PARALELO ENTRE TITO QUÍNCIO FLAMÍNINO E FILOPÊMENE – Plutarco – Vida dos Homens Ilustres
Baseado na tradução em francês de Amyot, com notas de Clavier, Vauvilliers e Brotier. Tradução brasileira de José Carlos Chaves. Fonte: Ed. das Américas
I. Chegou agora o momento de compararmos Tito Quíncio Flamínino com Filopêmene. Se tivermos em vista a magnitude dos benefícios prestados à nação grega, nem Filopêmene, nem quaisquer das outras grandes personalidades ou capitães possuídores de maiores qualidades do que êle poderão ser comparados com Tito. Todas estas grandes personagens eram gregas e fizeram guerra aos próprios gregos, enquanto que Tito", não sendo grego, fêz a guerra pela Grécia; além disso, enquanto Filopêmene, não. dispondo de recursos para socorrer seus pobres concidadãos, atormentados por uma guerra perigosa, seguiu para a ilha de Cândia, Tito, após derrotar Filipe, rei da Macedônia, libertou todos os povos e todas as cidades da Grécia. E se se examinar as batalhas pelejadas por um e outro, ver-se-á que Filopêmene, comandando os aqueus, fêz morrer mais gregos do que Tito macedônios, ao combater contra estes pela liberdade da Grécia.
II. E, quanto aos defeitos, um era ambicioso, o outro obstinado; um irritava-se facilmente, o outro era difícil de apaziguar. Tito deixou ao rei Filipe o seu reino e dignidade real, após tê-lo vencido, e deu provas de grande benignidade em relação aos étólios; Filopêmene, num momento de- cólera, privou a sua própria pátria de vários burgos e aldeias, que sempre tinham sido seus contribuintes. Tito mantinha-se o amigo constante daquele a quem um dia prestara serviço; Filopêmene, quando se encolerizava, era capaz de tirar aquilo que havia dado, de desfazer o prazer que havia causado. Depois de ter sido o protetor dos lacedemônios, arrasou as muralhas de sua cidade, devastou o território de seu país e acabou subvertendo toda a forma de seu governo.
E parece mesmo que a sua própria morte foi uma conseqüência de sua cólera e teimosia, pois atacou Messena com precipitação e fora de tempo, em vez de imitar Tito, que em todas as suas ações sempre agia cem grande prudência e bom-senso, tendo sempre em vista a segurança.
III. Se considerarmos o número de batalhas e vitórias de ambos, encontraremos em Filopêmene mais experiência do que em Tito, A guerra deste contra Filipe terminou com apenas dois combates. Filopêmene, vencedor de um grande número de batalhas, deixou bem claro que sua capacidade o ajudou muito mais a alcançar vitórias do que a sua sorte. Além disso, Tito encontrou no poderio de Roma, que estava então em seu apogeu, grandes facilidades para se tornar ilustre, enquanto que Filopêmene se tornou famoso no declínio da Grécia; deste modo, os êxitos de um são comuns a todos os romanos, e os do outro são sua própria obra. O capitão romano comandava bons e valorosos combatentes, e que já o eram antes dele; e Filopêmene, após ter sido nomeado capitão, tornou os seus comandados em bons e aguerridos soldados, o que não eram antes,
IV. Todos os combates de Filopêmene foram travados contra os gregos; e, se esta circunstância não pode ser considerada feliz, constitui pelo menos uma grande prova de seu valor; pois onde todas as coisas são iguais, vencem os que têm maior virtude. Ora, Filopêmene combateu contra os povos mais belicosos da Grécia, os candiotas e os lacedemônios, lendo vencido os mais ardilosos com astúcia e saga cidade e os mais valentes com sua audácia.
V. Por outro lado, Tito, para vencer, empregou apenas os meios que já encontrou preparados e ordenados, ou seja, a disciplina militar e uma tática já estabelecida, a que os combatentes estavam, havia já muito tempo, acostumados; Filopêmene, ao contrário, teve de introduzir esses meies em seu país,
modificando todas as normas seguidas anteriormente pelas tropas. Assim, aquilo que mais influi para o desfecho favorável de uma batalha foi criado por
um e apenas empregado pelo outro, pois que tudo encontrou já preparado.
VI. Quanto à bravura pessoal, podem-se citar vários e belos atos de Filopêmene, mas nem um sequer de Tito. Ao contrário, conta-se que um etólio
chamado Arquedemo, zombando dele, certa ocasião, censurou-o porque, do decorrer de uma batalha, quando, com a espada, na mão, avançava sobre os
macedônios, vendo que estes estavam dispostos a resistir e a combater, ergueu as mãos para o céu, e dirigiu suas preces aos deuses, permanecendo imóvel,
precisamente num momento em que devia agir. Aliás, todas as belas ações da vida de Tito foram pratica das quando no exercício das funções de cônsul ou
comandante substituto, ou, de qualquer modo, de magistrado; mas Filopêmene sempre se mostrou ativo entre os aqueus, tanto quando era um simples
particular como quando os comandava. Êle estava à sua frente quando expulsou Nábis (1) da Messena, e livrou os messênios da servidão; e, como simples particular, fechou as portas de Esparta diante de Diófanes, capitão dos aqueus, e de Tito, impedindo que entrassem na cidade e a saqueassem.
VIL A natureza fizera-o de tal modo para o comando que êle não comandava apenas de acordo com as leis, mas comandava, por assim dizer, as próprias leis, quando necessário e o interesse público o exigia. Nestas ocasiões, não esperava que os por êle governados lhe conferissem poderes para comandar, mas assumia esses poderes, deles se utilizando no momento oportuno. Na sua opinião o mais legítimo capitão era aquele que sabia o que convinha aos cidadãos fazerem, e não aquele por estes eleito. Não se pode senão aplaudir os atos de clemência e de bondade praticados por Tito em relação aos gregos; mas os atos de bravura e de magnanimidade praticados por Filopêmene em relação aos romanos ainda são mais merecedores de elogios. Com efeito, é muito mais fácil recompensar e fazer o bem aos pobres do que se expor a desagradar os poderosos, a eles resistindo.
(1) Comparando estas palavras com o que Plutarco diz na Vida de Filopêmene, cap. XX, ver-se-á que êle foi traído pela sua memória. Não creio, contudo, que se deva colocar uma nega ção no texto, como propôs Xilandro; o que segue mostra que Plutarco escreveu da maneira como vemos no texto. (Nota de Clavier).
VIII. Pois que, após haver comparado estes dois grandes homens, verifica-se ser difícil discernir perfeitamente aquilo que os diferencia, não deixaria talvez de ser um julgamento eqüitativo conferir ao capitão grego a coroa da experiência militar e da arte de comandar, e, ao romano, a da clemência, da justiça e da bondade.
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