43. Quando acabaram de falar, vasto silêncio desceu
sobre o teatro. Díon ergueu-se, porém as lágrimas que
derrubava abundantemente sufocaram-lhe a voz. Os estrangeiros encorajavam e
compartilhavam seu sofrimento. Depois que se refez um tanto da comoção,
disse: "Peloponésios e aliados! Reuni-vos aqui para que delibereis
sobre um assunto que toca de perto vossos interesses. Quanto a mim, estando
Siracusa em Perigo não é preciso tomar decisões: se
não puder salvá-la, irei sepultar-me no incêndio e na
ruína da minha pátria. Vós, se consentis ainda em nos
ajudar – a nós, os mais imprudentes e infelizes dos homens -, vinde
soerguer a cidade que é obra vossa. Todavia, caso o ressentimento contra
os siracusanos fechar-vos os olhos para sua situação, peço
aos deuses que vos compensem dignamente pela coragem e zelo com que até
agora trabalhastes por mim. Lembrai-vos de Díon, que há pouco,
quando fostes vítimas da injustiça, não vos abandonou e
também não abandonará seus cidadãos caídos
em desgraça".
Falava ainda quando os estrangeiros se levantaram aos brados, pedindo-lhe
que os conduzisse sem mais tardança em socorro da cidade. Os enviados
siracusanos beijaram-no afetuosamente e suplicaram aos deuses que concedessem a
Díon e aos estrangeiros toda a felicidade possível. Quando o
tumulto se acalmou, Díon ordenou que os soldados fossem se prepararam
para partir imediatamente, depois de comer, deveriam voltar com suas armas
àquele mesmo local, pois tencionava sair em auxílio de Siracusa
durante a noite.
44. Entrementes, em Siracusa, os generais de
Dionísio, depois de infligir inomináveis males à cidade
durante todo o dia, retiraram-se de noite para a acrópole. Haviam
perdido alguns homens.
Os demagogos, então, recobraram coragem, esperando que os inimigos, saciados de devastação,
permaneceriam tranqüilos. Sugeriram que os cidadãos dispersassem.
Díon pela segunda vez, e, se ele se aproximasse com seus estrangeiros,
recusassem-lhe acolhidas; não deveriam ceder ante o valor daquela gente,
como se ela lhes fosse superior, mas salvar sozinhos a cidade e a liberdade,
utilizando os próprios recursos. Os estrategos então enviaram
novos emissários a Díon para demovê-lo de voltar; mas os
cavaleiros e notáveis o mesmo, a fim de apressar-lhe a marcha.
Díon avançava lentamente. Ao cair da noite, seus
adversários ocuparam os portões, resolvidos a barrar a entrada.
Mas Nípsio, lançando de novo a cidadela contra a cidade
mercenários ainda mais resolutos e numerosos, iniciou imediatamente a
demolição do muro de defesa e percorreu a cidade, devastando-a. Agora
se matavam não apenas os homens, mas também as mulheres e
crianças. Não havia pilhagens, mas tudo era destruído uma
vez que, desesperando da situação, o filho de Dionísio
passara a odiar intensamente os siracusanos – e Nípsio, por assim dizer,
queria sepultar a tirania moribunda sob as ruínas da cidade. Para obstar
à chegada de Díon, os soldados recorreram ao meio de
destruição e aniquilamento mais rápido: o fogo. Munidos de
tochas, incendiavam o que viam pela frente e disparavam projéteis
inflamados contra objetivos mais distantes. Os siracusanos que fugiam eram
apanhados e massacrados nas ruas; os que buscavam refúgio nas casas
saíam expulsos pelas chamas, enquanto vários edifícios,
já esbraseados, ruíam sobre os passantes.
