“Vida do Padre Francisco de Xavier” de Pe. Lucena e “Crônica do felicíssimo Rei Dom Emanuel” de DAMIÃO DE GÓIS

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Cônego Fernandes Pinheiro (1825 – 1876)

CURSO DE LITERATURA NACIONAL

LIÇÃO XV

biografia

Todos sabem que pela palavra biografia se entende a história de um indivíduo, que por qualquer circunstância se tornou notável. É fora de dúvida que fornecem elas grande subsídio à história geral de um país por encerrarem grande número de fatos anedóticos, que nesta ficariam deslocados, senão impróprios. Estudando minuciosamente a vida dos protagonistas, conhecendo de perto o seu caráter, tendências, e quiçá aspirações, melhor compreenderemos o drama que ante nós se desdobra. Rejeita a gravidade da história grande número de pormenores que com proveito registra o biógrafo; assim pois, de muitos mistérios dos anais gregos e romanos faz-nos a revelação Plutarco, cuja leitura J. J. Rousseau preferia a todas as outras.

Entre os escritores do período manuelino apenas encontramos um a quem caiba propriamente a denominação de biógrafo, e ainda assim querem alguns que seja ele classificado entre os hagiógrafos, subdivisão criada para as vidas dos santos e varões apostólicos. Desejando porém, quanto nos for possível, simplificar este nosso tosco trabalho, afastar-nos-emos por vezes das rigorosas regras bibliográficas em bem da clareza e da fácil compreensão das matérias. É pois em virtude deste princípio que fugiremos sempre de multiplicar as divisões e subdivisões em que tanto se embaraça o espírito.

PADRE JOÃO DE LUCENA

O Padre João de Lucena é o biógrafo a quem nos referimos. Nasceu na vila de Trancoso, bispado de Viseu, em 1550, entrando na tenra idade de quinze anos para a Companhia de Jesus, onde se distinguiu pelas suas muitas luzes e exemplar conduta. Lecionou com grandes aplausos filosofia na universidade de Évora, e não menor reputação granjeou como orador sagrado. Faleceu em Lisboa na casa-mãe de S. Roque (que assim apelidaram os jesuítas o seu principal colégio), no ano de 1600, deixando apenas duas obras. São elas uns Comentários a S. Mateus, compostos em latim, que não lhe consentiu a morte que terminasse, e a Vida do Padre Francisco de Xavier, impressa em Lisboa em 1600 por Pedro Cras-beeck em um volume in-folio. Esta obra foi traduzida em italiano por Zannetti e em castelhano por Francisco de Lyra, merecendo igualmente as honras de uma versão latina, se dermos crédito ao testemunho de Manuel Severim de Faria. Ocupemo-nos com este escrito biográfico que intitulou:

Vida do Padre Francisco de Xavier, e do que fizeram na índia os mais religiosos da Companhia de Jesus.

Os relevantes serviços prestados à causa do cristianismo, e por conseqüência da civilização, por S. Francisco de Xavier, serviços reconhecidos pelos próprios protestantes, e que tão sincero quão eloqüente elogio ditaram ao ilustre Macaulay, acharam no Padre J. de Lucena um digno pregoeiro, que em claro, elegante e puro estilo os transmitiu à posteridade. Não era possível que, percorrendo nós a brilhante plêiade dos clássicos portugueses, omitíssemos o nome do douto jesuíta, que tão bem conheceu e praticou o nosso idioma. Estamos certo porém que não agradará a todos o livro de Lucena, e que poucos quererão dar-se ao trabalho de respigar belezas dentre os falsos arabescos e anacrônicos ouropéis que o espírito de classe e as idéias do tempo lhe ministraram. Qual é porém o autor isento de defeitos? e quantos deixaram de sacrificar nas aras da moda? Sejamos justos e avaliemos os homens pelo seu mérito intrínseco.

