Antônio Peregrino Maciel Monteiro, 2.º barão de Itamaracá

Silvio Romero (Lagarto, 21 de abril de 1851 — 18 de junho de 1914) – História da Literatura Brasileira

Vol. III. Contribuições e estudos gerais para o exato conhecimento da literatura brasileira. Fonte: José Olympio / MEC.

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TRANSIÇÃO

POETAS DE TRANSIÇÃO ENTRE CLÁSSICOS E ROMÂNTICOS

Se a história da literatura brasileira fosse um simples amontoado de notícias biográficas e a citação de alguns trechos poéticos, ela estaria feita no Parnaso de Cunha Barbosa ou no Florilégio de Varnhagen.

Mas se a própria história política vai já atendendo mais ao caráter psicológico dos povos do que aos fatos meramente exteriores, e, por assim dizer, materiais, ainda mais a história literária deve ter por missão penetrar no ideal das nações para surpreender-lhes a vida subjetiva.

Se, em quatro séculos de convivência com a civilização ocidental, o povo brasileiro, na esfera da arte das criações intelectuais, não tivesse feito mais do que plagiar, copiar sem critério os modelos europeus; se um caráter novo, se uma nova feição nacional não viesse sequer despontando, o povo brasileiro seria um produto artificial, cedo condenado à morte, e não valeria a pena escrever-lhe a história.

A quem percorre, é certo, uma dessas antologias de nossos poetas, um desses parnasos aí publicados, se depara o ainda incerto valor de nossas produções.

Considerada, porém, a vida do país em sua totalidade, na sua lida de quatrocentos anos, quando se percorre o estádio já trilhado, e apreciam-se os resultados obtidos, uma idéia mais auspiciosa acode ao espírito.

Um imenso país descoberto e colonizado; duas raças bárbaras senhoreadas por uma raça superior; populações novas formadas; invasões estrangeiras repelidas; comércio, indústria, autonomia política, certos impulsos originais ; tudo isto repercutiu no espírito do povo e habilitou-o a ter também um caráter próprio. As canções populares e as notas mais vívidas de nosso lirismo fornecem a prova.

A primeira época de nossa literatura (1500-1750), a que chamei o período de formação, apresenta em esboço os mais apreciados temas da estesia pátria: — a natureza e o espetáculo-das raças selvagens.

A segunda época, o grande período de nosso desenvolvimento autonômico (1750-1830), é a da elaboração da independência política e da atividade literária e científica.

Tivemos também então o nosso proto-romantismo nas produções dos poetas mineiros.

Nos primeiros quarenta anos do século XIX os acontecimentos políticos precipitaram-se. Estada de João VI no Brasil, Independência, reinado do 1.° imperador, Abdicação, revoluções da Regência, tudo executou-se em trinta e dous anos (1808-1840).

Os homens do tempo de D. João foram os mesmos que trabalharam com Pedro I e em grande parte figuraram na Regência.

E se os tempos do filho de D. Maria I e os tempos do 1.° imperador executaram a dissolução do regímen colonial, como se tem por hábito dizer, o período regencial executou, na esfera literária, a dissolução do regímen clássico.

A rotina crítica entre nós estabeleceu que o romantismo surgiu no Brasil em 1836 com a publicação dos Suspiros Poéticos de Magalhães.

A verdade é que já antes tivéramos o proto-romantismo dos poetas mineiros, e já tínhamos sido visitados pelo romantismo político de que a Constituição do Império foi um excelente espécimen. A verdade é que antes de Magalhães diversos poetas haviam abraçado os princípios da nova escola, especialmente entre os estudantes de Olinda e São Paulo desde 1829.

Maciel Monteiro, Cândido de Araújo Viana, Odorico Mendes, Moniz Barreto, Barros Falcão, Augusto de Queiroga, seu irmão Salomé, Bernardino Ribeiro, Firmino Silva, Álvaro de Macedo e José Maria do Amaral são algum tanto anteriores a Magalhães.

São estes os poetas que chamarei de transição. A eles podem ligar-se Antônio Félix Martins, José Maria Velho da Silva, João Capistrano Bandeira de Melo,- D. Delfina da Cunha e o português José Soares de Azevedo.1

Apreciarei em globo os principais destes poetas e escritores.

Todos eles escreveram pouco, e alguns não deixaram livros publicados. É o caso, entre outros, do mais ilustre de todos — Maciel Monteiro. É o que se vai ver a começar por este.

Antônio Peregrino Maciel Monteiro (1804-1868) era pernambucano.

Político, orador, diplomata, foi, antes e acima de tudo, uma organização artística, um poeta.

