O romance do Japão e Os Trágicos Esponsais da China – História do Mundo

O MUNDO DE "HOJE"

Henry Thomas em 1941;

Obs: as Opiniões dos autores não refletem necessariamente a dos envolvidos com este site.

 

O romance do Japão

ENTRE as raças brancas não pode a mais longa linha ancestral ir além de cinco séculos.

Contudo o imperador do Japão provém duma família, cuja linha ancestral se conservou intacta por dois mil e quinhentos anos.

E há chineses que dizem possuir registos de antepassados, que existiram há seis mil anos.

O povo acredita que o imperador do Japão descende da lua. Se um homem branco pertencesse a uma família que se ligasse diretamente a Alexandre Magno, nós o veneraríamos tão devotamente como cultua o japonês o seu imperador.

Imaginai uma ilha no Pacífico que, em meio do século XIX, permanecesse como há mil anos atrás. Enquanto o mundo ocidental inventava máquinas, derrubava monarquias e criava democracias, a pequena ilha do Japão vivia na Idade-Média, com seus curiosos castelos, seus cavalheiros pitorescos e seus característicos códigos de honra. Quando um cavalheiro atravessava uma rua, todos deveriam ajoelhar-se. Mostrar o menor desrespeito era arriscar-se a receber um golpe mortal de sua cimitarra. Quando um nobre cometia a menor quebra de etiqueta, esperava-se que executasse o hara-kiri, que era um método peculiar de suicidar-se: o nobre sentava-se sobre a esteira e matava-se, passando, em forma de cruz, uma espada pelo abdômen, primeiro da esquerda para a direita, e depois de cima para baixo. E seu melhor amigo, dando uma demonstração de amizade, ficava junto para cortar-lhe a cabeça.

Hara-kiri era um privilégio reservado aos homens. As mulheres não tinham permissão de recorrer a esse nobre processo de suicídio. Podiam contudo cortar a garganta com uma adaga e seccionar as artérias.

Ensinavam-se às mulheres a sorrir na tristeza e a alegrar-se quando recebiam a notícia de que seus maridos tinham sido mortos no campo de batalha.

O governo do Japão estava nas mãos dos nobres chamados shoguns. O imperador residia num palácio, na antiga capital Quioto, onde era reverenciado como um deus e tinha licença de viver e morrer na pobreza, enquanto os shoguns governavam o país. Os pobres imperadores, nada tendo de melhor a fazer, passavam a vida fabricando guarda-chuvas, pauzinhos para levar comida à boca, palitos de dentes, ou jogando baralho. Mas quando o shogun atravessava as ruas em seu carro de bois, "todas janelas tinham de fechar-se, todos os fogos deviam ser extintos e todos tinham de ajoelhar-se na estrada, com a cabeça na poeira."

A altura média do japonês antigo era de lm,60 para os homens e lm,49 para as mulheres. Essa pequena estatura, como muitos dietistas acreditam, era devida à insuficiência de cal na alimentação japonesa. Um dos heróis fabulosos do Japão, To mura Maro, era descrito como um grande guerreiro, que atingiu a bela altura de lm,65.

As elegantes do Japão empoavam o rosto, avermelhavam as faces, douravam o lábio inferior e escureciam artificialmente os dentes. Às mulheres não era permitido fazer qualquer ruído quando comiam, mas os homens deviam demonstrar seu agrado pela comida de seu anfitrião, arrotando.

E então, apareceram nessa vida pitoresca e primitiva os americanos e os europeus. Em 1853, o comodoro americano Perry velejou para os mares do Japão. Era como uma incursão no Reino das Fadas. Mas a abertura dos portos japoneses rapidamente transformou aquela poética terra de fadas num prosaico estado moderno. Dentro de uma única geração, o Japão pulou do século X para o XX. Os servos foram libertados, os cavalheiros eliminados como classe, e o imperador arrancado de sua pobreza e colocado num esplêndido palácio em Tóquio. Promulgou uma constituição, com um governo de gabinete e uma assembléia legislativa. Mas o imperador é ainda olhado como uma divindade. Até mesmo seu médico deve usar luvas quando o examina. A-pesar-de toda essa divindade, o imperador atual é um afável homenzinho, interessado principalmente em mariscos e que preferiria muito mais ser um estudante de biologia que o chefe de uma nação.

