BASÍLIO DA GAMA – Biografia e obra o Uraguai

Biografia de: José BASÍLIO DA GAMA (São José d’El-rei, 1740-1795) estudou
no Rio de Janeiro com os Jesuítas, e viveu depois em Lisboa e em
Roma, lutando com sorte adversa, até que logrou as boas graças do
Marquês de Pombal, que o nomeou oficial da Secretaria do Reino.

Quando em desvalia caiu o poderoso ministro, José Basílio volveu
ao Rio, indo finalmente morrer em Lisboa. Entre suas composições poéti-
cas tem primazia o poema O Uruguai, onde incontestavelmente rebrilham
belezas de primeira ordem.

Exórdio do Poema "O Uraguai"

Fumam ainda nas desertas praias
Lagos de sangue tépidos e impuros,
Em que ondeiam cadáveres despidos,
Pasto de corvos; dura inda nos vales
O rouco som da irada artilharia.
Musa! honremos o herói que o povo rude
Subjugou do Uruguai, e no seu sangue
Dos decretos reais levou a afronta.
Ai, tanto custas, ambição do império!
E vós, por quem o Maranhão pendura
Rotas cadeias e grilhões pesados,
Herói e irmão de heróis, saudosa e triste,
Se ao longe a vossa América vos lembra,
Protegei os meus versos. Possa, entanto,
Acostumar ao vôo as novas asas,
Em que um dia vos leve. Desta sorte,
Medrosa, deixa o ninho â vez primeira
Águia, que depois foge à humilde terra
E vai ver de mais perto, no ar vazio,
O espaço azul, onde não chega o raio.

(O Uraguai) trecho selecionado da obra de Basílio da Gama

Lindóia

Um frio susto corre pelas veias
De Caitetu, que deixa os seus no campo,
E a irmã entre as sombras do arvoredo
Busca coa vista e treme de encontrá-la.
Entram, enfim, na mais remota e interna
Parte de antigo bosque, escuro e negro,
Onde, ao pé de uma lapa cavernosa,
Cobre uma rouca fonte, que murmura,
Curva latada de jasmins e rosas.
Este lugar delicioso e triste,
Cansada de viver, tinha escolhido
Para morrer a mísera Lindóia.

Lá reclinada, como que dormia
Na branda relva e nas mimosas flores.
linha a face na mão, e a mão no tronco
Dum fúnebre cipreste, que espalhava
Melancólica sombra. Mais de perto
Descobrem que se enrola no seu corpo
Verde serpente e lhe passeia e cinge
Pescoço e braços, e lhe lambe o seio.
Fogem de a ver assim sobressaltados,
E param cheios de temor ao longe;
E nem se atrevem a chamá-la, e temem
Que desperte assustada e irrite o monstro,
E fuja e apresse no fugir a morte.
Porém o destro Caitetu, que treme
Do perigo da irmã, sem mais demora
Dobrou as pontas do arco, e quis três vezes
Soltar o tiro, e vacilou três vezes
Entre a ira e o temor. Enfim, sacode
O arco e fêz voar a aguda seta,
Que toca o peito de Lindóia e fere
A serpente na testa, e a boca e os dentes
Deixou cravados no vizinho tronco.
Açouta o campo coa ligeira cauda
O irado monstro, e em tortuosos giros
Se enrosca no cipreste, e verte, envolto
Em negro sangue, o lívido veneno.
Leva nos braços a infeliz Lindóia
O desgraçado irmão, que ao despertá-la
Conhece (com que dor!) no frio rosto
Os sinais de veneno, e vê ferido
Pelo dente sutil o brando peito;
Os olhos, em que o amor reinava um dia,
Cheios de morte; e muda aquela língua
Que ao surdo vento e aos ecos tantas vezes
Contou a larga história dos seus males.
Nos olhos Caitetu não sofre o pranto
E rompe em profundíssimos suspiros,
Lendo na testa da fronteira gruta
De sua mão já trêmula gravado
O alheio crime e voluntária morte,

E por todas as partes repetido
O suspirado nome de Cacambo.
Inda conserva o pálido semblante
Um não-sei-quê de magoado e triste,
Que os corações mais duros enternece:
Tanto era bela no seu rosto a morte!

(O Uraguai, canto IV, vv. 140-197) – Obra de Basílio da Gama


Seleção e Notas de Fausto Barreto e Carlos de Laet. Fonte: Antologia nacional, Livraria Francisco Alves.

 

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