Díon novamente em Siracusa. 45. Foi
sobretudo esse flagelo que pôs todos os cidadãos de acordo para
abrir a Díon as portas da cidade. Diminuíra ainda mais a marcha
ao saber que os inimigos se haviam encerrado na cidadela. Mas, no decorrer do
dia, surgiram cavaleiros anunciando-lhe que a cidade fora tomada pela segunda
vez, e depois até alguns de seus adversários se apresentaram para
apressá-lo. Como a gravidade da desgraça não cessasse de
aumentar, Heráclides despachou-lhe seu irmão e em seguida seu tio
Teódoto a suplicar que socorresse Siracusa, pois já
ninguém resistia ao inimigo, ele próprio estava ferido e pouco
faltava para que a cidade fosse completamente destruída pelo
incêndio. Quando essas mensagens chegaram ao conhecimento de Díon,
achava-se ainda a sessenta estádios (9) das portas. Informou os
estrangeiros da urgência do perigo, exortou-os e conduziu o
exército não mais a passa, porém na corrida, enquanto iam
constantemente chegando novos emissários para pressioná-lo. Os
mercenários avançaram com rapidez e ardor admiráveis, e
Díon entrou pela porta que dá para o chamado Hecatômpedo.
Prontamente lançou suas tropas ligeiras contra o inimigo, a fim de com o
exemplo restaurar a coragem dos siracusanos que os observassem, e alinhou os
hoplitas em ordem de batalha. Formou em colunas os cidadãos que
afluíam e se agrupavam em torno dele, partilhando o comando entre
vários chefes para provocar mais pânico com um ataque desfechado
de todos os lados ao mesmo tempo.
46. Depois de fazer esses preparativos e orar aos deuses,
marchou contra o inimigo pelas ruas da cidade. Foi então uma
explosão de gritos e de alegria, de vivas exclamações
misturadas a votos e encorajamentos da parte dos siracusanos, que chamavam
Díon seu salvador e seu deus, e os estrangeiros seus irmãos e
compatriotas. Nas circunstâncias, ninguém era suficientemente
egoísta e ligado à vida para não mostrar mais
inquietação por Díon que por todos os outros juntos,
vendo-o rumar à testa da tropa para o perigo, em meio ao fogo, ao sangue
e à profusão de cadáveres que atulhavam as praças.
Por sua vez, os inimigos ofereciam um espetáculo assustador: espumantes
de raiva e alinhados ao longo da muralha, tornavam o acesso penoso e difícil
de forçar. Mas era sobretudo o perigo do incêndio que
embaraçava os estrangeiros e atrapalhavam sua marcha. Cercados pelas
chamas que brilhavam devorando as casas, tropeçando em destroços incandescentes,
tentado escapar na carreira aos desabamentos que os ameaçavam com seu
enorme peso e atravessando densas nuvens de poeira e fumaça, tentavam
ainda assim permanecer agrupados em e boa ordem. Quando o contato foi
estabelecido, só um pequeno número de pôde engalfinhar-se,
dada a estreiteza e desigualdade do terreno. Os soldados de Díon, porém,
animados pelos gritos entusiásticos dos siracusanos, conseguiram abalar
as tropas de Nípsio, que em sua maioria foram achar
salvação na cidadela, muito próxima. Os que ficaram do
lado de fora e se dispersaram acabaram perseguidos e mortos pelos estrangeiros.
Bom seria gozar imediatamente a vitória, entregar-se à euforia e
às congratulações como tamanho feito merecia. Mas as
circunstâncias eram adversas e os siracusanos tiveram primeiro que
ocupar-se de suas casas, só com imensa dificuldade conseguindo extinguir
o incêndio durante a noite.
47. Quando rompeu o dia, nenhum demagogo encontrava-se na
cidade: todos haviam condenado a si mesmos ao exílio, salvo
Heráclides e Teódoto, que se puseram nas mãos de
Díon reconhecendo sua culpa e pedindo-lhe que mostrasse mais brandura
para com eles do que a que haviam mostrado para com Díon. Arrazoavam:
"Convém a Díon, já incomparável pela soma de
suas virtudes, mostrar-se também, triunfando do ressentimento, superior
aos ingratos que ora se confessam vencidos por aquela virtude devido à
qual, há pouco, se revoltaram contra ele". Enquanto
Heráclides e Teódoto imploravam, os amigos de Díon
aconselhavam-no a não poupar indivíduos perversos e invejosos,
mas a entregar Heráclides aos soldados e extirpar do governo a demagogia,
doença insidiosa e não menos funesta que a tirania. Para
tranqüilizá-los, Díon respondeu: "Os outros generais
estão mais afeitos às armas e à guerra. Mas eu, na
Academia, durante muito tempo exercitei-me para domar a cólera, a
inveja, e o espírito de querela. Ora, mostramos que tivemos êxito
não pela moderação para com os amigos e homens de bem, mas
quando, alvos de iniqüidades, deixamo-nos dobrar pelos culpados e os
tratamos com doçura. Não desejo ultrapassar tanto
Heráclides em inteligência e poder quanto em bondade e
justiça, pois é aí que reside a verdadeira superioridade.