A política japonesa foi dominada durante muitos anos por várias sociedades terroristas (a Sociedade do Lobo Branco, a Sociedade do Leopardo, a Sociedade do Faisão Dourado) cuja finalidade era assassinar as principais figuras políticas da facção adversária.

Cerca de sessenta por cento da riqueza do Japão é controlada por meia dúzia de famílias. Mas a família japonesa é na realidade um clã com milhares de membros. Esses clãs adotam um jovem noivo da mesma tribu e casam-no com uma das filhas.

O Japão é uma das regiões mais superpovoadas do mundo. Imaginai 69 milhões de seres vivendo numa área do tamanho do Estado de Maranhão e crescendo numa proporção de um milhão de habitantes por ano. O Japão é uma terra faminta. Somente dezesseis por cento de seu território é arável. Nos Estados-Unidos há trinta e oito pessoas para cada milha quadrada de território cultivado. No Japão há para cada milha quadrada de território cultivado quase mil pessoas. Metade das regiões do globo fecharam suas portas à imigração japonesa.

A França adquiriu bastante território para igualar vinte e oito vezes seu próprio tamanho; a pequena Bélgica possue território igual a quarenta vezes seu tamanho; a Holanda possue território igual a cincoenta vezes seu ta-

manho; a Inglaterra tem um império cento e dez vez o seu tamanho. O Japão, também, deseja conquistar novas terras, especialmente na China e na Sibéria. Este, hoje, é o problema do Japão… e o problema do Japão é o problema do mundo.

Os trágicos esponsais da China

"ERA gentil costume dos chineses em seus documen-tos oficiais, anteriores a 1860, escreve o dr. Will Durant, "empregar o termo bárbaro em vez de estrangeiro", — tão superiores se consideravam eles aos europeus e aos americanos. E por que não? — perguntar-vos-á o sábio pensador. Na verdade um dos sábios (Keyserling) acha que os chineses são talvez "os mais profundos de todos os homens*’. Há pouquíssimas raças que possam vangloriar-se de cultura igual à dos chineses. Sua poesia vai além do ano 1700 antes de Cristo. Seu governo, durante muitos séculos, foi uma dinastia de filósofos. A China já era uma nação organizada e civilizada, quando a Grécia era ainda habitada por selvagens nômades.

Para compreender a história da China, devemos estudar, não seus reis e suas batalhas, mas seus filósofos e seus poetas. Porque a história chinesa é mais uma crônica de grandes pensamentos que de poderosas façanhas. Houve um homem de estado chinês que merece, contudo, menção; o famoso Shi-Huang-Ti. Esse homem, que viveu no terceiro século antes de Cristo, unificou os reinos da China e construiu a Grande Muralha Chinesa. Essa muralha tem 1500 milhas de extensão.. . uma proeza de engenharia que reduz à insignificância as pirâmides.

Apesar-disso, Shi-Huang-Ti foi impopular. Seus súbditos ressentiam-se com seus métodos ditatoriais. Tinha êle tanto medo de ser assassinado, que se sentava no

trono com a espada sobre os joelhos. Passou a velhice procurando um remédio contra a morte. Quando morreu, seu corpo, para que se disfarçasse o desagradável fedor, foi comboiado ao túmulo em meio duma caravana de peixe podre. Os que carregaram o caixão foram enterrados vivos com o cadáver, afim de que o segredo de seu túmulo morresse com eles. Quanto ao que aconteceu aos homens que enterraram os carregadores, pois eles, também, deviam conhecer o segredo do túmulo, nada sabemos, estamos no escuro.

De 140 a 87, antes de Cristo, o imperador Wu Ti estabeleceu um regime socialista, na China, o primeiro que menciona a história. Oitenta anos mais tarde, Wang Mang aboliu a escravidão (isto foi cerca de 1900 anos antes da guerra civil americana) e distribuiu a terra entre os camponeses que acabava de criar.

A antiga China, o REINO DAS FLORES, era uma terra de saber e de luxo. "Seus lagos viviam cheios de embarcações de recreios, esculpidas e pintadas; vestidos de peles eram mais frequentes na Ch’ang-an do oitavo século que na Nova York de hoje. Certa cidade possuía fábricas de seda, que empregavam cem mil operários. Serviam-se manjares raros e saborosos em mesas marchetadas de esmeraldas, estátuas eram esculpidas em rubis; cadáveres eram enterrados em leitos de pérola. Era o mais esclarecido, o mais progressista e o mais bem governado império da face da terra". Escolhiam-se os homens de estado, para exercer os cargos públicos, por meio de concursos. Os políticos eram poetas e filósofos.