Infelizmente não são muitos os documentos por onde possa ser apreciado.2

É muito difícil estereotipar a fisionomia literária de um homem de quem se lê apenas meia dúzia de produções ligeiras.

Tanto quanto é possível fazê-lo, Maciel Monteiro parece ter sido um epicurista, um homem dos salões, um enamorado, um causeur de talento.

Não tinha a gaucherie própria dos homens do Norte do Brasil; era alegre, espirituoso, delicado, de maneiras galantes, um conquistador. Tal a fama que deixou. Não tenho documentos para estudá-lo por esta face; consta que achou-se no Recife, no Rio e Lisboa envolvido em muitas e interessantes intrigas amorosas.

Não tenho documentos; e, quando os tivesse, não os utilizaria; porque neste assunto só têm valor aqueles fatos que se prendem ao desenvolvimento e ao viver literário.

O estudo dos salões europeus, cujos comparsas eram homens de talento ou de gênio e damas de alta cultura, o estudo de tais salões, que foram verdadeiros focos de vida política e literária, tem um alto alcance para a história intelectual.

No Brasil, onde as letras são uma superfetação em grande parte, e onde os salões podem brilhar pelo doce fulgor dos olhos das belas, mas não brilham decerto pela originalidade das idéias, um tal estudo é escusado e ridículo.

1. Náo falo de Paula Brito, por demasiado medíocre como poeta.
2. Náo faço biografia propriamente dita; este trabalho delxo-o aos escritores do gênero. Veja-se no Ano Biográfico, de J. Manuel de Macedo, no Dicionário Bibliográfico Brasileiro, de V. A. Sacramento Blake, e no Dicionário Biográfico de Pernambucanos Célebres, de P. A. Pereira da Costa — a biografia do poeta.

 

Oh! os salões dos tempos de Pedro I e da Regência!

Deveriam, como os de hoje, singularizar-se, quando muito, por algum namoro lúbrico e burguês.

Por este lado pode-se deixar em paz o Barão de Itamaracá.

Foi essa tendência pelo salonismo e pelas aventuras amorosas o defeito e a vantagem do seu talento.

O defeito, porque foi isso que o impediu de ser um trabalhador ativo, um espírito sério e profundo, um fator em nosso desenvolvimento.

A vantagem, porque foi essa inclinação que o conservou sempre em excitação sentimental e em eretismo lírico.

Todos, ou quase todos os seus versos foram feitos a suas namoradas, a suas amantes.

Deles ressuma a sensualidade, a sede do gozo.

Não são paixões profundas, inocentes e sinceras; são anelos, solicitações de um galanteador.

Falam mais à imaginação de que ao sentimento.

São versos de um orador e de um diplomata, são versos de um D. Juan de talento.

Ei-lo a solicitar:

"Formosa, qual pincel em tela fina
Debuxar jamais pôde, ou nunca ousara;
Formosa, qual jamais desabrochara
Em primavera rosa purpurina;

Formosa, qual se a própria mão divina
Lhe alinhara o contorno e a forma rara;
Formosa, qual jamais no céu brilhara
Astro gentil, estrela peregrina;

Formosa, qual se a natureza e a arte,
Dando as mãos em seus dons, em seus lavores,
Jamais soube imitar no todo, ou parte;

Mulher celeste, ó anjo de primores!
Quem pode ver-te, sem querer amar-te!
Quem pode amar-te sem morrer de amores!

É belo isto e é sincero, dessa sinceridade do namorado consistente em ardores e protestos; é o orgasmo crepitante do meridional.

Ali era a ânsia de possuir a mulher amada; agora é o sentimento de deixá-la, de perdê-la.

Não saciado, ao poeta punge a recordação do deleite esvaecido:

"Ela foi-se!… E com ela foi minh’alma
N’asa veloz da brisa sussurrante,
Que, ufana do tesouro que levava,
Ia… corria… e como vai distante!

Voava a brisa, no atrevido rapto Frisava do oceano a face lisa; Eu que a brisa acalmar tentava insano, Com meus suspiros alentava a brisa.

— No horizonte esconder-se anuviado
Eu a vi; e dous pontos luminosos
Apenas onde ela ia me mostravam:
Eram eles seus olhos lacrimosos!

Pouco e pouco empanou-se a luz confusa,
Que me sorria lá dos olhos seus;
E dalém ondulando uma aura amiga
Aos meus ouvidos repetiu — adeus!

Nada mais via eu, nem mesmo um raio
Fulgir a furto d’esperança bela;
Mas meus olhos ilusos descobriram
Numa amável visão a imagem dela.

Esvaiu-se a visão, qual nuvem áurea
Ao bafejar da vespertina aragem;
Se aos olhos eu perdia a imagem sua,
No meu peito eu achava a sua imagem.

