ESTRANHAS CRENÇAS DO HOMEM ANTIGO

LIVRO TERCEIROO LIVRO DAS MARAVILHAS DA RELIGIÃO

Henry Thomas

ESTRANHAS CRENÇAS DO HOMEM ANTIGO

Crença primitiva em fantasmas

A CRENÇA nos fantasmas começou logo que o ho mem principiou a sonhar. Quando um homem sonhava, via certas figuras. Quando despertava, as figuras desapareciam. Que figuras eram essas que vira quando dormia, perguntava ele a si mesmo, e onde estavam elas agora, após seu despertar? E sua mentalidade primitiva achou uma tosca resposta a essa pergunta. Essas "figuras de sonho" eram as almas dos mortos, que o assombravam de noite e que à luz do dia se ocultavam no mundo subterrâneo ou inferno.

Nossos primitivos antepassados sentiam-se um tanto acamaradados com os fantasmas, de seus parentes e amigos falecidos. Uma vez por ano, justamente antes da chegada do inverno, convidavam todos os mortos a visitarem os vivos. Preparavam suntuosos festins e acendiam alegres fogueiras, para revigorar os frios e famintos fantasmas, contra as rajadas vindouras do inverno. Esse costume primitivo chegou até nossos dias com o nome de Véspera do Dia dos Finados.

Os antigos amavam bastante seus fantasmas, embora deles se arreceassem. Por que quem senão os fantasmas eram os portadores daquelas tempestades, secas e doenças que atormentavam os vivos? Tinham inveja dos vivos, essa é que era a verdade! Por isso procuravam causar-lhes toda a espécie de danos. Estavam sempre ansiosos por poder arrastá-los para a escuridão do inferno. Eram vis e poderosos, e deviam ser de qualquer forma aplacados, de modo a porem paradeiro aos seus malefícios. E foi assim que surgiu a prática dos sacrifícios humanos. Os sacrifícios eram dádivas ou subornos para os espíritos maus.

Singulares deuses animais dos antigos

OS antigos olhavam os animais como coisas sagradas.

Os animais, diziam eles, eram seus irmãos. Partilhavam a própria vida com os seres humanos. Quando uma criança nascia, recebia somente parte de sua vida. O resto ia para um morcego, uma coruja, um peixe, um cachorro ou uma serpente. Era prática comum entre os primitivos, dirigirem-se a um homem como se fosse um morcego, e a uma mulher como se fosse uma coruja.

Quando um selvagem primitivo dava a si mesmo um nome de animal e o chamava seu irmão, esse animal se tornava seu totem. Esse totem era precioso para êle e tinha-o como a menina de seus olhos. Desgraçado daquele que ousasse matá-lo! Porque o totem era seu amigo, seu irmão, seu deus. Acreditava-se que a vida de um totem e a de seu irmão humano estavam tão estreitamente ligadas, como a dos irmãos siameses. Se um totem morria, seu companheiro de vida humana tinha a certeza de morrer ao mesmo tempo. Há muitos anos um aborígene australiano chamado Boortwa (corvo) adoeceu. Um homem branco, que vivia nas vizinhanças, matou infelizmente um corvo. Nesse mesmo dia morria Boortwa. Os nativos estavam tão certos de que o homem branco era responsável pela morte de Boortwa que o executaram imediatamente.

Alguns dos primitivos acreditavam possuir várias vidas, ou almas, residentes em diferentes partes do corpo. Cada uma dessas vidas era representada por um animal diferente. Assim, o braço de um homem era uma serpente, sua perna um lobo, sua cabeça uma raposa, seu coração um leão, suas costas uma lontra e assim por diante. Todos esses animais eram seus totens pessoais ou deuses. Os índios do Laus tinham trinta de tais totens, cada um representando diferentes partes do corpo.

Como era bastante natural, mostravam-se os selvagens muito solícitos pela vida e conforto de seus deuses animais ou totens. Alimentavam, abrigavam e cultuavam esses deuses e em troca supunham que os deuses os preservavam de todos os males. Acreditavam mesmo que, no momento próprio, seus totens poderiam dar-lhes novamente vida. Conta-se a história de um caçador africano que foi morto por um tigre. Aconteceu que um leão, que era totem, desse com o cadáver. O leão exalou sua própria alma no caçador. O caçador voltou à vida, ao passo que o leão caía morto.

Sacerdotes e mágicos primitivos

O PRIMITIVO selvagem vivia cercado de numerosos perigos. A chuva, o vento, o trovão, as setas invisíveis da doença e a lança do raio, que ziguezagueava no espaço, tudo lhe parecia estar constantemente conspirando contra sua vida. Alguma coisa tinha de ser feita para pôr termo a isso. Deveria descobrir-se algum encanto mágico para afastá-los. Não podeis lutar corpo a corpo contra tais coisas, do mesmo modo que lutais contra um homem ou contra um animal. Deveis tentar dominá-las por meios mais sutis.

Mas quais eram esses meios sutis? Talvez uma dan ça selvagem e mágica afugentasse aqueles poderes maléficos? Ou algumas palavras estranhas fossem eficaz estratagema? Deveria indagar do homem sábio da tribu. Talvez pudesse auxiliá-lo.

Os homens sábios diziam que podiam. E se punham a preparar encantamentos mágicos e danças rituais, indicadas como aptos a desviar o mal. E foi assim que surgiram no mundo os primeiros sacerdotes mágicos.

