roçarem as pontas das dianteiras ao chão. Uma vez assim suspensos, os estribeiros incita vam-nos por detrás com gritos e chicotadas. Os cava los, enfurecidos, espinoteavam, procurando firmar as patas dianteiras ao Isolo, que apenas conseguiam raspar, e muito de leve. Deste modo não havia nervo que não se distendesse e não trabalhasse, pois eles ofegavam e espumavam extraordinariamente. Depois deste ótimo exercício, que os revigorava e tornava mais ágeis na corrida, davam-lhe cevada descascada, para que melhor a ruminassem e digerissem.
Acordo entre Antígono e Eumene.
XXIII. Este sítio já havia demorado muito, quando Antígono soube da morte de Antipater na Macedónia e que o reino se achava convulsionado, devido às intrigas secretas e sedições de Cassander e de Polipercon. À vista disso Antígono, que cobiçava a posse de todo o império macedónio, quis ter Eume ne como amigo, para ajudá-lo a realizar o seu desejo, e mandou Jerônimo ao seu encontro, para estabelecer com êle as condições de paz, e para entregar-lhe a fórmula do juramento que queria que se fizesse. Eumene não quis jurá-la como se achava; corrigiu-a, e disse que se cingia à vontade dos macedônios que o sitiavam, para que escolhessem Antígono ou quem ele havia corrigido na fórmula, porque, a que Antígono lhe enviara, no começo apenas fazia leve referência ao sangue real, como por descuido; quanto ao mais, submetia-o de modo particular ao seu juízo. Eumene, porém, colocou em primeiro lugar Olímpia, mãe do rei Alexandre, depois os reis seus filhos, e a seguir jurou que seria amigo dos amigos e inimigo dos inimigos, não só de Antígono como dos reis e de Olímpia, coisa que os macedônios que sitiavam Nora acharam muito razoável. E assim, depois de haverem feito Eumene prestar juramento, levantaram o sítio e mandaram a fórmula a Antígono, para que também a jurasse. Isto feito, Eumene devolveu aos capadócios as contribuições que lhes exigira quando entrara em Nora, e os que foram buscá-las deram-lhe, em paga, cavalos de guerra, colchões de crina, tendas e pavilhões.
Eumene recebe cartas que o obrigam a seguir para a Macedónia.
XXIV. Deste modo êle começou a reunir sua gente dispersa depois da derrota, e em poucos dias juntou mais de mil soldados de cavalaria, com os quais fugiu, por temer ainda Antígono. E procedeu sensatamente, porque Antígono não só havia ordenado que continuassem a sitiá-lo e o mantivessem mais cercado que nunca, como censurou duramente os macedônios que aceitaram a emenda da fórmula. Durante a sua fuga, ele recebeu cartas dos que se acha vam na Macedónia, pedindo-lhe que fosse para lá, apreensivos do aumento do poder de Antígono; de Olímpia, suplicando-lhe que fosse assumir a tutela e defesa do filhinho de Alexandre, que haviam con denado a morte; e de Polipercon e do rei Filipe ordenando-lhe que guerreasse Antígono com o exér cito e forças existentes na Capadócia, e que, como indenização do que lhe haviam arrebatado, retirasse quinhentos talentos do dinheiro do rei, existente na cidade de Cinda, bem como o que fosse necessário ao custeio da guerra. Também escreveram a Antí gena e a Teutamo, os dois comandantes dos argi ráspides, isto é, dos escudeiros de prata ou prateado velhos guias do exército de Alexandre.
Como Eumene acalma o ciúme de Antígena e de Teutamo.
