Cimon – General Ateniense – Vidas Paralelas de Plutarco

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VIDA DE CIMON por Plutarco – Ebook parte das Vidas Paralelas

 

CÍMON

(em grego: Κίμων, transl. Kímon, Atenas, c. 510 a.C. – Cítio, 449 a.C.) estadista e general ateniense, Grécia Antiga)

Desde o ano 500 até o ano 449 antes de Jesus Cristo.

O profeta Peripoltas estabelece-se em Queronéia.

O profeta Peripoltas, que conduziu de Tessália à Beócia o rei Ofeltas (1) com os povos que lhe estavam subordinados, deixou uma celebridade que perdurou no país, principalmente na cidade de Queronéia, por ter sido a primeira que conquistaram aos bárbaros, que eles expulsaram. Sendo os indivíduos desta raça muito corajosos e naturalmente propensos às armas, tanto se arriscaram nas lutas invasoras dos medos pela Grécia e nas guerras contra os gauleses, que sucumbiram quase todos, escapando apenas um òrfãozinho de pai e mãe, chamado Damão, e sobre-nomeado Peripoltas, que sobrepujou todos os outros jovens de seu tempo em estatura e coragem, ainda que tão fortes, tão violentos e tão severos como êle.

Damão conspira contra o capitão de uma guarnição romana em Queronéia, e mata-o.

II. Aconteceu que, ao sair da infância, um romano, capitão de umas tropas que se achavam na cidade de Queronéia, para ali passarem o inverno, agradou-se dele; e, não conseguindo atraí-lo por meio de súplicas e de donativos, resolveu conquistá-lo pela força, certo de que a cidade de Queronéia, fraca e pobre como era, não se revoltaria. Receoso de que tal acontecesse, o que seria desonroso para ele, Damão resolveu preparar-lhe uma emboscada; e, agindo com a maior cautela, conseguiu que alguns companheiros, em número reduzido, conspirassem com ele contra o capitão. Foram dezesseis ao todo. Certa noite borraram o rosto com fuligem, e na manhã seguinte, ao romper do dia, lançaram-se sobre o romano, que executava um sacrifício na praça, matando-o com bom número de pessoas. Isto feito fugiram da cidade, que ficou bastante alvoroçada com o acontecido. Reunido o conselho pelo prefeito de Macedónia, Damão e seus cúmplices foram condenados à morte, como testemunho de desagravo e de satisfação aos romanos. Na mesma noite, porém, quando todos os magistrados e oficiais da cidade ceavam juntos no palácio, como de costume, Damão e seus partidários entraram de improviso no lugar em que eles estavam, mataram todos, e de novo fugiram da cidade.

Êle mesmo é morto a traição.

III. Mais ou menos nessa ocasião, aconteceu passar pela cidade de Queronéia, à frente de seu exército, Lúcio Lúculo, para uma diligência qualquer: e, como o acontecimento era de data recente, ele deteve-se alguns dias, para se inteirar do fato e conhecer a verdade. Chegou à conclusão que a população da cidade nenhuma culpa tinha no caso, e que, pelo contrário, também ela havia sido ultrajada. Razão por que prendeu todos os soldados que se achavam fora da guarnição, levando-os consigo. Enquanto isso, Damão vagueava tranqüilamente pelos arredores da cidade. Por fim, os habitantes resolveram mandar pessoas ao seu encontro; e, com boas maneiras e sentenças favoráveis, conseguiram fazê-lo voltar. Nomearam-no gina-siarca, isto é, professor de exercícios da mocidade. Pouco depois, num dia em que, completamente nu, ele se fazia untar de óleo em um banheiro, mataram-no a traição. Como durante muito tempo aparecessem espíritos naquele lugar, ouvindo-se gemidos e suspiros, conforme relatam nossos pais, foi ele interditado, sendo murada a porta do banheiro. Todavia, os que moram nas imediações dizem ver visões e ouvir palavras e gritos assustadores. Os descendentes deste Damão (pois ainda os há de sua raça na Fócida, perto da cidade de Estíris, que conservam o modo de agir e a língua dos eólios) são chamados abolomênios, isto é, os lambuzados de fuligem, por terem Damão e seus companheiros lambuzado o rosto de fuligem, quando se lançaram sobre o capitão romano.

Os orcomênios acusam os de Queronéia ao prefeito da Macedónia do assassinato cometido por Damão; o testemunho de Lúculo absolve-os, e eles levantam-lhe uma estátua.

IV. Sendo os orcomênios vizinhos dos que-rônios, mas vizinhos inimigos, elogiaram um advogado romano, caluniador, que acusou a população toda da cidade do assassínio de romanos, praticado por Damão e seus cúmplices. Como os romanos ainda não tivessem governadores na Grécia, instaurado o processo a causa foi contestada perante o governador da Macedónia, e os advogados, que defendiam os habitantes de Queronéia apelaram para o testemunho de Lúcio Lúculo, alegando ser ele perfeito conhecedor do ocorrido. O governadcr escreveu-lhe, obtendo dele o relato da verdade. Foi como nossa cidade venceu a causa, que de outro modo levá-la-ia à ruína. Tendo escapado de tão grande perigo, graças ao testemunho de Lúculo, os habitantes de Queronéia quiseram demonstrar-lhe o seu reconhecimento, e ergueram-lhe uma estátua próxima à de Baco.

Plutarco escreve a vida de Lúculo, em sinal de gratidão dos seus concidadãos ao grande benefício que lhes prestara.

V. Embora estejamos muitos anos e séculos afastados daqueles tempos, presumimos que o seu benefício se estenda até nós, que somos da época atual; e, embora sejamos de opinião que a imagem e o retrato que perpetuam o caráter e as virtudes das pessoas falam mais do que na realidade merecem, enfeixaremos nesta obra das Vidas dos Homens Ilustres, comparando-os, seus atos e seus feitos; escrevendo unicamente a verdade. Acreditamos que eles mesmos reprovariam qualquer narração falsa e controvertida que se fizesse, ainda que fosse em seu favor. Entretanto, como acontece com os retratos, que às vezes enfeiam as pessoas mais belas e outras embelezam as feias, se o acaso lhes fizer deparar feiuras e imperfeições nos nossos estudos, não as desprezem de todo, lembrando-se de que não há no mundo personagem de vida totalmente inocente e irrepreensível. Eles têm por fim pôr em relevo as virtudes realmente praticadas, para que nos sirvam de exemplo. As faltas e os erros que apareçam de permeio às suas boas ações, às suas paixões ou aos seus constrangimentos em bem da coisa pública devem ser considerados como defeitos e imperfeições de virtude mal apurada, ao invés de produtos de perversidade e de malícia. A natureza não produziu, até hoje, um homem tão perfeito e tão virtuoso do qual nada se tenha a reprovar.

Êle comparou-o a Damão, por não encontrar melhor comparação. Diversos traços de semelhança entre o grego e o romano.