Os êxitos da guerra, esses, mesmo que não sejam contestados pelos
homens, podem sê-lo pela fortuna. Se a inveja torna Heráclides desleal
e censurável, não é razão para que Díon empane
sua virtude com a cólera. Bem sei que, segundo as leis, considera-se
mais justo vingar uma injustiça que cometê-la – mas, segundo a
natureza, esses dois atos procedem de uma só e mesma fraqueza. A maldade
humana, por penosa que seja, não é tão completamente
selvagem e intratável que não possa mudar, vencida pelo
reconhecimento que inspiram os benefícios reiterados".
48. Com base nesses raciocínios, Díon soltou
Heráclides e Teódoto. Passando a ocupar-se da
fortificação, ordenou aos siracusanos que cortassem, cada um, uma
estaca e a pusessem de parte. Depois, colocou os estrangeiros a trabalhar
durante a noite e, enquanto os siracusanos dormiam, mandou cercar a
acrópole com uma paliçada, às escondidas deles. Dia claro,
cidadãos e inimigos, observando o resultado, sentiram-se igualmente
surpresos com a rapidez com que a obra fora executada.
Díon sepultou então os siracusanos mortos, libertou os
prisioneiros (que não eram menos de dois mil) e convocou a
assembléia. Heráclides, tomando a palavra, propôs que Díon
fosse eleito estratego com plenos poderes em terra e mar. Os notáveis
aprovaram e pediram que se proclamasse imediatamente à
votação, mas a turba dos marinheiros e operários (banâusoi)
protestou ruidosamente, aborrecida com ver Heráclides despojado de suas
funções de almirante e convencida de que ele, mesmo que lhe
faltassem outras qualidades, era pelo menos muito ligado ao povo e mais
subserviente à massa do que Díon. Este cedeu e fez devolver
à Heráclides o comando da frota. Opôs-se, entretanto,
à partilha de terra e moradias, que a multidão exigia, e
invalidou o que antes fora decretado a esse respeito. Os ânimos se
irritaram. Extraindo daí um novo pretexto, Heráclides,
então em Messina, intrigou junto a soldados e marinheiros que haviam
embarcado com ele e excitou-os contra Díon, a quem acusava de aspirante
à tirania. Em segredo, tratou com Dionísio por intermédio
de Farace de Esparta. Os princípios notáveis de Siracusa ficaram
suspeitosos e rebentou no exército uma sedição que reduziu
Siracusa a tal penúria que Díon já não sabia mais
que partido tomar. Os amigos acusavam-no de ter fortalecido contra si
próprio um homem tão intratável, tão corrompido
pela inveja e a maldade como Heráclides.
49. Farace acampou em Neápolis, no território
de Ácraga, e Díon saiu com os siracusanos para atacá-lo.
Sua intenção era travar mais tarde a batalha decisiva contra ele,
mas Heráclides e os marinheiros resmungavam que de fato não
queria terminar a guerra por um combate, mas protelá-la para firmar-se
no poder. Díon, pois, viu-se obrigado a atacar e foi batido. A derrota,
porém, não era grave e sobreveio principalmente em conseqüência
da desordem provocada pelo motim da soldadesca.
Díon se preparava para nova batalha e alinhava as tropas,
encorajando-as com discursos, quando, no começo da noite, soube que Heráclides
singrava com a frota para Siracusa, decidido a assenhorar-se da cidade e
proibir a entrada a Díon e seu exército. Convocando imediatamente
os cavaleiros mais robustos e devotados, Díon cavalgou a noite inteira
e, na terceira hora do dia, estava às portas da cidade. Cobria
setecentos estádios.