XXV. Recebidas as cartas, estes comandan tes elogiaram muito Eumene, mostrando-lhe feição alegre. Êle, porém, percebeu facilmente a inveja que lhes ia nalma, por se julgarem mais dignos de comandá-lo do que de lhe estarem subordinados, e portou-se ajuizadamente, deixando de levantar o di nheiro que lhe fora oferecido, como se dele não necessitasse. Isto para afastar-lhes a inveja. Quanto à ambição e vaidade de não quererem ser por êle comandados, embora não soubessem comandar nem obedecer, venceu-os incutindo-lhes esta superstição: fê-los crer que Alexandre apresentou-se-lhe em sonho, mostrou-lhe uma bandeira magnificamente enfeitada, própria de um rei, contendo um trono, e declarou-lhe que, sempre que os três quisessem obter seus conselhos, êle ali estaria e os ajudaria em todas as circunstâncias, desde que acatassem as suas determinações. Crentes disto, Antígena e Teutamo ache garam-se de Eumene, e, de comum acordo, os três fizeram erguer um pavilhão no local em que se reuniam para deliberar sobre os casos de maior gravidade, denominando-o pavilhão de Alexandre.
Manejos no exército de Eumene para suplantá-lo.
XXVI. Feito isto, seguiram para províncias elevadas, indo juntar-se a eles, pelo caminho, Peucestas, grande amigo de Eumene, e outros sátrapas, com os guerreiros que possuíam. Isto aumentou extraordinariamente o exército dos nobres macedô-nios quanto ao número de homens, quanto ao brilho das armas e dos aprestos, não já quanto à qualidade dos guerreiros, que, depois da morte de Alexandre, não tendo quem os comandasse, tornaram-se voluntariosos, devassos, efeminados e arrogantes, animados pelas vaidades e frivolidades dos bárbaros. Achan-do-se então numerosamente reunidos, não se puderam tolerar uns aos outros, e começaram a agradar e adular desonestamente os velhos soldados macedô-nios, dando-lhes dinheiro e promovendo-lhes banquetes e festas de sacrifícios. Assim, em pouco tempo eles transformaram o acampamento numa taverna de intemperança e de toda sorte de devassidão, onde os fidalgos compravam a estima dos guerreiros, para serem por eles eleitos chefes de todo o exército, tal como se faz com os votos dos eleitores nas cidades livres, onde o povo elege soberanamente os pretendentes aos cargos e honrarias dos negócios públicos.
Como êle se livra da má vontade de seus invejosos.
XXVII. Eumene percebeu logo que tais fidalgos sátrapas não se toleravam, que o temiam e desconfiavam dele, e que só aguardavam o momento oportuno para matá-lo. Para precaver-se, fingiu necessitar dinheiro, e pediu grande quantia emprestada ao que sabia que mais o detestavam, para que dali em diante confiassem nele e deixassem de vigiá-lo, receosos de perder o dinheiro emprestado. Deste modo, o dinheiro alheio serviu-lhe de guarda e garantia à vida. O que não se dá geralmente com os outros, que põem a vida em segurança fornecendo dinheiro.
Grande confiança dos soldados macedônios na habilidade de Eumene. Êle vence um combate contra Antígono.
XXVIII. Enquanto os soldados macedônios não tiveram pela frente inimigos temerosos, a sua única preocupação era correr para junto dos que os gratificavam, tendo em vista fazerem-se eleger comandantes supremos. E, apresentando-se-lhes pela manhã, ao levantar, cortejavam-nos e seguiam-nos em toda parte. Mas, quando Antígono achegou-se o mais possível deles, e fortificou-se, à frente de grande e poderoso exército, e os fatos mostraram claramente a necessidade de um bom cabo de guerra, não só os soldados, como todos os sátrapas, que em tempo de paz ostentavam grandeza, correram para Eumene, submetendo-se voluntária e passivamente às suas ordens. Como Antígono experimentasse todos os meios de atravessar o rio Pasitigris, os sátrapas colocados em diversos pontos para impedi-lo sentiram logo o efeito de sua ação, e só Eumene conseguiu enfrentá-lo e atacá-lo, enchendo o rio de cadáveres, e fazendo quatro mil prisioneiros.
"Outro" encontro em que a presença de sua liteira faz Antígono retirar-se.