VI. Pensando, pois, a quem eu poderia comparar Lúculo, pareceu-me dever fazê-lo a Cimon, porque ambos foram valentes e belicosos contra os inimigos, tendo praticado belos e grandes feitos de armas sobre os bárbaros; ambos foram clementes e afáveis para com seus concidadãos, sendo os principais fatores da pacificação das guerras e lutas civis em seus países, e vencedores de três gloriosas lutas contra os bárbaros. Nenhum comandante grego, antes de Cimon, nem romano antes de Lúculo, foi guerrear tão longe. Pelo menos, exceção feita dos monumentos comemorativos das façanhas de Baco e de Hércules, dos sucessos de Perseu contra os etíopes, medos e armênios, e dos de Jasão, nenhum outro existe, oriundo daqueles tempos, que prove o contrário. Eles têm ainda de comum, o fato de haverem conduzido a termo suas empresas, vencendo e enfraquecendo os adversários, sem arruiná-los nem destruí-los completamente. Nota-se entre ambos grande semelhança de sentimentos quanto à honestidade, cortesia e deveres de humanidade com que agiam, ao receberem e tratarem os estrangeiros em suas casas, e na magnificência, suntuosidade e opulência de sua vida e conduta usual. Outros traços de semelhança serão dados no decurso de sua história.

Nascimento, mocidade e caráter de Cimon.

VII. Cimon era filho de Milcíades e de Hegesípila, de origem traciana e filha do rei Oloro, conforme referem algumas composições poéticas, escritas por Melâncio e Arquelau sobre Cimon. O pai do historiador Tucídides, parente de Cimon, também chamava-se Oloro, o que demonstra ser o rei um dos seus ancestrais. Possuía minas de ouro na Trácia, no lugar denominado floresta coveira, onde foi assassinado. Suas cinzas e seus ossos foram transportados para a Ática, vendo-se ainda seu túmulo entre as sepulturas da família de Cimon, junto da de Elpinice, irmã deste. Todavia, Tucídides era do burgo de Alimo e Milcíades do de Lácia. Tendo sido condenado ao pagamento da multa de cinqüenta talentos (1), na falta de pagamento Milcíades foi encarcerado e morreu na prisão, deixando Cimon na orfandade, criança ainda, com sua irmã, pouco mais idosa que êle. Nos seus primeiros anos de mocidade, Cimon conquistou má fama na cidade, sendo considerado dissoluto, beberrão, tal qual seu avô, também chamado Cimon, que, por suas asneiras, era apelidado Coalemos, isto é, o Maluco. Estesimbroto, do mesmo modo que Tasiano, que existiu na época de Cimon, escreveu que Cimon nunca aprendeu nem a música, nem qualquer das outras artes que costumavam ensinar às crianças de boa família na Grécia, e que ele não possuía nem a vivacidade de espírito, nem a graça de falar, características das crianças nascidas na Ática: não obstante, ele era de índole generosa, magnânima, em que não havia nenhuma simulação nem fingimento, e a sua maneira de agir tinha mais de pelo-ponésio do que de ateniense. Era o que o poeta Eurípides disse de Hércules:

Um tanto monstruoso e sem nenhum adorno,
Homem de bem, no mais, inteiramente.

Má conduta de Cimon e de sua irmã; casamento desta.

VIII. Isto pode ser acrescentado ao que, muito acertadamente, Estesimbroto escreveu dele. Todavia, em sua primeira mocidade desconfiou-se que ele tivesse relações carnais com sua irmã, que não tinha boa reputação, pois pecava em sua honra com o pintor Pol ignoto, que resolveu pintar as senhoras troianas escravas nas paredes do Pórtico, então denominado Plesianação e atualmente Peciíe, isto é, enriquecido de diversas pinturas. E, ao que dizem, ele reproduzia o rosto de Laodice inspirado em Elpinice. Não sendo mercenário, prestou gratuitamente este benefício à coisa pública, conforme testemunharam todos os historiadores da época e o próprio poeta Melâncio declarou nestes versos:

À sua custa, sem qualquer auxílio,
Êle enfeitou nossa praça pública,
E adornou os santos templos dos deuses,
Ali pintando os feitos dos semi-deuses.

Todavia há os que dizem que Elpinice não morava clandestinamente e sim às escâncaras com seu irmão Cimon, como sua mulher, legitimamente desposada, visto não ter ela encontrado marido de posição tão nobre como a sua, devido à sua pobreza: mas que depois, um tal Cálias, que era dos mais ricos e opulentos da cidade, pediu-a em casamento, prontificando-se a pagar a multa a que fora condenado seu pai Milcíades, se lhe cedesse a mulher. Cimon aceitou a proposta e entregou-a em casamento. Contudo, é inegável que Cimon tenha estado um tanto preso ao amor e às mulheres. O poeta Melâncio, gracejando, em algumas elegias refere-se a uma Astéria, natural de Salamina, e à outra denominada Mnestra, pelas quais Cimon se enamorou. E fora de dúvida, porém, ser êle muito afeiçoado a sua legítima esposa Isodice, filha de Euriptolemo e neta de Mégacles, que teve uma morte muito penosa, conforme se depreende das elegias que lhe foram dedicadas após o falecimento.

O filósofo Panécio afirma que tais elegias, muito de acordo com a época, foram escritas pelo físico Arquelau.

Belas qualidades de Cimon.

IX. Quanto ao mais, os costumes e o temperamento de Cimon eram dignos dos maiores louvores, pois ele, não sendo inferior a Milcíades em audácia, nem a Temístocles em bom senso e sabedoria, foi mais justo e mais honesto que ambos; não sendo inferior a eles, como guerreiro e valoroso comandante, excedeu-os extraordinariamente como bom governador e administrador dos negócios da cidade, embora muito moço e não experimentado na guerra. Quando, à chegada dos medos, Temístocles, aconselhou o povo de Atenas a sair da cidade, a abandonar suas terras e o seu país, para embarcar em gôndolas e ir combater os bárbaros através do estreito de Salamina, como todos se mostrassem pasmos de tão ousado quão arriscado conselho, Cimon foi o primeiro a seguir, pela rua do Cerâmico, para o castelo, de cara alegre, com outros jovens e amigos, empunhando um pedaço de rédea, a fim de consagrá-lo e oferecê-lo à deusa Minerva. Quis, assim, significar, que a cidade por enquanto não precisava de cavaleiros, e sim de marinheiros. Depois de fazer sua oferenda, tomou um dos escudos que se achavam dependurados nas paredes do templo, dirigiu sua prece a Minerva, foi ao porto, e animou e decidiu a maior parte dos cidadãos a deixar a terra e seguir para o mar. Além disso, êle era bonito, conforme declara o poeta Ion, de belo porte, de cabelos ondulados e espessos. Portou-se tão bem e tão valentemente no dia do combate, que logo adquiriu grande fama, consideração e estima de todos; tanto assim que não poucos seguiam-lhe os passos, a incutir-lhe coragem e a induzi-lo a praticar atos condizentes com a glória conquistada por seu pai na jornada de Maratona.

Entrada de Cimon na administração.