Patriótico coração pulsava em Lucena debaixo da roupeta de jesuíta, e digno se faz de menção o modo por que fala do gênio marítimo dos portugueses. Ouçamo-lo:

Os que escreveram em linguagens estrangeiras esta, ou algumas das histórias da índia, tratam largamente em semelhantes ocasiões da calidade e grandeza das naus e armadas, que partem do Reino; da sorte e número da gente que levam, e das dificuldades da navegação, em que se gasta meio ano, dobra meio mundo, descobrem no céu novas estrelas, nos mares ilhas sem conto, na terra Reinos, portos, cabos nunca vistos. Mas nós que escrevemos em Portugal, e por servir aos portugueses, a quem a viagem e carreira da índia é já quase natureza, como que somos desobrigados de apontar destas cousas para entendimento das do P. Francisco, assim não é rezam, que nos dilatemos nelas curiosamente.

Do seu talento descritivo deu-nos o autor excelente prova na pintura que faz de um temporal no Oceano Índico, que se lê no livro quinto capítulo vigésimo; e da qual citaremos este fragmento:

Logo os venttfs saíram saltando dum rumo noutro, e correndo-os todos breve e impetuosamente, como se por soçobrar a nau mudaram os postos e provaram as forças, que por isso o P. Francisco falando deste grande temporal na carta de Janeiro de quarenta e oito lhe chama não uma só mas muitas tormentas, e as maiores que até então vira no mar. Três dias e três noites os assombrou a morte; havendo pola continua cerração bem pouca diferença dum ao outro tempo: senão quanto as águas, que arrebentando em frol de dia eram da cor do pez, feias e escuras: de noite quebravam em fogo com tanto espanto, que o puseram a quem as vira da praia. A nau quando o impe-to do vento a tomava sobre o cume dos mares mais parecia cortar poios ares que polas ondas; mas subitamente abrindo-se e apartando-se umas das outras aquelas grandes montanhas de água, assi se sumia entre elas como se a meteram e deixaram nos abismos. E (sem prejuízo do que acima dissemos) também pode ser que estas subldes e descidas tão frequentes e tão profundas são o profundo do mar, em que o Apóstolo se viu no Arquipélago da Grécia, e aqui o P- M. Francisco, ambos em serviço do mesmo Evangelho. Esforçou-se a gente a trabalhar ao princípio da tormenta, mas depois que o tempo continuou, e os mares vinham já feitos de longe, e sobremaneira grossos, nem a nau acudia ao leme, nem os ventos davam lugar a se marearem as velas, e um pequeno bolso que metiam era num momento arrebatado. O escuro da noite, o estrondo das ondas, o assoprar do vento, o ranger da madeira, as vozes dos que mandavam, a grita de todos, não representava menos que a confusão do inferno. Té que alijadas as fazendas por remir as vidas, e andando já a árvore seca, sem outro governo que o da fúria do tempo sem outra esperança que a do céu, sem outro pensamento que o da morte, tudo eram lágrimas e votos.

Contrasta a veemência de estilo na passagem que acabamos de citar com a simplicidade com que traça o quadro da natureza e produções do Japão. Citemo-lo integralmente:

Há por estas terras ricas minas de prata, cuja fama e cobiça é a que de tantas mil léguas chama as nossas naus, que nenhuma outra mercadoria trazem do Japão. Os campos são regados de rio d’água doce muitos e caudais que juntamente com as contínuas neves do inverno e chuvas no verão os fizeram férteis e rendosos, se as perpé-* tuas guerras o não impediram a agricultura, ou não levaram ante tempo os frutos dela, com que a terra tem de esterilidade mais infâmia que culpa. Cria arroz principal mantimento dos moradores, que eles colhem por setembro, e trigo que vem grado por maio; do qual porém não fazem pão, dado que o comam noutra iguaria. As frutas algumas são as mesmas, ou semelhantes às nossas, tendo muitas diferentes das plantas das quais, todo outro arvoredo é bem coberto o’ terreno nos altos como nos baixos, povoados de toda a sorte de aves e animais de cuja caça e montaria grandemente se deleitam, e vivem em parte os Japões; porque não curando eles, como fazemcs na Europa, nem de apascentar gados, nem de pomba’s para pombas, nem de outra alguma criação em suas casas, ou herdades; pelos campos contudo andam os cavalos, que lhes servem na guerra, os bois em bandos, é os matos cheios de toda a veação, porcos, coelhos, não faltando das aves, faisões, galinhas silvestres, pombos, rolas, codor-nizes e muitas outras sortes. E da mesma maneira é grande a abundância de pescado no mar e nos rios. As águas delgadas e os ares sãos. A terra enfim tão acomodada pera quem se acomoda ao pouco que há mister a vida, que se não acharam muitas onde ela tenha geralmente o prazo nem melhor, nem mais largo; porque o ordinário é passar a gente dos setenta anos com as forças tão inteiras que começando dos quinze até os sessenta não deixam armas.