XXIX. Estes soldados das velhas legiões melhor evidenciaram o conceito que faziam dele e dos outros, durante a moléstia que o atacou, declarando que os outros forneciam-lhes hospedagens e agradavam-nos extraordinariamente, mas só Eumene era digno de ser seu comandante, e de ordenar. Por lhes haver dado um grande banquete no reino da Pérsia, e um carneiro a cada soldado, para sacrificar, Peucestas esperava ter adquirido grande conceito e reconhecimento entre eles. Dias depois, nem bem o exército se pôs em marcha ao encontro do inimigo, Eumene foi subitamente acometido de grave moléstia, fazendo-se transportar numa liteira, bem longe do acampamento, porque o barulho não o deixava descansar. Não haviam percorrido grande distância, quando deram de frente com os inimigos, que transpondo as colinas que os separavam, desciam à planície. Ao verem no alto da colina o reluzir das armas inimigas sob os raios do sol, a boa ordem com que marchavam, os elefantes com suas torres, e os guerreiros com os saios de púrpura, que usavam sobre os arneses, quando saíam em busca dos inimigos, para combater, os que iam à frente pararam imediatamente, e gritaram que chamassem Eumene para conduzi-los, pois não avançariam se o não tivessem como chefe. Isto dizendo, pararam no bosque, jogaram os escudos ao chão, declarando aos seus comandantes que de modo algum se moveriam dali, nem combateriam, se Eumene não se achasse presente para dirigi-los. Sabedor disto, Eumene foi ter com eles apressando os escravos que carregavam sua liteira; e, fazendo-a abrir e descobrir completamente, estendeu a mão direita aos soldados, dando-lhes a entender que sentia-se muito feliz do bom conceito que faziam dele. Nem bem o viram, eles saudaram-no na língua macedónia, e retomaram seus escudos, batendo neles com suas lanças, aos gritos, dizendo que os inimigos podiam aparecer quando entendessem, que eles os enfrentariam, pois seu comandante achava-se ali, a dirigi-los. Antígono, que soubera, pelos prisioneiros, haverem seus companheiros sustado a marcha e as escaramuças, por achar-se Eumene gravemente enfermo e precisar ser carregado numa liteira, achou que, à vista disso, pouco teria a fazer para vencer os restantes, e abstinha-se o mais possível de atacá-los. Quando, porém, aproximou-se de modo a poder ver nitidamente a ordem e capacidade dos inimigos, muito bem dispostos para o combate, ficou admiradíssimo e bastante irritado. Percebendo ao longe a liteira de Eumene, que carregavam de um lado para outro, pôs-se a rir com estardalhaço, como de costume, e, dirigindo-se aos amigos, disse-lhes: "Creio ser aquela liteira que nos move guerra e nos desafia à luta". Mandou tocar a recolher, e reconduziu sua gente ao acampamento.
Estratagema com que Eumene detém a marcha de Antígono.