Heráclides, que com seus navios esforçava-se para ser
rápido, chegou tarde demais e teve de se fazer novamente ao mar.
Pôs-se a errar de uma costa a outra, sem projeto meditado, e acabou
topando com o espartano Gesilo, que se disse enviado da Lacedemônia para
assumir o comando dos siracusanos, como outrora Gílipo. Heráclides
acolheu-o alegremente como uma salvaguarda contra Díon, espécie
de amuleto dos que se trazem ao pescoço e apresentou-os aos aliados e
enviou um arauto aos siracusanos conclamando-os a aceitar o espartano como
chefe. Díon respondeu que aos Siracusanos não faltavam chefes
competentes e que, em todo caso, se a situação reclamava um
espartano, ali estava ele mesmo, que recebera em Esparta o direito de cidade.
Gesilo renunciou ao comando, foi ao encontro de Díon e reconciliou-o com
Heráclides, que prestou juramento oferecendo as mais solenes garantias.
Por seu turno, Gesilo jurou que vingaria Díon a puniria
Heráclides se este concebesse desígnios traiçoeiros.
Dionísio entrega a acrópole. 50. Após
esses acontecimentos, os siracusanos licenciaram a frota, de que não
mais precisavam. Além do mais, ela exigia enormes despesas para navegar
e constituía para os chefes motivo de dissensão. A seguir,
assediaram a cidadela, após completar a muralha circundante.
Como ninguém viesse em socorro dos sitiados, os víveres
faltassem e seus mercenários se tornassem ameaçadores, o filho de
Dionísio, despeserado da situação, parlamentou com
Díon, entregou-lhe a acrópole com as armas e o resto do material,
e, levando a mãe e as irmãs, fez-se ao mar ao encontro do pai com
cinco trirremes. Díon permitiu que ele partisse com toda a segurança.
Nenhuma pessoa em Siracusa deixou de comparecer para apreciar o
espetáculo. Em altos brados, invocavam os ausentes que já
não podiam participar daquela jornada e admirar o sol se erguendo sobre
Siracusa livre. Se ainda hoje o exílio de Dionísio é considerado
um dos maiores e mais gritantes exemplos conhecidos da instabilidade da
fortuna, qual não deve ter sido então a alegria dos siracusanos?
Que orgulho não terão experimentado, eles que, munidos de
tão frágeis meios, haviam derrubado a mais possante tirania que
jamais existiu?
51. Após a partida de Apolócrates,
Díon compareceu à acrópole. As mulheres não tiveram
paciência de esperá-lo entrar: correram para a porta.
Aristômaca trazia o filho de Díon; Arete seguia-a chorando, perguntado-se
como haveria com o marido, como o saudaria depois de ter vivido com outro.
Díon beijou primeiro a irmã e depois o filho. Aristômaca,
então, puxou Arete e disse: "Fomos muito infelizes, Díon,
durante teu exílio. Retornando vitorioso, livraste-nos a todas do peso
de nossas misérias, com exceção apenas desta mulher, que
com dor vi obrigada a desposar um outro, estando tu ainda vivo. Agora que a
sorte te fez senhor de nós, como encararás a
situação a que ela foi reduzida? Deverás abraçar-te
como a um tio ou como a um marido também?".
Assim falou Aristômaca. Díon, banhado em lágrimas,
acolheu ternamente a esposa e, confiando-lhe o filho, enviou-a para a casa onde
ele próprio residia. A cidadela, entregou-a aos siracusanos.
52. Depois de tamanhos êxitos, Díon não
quis gozar sua felicidade antes de ter distribuído favores e presentes
aos amigos e aliados, sobretudo antes de mimosear os cidadãos aos quais
estava ligado e seus soldados estrangeiros com a quota de afeição
e honra que eles mereciam. A magnanimidade de Díon, com efeito, ultrapassava
seu poder.
Ele próprio regulava seu modo de vida pelo que tinha ao alcance, com
frugalidade e simplicidade. No momento em que era admirado e não apenas
a Sicília e Cartago, mas a Grécia inteira voltava os olhos para
ele e seu sucesso; em que os companheiros não podiam crer que houvesse
homem maior, em que nenhum outro chefe parecia possuir tamanha audácia e
sorte – nesse momento, mostrava-se tão modesto nos trajes, no aparato e
na mesa como se vivesse na Academia em companhia de Platão, e não
no meio de mercenários e oficiais para quem a vida alegre e os prazeres
quotidianos são a consolação das fadigas e perigos.