Wang-An-Shih, que ascendeu ao trono em 1021, disse, num documento oficial: "O estado tomará a completa direção do comércio, da indústria e da agricultura". Juntas eram formadas em cada distrito para regular os salários e os preços dos gêneros alimentícios. Estabelecia-se um sistema orçamentário e concediam-se pensões aos velhos, aos desempregados e aos pobres.

Os antigos chineses eram proficientes não somente na poesia e na política, mas na ciência. Inventaram o papel de escrever, no segundo século, e introduziram a tinta preta na Europa, no terceiro. Usaram prelos desde o nono século. Os chineses foram também os inventores da pólvora, mas a usavam para fogos de artifício e não com fins destrutivos, até o século XII.

Nessa tranquila e culta civilização penetrou a Europa. Os portugueses chegaram a Cantão em 1517. Duzentos anos mais tarde, um grupo de comerciantes ingleses da índia começou a fazer comércio de ópio com a China. Quando o governo chinês proibiu o uso dessa droga, rebentou uma guerra com a Inglaterra. Os ingleses tomaram Hong-Kong e, em 1860, com o auxílio da França, capturaram Cantão. Encorajados pelo atraso do povo chinês em assuntos militares, quase todas as nações européias serviram-se de um pedaço do império chinês. A Rússia expandiu-se pelo norte até a Coréia; a França agatanhou a Indo-China, no sul; a Alemanha e a Inglaterra dividiram a meias o território intermediário.

A imperatriz viúva, Tz’u Hsi, revoltou-se contra a introdução de idéias ocidentais na vida chinesa. Um grupo de nacionalistas chineses, fanáticos, iniciou um massacre de missionários europeus. A Europa interveio e a revolta dos Boxers terminou em 1900.

Mas a China tinha sido arrancada do seu sonho da idade de ouro. Despertou subitamente, não só para os vícios, mas para as virtudes da civilização européia. Em 1912, um rapaz chamado Sun Yat Sen, que se havia convertido recentemente ao cristianismo, fomentou uma revolução para derrubar o sistema de monarquia chinesa já fora de moda. A mãe do jovem imperador, de uma maneira caracteristicamente chinesa, disse: "Hoje o povo do império inteiro entregou seu coração à república… Como posso eu, por causa da glória e da honra de uma família, contrariar o desejo de inumeráveis milhões? Por isso eu, com o imperador, decido que a forma de governo na China seja uma República Constitucional."

Desde esse tempo, não gozou mais a China de unidade e de paz. A velha civilização desapareceu. A república chinesa é um caos de desordem e1 de guerra. Em 1922, os russos converteram grande parte da China ao comunismo. O Japão, durante a Grande Guerra, deitou as mãos ao território de Kiau-Chau. Muitos estudantes chineses choravam pelas ruas e suicidavam-se de vergonha. Em 1931-1932, o Japão apoderou-se da Mandchúria e fê-la um estado separado, o Mandchukuô, debaixo do controle japonês. A pressão japonesa continuou no norte da China, explodindo afinal numa guerra, entre o Japão e a China,- em 1937.

A China, outrora a mais conservadora das nações, tornou-se agora, com exceção da Rússia, a mais radical. Mas a condição dos operários é lastimável. O salário semanal do operário têxtil é de Cr$ 34,00 a Cr$ 55,00, e o tempo de trabalho, de doze horas por dia.

Os chineses de hoje conhecem mais os vícios que as virtudes da vida ocidental. A ocidentalização tombou sobre eles demasiado inesperadamente. Comparai a civilização da China no século X com a dos tempos atuais. Hoje só vemos campos arruinados, florestas devastadas, trabalhadores famintos, camponeses exhaustos, crianças emaciadas, governos corruptos, defesas fracas e universal desespero.

O solo chinês é contudo vasto e rico em minerais. E seu povo conta-se entre os mais inteligentes do mundo. Trágica é a situação presente da China, mas não é desesperadora.

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