Ela foi-se!… E com ela foi minh’alma
Na asa veloz da brisa sussurrante,
Que, ufana do tesouro que levava,
Ia… corria… e como vai distante!"

Vê-se que se está em pleno lirismo romântico.

Maciel Monteiro assistiu em Paris, de 1822 a 1829, quando ali cursava a Escola de Medicina, às lutas das novas doutrinas literárias.

É provável que desde então escrevesse versos.

Em 1830 já se achava de volta no Brasil, e tomou logo depois parte nas agitações políticas do período regen-cial. Foi deputado e ministro nessa época. Um homem desses, testemunha das mutações literárias operadas em França no terceiro decênio do XIX século, não esperava, para ter a nova intuição, que Magalhães, espírito muito mais tardio, clássico emperrado ainda em 1832 nas Poesias

Avulsas, fosse à Europa e enviasse dali os Suspiros Poéticos em 1836.

É certo que grande cópia dos escritos de Maciel Monteiro, e dos outros poetas que incluo neste capítulo, é posterior a este último ano.

Mas importa não perder de vista que nesse tempo as linhas dirigentes do pensar de todos eles já estavam assentadas.

Os ciclos literários são como circunferências que se tocam. Os operários de uma época alcançam os obreiros da época seguinte e colaboram com eles. As datas aqui não têm o significado rigoroso que podem ter em outros assuntos.

É possível que todos os versos que restam do poeta pernambucano sejam mais recentes, sejam ulteriores aos Suspiros. E, todavia, tudo leva a induzir que o lirista do Norte nada deveu ao Visconde de Araguaia. Sua antecedência no Velho Mundo, e, acima de tudo, a índole de seu estilo, e a natureza de seu talento, são a prova. Ei-lo ainda no ardor de namorado:

"Se eu fora a flor querida, a flor mais bela
De quantas brilham no matiz, na gala;
Se o meu perfume fora mais suave
Que esse que a rosa no Oriente exala;

Se em volta a mim os zéfiros traidores
Sussurrando viessem bafejar-me,
E com moles blandicias, brandos mimos
Tentassem da minh’haste arrebatar-me;

Se o vário beija-flor tão feiticeiro,
Desprezando uma a uma as demais flores,
Em meu virgíneo, delicado seio
Depusesse seus beijos, seus amores;

Num vaso de esmeralda eu não quisera
Os aposentos decorar brilhantes
Do soberbo Nababo de Golconda,
Que pisa em pér’las, topa nos diamantes.

Tampouco eu cobiçara ornar o seio
Dessa jovem britânica princesa,
Em quem o brilho do diadema augusto
Luz menos que os encantos da beleza.

Pousar, senhora, fora o meu desejo
Em vossa fronte tão serena e bela,
E fazer que em seu vôo o tempo rápido
A
asa impura não ouse roçar nela.

Como um raio da vossa formosura
Refletiria em mim seu fogo santo!
Como a fragrância dos cabelos vossos
Dera a minha fragrância novo encanto!

Aí como vaidosa eu ostentara
Todo o meu esplendor.
E qual rainha
Num trono de ouro ousara disputar-me
Minh’alta condição, e a glória minha?

Mas já que a flor não sou apetecida
(Que o não consentem fados meus adversos)
Não recuseis, senhora, a flor silvestre
Que o bardo vos ofrece nestes versos."

Dos escritos deste poeta exala-se o calor, a vida, o entusiasmo de uma natureza robusta e sadia.

Era um homem de festas, um homem de prazeres, um espírito pagão, para quem a poesia era riso e flores, um instrumento de notas alegres e vívidas.

Nada de melancolia, nada de prantos, nada da moléstia comum aos românticos — a monomania da tristeza.

A poesia, como a praticava Maciel Monteiro, a poesia, como efusão momentânea, como produto de ocasião, não raro transforma-se num artefacto de encomenda, um man-jarzinho de banquete. Mandam-se buscar versos para a festa, como amêndoas e doces para a mesa. Não há dúvida; isto acontece especialmente com certa classe de espíritos medíocres, dotados da habilidade mecânica de versejar, e dotados de bastante desfaçatez para poluir a arte em adulações por atacado.

Houve aí muitos destes menestréis de patuscadas e jantares.

Não é desta espécie de poesia que falo. Refiro-me àquela que é uma festa do espírito, uma exuberância da alma, um trasbordamento de certas naturezas ricamente dotadas. O Barão de Itamaracá era deste número. Tinha os exageros dos liristas por índole;

"Gênio! Gênio!… inda mais!
Supremo esforço
Das mãos de Deus no ardor do entusiasmo!
És um anjo ou mulher, tu que nos roubas
Do culto o amor, o êxtase do pasmo?