XXX. Repostos um pouco do seu medo, os macedônios voltaram de repente ao habitual modo de agir, os sátrapas a cabalar e a adular os soldados, e estes a agir com bravura e audácia, contra a vontade dos comandantes. Quando conseguiram alojamentos para invernar, espalharam-se por quase toda a província dos gabenianos, havendo, dos primeiros aos últimos alojamentos, uma distância aproximada de sessenta e duas léguas. Sabedor disto, Antígono decidiu correr sobre eles, o que fez pelo caminho mais curto, porém, acidentado e sem água, certo de que, nada suspeitando, e achando-se tão dispersos, os comandantes não os pudessem reunir com a devida rapidez. Nem bem se pôs em marcha por aquela região áspera e deserta, foi surpreendido por ventos tão violentos e frio tão rigoroso que seus homens foram obrigados a deter-se, para prover-se de elementos indispensáveis à luta contra a injúria do tempo. Estes elementos não passaram de grandes fogueiras, que preveniram os inimigos da sua chegada, porquanto os bárbaros residentes nas montanhas que dão para os desertos, pasmos de ver tantas fogueiras na planície, serviram-se de camelos de corrida e mandaram mensageiros prevenir Peucestas, que se achava mais perto, e que ficou atônito, sem saber o que fazer. Vendo seus companheiros tão apavorados como ele, começou a fugir, levando consigo todos os que encontrava pelo caminho. Eumene, porém, acalmou a todos, prometendo-lhes deter e retardar a inesperada surpresa dos inimigos, fazendo-os chegar três dias depois do que eles desejavam, no que foi acreditado. Eumene determinou então aos seus comandantes, por meio de mensageiros, que reunissem e levassem sem demora seus soldados a um lugar por êle referido. Depois, foi com outros comandantes escolher um local apropriado para acampar, que pudesse ser visto do alto das montanhas que deviam ser galgadas por quem percorresse o deserto. Crivou-o de trincheiras, dividiu-o em quarteirões, e mandou acender fogueiras distanciadas, como é uso nos acampamentos. Nem bem fora isto feito, Antí-gono apareceu no cimo das montanhas, e ficou bastante aborrecido, porque calculou que seus inimigos de há muito haviam sido prevenidos da sua chegada e tomado a dianteira. E, receando entrar em luta, com forças surradas de cansaço pela travessia do deserto, contra inimigos bem dispostos e descansados, resolveu voltar com seu exército pela zona povoada, repleta de grandes cidades e boas vilas, para descanso das forças, que se achavam bastante fatigadas.
Êle é nomeado único general.
XXXI. Notando, porém, que não o importunavam e não lhe preparavam emboscadas, como sempre acontece quando dois exércitos acham-se achegados e, sabendo, pelos habitantes da planície, não haver passado por ali outro exército além do seu, Antígono calculou que Eumene lhe pregara um logro e seguiu indignado para o lugar onde supunha encontrá-lo, sem fazer uso de despistamentos, decidido a atacá-lo de frente e a submeter-se à sorte de um combate decisivo. Entrementes, devido à grande estima que lhe tributavam, e a confiança que tinham em seu bom senso e capacidade, a maior parte do exército de Eumene colocou-se a seu lado, exigindo que só ele fosse considerado comandante supremo e só ele emitisse ordens.
Antígena e Teutamo conspiram assassiná-lo.
XXXII. Isto desagradou imenso os dois comandantes dos argiráspides, Antígena e Teutamo, que invejosos ao extremo, tramaram a sua morte, e se reuniram em conselho com muitos sátrapas e comandantes dos argiráspides, Antígena e Teutamo, como deviam matá-lo. A maioria dos que participaram do conselho foi de opinião que ainda deviam servir-se dele para dirigir o combate, e que só depois disto é que devia ser morto. Assentado isto, Eudamo, capitão dos elefantes, e outro chamado Fedimo, foram ocultamente ter com Eumene, e contaram-lhe o que se tramara contra ele naquela assembléia; o que fizeram não por afeição ou pelo desejo de conquistar-lhe a amizade, e sim pelo receio de perder o dinheiro que lhe haviam emprestado. Eumene ficou-lhes muito grato e louvou-lhes a lealdade, indo depois contar o caso aos seus amigos de maior confiança, terminando-o com estas palavras: "Como vêem, estou rodeado de um bando de selvagens e de animais ferozes". A seguir escreveu seu testamento, e rasgou e queimou todas as cartas de caráter reservado e documentos que tinha em seu poder, para que, depois de sua morte, os que lhe haviam relatado alguns segredos não viessem a sofrer.