X. Logo que ele começou a intervir na direção dos negócios públicos, o povo recebeu-o com grande alegria, pois já estava enfastiado de Temís-tocles. Cimon foi sendo progressivamente elevado aos postos de maior destaque e responsabilidade da cidade, tornando-se muito querido do povo, graças à sua bondade e à sua modéstia. Seja por ter visto nele um caráter reto e inabalável, ou porque quisesse contrapô-lo ao astuto e audaz Temístocles, Aristides foi-lhe de grande valia nos rápidos acessos. Quando os medos fugiram da Grécia, deixando a cidade de Atenas desgovernada, e visivelmente submetida às ordens de Pausânias e dos lacedemônios, Cimon, escolhido pelos atenienses para comandante da marinha, em todas as viagens realizadas manteve os seus subordinados em admirável boa ordem, bem equipados e sempre prontos a agir. Pausânias desde logo procurou entendimentos com os bárbaros, para trair a Grécia, e escreveu nesse sentido ao rei da Pérsia, tratando, nesse ínterim, grosseira e atrevidamente os aliados e confederados de sua terra, pratticando muitas arbitrariedades, atendendo à grande autoridade de que estava revestido. Cimon, pelo contrário, recebia bondosamente os que Pausânias maltratava, ouvindo-os humanamente e falando-lhes com delicadeza, sem se preocupar com o fato de ter sido ele quem arrancou a soberania da Grécia das mãos dos lacedemônios, entregando-a aos atenienses, não pela força das armas, mas pela meiguice, pela maneira sensata de agir, e por sua bondade. Não podendo mais suportar o orgulho e os maus tratos de Pausânias, a maior parte dos aliados submeteu-se voluntariamente às ordens de Cimon e de Aristides, que não só os receberam como escreveram aos membros do conselho dos lacedemônios que chamassem Pausânias, porque ele desonrava Esparta e punha toda a Grécia em confusão e desordem.

História de Pausânias e de Cleonice.

XI. Contam, a tal respeito, que Pausânias, certo dia, na cidade de Bizâncio, mandou buscar uma jovem chamada Cleonice, de boa família e de nobre descendência, para satisfazer aos seus desejos. Os pais não ousaram opor-se, temendo a sua perversidade, e deixaram-na levar. A jovem pediu aos seus criados de quarto que levassem todas as luzes; mas, procurando aproximar-se do leito de Pausânias, que já havia pegado no sono, achando-se no escuro, e sem fazer o menor ruído, ela encontrou casualmente uma lucerna, que jogou ao chão. Êle acordou sobressaltado; e, supondo logo tratar-se de algum dos seus desafetos, que o quisesse atacar a traição, apanhou o punhal que tinha debaixo do travesseiro, e apunhalou-a de tal modo que a infeliz caiu morta a seus pés. Pausânias nunca mais dormiu sossegado, porque a alma da jovem aparecia-lhe todas as noites, nem bem ele ia pegar no sono, reci-tando-lhe furiosa uns versos heróicos, que podem ser resumidos no que segue:

Procede direito e honra a justiça:
Sofrimento e miséria a quem pratica injustiça.

Esta afronta irritou de tal modo os aliados, que cheios de ódio, e sob as ordens de Cimon, cercaram-no na cidade de Bizâncio, da qual ele conseguiu salvar-se, fugindo sorrateiramente. Como o espírito da jovem não o deixasse em paz, perseguindo-o sem cessar, ele fugiu para a cidade de Heracléia, onde havia um templo destinado a exorcismar os espíritos, e esconjurou o de Cleonice, pedindo-lhe que abrandasse a sua cólera. Ela apareceu-lhe sem demora, e disse-lhe que antes de chegar a Esparta ele ficaria livre dos seus tormentos: o que, a meu ver, veladamente ela quis referir-se à morte que o esperava. E o que dizem diversos historiadores.

Êle expulsa os persas de Iônia, e apodera-se de todo o cantão.

XII. Cimon, então, apoiado pelos aliados e confederados gregos, que se haviam afastado de Pausânias, foi avisado de que alguns altos personagens persas, parentes do próprio rei, residentes na cidade de Iônia, situada na Trácia, na margem do no Estrimão, perseguiam e causavam graneles danos aos gregos que habitavam os arredores. Fêz-se ao mar com a sua esquadra, atacou, venceu e aniquilou os bárbaros, e expulsou todos os habitantes da cidade; depois correu contra os tracianos situados além do no Estnmão, que forneciam víveres aos habitantes de Iônia, e, fazendo-os abandonar a região, apoderou-se totalmente dela. Antes, porém, vendo-se perdido, em ato de desespero o tenente persa Butes incendiou a cidade, perecendo queimado com seus amigos e bens. Deste modo, os despojos da cidade conquistada não foram de grande valia, porque os bárbaros queimaram o que de mais belo e valoroso ali havia. Em compensação, a conquista forneceu aos atenienses uma região muito amena e fértil. Para memorar o feito, o povo fez erigir três Hermes ou pedestais de pedra com a estátua de Mercúrio, nos quais foram gravados dizeres enaltecendo o valor da sua gente.

Êle torna-se senhor da ilha de Ciros.

XIII. Se o nome de Cimon não aparece em tais inscrições é porque esta honra extraordinária nunca foi concedida nem mesmo a Milcíades e a Temístocles. Que o povo era inimigo de individualizar, demonstra-o este simples fato: tendo Milcíades pedido um dia ao povo que lhe fosse permitido usar na cabeça uma coroa de oliveira, um tal Sófa-nes, natural da aldeia Decélia, levantou-se no meio da assembléia, e se opôs, proferindo palavras que muito agradaram ao povo, embora fossem ingratas e mal agradecidas aos bons serviços que ele havia prestado à coisa pública. "Quando tiveres, Mil-cíades, vencido sozinho os bárbaros em combate, disse ele, poderás pedir que te honrem somente a ti". Qual a razão por que a atuação de Cimon tornou-se mais querida aos atenienses do que a dos outros capitães? Foi, a meu ver, porque os outros capitães agiram em defesa do seu território, dentro do próprio país, e Cimon e sua gente atacaram e destroçaram os inimigos em sua terra, conquistando as cidades de Iôma e de Anfípolis, que povoaram, e mais a ilha de Ciros. Os dolopianos, que a possuíam, inimigos do trabalho e do cultivo da terra, desde remota antiguidade não passavam de corsários, que viviam do que pilhavam no mar, não poupando nem mesmo os passageiros e mercadores que demandavam seus portos. Alguns tessalianos que ali apareceram para comerciar foram roubados, castigados e aprisionados. Conseguindo fugir, eles recorreram ao parlamento dos anfictiões, que é um conselho geral de deputados das cidades gregas. Julgado o feito, os anfictiões condenaram todos os arianos ao pagamento de elevada multa, que eles se negaram a satisfazer, sob a alegação de que não eram responsáveis pelos atos praticados pelos corsários; que se dirigissem a estes, e eles que pagassem, se quisessem. Para castigar este ato de rebeldia, e obrigá-los a pagar, Cimon foi encarregado de atacá-los e de apoderar-se da cidade, o que foi feito.

Conquistada a ilha, Cimon expulsou os dolopianos, e livrou o mar Egeu dos corsários.

Êle leva os ossos de Teseu para Atenas.

XIV. Sabia-se que o velho Teseu, filho de Egeu, fugindo de Atenas fora ter à ilha de Ciros, onde o rei Licomedes, suspeitando dele, mandou matá-lo a traição. Como, por um oráculo e profecia, as suas cinzas e os seus ossos deviam ser levados para Atenas, por ser considerado um semi-deus, negando-se os habitantes da ilha a dizer-lhes onde fora ele inumado, os conquistadores procuraram teimosa e inutilmente a sepultura. Por fim, depois de obstinada busca, Cimon conseguiu encontrar o túmulo; colocou os ossos na nau capitânea, magnificamente paramentada, e levou-os para a sua pátria. Isto quatrocentos anos depois da saída de Teseu de sua terra natal.

Os atenienses mostraram-se sumamente gratos a Cimon; e, para perpetuarem o grande acontecimento, os poetas escreveram poemas trágicos que se tornaram célebres. Tendo o jovem poeta Sófocles apresentado sua primeira tragédia, Afepsião, que significa primeiro magistrado, o preboste, notou grande divergência e cabala entre os espectadores, e não quis sortear os que deviam escolher os julgadores dos trabalhos apresentados, para dar o prêmio ao poeta vencedor.