Na pujança do vôo a águia soberba
Tenta o céu devassar, exausta pára:
Nas asas do lirismo, tu de Jeová
Ao templo chegas, e te prostras n’ara.

Aí, c’roaaa de fulgente auréola,
No concerto dos anjos te misturas;
E se cantas na terra, são teus hinos
Harmonias que ouviste nas alturas.

Aí aspiras o lustral perfume,
Que das umas sagradas se evapora:
Eis por que tua voz parece ungida
Dos olores da flor que orvalha a aurora.

Aí ‘do coração na harpa animada
As cordas descobriste de ouro estreme,
Que, se vibram de amor, ateiam n’alma
Paixão que goza e sofre, canta e geme.

Aí o idioma típico aprendeste,
Que entendem todos e que tudo exprime:
É assim teu olhar o verbo vivo,
É teu gesto a linguagem mais sublime.

Mistério augusto que do Eterno ao fiat S
urgiste qual visão que atrai, fascina;
Se da mulher teu corpo veste a forma,
Arde no gênio teu chama divina.

Mulher, ou anjo! Cumpre a missão tua!
Seja a crença deleite, a fé doçura:
Toda a terra ame ao céu nos seus prodígios.
Adore o Criador na criatura."

Poeta de talento objetivista, era para esperar de Maciel Monteiro se deixasse cativar pelo mundo exterior e decantasse, como tantos outros, a natureza do Brasil.

Não foi assim.

No mundo exterior o que o encantava era a sociedade e especialmente a sociedade das mulheres.

Sua musa eram as formas corretas, os contornos abundantes, as curvas graciosas dos corpos femininos.

Um sarau, um baile davam-lhe febre e eram a sua fonte de Aganipe.

Perfumado e correto, atirava-se aos salões à cata de suas deidades; chamavam-no o doutor cheiroso.

Para dar largas às suas tendências, jogou-se à carreira diplomática, f ertilíssima Ilha dos Amores, onde não aproam Gamas, porém ancoram de vez certos poetas madraços e certos políticos sensualistas.

Itamaracá dizia — "já ter as mãos calejadas de levantar vestidos de seda!".

Este dito, porventura apócrifo, corrente na tradição, é característico.

Qualquer que seja, leitor, a tua seriedade, fingida ou verdadeira, não poderás contestar o bom gosto do poeta diplomata…

Uma cousa é para notar-se.

Sendo Maciel Monteiro um poeta erótico, seus cânticos não descem nunca à licenciosidade ou grosseria de linguagem de que usam muitos de seus pares.

Ao contrário gostava de envolver de imagens etéreas as suas amantes. Requintava de delicadezas e arrastava-as numa espécie de volúpia sobrenatural e supra-sensível. É a mística do amor e do galanteio.

Eis aqui:

"Ao nascerdes, senhora, um astro novo
Vos inundou de luz, que inda hoje ensina,
No fogo desses vossos olhos belos,
Vossa origem divina.

O ar, que respirastes sobre a terra,
Foi um sopro de Deus embalsamado
Entre as flores gentis que vos ornavam
O berço abençoado.

Ao ver-vos sua igual no empíreo os anjos
Hinos de amor cantaram nesse dia;
E o que se escuta, se falais, é o eco
Da angélica harmonia.

Gerada para o Céu, que o Céu somente
Da criação a pompa e o brilho encerra,
Das mãos do Criador vos escapastes,
Caístes cá na terra.

Um anjo vos seguiu par.a guardar-vos;
E quais gêmeos um no outro retratado,
Quem pode distinguir o anjo que guarda
Do anjo que ê guardado?

Só um raio do Céu arde perene
Sem que o tempo lhe apague o fulgor santo!
Por isso os vossos dons são sempre os mesmos,
O mesmo o vosso encanto.

Em vós é tudo eterno.
E se na fronte
(Tão bela sempre em tempos tão diversos!)
Uma c’roa murchar-se, é decerto
A c’roa dos meus versos.

Dos meus versos! Ah! Não! Que inextinguível
É o incenso queimado à divindade:
E ao canto que inspirais, vós dais, senhora,
Vossa imortalidade."

De tudo que foi citado é fácil concluir que o poeta pernambucano foi entre nós um dos predecessores do lirismo hugoano, que mais tarde inspirou uma escola inteira de poetas.

Certa limpidez de frase, certo arrojo de metáforas insinuam-se por seus versos doce e suavemente.