Esses primitivos sacerdotes-mágicos chamavam-se curandeiros ou shamans. Os métodos que empregavam para banir a má sorte e atrair a boa sorte eram característicos e pitorescos. dançavam, lançavam gritos agudos, caíam em convulsões, batiam em tantas, dilaceravam o corpo com as próprias unhas, e se cobriam de excrementos. Quanto mais selvagens suas contorsões, tanto mais eficientes pareciam a seus companheiros de olhos arregalados. Com mágicas dessa espécie, poderiam seguramente atemorizar quaisquer espíritos maus que estivessem presentes. Eram homens-miraculosos.

Mas seus milagres podiam agir de duas maneiras. O shaman podia não somente afugentar, mas também atrair os maus espíritos. Se não gostasse de vós, podia causar-vos um grande dano. E dessa forma tornou-se o shaman o chefe de sua tribu. Todos começaram a temê-lo, e admirá-lo, a prestar-lhe homenagem. Afim de conservar essa situação privilegiada, tinha o shaman de manter certo aparato. Quanto mais habilmente lograsse seu público, tanto mais longamente manteria seu poder. Por outras palavras, tinha de mostrar-se hábil político.

Os primeiros políticos do mundo, portanto, foram os homens-mágicos dos antigos selvagens.

Curiosas práticas pagãs

CERTAS coisas não podiam ser tocadas pelos antigos. Essa proibição chamava-se tabu (que significa marcado ou intocável). Entre essas coisas que o homem não podia tocar, contavam-se: a carne de porco, um cadáver, uma mistura de algodão e lã, fogo nos dias santificados e a mulher de outro homem em qualquer dia. Transgredir qualquer desses tabus significava morte.

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O visgo foi sempre olhado como planta mágica. Nos dias do paganismo, era tirado do carvalho com uma foicinha de prata e conservado numa urna sagrada. Consideravam-no remédio seguro para epilepsia, envenenamento e câncer. Era usado para afugentar feiticeiras e tornar fecundas as mulheres estéreis. Tinham-no particularmente como romântico filtro amoroso. E até hoje muito romance nasce debaixo das folhas do visgo.

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Os camondongos eram tidos como sagrados em alguns países da antiguidade. Era ilegal matá-los. Se infestavam um campo ou uma casa, vários métodos "amigáveis" se empregavam para afugentá-los. Alguns desses métodos eram um tanto excepcionais. Na Grécia, solicitava-se aos camondongos por uma carta escrita e colocada sobre uma pedra, "ter a bondade de abandonar aquele campo e passar ao campo vizinho". Na índia, quando os camondongos devastam os arrozais, os nativos apanham dois deles, vestem-nos de linho branco, festejam-nos suntuosamente e rogam-lhes, de joelhos, que emigrem com seus companheiros para algum outro lugar.

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Os antigos celtas realizavam curioso festival cada cinco anos. Chamavam-no a festa do fogo. A característica dessa celebração era uma imensa fogueira de prisioneiros vivos. Enquanto as vítimas morriam queimadas, os nativos cantavam e dançavam em redor da fogueira. E quando terminava a festa, utilizavam os ossos e as cinzas das vítimas como adubo.

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Os gregos costumavam pôr uma moeda nas mãos de seus mortos pouco antes do enterro. Essa moeda servia para pagarem sua passagem no Stix, rio mitológico do inferno.

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Os romanos, depois de cada refeição, lançavam um bolo na lareira. Servia de jantar a Vesta, deusa da tetra.

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Os antigos zulus costumavam comer os olhos de seus inimigos mortos, juntamente com as sobrancelhas, na crença de que poderiam adquirir o poder de olhar sem temor para seus adversários.

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Havia entre os antigos mexicanos estranha cerimônia, que eles chamavam "comer o deus". Faziam um imenso bolo representando seu deus Huitzilopochtil, e cada homem recebia um pedaço para comer. Mas a mais curiosa e a mais revoltante parte da cerimônia estava na preparação do tal bolo. A massa era preparada de farinha de milho, misturada com sangue de crianças.

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Os primitivos romanos usavam um extraordinário remédio para picada de escorpião. Sentavam a vítima num jumento, voltada para a cauda do animal. O veneno do escorpião, escreviam os antigos físicos, se transferiria seguramente do homem para o jumento.

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Se um romano sentia febre, os doutores usavam "remédio infalível" para ele. Cortavam as unhas do paciente e pregavam as aparas com cera, sobre a porta da casa do vizinho, antes do sol nascer. A febre passava dessa forma do homem doente para seu vizinho.

 

Primitivo culto do sexo

CULTO do sexo entre os antigos surgiu de seu desejo de estimular o crescimento de suas colheitas. O selvagem acreditava que os espíritos davam nascimento às colheitas, da mesma forma que êle próprio dava nascimento às crianças. Afim de estimular os espíritos tímidos, saía para os campos e lhes dava lições com seu próprio exemplo. E dessa forma, a lascívia se tornou, como cria o selvagem, um dever religioso. Entre as raças mais primitivas toda a população saía para os campos, afim de se entregar à orgia sexual. Mais tarde, com o progresso da civilização, o sacerdote e uma virgem iam ao templo para executarem a cerimônia fálica, diante da imagem de seu ídolo.

Os antigos hindús conservavam uma noção peculiar a respeito do culto do sexo. Detestavam a paixão e por isso mesmo se abandonavam a ela. Agiam de acordo com a teoria de que se pode matar o fogo com o próprio fogo. Afim de "purificar" suas almas, mergulhavam os corpos nas mais vis espécies de excessos. Somente desse modo, inclinavam-se a crer, podiam cumprir as sagradas exigências de seu deus Shiva.


Fonte: Maravilhas do conhecimento humano, 1949. Tradução e Adaptação de Oscar Mendes.

 

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