Eumene desbarata o exército de Antígono
XXXIII. Tendo ordenado todos os seus negócios particulares, êle se pôs a refletir se devia fazer perder a luta e tornar os inimigos vitoriosos, ou fugir para a Média e a Armênia, na Capadócia. Durante a sua reflexão êle não ofereceu o menor estorvo à atuação dos seus amigos; pelo contrário, embora o mal que o acometera o desaconselhasse, êle resolveu combater; e, dispondo o exército em pé de guerra, pediu e exortou os estrangeiros, tanto gregos como bárbaros, a cumprirem fielmente o seu dever, deixando de fazer o mesmo aos macedônios, por serem todos velhos é experimentados soldados das conquistas do rei Filipe e de seu filho Alexandre, nunca vencidos, e cuja idade ia dos sessenta aos setenta anos. Eis porque, chegado o momento de atacar com maior energia, eles gritaram aos soldados macedônios comandados por Antígono: O péssimos rapazes, como atacais assim a vossos pais?" E, lançando-se sobre eles com uma coragem incrível, derrotaram toda a companhia, sendo a maior parte morta no campo da luta, em ataque fulminante.
Covardia de Peucestas que dá a Antígono vantagem de outro lado.
XXXIV. O exército de Antígono foi completamente derrotado neste lugar. Mas, onde se achava a gendarmeria, ele obteve vantagem, devido à cobardia de Peucestas, que naquele dia portou-se muito mal, de modo que Antígono apoderou-se de toda a sua bagagem, agindo acertadamente no maior do perigo, auxiliado pela natureza do terreno, uma planície muito larga e extensa, mais ou menos acidentada, coberta de areia tão fina que, revolvida pelos milhares de homens e cavalos durante a luta, erguia ao ar grande nuvem de poeira, que turvava o ar e ofuscava a vista. Isto permitiu que Antígono se apoderasse facilmente da bagagem dos inimigos, sem que eles percebessem.
Eumene é entregue a Antígono.
XXXV. Tendo o combate produzido tal resultado, Teutamo mandou sem demora pedir a Antígono que lhe devolvesse a bagagem que retirara do seu acampamento, obtendo a resposta de que não só devolveria os bens aos argiráspides, como os trataria o melhor possível em todas as outras coisas, se lhes entregassem Eumene. Os argiráspides tomaram então a infeliz resolução de entregá-lo vivo às mãos dos seus mortais inimigos. Por isso, aproximaram-se dele, sem dar-lhe a menor demonstração de que iriam tocá-lo. Para fazê-lo crer que ah se achavam unicamente para vigiá-lo e defendê-lo, como de costume, uns lamentavam a perda de seus bens; outros aconselhavam-no a não amofinar-se, porquanto havia vencido o combate; e outros, ainda, atribuíam à cobardia dos sátrapas de sua confiança não terem obtido completa vitória. Por fim, um deles arrebatou-lhe a espada, e os outros agarraram-no e algemaram-no. Ciente disto, Antígono mandou Nicanor buscá-lo e levá-lo à sua presença. E então, tendo êle pedido permissão para falar às hostes dos velhos soldados macedônios, durante todo o seu trajeto por elas, garantindo que nada lhes pediria nem aconselharia capaz de afastá-los do seu desígnio e chamá-los a si, ela lhe foi concedida.
Discurso de Eumene a seu exército
XXXVI. Feito silêncio, Eumene subiu a um barranquinho, e começou a dizer, estendendo os pulsos algemados: "Homens perversos e desleais, os piores que nasceram até hoje na Macedónia. Que triunfo, que grande vitória obteve Antígono sobre vós, para conseguir que lhe entregueis vosso comandante preso e algemado? Não vos sentis envergonhados de ceder as honras da vitória a vosso inimigo, em paga de alguns rebanhos que êle vos havia tomado? Agora praticais a maior das indignidades, dando-lhe vosso comandante, em troca da devolução de vossa bagagem. Quanto a mim, embora me conduzam algemado, continuo a ser vencedor invencível de meus inimigos, vendido pelos que deveriam ser os meus maiores amigos. Peço-vos encarecidamente, suplico-vos em nome de Júpiter, protetor dos exércitos, e como homenagem aos deuses encarregados da guarda dos juramentos de fidelidade, que me mateis neste momento, neste lugar, ao invés de consentirdes que eu seja morto por mão inimiga, no acampamento de Antígono. Êle não se agastará convosco, porquanto pede Eumene morto e não vivo. Se não desejais empregar vossas mãos em tal serviço, soltai-me uma só, que eu mesmo me encarregarei de fazê-lo. Se receais dar-me uma espada, jogai-me, então, de mãos e pés amarrados às feras, e eu não só vos perdoarei, como vos declararei plena e religiosamente quites da fidelidade que jurastes a vosso comandante".