E insisti em notar as belezas do lirismo deste poeta provinciano; porque sempre tem sido ele posto à margem pelos mirmidões que no Rio de Janeiro se têm ocupado com a vida literária do país. Exceção feita da literatagem fluminense e de alguns felizes da velha escola maranhense, todos os espíritos de valor das províncias, máxime do Norte, têm sido cuidadosamente deixados no esquecimento.

Péssimo sistema de fomentar a união das províncias ou Estados, que vêem preteridos das honrarias da fama tantos dos seus mais ilustres filhos…

Voltemos ao nosso poeta. Ele tinha também seus dias de passageira mágoa. Escreveu isto:3

"Mais uma vez o astro soberano
Seus domínios correu no firmamento;
Hoje assente em seu trono, ei-lo que espalha
Graças de luz ao vosso nascimento.

Balançando-se n’haste voluptuosas,
Quão linda gala trajam hoje as flores!
Dir-se-ia, para glória de enfeitar-vos,
Que orvalhou-as na aurora a mão de amores

.

As aves que na selva a alva saúdam
Com seus moles cantares à porfia,
O perfume nas rosas aspirando
Os ares embalsamam de harmonia.

O sol tem mais fulgor, a flor mais mimos,
A ave mais doçura em seu trinado…
Ah! como a criação dobrou seu fausto
Nesse dia, senhora, abençoado!

Tudo, tudo obedece à voz do Eterno
Rendendo cultos à beleza tanta!
Só o bardo na lira, envolta em crepe,
Se empreende cantar, geme, não canta!

Muda a lira, na qual sagrei outrora
Tantos hinos de amor à formosura;
Se do prazer dedilho as cordas d’ouro,
Vibrar a corda sinto d’amargura.

3. As poesias que cito deste escritor vêm coligidas, pela mor parte, nas Biografias de. Alguns Poetas e Homens Ilustres da Provinda de Pernambuco,

Mas já que em vosso gineceu risonho
Não pode o canto meu ser hoje ouvido,
Dai, senhora, que aos ecos de alegria
Ao menos se misture um meu gemido.

Ah! se em pomposo altar a divindade
Incenso, flores, cânticos aceita,
O orar do infeliz também acolh
e E as lágrimas do aflito não rejeita.

A mesma urna que no tabernáculo
Recebe o ouro farto da opulência,
Também, modesta aos votos de humildade,
A oblação recolhe da indigência.

Pequeno é meu tributo: ei-lo qual posso,
Qual me é dado pagar-vos reverente:
Não é o dom opimo do opulento,
É sim a escassa o frenda do indigente."

Nem todos os amores lhe correram suaves; teve também suas lutas, suas tragédias íntimas. Há dele poesias que o denunciam claramente.

Ardentíssimas fagulhas dum lirismo brilhante, esses versos trazem à vista o coração magoado do grande sonhador.

Tal foi o poeta. Deixemo-lo de parte.

Maciel Monteiro era conservador em política e foi deputado durante muitos anos. Sua fama de orador ainda hoje perdura. Encaremo-lo rapidamente por esta face.

Antes de tudo, leia-se um trecho e seja um pedaço do célebre discurso pronunciado na Câmara dos Deputados a 10 de junho de 1851. O orador tratou do tráfico de africanos, da anistia aos revolucionários de 1848 em Pernambuco e das relações do Império com a República Argentina. Ouçamo-lo sobre o tráfico. Preparava-se a lei de Eusébio e Maciel Monteiro disse isto:

"Senhores! Nas circunstâncias gravíssimas em que este ano se reuniram as câmaras legislativas; quando esta tem de proferir um voto de aprovação ou de reprovação acerca da política do governo; reputo um dever indeclinável da parte de todos os representantes que costumam ocupar a tribuna em tais ocasiões, o explicarem-se com clareza acerca dos negócios públicos; porque entendo que é da soma de todas as adesões explícitas, de todos os testemunhos de confiança, francamente manifestados em favor do governo, que derivam os elementos de força, os princípios de vitalidade em que o governo do país se deve apoiar para prosseguir na política que tem encetado, se porventura essa política merecer o assentimento, os sufrágios do parlamento brasileiro. A câmara não estranhará sem dúvida ouvir-me mais uma vez asseverar que estou de acordo com a política do governo em todos os pontos substanciais; que venho aqui hoje professar os mesmos princípios que sempre professei, manter as mesmas alianças que sempre tive. Sou, é verdade, um veterano, um inválido, que, arredado dos arraiais em que o conflito se ateia com furor e com ímpeto, guarda fielmente as portas de um hospital, vivendo das suas antigas glórias; mas um veterano, um invalido que não abandona as suas bandeiras, essas bandeiras que o guiaram tantas vezes ao combate em defesa da monarquia, das instituições, da ordem e da liberdade regrada. Ainda quando, porém, eu não estivera de perfeita conformidade com a política do governo, um fato avulta nessa política de tamanha magnitude, de tanto alcance, que, em consideração a esse fato, eu não poderia deixar de vir hoje prestar ao governo do meu país o meu apoio, meu concurso. Quero falar, senhores, da extinção do tráfico.