Achando-se Cimon e os outros capitães no teatro, fêz a oferta devida ao deus em cuja honra se realizam tais torneios, sorteou-os e fê-los jurar que escolheriam com ânimo desprevenido os julgadores do poeta merecedor do prêmio. Feita a escolha, todos se esforçaram em serem justos no julgamento, sendo Sófocles declarado vencedor. Ésquilo, segundo dizem, ficou tão aborrecido e triste com o acontecido que abandonou Atenas, retirando-se para a Sicília, onde faleceu, sendo sepultado perto da cidade de Gele.

Como Cimon distribuiu os despojos, depois da tomada de Sestos e de Bizâncio

XV. Escreve Ion, que, sendo ainda muito jovem, recém-chegado a Atenas, proveniente de Quio, ceou certa noite com Cimon, ria hospedaria de Laomedão, e que ao fim da ceia, depois das efusões.costumeiras aos deuses, Cimon foi convidado pelos presentes a cantar. Ele não se fêz de rogado, sendo muito aplaudido. Todos foram unânimes em declará-lo mais civil e atencioso que Temístocles, que, em caso semelhante, sendo convidado a tocar cítara, respondeu que nunca aprendera a cantar nem a tocar cítara, mas que sabia fazer de uma pequena e pobre aldeia uma rica e poderosa cidade. Depois disto, como é natural, o assunto e as conversas dos presentes giraram sobre feitos e gestos de Cimon, enumerando os principais. Ele mesmo relatou um. que considerava superior a quantos havia realizado. Como os atenienses e seus aliados tivessem aprisionado numerosos bárbaros nas aldeias de Sestos e de Bizâncio, como homenagem conferiram-lhe o direito de repartir entre eles a presa. Aceitando o encargo, êle pôs num quinhão todos os bárbaros completamente nus, e no outro todas as suas roupas e despojos. Os aliados acharam a partilha muito desigual, mas Cimon deu-lhes o direito de escolha, deixando o resto para os atenienses. Um capitão samiano, apelidado Herófito, aconselhou os aliados a ficar com as roupas e despojos dos persas, o que foi feito. Cimon foi logo taxado por todos de péssimo distribuidor, por dar aos aliados, aljavas e pulseiras de ouro, bem como lindas e riquíssimas vestes de púrpura, sistema persa, e aos atenienses corpos nus, de homens indolentes, não afeitos ao trabalho e ao sofrimento. Tempos depois, parentes e amigos dos prisioneiros, provenientes da Frigia e da Lídia, deram-lhe tanto dinheiro, que Cimon manteve, durante quatro meses as galeras à sua custa, e entregou o resto ao governo de Atenas, reservando uma parte para si.

Liberalidade de Cimon.

XVI. Tendo Cimon enriquecido, gastou os bens honestamente recebidos dos bárbaros do modo mais honesto, atendendo às necessidades dos seus cidadãos: fez retirar todas as cercas de suas terras e patrimônios, para que os estrangeiros em viagem, e os seus cidadãos, que tivessem necessidade, pudessem servir-se dos produtos ali existentes, como e quanto quisessem, se’m risco de qualquer espécie. Em sua casa, além disso, havia sempre uma posta para numerosas pessoas; não de petiscos, porém, farta, sendo os pobres burgueses que a ela acorriam muito bem recebidos e muito bem tratados. Deste modo, eles não tinham necessidade de trabalhar para viver e melhor podiam preocupar-se com os afazeres públicos. Entretanto, o filósofo Aristóteles escreveu não ser para todos os atenienses, indistintamente, que ele mantinha assim sua casa, mas üni-mente para os do burgo de Lácia, onde nascera. Além disso, ele tinha sempre a seu lado alguns moços, seus criados, muito bem vestidos. Se, ao ir pela cidade, acontecesse encontrar algum velho pobremente trajado, ele fazia um dos moços despir-se e trocar a roupa com o necessitado. Isto, longe de ser levado a mal, era considerado por todos coisa venerável. Mas há mais: estes mesmos moços levavam sempre consigo boa importância em dinheiro; e, ao encontrarem, na praça ou na rua algum necessitado de fato, colocavam-lhe à mão, às escondidas, e sem nada dizer, alguma moeda de prata. Parece ser a isto que o poeta Cratino se refere, em sua comédia os Arquiloques. Górgias Leontino dizia que Cimon conquistou bens para usá-los, e que usava-os com honestidade. Crítias, um dos trinta tiranos de Atenas, em suas elegias deseja e pede aos deuses:

A opulência dos herdeiros de Escopas,
O nobre coração e a liberalidade
Do valoroso Cimon, e os gloriosos Troféus conquistados por Agesilau.

Ela era absolutamente desinteressada.

XVII. O nome de Liças Espartiata foi muito exaltado e celebrado, entre os gregos, pelo simples fato de, em dia de festa solene, em que os jovens faziam exercícios e dançavam nus na cidade de Esparta, ele receber festivamente os estrangeiros que iam assistir a tais folguedos. A grandeza dalma de Cimon excedia, porém, a liberalidade, humanidade e hospitalidade dos antigos atenienses, que foram os primeiros a ensinar aos homens em toda a Grécia, como deviam semear e usar o trigo para se alimentarem, qual o uso que deviam fazer das águas das fontes, e como deviam acender e manter o fogo. Cimon, entretanto, fazendo de sua própria casa um hcspital, onde todos os pobres eram fartamente alimentados e socorridos, e onde os viajantes estrangeiros podiam livremente colher os frutos de cada estação, brotados em suas terras, reconduzia ao mundo, por assim dizer, a comunidade de bens que os poetas dizem haver estado outrora sob o domínio de Saturno. Quanto às objeções dos que caluniavam esta honesta liberalidade, dizendo ter por fim adular a comuna e ganhar as boas graças da plebe, elas eram desfeitas e vencidas pelo seu modo de vida onde residia, pois pertencia à nobreza e vivia como os lacedemônios. Demonstra-o o fato de ter sido sempre contrário a Temístocles, que aumentava excessivamente a autoridade e o poder do povo, e de ter-se ligado, com Aristides, a Efialtes, que, em favor do povo, procurou deter e abolir o parlamento do Areópago. E, onde todos os governadores do seu tempo, exceto Aristides e Efialtes, se mostraram violentos e corrompidos, ele se manteve a vida inteira incorruptível quanto à coisa pública, tendo sempre as mãos limpas, fazendo, dizendo e aconselhando com sinceridade, justeza e honestidade, em matéria de administração, sem nunca ter-se aproveitado do dinheiro de quem quer que seja. Acha-se escrito, a este respeito, que um senhor persa, chamado Resaces, traindo seu soberano, o rei da Pérsia, fugiu um dia para Atenas. Ali, diariamente aborrecido pelos apupos e gritarias dos maldizentes, que o apontavam publicamente, recorreu a Cimon, levan-do-lhe duas dornas cheias, uma de dáricos de ouro e outra de dáricos de prata, moedas assim chamadas por conterem o nome de Dario. À vista das dornas Cimon desandou a rir, e perguntou-lhe o que preferia que ele fosse, seu amigo ou seu assalariado. O bárbaro respondeu preferi-lo por amigo. "Leva então o teu ouro e a tua prata, e retira-te, disse-lhe Cimon. Se sou teu amigo, sei que eles estarão sempre ao meu dispor, para usá-los quando se tornem necessários".