Como é tratado por Antígono.
XXXVII. Quando Eumene terminou de falar, todo o resto do exército teve grande dó dele e derramou sentidas lágrimas. À vista disso, os argi-ráspides gritaram que o levassem e não mais se parasse para ouvir-lhe as lamúrias, porquanto era justo que tão péssimo queroneso fosse castigado como merecia, pelos desserviços que lhes havia prestado e pelos tormentos a que submetera os macedô-nios com uma guerra sem-fim; que não era justo que os homens mais valentes que os reis Filipe e Alexandre tiveram ao seu serviço, tendo gasto a vida toda em lutas e sofrimentos, perdessem, na velhice, os lucros e recompensas a que fizeram jus, por havê-lo agarrado, e fossem obrigados a mendigar e a esquecer-se que suas mulheres foram obrigadas a dormir três noites com os inimigos. Dizendo isto, levaram-no sem demora ao acampamento de Antígono, que, para evitar que a multidão que corria para vê-lo o sufocasse, pois não ficara ninguém no acampamento, mandou dez elefantes dos mais possantes, e boa força de medos e partanos, para abrir espaço e evitar a pressão. Ao chegar ao acampamento, êle não se sentiu com ânimo de vê-lo em estado tão lastimável, porque no passado foram muito amigos. Entretanto, os que foram encarregados de vigiá-lo, indagaram-lhe como desejava que o fizessem: "Como se fora um leão ou um elefante", respondeu-lhes Antígono. Mas depois, compadecido, fê-lo aliviar das correntes mais pesadas e mandou um dos seus criados cuidar dele, e permitiu que seus amigos o visitassem e lhe levassem vitualhas. Antígono consumiu muitos dias para resolver como agir, ouvindo quanto lhe diziam e prometiam, encarregando Nearco, o Candioto, e seu filho Demétrio de responderem por êle, e de salvarem-lhe a vida, em oposição aos outros fidalgos e comandantes que opinavam pela sua morte.
Êle mata-o à fome.
XXXVIII. Durante esta indecisão, Eumene perguntou um dia a Onomarco, encarregado de vigiá-lo: "Que espera Antígono, tendo às mãos seu inimigo, que o não mata de uma vez ou não o livra magnánimamente?" Onomarco respondeu-lhe grosseiramente não ser aquele o momento oportuno para mostrar-se valente e não temer a morte, coisas que só deviam ser demonstradas em combate. Eumene respondeu-lhe: "Pergunte aos que estiveram ligados a mim se algum dia tive medo ou se encontrei alguém mais forte e mais valente que eu". Onomarco retrucou: "Tendo agora encontrado um mais forte, porque não esperas a hora que mais lhe agrade?" Resolvendo, afinal, tirar-lhe a vida, An-tígono ordenou que não lhe dessem mais de comer e de beber. Chegando, porém, avisos para abandonarem depressa o acampamento, antes de partir mandaram um homem matá-lo. Antígono permitiu que os amigos de Eumene se apossassem do corpo, que o queimassem, e que remetessem as cinzas e os ossos à sua mulher e filhos. Findando assim, Eumene, seus dias, os deuses incumbiram o próprio Antígono de castigar a deslealdade dos argiráspides e de seus comandantes para com seu chefe, fazendo-o desprezá-los como cruéis assassinos, desleais e perjuros aos homens e aos deuses, e entregá-los a Ibírcio, governador da província de Aracósia, com ordem expressa de dar-lhes o pior dos fins, sem escolha de meios, para que nenhum deles pudesse, em época alguma, voltar à Macedónia ou rever o mar da Grécia.
