A separação
entre ser e pensar e suas contradições sociais, segundo Max Horkheimer
Por Ângelo Fornazari Batista .
A Teoria Crítica tem
como instrumentos metodológicos a dialética de Hegel e alguns conceitos
encontrados nas obras de Marx, tais como mais-valia, mercadoria e relação de
troca. Podemos dizer que para ela, a dialética é sua forca motriz, enquanto os
conceitos marxistas supracitados servem de apoio e mesmo corroboração de suas
teses.seu objeto de estudo é efetivamente a sociedade burguesa contemporânea,
tal como concebida e idealizada pela Revolução Francesa. Neste sentido a
afirmação de Horkheimer é esclarecedora: ´´… a Teoria Crítica é em sua
totalidade um único juízo de existência desenvolvido“. O referido juízo abarca
o objeto individual e real. Mostra as peculiaridades que o forma, recusando,
num certo sentido, o caráter hipotético de deduções no que diz respeito à
construção de seu conhecimento. De fato, a preocupação do individuo somente com
a sua auto-conservação; a síntese de conhecimentos caracterizada por uma razão
instrumentalizada; a eliminação de conceitos por fórmulas; o eficácia do tempo
livre dirigido por outrem; as associações intersubjetivas marcadas por relações
de trocas – entre outras determinações – são todos sintomas de nossa
sociedade e que de nenhuma maneira devem ser analisados fora deste mesmo
âmbito político e social. As qualidades de totalidade e unicidade que este
juízo comporta remetem, portanto, aos variados indícios de uma mesma realidade.
Indícios estes impregnados de contradições objetivas e subjetivas.
O cientista
tradicional, o teórico (neo)positivista e o senso comum fecham os olhos para
tais contradições. Enquanto uns vêem suas atividades como absolutamente
independizadas de outras ao seu redor, outros vêem na realidade a aparência do
concreto. O cientista de nossa época não é capaz de enxergar que seu fazer está
conectado com outras ciências. Pensa que é independente também em relação ao status
quo: sequer imagina que suas descobertas estão sendo exigidas e manipuladas
pela economia e o Estado burguês. O teórico atual olha para um mundo imóvel e
dado. Sua compulsão por números chega a ser passível de uma analise
psicanalítica. Olhar, classificar, ordenar, quantificar, expressar em gráficos:
tal é sua fascinação. Ao senso comum já está tudo como tem de estar ou como
deve estar. Até mesmo a força que Marx via no proletariado, hoje já não há mais
como ser pensada a rigor: esta classe social já se atomizou e dissolveu-se no establishment
mediante a propaganda e fetichização dos bens de consumo e produção.
A Teoria Crítica, ou
o juízo de existência desenvolvido, tenta entender por que as contradições não
são progressivamente superadas sem que invariavelmente tenha-se de voltar a
elas. Dito de outra forma, estudar o por que de estarmos na barbárie, se todas
as ferramentas objetivas necessárias para a conquista da liberdade concreta
humana estão em nossa época disponíveis. Já apontamos, no parágrafo acima,
algumas razões enunciadas por Horkheimer. Iremos, entretanto, nos demorar um
pouco mais na concepção que o teórico tradicional tem de si. Com relação a ele,
Horkheimer observa: “o dualismo entre pensar e ser, entendimento e percepção,
é para ele natural“.
A dicotomia entre res
cogitans e res extensa foi formal e materialmente explicitada por
Descartes. O existir do cogito é substancial. A relação entre o pensar e o
existir dá-se abstratamente, necessitando da mediação divina para o objeto
concreto se perfazer. A filosofia cartesiana foi incorporada à vida social,
tornou-se práxis, porém sem nenhuma mediação, pois a sociedade que serviria de
mediadora é vista sem vida: é movimentada mecanicamente. Enquanto o teórico
crítico compreende o pensar, o formular a teoria em permanente contato com o
ser, com o acontecer fático, com o agir. (Adorno dirá outrora: ´´Pensar é um
agir; teoria é uma forma de práxis.“) Para o outro teórico, sua teoria deve
obedecer aos fatos. Essa associação hierárquica supõe o fato como conseqüência
de um destino ahistórico e, portanto, alheio à sociedade. Uma instituição
qualquer não é vista como reflexo de uma atividade social sociedade, não é, por
assim dizer, um fazer humano, é tão somente algo que já está concluído,
impassível de contradições. Do mesmo modo, a separação entre entendimento e
percepção dá-se porque o objeto é pensado post factum, i. e., como
necessariamente lógico, mas não como uma imanente necessidade objetiva ou
concreta. O caráter natural que Horkheimer atribui a estas separações deve-se
por conta do teórico e mesmo de todos os outros indivíduos de nossa sociedade
não estarem mais aptos a fazer experiências. Se tolhida a experiência,
inevitavelmente todo e qualquer objeto já está concebido.
A dialética hegeliana não serve para Horkheimer enfatizar que existe um Espírito o qual comanda a
história do mundo, nem para identificar o particular com o geral. Antes,
mostrar que a práxis humana deve corresponder a uma sociedade igualmente
humana. Em nossa sociedade – ´´felizmente´´ vislumbrada por Marx – não há
possibilidade alguma de identificação entre contingente e necessário: somente a
exposição e denuncia das contradições.
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