Política de Cimon com relação aos confederados dos atenienses.

XVIII. Por esse tempo, os aliados e confederados dos atenienses começaram a enfastiar-se da guerra contra os bárbaros, desejando dali em diante descansar da luta e entregar-se ao trabalho, ao seu tráfego e ao lar, visto haverem já expulso os inimigos de sua terra e não serem por eles aborrecidos. Assim sendo, eles preferiram cotizar-se e pagar a grande indenização que lhes foi exigida, a fornecer homens e navios para a guerra, como dantes. A vista disso, os outros comandantes atenienses constrangiam-nos de toda a forma, submetendo a processo os que deixassem de pagar as elevadas multas a que eram condenados. O rigor com que agiam e o exagero da penalidade tornaram a soberania e o domínio dos atenienses odiosos aos aliados. Cimon, porém, seguia rumo diametralmente oposto: não obrigava nem constrangia ninguém; satisfazia-se em receber dinheiro e embarcações dos que não queriam ou não podiam servir pessoalmente, e em deixá-los embrutecer e tornarem-se indolentes em suas casas, sob os atrativos do descanso, certo de que, fartos da sua estupidez, eles acabariam sendo bons guerreiros, trabalhadores, mercadores e mensageiros dedicados. Fazendo seguir em suas galeras grande número de atenienses, uns após outros, e enrijan-do-os no trabalho por meio de contínuas viagens, em pouco tempo tornou-os senhores e instrutores dos que os assalariaram e mantiveram, porque pouco a pouco se habituaram a enganar e a evitar os próprios atenienses, que viam constantemente em guerra, com os arneses às costas e armas na mão, a guerrear à sua custa, valendo-se da soda e do dinheiro que eles lhes forneciam. De modo que, no fim, eles se viram sujeitos e tributários, ao invés de companheiros e aliados, como de início.

Êle prossegue na guerra contra os persas.

XIX. Também nunca houve capitão grego que abatesse e refreasse a altivez e o poder do grande rei da Pérsia como Cimon. Depois de havê-lo expulso de toda a Grécia, não lhe deu descanso, perseguindo-o a pontapés, como se costuma dizer; antes que os bárbaros pudessem recobrar fôlego, ou dar maior atenção aos seus propósitos, êle procedeu de tal modo, que apoderou-se de algumas de suas cidades pela força e de outras por meio de ardis, fazendo-as rebelar-se contra o rei e pôr-se ao lado dos gregos. Assim, em toda a Ásia, desde a Iônia até Panfília, não havia um guerreiro favorável ao rei da Pérsia. Avisado de que os capitães do rei achavam-se na costa da Panfília com uma grande esquadra e poderoso exército naval, a fim de assustá-los e impedir que ousassem aparecer aquém das ilhas Caledônias, Cimon partiu da ilha de Gnidos e da cidade de Triópio com duzentas galeras, que desde o início haviam sido muito bem construídas e distribuídas por Temístocles, tanto para singrar com facilidade, como para girar com rapidez. Cimon, porém, mandou alargá-las e tirar-lhes o soalho de um costado a outro, para que pudessem transportar maior número de combatentes, para atacar os inimigos. Primeiro foi ao encontro dos fasé-litos, que, não obstante serem gregos de nascimento, negavam-se a auxiliá-los e opunham-se à entrada de suas esquadras em seus portos. Chegou inesperadamente e apoderou-se de toda a planície da região e a seguir achegou suas forças às muralhas. Havendo, na armada de Cimon, antigos amigos dos fasélitos, naturais de Quio, eles procuraram aplacar a cólera de seu chefe, e deram notícias suas, aos que se achavam na cidade, por meio de cartas que amarravam a flechas e jogavam por cima das muralhas. Por fim eles entraram em acordo, obrigando-se os fasélitos a pagar uma multa de dez talentos, correspondentes a seis mil escudos, aproximadamente, e a segui-los, combatendo com eles e para eles, contra os bárbaros.

Êle alcança sobre eles uma vitória naval junto do rio Eurimedão.

XX. Diz Éforo, que o capitão persa que comandava a armada chamava-se Titraustes, e o que dirigia o exército Ferendates. O filósofo Calístenes, porém, primo e discípulo de Aristóteles, escreve que Ariomandes, filho de Góbrias e tenente do rei, tendo a maior autoridade sobre toda a esquadra ancorada junto ao rio Eunmedão, não se decidia a entrar em ação por estar à espera de um reforço de oitenta navios fenícios, que lhe deviam chegar de Chipre. Procedendo de modo contrário, Cimon tratou de atacá-los, antes que as naus fenícias pudessem lá chegar, para obrigá-los à defesa, caso não se decidissem a ir-lhe ao encontro voluntariamente. Percebendo isto, os bárbaros recolheram-se à embocadura do rio Eunmedão, para não serem envolvidos pela retaguarda, nem obrigados a entrar em combate contra vontade. Mas, ao verem os atenienses irem-lhes ao encontro, rumaram para eles com uma frota de seiscentas naus, segundo relata Fenodemo, ou de trezentas e cinqüenta somente, no dizer de Éforo. Nada fizeram, porém, em combate marítimo, que correspondesse ao avultado número de navios postos em ação; pelo contrário, voltaram sem demora as proas para o no, e os que conseguiram alcançá-lo a tempo passaram-se para as forças de terra, que não estavam longe, em posição de combate; os outros, que foram apanhados no trajeto foram mortos, e as suas galeras, de fato numerosas, postas a pique ou aprisionadas. Os atenienses também fizeram duzentos prisioneiros.

Uma segunda contra o exército.

XXI. Isto não impediu que o exército se aproximasse da costa, porque Cimon mostrou-se indeciso se devia ou não ordenar o desembarque de sua gente. Parecia-lhe difícil e perigoso desembarcar contra a vontade dos inimigos, e expor os gregos, fatigados e fartos do primeiro combate, aos bárbaros que se achavam íntegros, em boa forma, descansados e em muito maior número. Todavia, vendo que sua gente confiava nas próprias forças, e que, entusiasmada com a primeira vitória, desejava ir ao encontro dos inimigos, ordenou o desembarque. Os atenienses correram então cheios de incontido ardor e em altos brados, contra os bárbaros, que os esperaram a pés firmes, e sustentaram valentemente o primeiro embate. Neste encontro, áspero e cruel, pereceram os melhores e maiores elementos do exército atacante; os outros, porém, combateram com tal denodo, que se tornaram senhores do campo e puse-ram os bárbaros em fuga, matando muitos e apri-siondo numerosos outros, com suas tendas e pavilhões repletos de toda espécie de bens e de riquezas.

Uma terceira contra a frota fenícia que vinha em auxílio dos persas.

XXII. Cimon já havia adquirido renome como campeão das lutas sagradas, na qualidade de atleta, e, como guerreiro, nas brilhantes vitórias alcançadas pelos gregos no canal de Salamina e na cidade de Platéia, tanto no mar como em terra, quando foi avisado de que as vinte e quatro naus fenícias, vindas muito tarde para enfrentar o primeiro combate, haviam chegado ao cabo de Hidra. Sem perda de tempo, singrou para lá. Os comandantes fenícios nada sabiam de positivo sobre o desastre de sua armada principal, e duvidavam que ela houvesse sido destroçada. De modo que ficaram surpreendidos, ao verem aparecer ao longe a esquadra vitoriosa de Cimon. Travada a luta, os fenícios perderam todas as naus e a maior parte de sua gente, entre afogados e mortos em combate.