Tradução de Miguel Milano. Fonte: As Vidas dos Homens Ilustres de Plutarco.
Traduzidas do Grego por Amyot – Grande-Esmoler da Frabça. Com notas e observações de Brotier, Vauvilliers e Claviers.
Volume Quinto.
Conforme a edição francesa de 1818. (Paris, Janet e Cotelle) e ao texto de 1554.
Ed. das Américas.1962.
CONFRONTO ENTRE EUMENE E SERTÓRIO
Para comparar Sertório e Eumene, cumpre lembrar serem ambos estrangeiros em terra estranha, banidos de sua pátria, e que, até à hora da morte, foram administradores de diversas nações e comandantes supremos de grandes e belicosos exércitos. Sertório, porém, tem a seu favor o fato de todos os de sua liga e de seu partido lhe cederem o cargo de maior autoridade, por considerarem-no, dentre eles, o mais digno e o mais capaz para dirigir e chefiar. Eumene, entretanto, tornou-se a maior autoridade em sua hoste, depois de renhida luta com seus adversários. De modo que um foi obedecido pelos que desejavam ser governados por um homem honesto e bom comandante, e ao outro cederam os que não se sentiam aptos para governar e desejavam o bem público.
II. Sertório, que era romano, comandou e governou os espanhóis e os lusitanos, e Eumene, que era queroneso, os macedônios; aqueles de há muito se achavam sob o império romano, e estes, naquela época, já haviam conquistado e dominado o mundo inteiro. Além disso, Sertório gozava grande reputação, por ser senador romano e por ter tido antes posto de destaque no exército, o que não acontecia
com Eumene, que foi desdenhado por não passar de um simples secretário e ter pretensões muito elevadas. Não poucos lutaram contra ele, e secretamente tramaram sua morte; o que não se deu com Sertório, que de início não sofreu a menor oposição, mas depois arcou com a trama oculta de alguns companheiros. Por fim, a maior preocupação de Sertório consistia em vencer seus inimigos, e a de Eumene a de precaver-se da perversidade dos invejosos de sua glória, que tramavam sua morte.
III. Os seus feitos guerreiros mais ou menos se assemelham, embora Eumene fosse propenso à guerra, aos debates e às querelas, e Sertório fosse amigo da paz, da bondade e da tranqüilidade. Podendo Eumene viver em paz e respeitado, afastando-se das armas, buscou a morte, na perseguição e guerra aos maiorais da Macedónia. Sertório, que não queria envolver-se nos negócios públicos, foi obrigado a tomar armas contra os que o atormentavam, para viver em paz, e garantir sua vida. Se Eumene, por ambição e teimosia, não tivesse arrebatado o lugar de maior autoridade a Antígono, e se contentasse com o segundo, Antígono ficaria muito satisfeito e ele não teria morrido. Foi a razão por que Pompeu não deu descanso a Sertório. Por onde se vê que um se pôs a governar para dominar, e outro foi obrigado, embora contra a vontade, a dominar, por lhe moverem guerra. Do que se conclui
que aquele amava de fato a luta, e cobiçava os postos mais elevados para segurança de sua vida e que este, sendo guerreiro de fato, procurava garanti-la pelas armas.
IV. Além disso, um foi morto sem perceber a traição que lhe faziam, e o outro esperando de um dia para outro a morte que lhe preparavam. Sofrendo de seus companheiros o que os próprios inimigos mortais o não fariam sofrer, a morte de Sertório só elevou-o aos olhos do mundo; o que não se dá com a de Eumene, por ter tido a fraqueza de suplicar ao inimigo que lhe poupasse a vida.
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