Nunca me apaixonei, nunca me inflamei nas declamações férvidas do Abade Raynal, de Grégoire e de outros negrófilos; mas sempre detestei a escravidão; a minha natureza como que se revolta à sombra de qualquer jugo. Entretanto, entrando na carreira pública, não só por tal motivo, como pelo compromisso que o país tinha contraído em virtude do tratado de 1826, e em reverência a lei de 1831, sempre me reputei abolicionista, sempre entendi que esse tratado devia ser fielmente cumprido, que essa lei devia ser rigorosamente executada; e quando os sucessos do meu país, antes do que o meu fraco mérito, me levaram aos conselhos da coroa, procurei por todos os meios ao meu alcance tornar uma realidade esse tratado e essa lei. Quem compulsar os documentos da Secretaria dos Negócios Estrangeiros nessa época achará alguns vestígios que provam a opinião que acabei de estabelecer. Com efeito, o gabinete de então já previa os males que deviam resultar da continuação desse comércio ilegal e anticristão, e já nesse tempo se procurou dar garantias à repressão, tornar essa repressão cada vez mais vigorosa. Pelo juízo da comissão mista estabelecida então no império, as regras do processo não estavam claramente definidas, havia dúvidas a respeito das questões de embargos; todas estas dúvidas foram resolvidas pelo ministério de então de modo que o julgamento dos criminosos tornou-se mais seguro e efetivo.

Esta opinião, senhores, que eu professava, era também compartida por outros; o país também tinha, por assim dizer, o instinto da abolição; esse sentimento continuava a elaborar-se no ânimo de todos os homens pensadores. Eles viam que o futuro do país se achava comprometido pela continuação do tráfico, sobretudo nos três últimos anos que precederam ao de 1848; todos foram conhecendo que o trabalho escravo não podia coexistir com o trabalho livre, e enquanto o tráfico fosse tolerado, debalde aquele poderia ser substituído por este: tão absurda aliança foi reputada impossível; e todos aqueles que olhavam para o Brasil, não como uma vasta colônia, mas como um país que tinha um futuro, uma civilização a esperar, professavam a opinião de que o tráfico devia ser abolido, devia cessar.

Senhores, assim como no deserto Moisés, batendo no- rochedo, fez jorrar a água, o ministério, compreendendo sabiamente os sentimentos abolicionistas que dominavam na grande maioria dos brasileiros, com um leve aceno fez saltar de todos os espíritos essa opinião, fez brotar esses sentimentos; o governo resolveu pois um problema, que qualquer, que meditar friamente em todas as suas dificuldades e embaraços, não poderá deixar de reconhecer como uma empresa verdadeiramente gigantesca, um serviço feito ao país de extraordinária transcendência bem que fosse secundado e acompanhado pela opinião sã e patriótica dos seus aliados e do país. É um serviço que há de ser apreciado na posteridade em grau mais subido do que aqui o posso apreciar.

Senhores, eu reputo uma das mais belas glórias da cor política a que pertenço a abolição do tráfico, é por essa razão que dou desde já o meu assentimento à emenda substitutiva do meu amigo o nobre deputado por S. Paulo, onde o pensamento que acabei de exprimir se acha consignado expressamente.

Sr. Presidente, em todo o país regido pelas formas representativas, onde os princípios e somente os princípios dão lugar a lutas parlamentares; em um país onde as crenças, as opiniões, são unicamente o ponto de dissidência entre os diferentes partidos; em um país tal me persuado que a nobre oposição, que tanto zelo mostrou na sessão passada, que tanto fervor patenteou em prol da extinção do tráfico, viria, depois dos grandes resultados obtidos pelo governo e pelo país, congraçar-se conosco; prescindiria de todas as outras razões, que pudessem separá-la de nós, para efetivamente firmar uma feliz aliança entre os dous lados desta câmara.

A nobre oposição na sessão precedente hasteou, como a câmara se lembrará, a bandeira antiafricana; a nobre oposição exprobrou ao governo do país a sua tibieza, a sua indiferença a respeito do tráfico; a nobre oposição estabeleceu então compromissos conosco, que não podem hoje ser rotos por ela, e pareceria que se o tráfico fosse extinto as principais dificuldades estariam aplainadas em bem da causa pública e dos verdadeiros interesses do país. Porém, senhores, qual é o comportamento da nobre oposição na sessão atual? Censura ela o governo na questão do tráfico, afirmando que ele está mal com a Inglaterra e mal com o comércio. Esta proposição do nobre deputado pelo Pará exigiria alguma explicação, alguma elucidação da sua parte.