Tratado de paz entre o rei da Pérsia e os atenienses.

XXIII. Este feito de armas abateu e venceu de tal modo o orgulho do rei da Pérsia, que ele fez o tratado de paz mencionado pelas histórias antigas, pelo qual prometeu e jurou que, dali em diante, suas armadas não se aproximariam mais do mar da Grécia com velocidade superior à de um cavalo, e que suas galeras e outros vasos de guerra não iriam além das ilhas Caledônias e Cianéias. O historiador Calístenes declara que semelhante coisa não foi lançada no tratado, mas que o rei determinou, pelo pavor que a grande derrota lhe causou; que, a seguir, manteve-se distante do mar da Grécia, que Péricles, com cinqüenta galeras, e Efialtes com trinta, navegaram além das ilhas Caledônias, sem nunca encontrar qualquer frota dos bárbaros. E a razão por que, entre os atos públicos de Atenas, referidos por Crátero, se encontram as cláusulas desta paz, tão longamente ocultada, como coisa realmente existente. Sabe-se que, nessa ocasião, os atenienses ergueram o altar da Paz, e homenagearam extraordinariamente Cálias, que serviu de embaixador junto do rei da Pérsia, para fazê-lo jurar tal tratado.

A cidade de Atenas enriquecida dos despojos dos persas.

XXIV. Ao serem postos em leião os despojos dos inimigos, encontrou-se tanto ouro e prata nos cofres de economias, que cobriu todas as despesas e para a construção do lanço de muralha do castelo, que dá para o sul. Dizem que a ereção das grandes muralhas que ligam a cidade ao porto de Jambes foi construída e concluída depois, mas que os primeiros alicerces foram feitos com o dinheiro que Cimon forneceu dos seus próprios haveres. Como o trabalho foi executado em lugares pantanosos e sujeitos às marés, foi preciso contê-las com pedras de todo tamanho, jogadas a esmo à beira-mar. Logo, foi êle quem primeiro ornou e embelezou a cidade de Atenas, dotando-a de lugares de fácil acesso e deleitoso passatempo, que se tornaram logo muito recomendados; quem mandou plantar plátanos na grande praça; quem dotou a academia, sitada em terreno baldio, de um jardim encantador, semeado de fontes e de ruas para passeios e corridas.

Êle apodera-se do Quersoneso de Trácia, e da ilha de Tasos.

XXV. Tempos depois, ele soube que alguns persas que ocupavam o Quersoneso, ou seja, meia ilha da região de Trácia, não queriam abandoná-la e pediam aos habitantes da alta Trácia que os ajudassem na defesa contra ele, embora não o temessem, pois sabiam haver partido de Atenas com poucos navios. Cimon, de fato, avançou sobre eles com quatro galeras apenas, e tomou-lhes treze. Expulsos os persas, e subjugados os tracianos, ele conquistou para o seu país todo o Quersoneso de Trácia. A seguir, dirigiu-se contra os habitantes da ilha de Tasos, que se haviam insurgido; e, derrotando-os no combate naval, em que se apoderou de trinta e três navios, bloqueou e apoderou-se da cidade, conquistando-lhes as minas de ouro existentes nos arredores e todas as terras.

Acusação, defesa e absolvição de Cimon.

XXVI. Esta conquista facilitou-lhe imenso a passagem para a Macedónia e a possível ocupação de grande parte da mesma. Não querendo fazê-lo, inimigos invejosos de sua glória coligaram-se contra êle, acusando-o de haver recebido dinheiro para tal e de haver se deixado subornar por presentes do rei Alexandre. Chamado à justiça, defendeu-se perante os juízes, justificando-se nestes termos: "Não contraí amizade, nem qualquer relação afetuosa com os jônios ou com os tessalianos, povos abastados e opulentos, nem me encarreguei de defender-lhes as causas, como fizeram outros, para serem por eles venerados e bem remunerados. Aceitei-lhes a hospitalidade, porque admiro e quero imitar-lhes a temperança, a sobriedade e simplicidade do seu modo de viver, que eu prefiro a todos os bens e a toda riqueza, embora me sinta feliz, quando atraio a opinião pública com os despojos dos nossos inimigos".

Referindo-se a esta acusação, narra Estesim-broto que Elpinice, irmã de Cimon, foi ao gabinete de Péricles, o mais severo e o mais veemente de todos os acusadores, para pedir-lhe que não perseguisse tão tenazmente seu irmão, e que ele lhe disse sorridente: "Estás muito velha, Elpinice, muito velha, atualmente, para conseguires demandas como esta". Entretanto, quando a causa entrou em julgamento, êle foi o mais moderado dos acusadores, levantando-se uma única vez para falar contra o acusado, como que distraidamente, o que fez com que Cimon fosse absolvido e declarada caluniosa e improcedente a acusação.

O povo revolta-se contra os nobres na ausência de Cimon. Êle é difamado, ao voltar

XXVII. Depois disto, durante a sua permanência na cidade, Cimon freou a insolência do povo, que não cessava de zombar da autoridade das pessoas honestas, e chamou a si todo o poder e mando. Mas, nem bem êle partiu para a guerra, não tendo mais quem a combatesse, a comuna revolveu de alto a baixo o governo da cidade, instigada e guiada por Efialtes, e desordenou todas as leis e costumes antigos, que sempre estiveram em uso. A corte de Areópago foi impedida de julgar quase todas as causas, porquanto tal direito foi atribuído ao povo, o que transformou o estado em pura democracia, isto é, em governo em que o povo manda e domina. Péricles pôs-se logo em destaque, por apoiar o partido da comuna.

Ao regressar, vendo a autoridade do senado e do conselho tão vergonhosamente diminuída, Cimon tratou de atribuir-lhes o mesmo direito antigo, e de reconduzir ao poder as pessoas de bem, como fora estabelecido desde o tempo de Clístenes. Com isto voltaram os inimigos a gritar contra ele, renovando as difamações antigas de manter relações jlícitas com sua própria irmã, e caluniando-o de favorecer as causas dos lacedemônios. E ao que se referem os versos do poeta Eupólis, muito divulgados, contra Cimon:

Êle não é mau, mas é negligente,
Mais amante do vinho do que do dinheiro;
E algumas Vezes desaparece,
Para ir dormir às noites em Esparta,
Deixando sua irmã em casa, a pobrezinha
Elpinice, dormir sozinha.