Sabia também o delicado colorista manejar a pena de Platão e de S. Agostinho; para exemplo do que vejamos de que maneira demonstra ele o consolador dogma da imortalidade da alma:

Onde há bom governo e providência há suficiente prêmio e castigo para os que merecem. E Deus como autor da natureza governa o mundo que criou em infinita providência: há logo de castigar os maus e premiar os bons. E contudo vemos que desta vida mortal muitos dos melhores’saem sem o devido galardão, que a passam e acabam em pobreza, trabalhos, afrontas, enfermidades, lágrimas, e contínuas misérias; à vista de outros sem conto, que sendo indignos de nascer, nem acabam de morrer, cuja é a saúde, a gentileza, a fazenda, a honra que logram por largos anos triunfando da vida, não cabendo na terra sem respeito do céu, nem memória do mesmo Deus. Logo nem uns nem outros acabam por morte de tal maneira que não fique de todos alguma coisa, em a qual o criador satisfazendo a obrgação de sua divina providência, pague bastantemente a virtude e castigue o vício. E constando do corpo que se resolve todo nos elementos, sobre não ser de si capaz de tal satisfação, necessário é que confessemos a vida imortal das almas; que como ainda nos corpos lhes cabe ma;s do prazer e pesar, da glória e da afronta, dos gostos e dos desgostos; assi podem apartadas e livres deles de que as criou, ou em pena, ou em prêmio, quando de tudo isto merecerem.

Com primoroso pincel desenhou o que os retóricos chamam retrato e etopéia falando das feições, e das principais qualidades do seu herói:

Foi o P. Francisco de Xavier de justa estatura, mais grande que pequeno, não farto de carne, bem formado, e homem de grande compleição e forças. O rosto grave e em boa proporção no cumprimento e largura, a cor naturalmente branca e rosada de mas, de andar sempre como inflamado, os olhos entre negros e castanhos; a testa larga, e nariz moderado, a barba preta, e em todo o semblante tinha com muito ar muita autoridade, trouxe sempre o cabelo copado, não usou nunca mantéu sobre a roupeta, que era pobre mas limpa. Andava com ela solta tomando-a com ambas as mãos um pouco sobre os peitos. Na conversação descarregado, brando para com todos, e só áspero e rigoroso para consigo: de alto espírito e generoso coração, a quem sem dúvida foram estreitos os termos de todo o Oriente, apressado nas execuções, e do tanto valor no cometer das empresas que então o julgavam (e muito ma’s o houveram hoje) por temerário os que não sabiam da divina confiança, com que entrava em tudo, e da luz e prudência do céu com que se governava.

Pensamos que suficientes serão os excertos que havemos feito para que por si julgue o leitor do mérito" literário do padre João de Lucena. Cumpre-nos porém confessar que ele copiou com ligeiras variantes as notícias biográficas que acerca de S. Francisco Xavier escrevera o padre Tursel:no e que a sua obra é em muitos lugares verdadeira paráfrase da Peregrinação de Fernão Mendes Pinto.