O governo do Brasil está mal com a Inglaterra, diz o nobre deputado. É isto um crime na opinião do nobre deputado; mas não será às vezes um mérito, não será às vezes uma glória para qualquer governo o não estar em boas relações com outro governo? Será porque o gabinete imperial disse que se resignava a toda espécie de calamidade antes que expor os direitos mais essenciais da soberania à usurpação estrangeira, e entregar o domínio das nossas costas à Inglaterra, que o governo imperial não está bem com a Inglaterra? Será porque o governo imperial não entrega o país de braços atados a uma ou outra potência que em verdade não merece as suas boas graças? O nobre deputado não se serviu de demonstrar esta proposição; mas ele, que por vezes a emitiu, deve ter fundamentos mui sábios para apoiá-la. O nobre deputado parece estar no segredo daquele gabinete; se assim é, eu o conjuro para que nos revele as combinações desse gabinete, a fim de evitar alguma calamidade que nos esteja iminente; eu conjuro ao nobre deputado para que o faça quanto antes, e que enfim salve por esta vez o império da Santa Cruz.

Mas o nobre deputado disse também que o governo está mal com o comércio! De que comércio quereis vós falar, Sr. Deputado pelo Pará? Será porventura dos traficantes que não dão o seu apoio ao goverho? Mas vós não dissestes ao país que este governo havia subido ao poder pela escada dos traficantes? Explicai-vos; de que lado estão os traficantes? Estão hoje do vosso lado? Se os traficantes não apoiam o governo que sustentamos, qual é o perigo que daí resulta? E por que inculpar ao governo pela falta de tal apoio? Se, pois, os homens que têm feito esse comércio anticristão e imoral, se, pois, os homens que têm tantas vezes querido arrastar o país a comprometimentos tão sérios, tão deploráveis, não dão o seu apoio ao governo atual…

Um Sr. Deputado: — Glória ao governo!

O Sr. Maciel Monteiro: — Sim, tal antagonismo é uma glória para o governo atual.

Se não é porém o comércio da costa d’África que não dá o seu apoio ao governo, se é outro comércio, vós avançais uma proposição radicalmente inexata, manifestamente absurda. Com quem pode estar bem o comércio?

Em que parte do mundo o comércio simpatizou senão com idéias de ordem, de conservação, de estabilidade? Em que parte do mundo os interesses do comércio abandonaram os princípios conservadores, abandonaram todas as idéias de legalidade, para procurar a proteção da agitação e das inovações?

Eu quisera que o nobre deputado ainda nesse ponto se explicasse.

É pois, Sr. Presidente, uma inexatidão, é mesmo irracional dizer-se que o comércio do país não está bem com o governo, que tem por mandato sustentar a monarquia, as instituições e a paz pública, e que se acha em boa convivência com pensamentos de inovação, com idéias subversivas da ordem.

Senhores, tenho demonstrado que as observações apresentadas na casa pelo nobre deputado do Pará para diminuir os créditos do governo e a sua popularidade, quanto à questão do tráfico, não assentam em fundamento algum, nem em fatos averiguados. Sem embargo, direi que o Ministério não tem percorrido neste importante assunto senão metade do caminho: que tem diante de si uma empresa árdua que deve realizar.

Esta empresa é a substituição dos braços escravos pelos braços livres; esta empresa é a colonização.

Atenda bem o governo para esta grande necessidade do país, empregue todos os meios ao seu alcance para estabelecer entre nós o trabalho livre, para enobrecer este trabalho, para povoar o Brasil, não de africanos, mas de colonos que virão a ser depois outros tantos industriosos, outros tantos membros da grande associação brasileira. Esta empresa o Ministério deve ter em vista, e eu espero que ele a realizará.

Sr. Presidente, não me parece que o gabinete britânico deva estar desgostoso do governo imperial, como foi aqui afirmado. Se se quiser julgar das cousas, ou das relações das duas coroas, pelos fatos que são patentes, conhecer-se-á que nesta parte o gabinete britânico parece ter-se muito aproximado do governo imperial; ao menos é a primeira vez que se diz oficialmente no parlamento britânico que as medidas empregadas pelo governo imperial na importantíssima questão do tráfico parecem eficazes e o serão.

Esta declaração tão categórica da rainha da Inglaterra deve assegurar ao governo que nesta parte a benevolência do gabinete de S. James não lhe será negada.