Afeto que os lacedemônios dedicam a Cimon

XXVIII. Se, preguiçoso e amante do vinho, ele tomou tantas cidades e venceu tantas batalhas, sendo sóbrio e vigilante não existiria, nem antes, nem depois dele, capitão grego que o excedesse na glória dos feitos guerreiros. É exato que êle sempre apreciou os costumes dos lacedemônios, pois, a dois filhos gêmeos que teve com uma mulher clitoriana, deu a um o nome de Lacedemônio e a outro o de Eleo, segundo relata Estesimbroto, adiantando que foi a razão por que Péricles sempre exprobrou-lhes a linhagem materna. Todavia, o geógrafo Diodoro escreve que, tanto estes como um terceiro filho chamado Tessálio, êle os tivera com Isodice, filha de Euriptólemo, natural de Mégacles. Seja como for, o certo é que a sua reputação, confiança e estima cresceram extraordinariamente entre os lacedemônios, que passaram a considerá-lo, embora moço ainda, mais prestigioso e poderoso que Temístocles, em Atenas. Disto, e do ódio que votavam a este último, bem depressa se aperceberam os atenienses, mas não ligaram grande importância, porque a afeição dos lacedemônios a Cimon forneceu-lhes grandes proveitos e levou-os a induzir, secretamente, os aliados gregos a abandonar os lacedemônios, para se unirem a eles. Sabendo que só em consideração a eles é que Cimon dirigia quase todos os combates dos gregos, e portava-se humana e benevolamente para com os aliados, os lacedemônios não se agastaram com o perverso procedimento dos atenienses, continuando a proferir louvores ao seu grande amigo, em altas vozes. Vendo que a sua deslealdade pôs Cimon a pique de unir-se aos lacedemônios; que ele, quando desejava repreendê-los por qualquer falta cometida ou quando queria induzi-los a fazer alguma coisa, limitava-se a dizer-lhes: "Os lacedemônios não devem proceder assim"; notando as relações que êle mantinha com os seus protegidos, os atenienses, diz Estesimbroto, enciumados, passaram a ter-lhe inveja e ódio.

Tremor de terra em Esparta. Guerra dos hilotas. Os espartanos pedem socorro aos atenienses.

XXIX. A principal carga que lhe fizeram, porém, e que mais o aborreceu, teve lugar em determinada ocasião. No quarto ano do reinado de Arquidamo filho de Zeuxidamo, rei de Esparta, a cidade de Lacedemônia e seus arredores foram vítimas do maior e mais espantoso terremoto de que se tem lembrança até hoje, pois a terra abriu-se em muitos lugares, e afundou à maneira de abismos. A montanha Taigete foi tão fortemente abalada que enormes rochedos desmoronaram. A cidade toda foi abatida e reduzida a um montão de ruínas, exceto cinco casas, que se mantiveram de pé. Dizem que, pouco antes do fenômeno manifestar-se, os moços e moças da cidade faziam exercícios físicos, completamente nus, sob um pórtico e galeria cobertos, quando apareceu-lhes uma lebre. Vendo-a, os moços correram-lhe no encalço, a persegui-la, nus e untados como se achavam, e às gargalhadas. Nem bem haviam partido, o telhado da galena caiu sobre as moças, matando-as todas. Como lembrança do triste acontecimento, o túmulo em que foram sepultadas chama-se até hoje Sismatias, isto é, túmulo das que o terremoto matou. Avisado prontamente do perigo iminente, e vendo que os seus súditos só cuidavam de salvar seus preciosos móveis, pondo-o fora de suas casas, o rei Arquidamo mandou corneteiros tocar caloroso alerta, como se os inimigos estivessem atacando de surpresa, para que os moradores da cidade abandonassem tudo e corressem armados contra eles. Isto salvou, sem dúvida, a cidade de Esparta, porque os hilotas, seus camponeses, e os habitantes das aldeias dos arredores acorreram, armados, de toda parte, para apanhar o inimigo de surpresa e saquear os que houvessem escapado do terremoto. Mas, encontrando todos bem armados, e em posição de combate, voltaram do mesmo modo como haviam chegado, começando depois a fazer-lhes guerra declarada, aliados a alguns vizinhos, e mesmo aos messênios, que, com eles, atacaram deliberadamente os espartanos. É a razão por que os lacedemônios mandaram Periclidas pedir auxílio a Atenas, coisa que, visando Lisístrato, o poeta Aristófanes ridiculariza assim:

Fale, sempre erguido aos altares,
Pede socorro, de opa vermelha.

Efialtes opôs-se resolutamente, declarando que não se devia auxiliar nem engrandecer uma cidade inimiga de Atenas, e sim deixá-la rastejar e ver calcar-se aos pés o orgulho e a arrogância de Esparta.

Cimon vai em seu auxílio.

XXX. Cimon, porém, segundo relata Crítias, preferindo o bem de Esparta ao desenvolvimento de sua pátria, tanto fez, que, a seu pedido, o povo atendeu ao auxílio solicitado, mandando-o com bom número de guerreiros. Ion reproduz-lhe fielmente as palavras proferidas, para induzir o povo a acompanhá-lo, pois pediu-lhe que não permitisse que a Grécia manquejasse, como se a Lace-demônia fosse um de seus pés e Atenas outro, nem admitisse que sua cidade fosse privada de sua companheira, em caso de defesa da Grécia. Obtido os socorros para levar aos lacedemônios, ele seguiu com suas forças pelas terras dos coríntios, dando motivo a que Lacarto, capitão de Corinto, se enfurecesse e lhe declarasse que não devia ter penetrado em suas terras sem o consentimento prévio das autoridades da cidade; porque, quando se bate à porta de uma residência particular, não se entra sem que o dono da casa convide a fazê-lo. Ao que Cimon objetou: "Mas os coríntios não bateram às portas dos cleônios, nem às dos megarianos, para lá entrar; arrombaram-nas, e entraram à força de armas, alegando que tudo devia ser aberto aos mais fortes". Com esta audaciosa resposta ao capitão corintio, que estava precisando dela, Cimon passou com seu exército por Corinto.

Êle vai para o exílio

XXXI. Tempos depois, os lacedemônios pediram novamente socorro aos atenienses, contra os messênios e os hilotas, seus lavradores e escravos, que haviam se apoderado da cidade de Itome. Receosos, porém, da força enviada, por ser muito numerosa, forte e arrojada, preferiram não se utilizar dela, e despediram-na, antes que entrasse em ação. Os atenienses regressaram bastante descontentes e furiosos, decididos a nunca mais satisfazer às necessidades dos lacedemônios; e, procurando vingar-se de Cimon, pela afronta sofrida, exilaram-no de sua terra, condenando-o ao ostracismo. Nestes dez anos de exílio, a que Cimon foi condenado, os lacedemônios decidiram-se a livrar a cidade de Delfos do cativeiro dos focianos, e a tirar-lhes a guarda e superintendência do templo de Apolo, existente na referida cidade. Para tal conseguir, foram acampar junto à cidade de Tanagre, na Fócida, onde os atenienses os foram encontrar, para combatê-los.

Êle se prepara para guerrear na ilha de Chipre e no Egito

XXXII. Sabendo disto, Cimon, ainda no exílio, dirigiu-se armado ao acampamento de Atenas, a fim de cumprir o seu dever, combatendo ao lado dos seus, contra os lacedemônios, arregimen-tando-se nas forças da linha de Oeneida, onde se achava. Seus inimigos começaram a gritar contra êle, dizendo que o seu desejo era perturbar a luta, para depois levar os lacedemônios até à cidade de Atenas. À vista disso, o grande conselho dos quinhentos homens, receoso, proibiu os capitães de recebê-lo como combatente, e êle foi obrigado a retirar-se. Mas, antes de partir, êle pediu a Eutipo Anaflisteano, e a outros amigos em evidência, que participavam de suas idéias e também eram acusados de favorecer os lacedemônios, que cumprissem o seu dever e combatessem denodadamente os inimigos, para que aquela jornada lhes servisse de alívio e de justificação de sua inocência perante seus compa-triotas. O que foi realizado, porque, de posse de suas armas, eles organizaram uma pequena companhia de cem homens, que combateu tão corajosa e obstinadamente, que não restou um único com vida. Este fato causou grande mágoa e arrependimento entre os atenienses, que, falsa e injustamente, che-garam a duvidar da sua lealdade à pátria. À vista disso, eles não guardaram por muito tempo o seu resentimento contra Cimon, em parte, suponho, lembrando-se dos bons serviços que êle lhes prestara no passado, e em parte, creio, porque as circunstân-cias do momento a isso obrigavam. Derrotados em grande combate diante de Tanagre, eles esperavam que os peloponésios os atacassem com numerosas forças. À vista disso, revogaram o banimento de Cimon, por um decreto baixado pelo próprio Périeles, pois a inimizade dos homens, que eram civis e moderados naqueles tempos, suas fúrias, sempre prontas a serenar em se tratando do bem público, e a ambição, que é a mais forte e a mais veemente de todas as paixões que perturbam o espírito humano, cediam e se adaptavam às conveniências e às necessidades da coisa pública.