Platão escreveu-lhe que todos os homens da terra tinham os olhos
cravados nele só. Mas parece que o próprio Díon olhava
apenas para um sítio e uma cidade, a Academia, não reconhecendo
como seus examinadores e juízes senão os que lá se achavam
e que, em lugar de admirar-lhe os feitos, a coragem e a vitória,
observavam unicamente se ele aproveitava a sorte com conveniência e
sabedoria, mostrando-se moderado em tão grande prosperidade.
Quanto à sua gravidade nos relacionamentos humanos e à sua
rigidez para com o povo, tinha como ponto de honra não minorá-las
sem desmenti-las, mesmo quando os negócios exigiam dele flexibilidade e
ainda que Platão o exprobrasse de longe, como vimos, escrevendo-lhe que
"a arrogância é a companheira habitual da
solidão". É de si evidente que sua natureza prestava-se
dificilmente nos métodos da persuasão e que ele se empenhava com
todas as forças em arrancar os siracusanos a uma vida licenciosa e
debilitante.
53. E Heráclides voltava aos ataques. Convocado ao
Conselho, recusou-se a comparecer alegando que era um simples particular e
só fazia parte da Assembléia, com os outros cidadãos. Em
seguida, exprobrou Díon por ele não ter arrasado a cidadela, nem
permitido ao povo, como este desejava, abrir o túmulo de Dionísio
e profanar o cadáver; enfim, por ter chamado de Corinto conselheiros
para governar com ele, denotando assim seu desdém pelos compatriotas. Na
verdade, Díon convocara coríntios da esperança de que, com
sua ajuda, estabeleceria mais comodamente o regime político que tinha em mira. Queria impedir
o advento da democracia pura, que, como Platão, considerava não
uma constituição, mas uma barafunda de
constituições. Aspirava a uma forma de Estado aparentada ao
sistema lacônico e cretense, misturada de democracia e realeza onde a
democracia supervisionasse e arbitrasse os negócios políticos
mais importantes. Ora, sabia que os coríntios possuíam uma
constituição predominantemente oligárquica e só
permitiam ao povo tratar de questões de somenos. Contra semelhante
projeto, contava sobretudo com a insurreição de
Heráclides, que conhecia como homem turbulento, leviano e faccioso, e
por isso teve de abandoná-lo aos que de há muito exigiam sua
morte, coisa que até então Díon os impedira de levar a
cabo. Introduziram-se, pois, na casa de Heráclides, e mataram-no. O
assassinato desagradou vivamente os siracusanos; não obstante, como
Díon preparasse para Heráclides brilhantes funerais, seguisse o
cotejo com o exército e discursasse em seguida, perdoaram-no,
compreendendo que a turbulência não cessaria na cidade enquanto
Díon e Heráclides participassem juntos da vida política.
Morte de Díon. 54. Díon tinha um companheiro
vindo de Atenas, Calipo, que conheceram e a quem se ligara, segundo
Platão, não durante seus estudos, mas por ocasião das
iniciações dos mistérios. A partir daí, suas
relações não cessaram. Calipo tomara parte na
expedição e tantas honras obteve que foi, de todos os
companheiros de Díon, o primeiro que entrou com ele em Siracusa, com uma
coroa na cabeça. Também se assinalara brilhantemente nos
combates. Todavia, depois que Díon perdeu, na guerra, seus principais e
melhores amigos, e que Heráclides foi morto, Calipo, percebendo que em
Siracusa a democracia já não tinha chefe e ele próprio
gozava de ampla consideração junto aos soldados de Díon,
tornou-se o mais celerado dos homens. Esperando firmemente dominar a
Sicília como prêmio do assassinato de seu hóspede (e
havendo mesmo, como sustentaram alguns, recebido dos inimigos vinte talentos
para perpetuar o crime), subornou os mercenários e voltou-os contra
Díon, preparando o mais odioso, o mais pérfido dos conluios.