DAMIÃO DE GÓIS

Nasceu este distinto escritor na vila de Alenquer no ano de 1501 e, sendo admitido ao serviço de el-rei D. Manuel quando apenas contava nove anos de idade, permaneceu nele até o falecimento deste monarca, ocorrido em 1521. Viajou por vários países tendo o feliz ensejo de prestar à sua pátria relevantíssimos serviços e dando cabal conta das diversas comissões que por el-rei D. João III lhe foram confiadas. De volta à pátria recebeu em remuneração os importantes cargos de guarda-mor da Torre do Tombo, e cronista-mor do reino, além de uma comenda da ordem de Cristo. Amargurados porém foram os derradeiros dias de sua vida; por isso que, acusado de simpatizar com as doutrinas de Lutero e de outros sectários com quem praticara em suas peregrinações pela Alemanha, foi arrastado duas vezes aos cárceres da Inquisição, sendo da segunda condenado a expiar suas culpas em reclusão e rigorosa penitência no mosteiro da Batalha. Parece porém que lhe fora afinal relaxada a reclusão e concedida licença para recolher-se à sua casa, onde o acharam morto de modo misterioso.

A mais notável das obras de Damião de Gó*s, e que por isso escolhemos para assunto de nosso estudo, é certamente a

Crônica do felicíssimo Rei Dom Emanuel, cuja primeira edição foi a de Lisboa, publicada por partes de 1566 a 1567. Teve mais três, sendo duas de Lisboa nos anos de 1619 e 1749 e a última de Coimbra em 1730, impressa nas oficinas da Universidade.

De merecido conceito goza este clássico não hesitando o padre Antônio Pereira em colocá-lo imediatamente depois de Barros, opinião que não partilhamos, ainda que grande seja a nossa veneração para com o ilustre filólogo oratoriano. Jul gando-o inferior a Castanheda, a Lucena, e a alguns outros contemporâneos seus, reconhecemos com o marquês de Alegrete "que foi ele quem começou a elevar a maior grau de perfeição a história portuguesa nas crônicas que compôs."

Simples é o estilo de Góis e grave a narração que faz dos acontecimentos, muitos dos quais se passaram a seus olhos, sendo de outros informado por fidedignas testemunhas. Penetra já em seu livro um raio da luz filosófica e por vezes manifesta veleidades de querer submeter à crítica os sucessos que relata. Para exemplo do que acabamos de d:zer bastará mencionar o modo por que refere a horrível matança dos cristãos-novos, efetuada em Lisboa no ano de 1506, e como rejeita a versão do milagre que lhe dera origem:

Antes que El-Rei fosse d’Almeirim (diz ele no capítulo CII da parte) ordenou de mandar Tristão da Cunha à índia por capitão de uma armada, da qual e do que nesta viagem fez se dirá adiante, no ano de mil quinhentos e oito, em que tornou. Peio que nestes dois capítulos que são os derradeiros desta prime ra parte, tratarei de um tumulto, e levantamento que se aos dezenove de Abril deste ano de mil quinhentos e seis em domingo de Pascoela fez em Lisboa contra os cristãos-novos, que foi pela maneira seguinte: No mosteiro de São Domingos da dita cidade está uma capela que chamavam de Jesu, e nela um crucifixo, em que foi então visto um sinal, a que davam cor de milagre, conquanto os que se na igreja acharam julgavam ser o contrário, dos quais um cristão-novo diz que lhe parecia uma candeia acesa que estava posta no lado da imagem da Jesu, o que ouvindo alguns homens baixos o tiraram pelos cabelos arrasto fora da igreja, e o mataram e o queimaram logo o corpo no resio. Ao qual alvoroço acudiu muito povo, a quem um frade fez uma pregação convocando-o contra os crstãos-novos, após o que saíram dois frades do mosteiro, com um crucifixo nas mãos bradando, heresia, heresia: o que imprimiu tanto em muita gente estrangeira popular, marinheiros de naus, que então de Holanda, Zelanda, Hoes telanda e outras, assi homens de terra, da mesma condição e pouca calidade, que juntos mais de quinhentos, começaram a matar todos os cristãos-novos que achavam pelas ruas, e os corpos mortos e meios vivos lançavam e queimavam em fogueiras que tinham feitas na ribeira, e no resio, ao qual negócio lhes serv’am escravos e moços que muita diligênca acarretavam lenha e outros materiais para acender o fogo no qual domingo de Pascoela mataram mais de quinhentas pessoas. A esta turma de maus homens, e dos frades, que sem temor de Deus andavam pelas ruas concitando o povo a esta tamanha crueldade se juntaram mais de mil homens da terra, da calidade dos outros, que todos juntos a segunda-feira continuaram nesta maldade com mor crueza, e por já na rua não acharem cristãos-novos foram cometer com vaivéns e escadas as casas em que viviam, ou onde sabiam que estavam; e tirando-os delas arrasto os lançavam de m’s-tura vivos e mortos nas fogueiras, sem nenhuma piedade, e era tamanha a crueza que até nos meninos e nas crianças que estavam no berço os executavam, tomando-os pelas pernas, fendendo-os em pedaços e esborrachando-os d’arremesso nas paredes.