XXXIII. Logo que Cimon regressou, ele abafou a guerra e conciliou as duas cidades. Vendo, porém, que os atenienses não podiam viver em paz, preferindo estar continuamente em ação e enriquecer e engrandecer pelas guerras, receoso que eles se ligassem a algum povo grego, ou que, girando ao redor do Peloponeso e das ilhas da Grécia, com a grande esquadra que possuíam, chegassem a provocar a guerra civil entre os gregos, ou queixas dos seus aliados contra eles, Cimon armou e equipou duzentas galeras, para ir novamente guerrear em Chipre e no Egito, a fim de habituar os atenienses à guerra contra os bárbaros, e de quando em quando enriquecê-los dos despojos dos que realmente eram seus inimigos. Mas, achando-se tudo pronto para a partida, e as tropas preparadas para o embarque, à noite Cimon teve, dormindo, uma visão, que prevê-mu-o que uma cadela de caça, muito furiosa, latia contra êle, e no meio do seu latido proferia palavras humanas, dizendo:

Vem ousadamente, pois meus filhos e eu,
Se vieres, teremos nisso o maior prazer.

Sendo esta visão difícil de ser resolvida e interpretada, Astífilo, natural da cidade de Possidônia, pessoa bem exercitada em tais conjecturas, e íntimo amigo de Cimon, declarou-lhe que tal visão predizia-lhe a morte, usando destas palavras: "O cão é geralmente inimigo daquele contra quem late, e quer-lhe mal. Tua morte, para o inimigo, seria motivo de grande satisfação. Além disso, a mistura da voz humana com o latido de uma cadela denota um inimigo medo, cujas forças são constituídas de uma mescla de bárbaros e gregos". Depois de esclarecê-lo sobre a visão e sobre a maneira por que êle cedia ao deus Baco, o adivinho abriu a vítima que acabava de imolar, e, em torno do sangue que caiu ao chão, reuniu-se logo grande quantidade de formigas, que aos poucos levaram o sangue coagulado e cobriram com êle toda a volta do grande artelho do pé de Cimon, sem que ninguém percebesse. Seja como for, Cimon ficou ciente da aventura e de como devia proceder. Por fim, o ministro do sacrifício mostrou-lhe o fígado do animal imolado, tendo a extremidade mais volumosa já em decomposição, o que fazia antever um funesto presságio.

Êle vence a frota dos persas.

XXXIV. Todavia, como os acontecimentos avançassem mais rapidamente do que se esperava, êle não pôde furtar-se a esta viagem, e fêz-se ao mar, enviando sessenta de suas galeras ao Egito, e foi, com as restantes, bloquear a costa de Panfíha, onde destroçou a esquadra do rei da Pérsia, consti-tuída de galeras fenícias e cilícias, e conquistou as cidades limítrofes, na esperança de, assim, conseguir penetrar no Egito. Cimon não cogitava de pequenos empreendimentos; o que queria era destruir por completo o império persa, por saber ser Temístocles muito louvado e querido entre os bárbaros, pelo fato de haver prometido a seu rei comandar-lhe as forças e prestar-lhe os maiores auxílios, sempre que ele se decidisse guerrear os gregos. Foi por isso, dizem, que Temístocles, não conseguindo conduzir os negócios da Grécia ao ponto prometido, por ser-lhe difícil vencer a virtude e a sorte de Cimon, que conservava sua armada ao longo da ilha de Chipre, para grandes aventuras, entregou-se voluntariamente à morte. Neste cómenos ele mandou alguns dos seus homens ao oráculo de Júpiter Amon, para consultá-lo sobre coisas de caráter reservado, nunca se sabendo, nem antes, nem depois, para que os mandara. Eles não obtiveram qualquer resposta à consulta, pois, nem bem chegaram, o oráculo ordenou-lhes que voltassem, declarando-lhes que Cimon ali estivera antes deles. A esta resposta, os enviados fizeram-se logo ao mar.

De volta ao campo dos gregos, que se achavam no Egito a fim de auxiliá-los, souberam da morte de Cimon; e, só então perceberam que, veladamente, o oráculo de Júpiter lhes havia comunicado a sua morte, e de achar-se ele entre os deuses.

Sua morte.

XXXV. Êle pereceu no assédio à cidade de Cicio, em Chipre, na opinião de alguns, ou, segundo outros, de um golpe que recebeu em um recontro; ao morrer recomendou aos seus comandados que se afastassem sem comunicar a sua morte. Todos cumpriram as suas ordens, regressando sãos e salvos, sem que os aliados e mesmo os inimigos se apercebessem. De modo que, durante trinta dias, as forças gregas foram dirigidas e governadas por Cimon, embota morto, conforme relata Fanodemo, não havendo, depois dele, capitão grego que fizesse coisa memo-rável contra os bárbaros, porque os arengueiros e os governadores das principais cidades da Grécia lançaram seus súditos uns contra os outros, não havendo pessoa capaz de os apaziguar. As guerras civis, que muito aproveitaram aos persas, arruinaram o poderio dos gregos, tão grande que não há palavras que possam descrevê-lo.

Suas cinzas levadas para a Atiça. Os habitantes de Cicio honram seu sarcófago.

XXXVI. Muito depois, Agesilau levou as forças gregas à Ásia. Antes, porém, que êle conseguisse realizar algum feito memorável, foi obrigado a regressar à sua terra, para abafar as novas perturbaçôes e guerras civis, novamente desencadeadas entre os gregos. Ao fazê-lo, deixou os tesoureiros e financistas do rei da Pérsia encarregados de arrecadar tributos e benefícios das cidades gregas da Ásia, embora fossem aliadas e confederadas da Lacedemônia. Durante o governo de Cimon, nenhum comissário, beleguim ou guerreiro, mesmo com ordem ou mandato do rei, ousava aproximar-se da costa mais de vinte e quatro ou vinte e cinco léguas. As sepulturas, até hoje chamadas Címônia, atestam que suas cinzas e seus ossos foram transportados para a Ática. Todavia, os da cidade de Cicio ainda honram uma sepultura, que dizem ser o túmulo de Cimon, erguido, segundo escreveu o orador Nausicrates, porque, por ocasião da grande penúria e esterilidade da terra, um oráculo ordenou ao povo que não desprezasse Cimon, mas que o venerasse e honrasse como um deus. Tal foi a vida do capitão grego.


Tradução de Miguel Milano. Fonte: As Vidas dos Homens Ilustres de Plutarco.

Traduzidas do Grego por Amyot – Grande-Esmoler da Frabça. Com notas e observações de Brotier, Vauvilliers e Claviers.

Volume Quinto.

Conforme a edição francesa de 1818. (Paris, Janet e Cotelle) e ao texto de 1554.

Ed. das Américas.1962.

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