Cabe aqui, senhores, lembrar ao governo imperial (e não será isto senão uma recomendação) que, visto ter ele procurado cumprir tão sincera e efetivamente da sua parte todas as estipulações contidas no tratado de 1826; visto ter ele conseguido extinguir o tráfico na sua quase totalidade, se não descuide também de reclamar do governo inglês o cumprimento das suas obrigações estipuladas em tratados anteriores.

A câmara sabe que pelo tratado de 1815 o tráfico foi abolido ao norte do Equador, a câmara sabe também que presas foram feitas e julgadas ilegais, isto é, julgadas más pela comissão mista da Serra Leoa; entretanto, casos há em que, apesar dos julgamentos terminantes dessa comissão mista, apesar de ter-se adjudicado a necessária soma para indenização, nessa parte o governo inglês não tem cumprido o seu dever.

Não me refiro a apresamentos feitos depois do bill de Lorde Aberdeen, refiro-me a apresamentos verificados quando o comércio de africanos estava somente abolido ao norte do Equador; algumas embarcações, e entre outras uma de um digno cidadão de minha província, foram apresadas e levadas à Serra Leoa, julgadas más presas, e até o presente não se realizou ainda tal indenização; ficando assim esses capitais retidos em poder do governo inglês, com manifesta infração do direito internacional, e contra todos os ditames da justiça universal.

Eu quisera que o governo imperial, que hoje tem tanto direito de reclamar energicamente da parte da Inglaterra o cumprimento de seus deveres neste ponto, visto que tão religiosamente tem cumprido os seus, não se descuidasse de sustentar como lhe cumpre os interesses brasileiros, assim despojados tiránicamente da sua propriedade; é tempo, senhores, de fazer cessar tão inqualificável abuso da força contra os interesses brasileiros.

É preciso notar que a mor parte desses apresamentos datam de 1824 ou 1825, é pois chegada a ocasião dessas reclamações terem uma solução."

É este o estilo do orador.

Dizem que o parlamentar pernambucano tinha bela presença, voz sonora, gesto animado, fluência de dicção na tribuna. Eu o creio bem. Faço apenas uma restrição: faltava-lhe a força.

O espírito humano é tão rico de qualidades, tão variado, em suas manifestações, quer individual, quer coletivamente, que se torna impossível definir um povo ou indivíduo em uma simples fórmula de crítica. Esta verdade geralmente enunciada, e sempre esquecida na prática, tem toda aplicação, falando-se de oradores.

Existem cem maneiras de exercer a oratória com vantagem e talento. Há os discursadores que improvisam e os que o não podem fazer; há os lógicos e há os tumultuarios; os imaginosos e os sóbrios; os veementes e os plácidos; os insinuantes e os arrebatadores; os que têm a habilidade e os que possuem a energia………que sei eu ?

Há lugar para todos os estilos. E entre eles, qual foi o exercido por Maciel Monteiro ? Os que o não ouviram têm para julgá-lo apenas o texto mais ou menos desfigurado dos seus discursos.

Parece ter sido o ilustre pernambucano um orador fácil, delicado, maneiroso.

Não revelava jamais paixão, fervorosos ímpetos d’al-ma, nem grandes recursos de ciências e poderosos auxílios de análise. Nunca se elevou à grande eloqüência, como nunca atingiu a grande arte, a imorredoura poesia.

Era um gracioso individualista, um diletante da tribuna, um virtuose da política.

Era conservador por arte, por equilíbrio de temperamento. Nada queria, nem se atirava a cousa alguma que lhe alterasse a placidez da vida e o perturbasse na marcha dos seus amores. Era um improvisador amável e amado por todos.

Durante vinte anos (1833-1853) com pequenos intervalos, desde os tempos próximos à abdicação do primeiro imperador até a guerra de Rosas, esteve no Parlamento. Foi presente a muitas das mais tempestuosas sessões da Câmara e foi colega dos nossos mais distintos oradores e homens d’Estado.

É lícito dizer que a eloqüência de Maciel Monteiro, se não era facilmente derrotada pelos seus adversários, não alcançou, por sua vez, grandes vitórias.

Novas idéias, novos planos de governo, novos horizontes políticos e sociais não foram abertos ao povo brasileiro aos golpes de eloqüência do deputado pernambucano.

É este o sinal inconcusso dos grandes oradores, o sinal irrecusável de sua força. Não o distingo em Maciel Monteiro, e creio não errar preferindo o poeta ao parlamentar. Não lhe conheço um só discurso que seja verdadeiramente superior, e algumas das suas poesias eróticas são das melhores da língua portuguesa. Natureza artística, aliada a uma voluptuosidade intensíssima, era verdadeiramente um poeta.

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