Cumpre não esquecer em honra do benemérito cronista que assi escrevendo incorria no ódio da Inquisição, de cuja vingança já demos notícia. Em todas as épocas houve homens assaz corajosos para estigmatizarem os excessos e abusos donde quer que partissem estes.

Ofereçamos como espécimen da simplicidade e pureza da linguagem de Góis a descrição por ele feita da Terra de Santa Cruz, hoje chamada Brasil. Dentre muitos belos trechos demos preferência a este por mais de perto tocar-nos.

Esta terra de Santa-Cruz que jaz na demarcação e conquista destes reinos, com a que descobriram, e conquistaram os reis de Castela, a que chamam Antilhas e Peru, são tamanhas com outras províncias juntas a ela, correndo de norte a sul, que por sua grandeza lhe puseram os cosmógrafos desse tempo o nome de novo mundo, as descrições do sítio e clima dos quais deixarei aos mesmos cosmógrafos, cujo tal ofício é, e eu, seguindo o que toca ao meu, direi algumas particularidades desta província de Santa-Cruz, e dos costumes da gente de que é habitada. A terra é muito viçosa, muito temperada, e de muitos bons ares, muito sadia, tanto que a mor parte da gente que morre é de velhice, mais do que de doença; tem muitas e grandes ribeiras e mutos bons portos, e muitas fontes de muito boas águas, a mais da terra é de montes e vales, cheia de bosques em que há árvores de desvairadas sortes, entre as quais é a árvore do bálsamo e o pau brasil, há muitas ervas odoríferas e medicinais, delas diferentes das nossas, entre as quais é a que chamamos de fumo e eu chamaria erva santa, a que dizem que eles chamam betum, de cuja virtude poderia aqui por cousas milagrosas, de que eu vi a experiência, principalmente em casos desesperados d’apotemas ulceradas, fístulas, caranguejas, pólipos, frenesis, e outros muitos casos…

A gente desta província é baça, de cabelo preto, comprido e corredio, sem barba, de meia estatura; são tão bárbaros que em nenhuma coisa crêem, nem adoram; nem sabem ler, nem escrever, nem têm igrejas, nem usam imagens de nenhum gênero, ante as quais possam idolatrar, nem têm lei, nem peso, nem medida, nem moeda, nem rei, nem senhor; obedecem somente àqueles que nas guerras que têm uns com os outros, são mais valentes, e destes fazem cabeça, enquanto não cometem covardia, andam nus, e se alguns se cobrem são os nobres, com vestidos que fazem de penas de papagaios, e de outras aves de diversas cores, tecidos com o fio de algodão.

Pondo de parte o que há de inexato nesta pintura de Góis, somos forçados a confessar que a ingenuidade do seu estilo emparelha com a de Pero Vaz Caminha, na sua célebre carta, escrita a el-rei D. Manuel, noticiando-lhe o descobrimento do Brasil.

Como biógrafo não é ele estreme de defeitos: a imparcialidade não lhe guia a pena quando se refere ao seu herói. O que mais eram porém as crônicas dos reis, escritas por pessoas aditas ao serviço, e vivendo em constante dependência? Prestou Damião de Góis assinalados serviços à história de seu país; porquanto, de envolta com os fatos individuais do seu protagonista, mencionou grande número de acontecimentos políticos; e, gozando da privança do grande príncipe que então dirigia os destinos de Portugal, podemos nas páginas do seu livro encontrar a explicação de muitos problemas históricos. Em uma palavra, tem este escritor para nós a importância que Suetônio teve para os romanos.

Fonte: editora Cátedra – MEC – 1978

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