MANUEL BOTELHO DE OLIVEIRA – Frutas do Brasil

MANUEL BOTELHO DE OLIVEIRA (Bahia, 1636-1711) foi, como
diz Costa e Silva no seu Ensaio Biográfico-Crítico, tomo X, página 67,
– "o primeiro brasileiro que ousou apresentar-se no Pindo demandando
lugar no templo das Musas".

Depois de alguns estudos no Brasil, foi a Coimbra, em cuja Universidade
obteve o grau de licenciado em Jurisprudência. Aí travou com o
seu conterrâneo Gregório de Matos Guerra amistosas relações, que
duraram até a morte.

Havendo tomado o capelo doutoral, partiu Manuel Botelho para a
Bahia, onde exerceu o mister de advogado, sem deixar o cultivo das
letras, e em 1705 publicou um volume de versos com extravagantíssimo
título, que assaz demonstra o mau gosto da época: Música do Parnaso
dividida em quatro coros, de Rimas Portuguesas, Castelhanas e Latinas,
com seu descante cômico reduzido em duas comédias.
Dos versos em
português diz o citado crítico — "serem bem fabricados, correntes e
sonoros".

Frutas do Brasil

E, tratando das próprias, os coqueiros
Galhardos e frondosos

Criam cocos gostosos,
E andou tão liberal a natureza

Que lhes deu por grandeza,

Não só para bebida, mas sustento,
O néctar doce, o cândido alimento. (764)
De várias cores são os cajus belos;
Uns são vermelhos, outros amarelos,
E, como vários são nas várias cores
Também se mostram vários nos sabores,

E criam a castanha,
Que é melhor que a de França, Itália, Espanha.
As pitangas fecundas

São na côr rubicundas,
E no gosto picante comparadas,
São d’América ginjas disfarçadas.
As pitombas douradas, se as desejas,
São de gosto melhores que as cerejas;
E para terem o primor inteiro
A vantagem lhes levam pelo cheiro.
Os araçases, (765) grandes ou pequenos,
Que na terra se criam, mais ou menos
Como as peras de Europa engrandecidas,
Com elas variamente parecidas,

Também se fazem delas
De várias castas marmeladas belas.
As bananas no mundo conhecidas
Por fruto e mantimento apetecidas
Que o céu para regalo e passatempo
Liberal as concede em todo tempo.
Competem com maçãs ou baonesas,
Com peros verdeais ou camoesas. (766)
Também servem de pão aos moradores,
Se da farinha faltam os favores;
E’ conduto também, que dá sustento,
Como se fosse próprio mantimento:
De sorte que, por graça ou por tributo,
E’ fruto, é como pão, serve ao conduto.

A pimenta elegante
E’ tanta, tão diversa, tão picante,
Para todo tempero acomodada,
Que é muito avantajada,

Por fresca e por sadia,
À que na Ásia se gera, e Europa cria.
O mamão, por freqüente,

Se cria vulgarmente,
E não o preza o mundo
Por ser muito vulgar em ser fecundo.
O marcujá (767) também, gostoso e frio,
Entre as frutas merece nome e brio;
Tem nas pevides mais gostoso agrado

Do que açúcar rosado;
E’ belo, cordial, e como é mole,
Qual suave manjar todo se engole.

Vereis os ananases,
Que para reis das frutas são capazes.
Vestem-se de escarlata,

Com majestade grata,
Que para ter do império a gravidade,
Logram da verde c’roa a majestade;
Mas, como têm a c’roa levantada,
De picantes espinhos rodeada,
Nos mostram que entre reis, entre rainhas,
Não há c’roa no mundo sem espinhas. (768)
Este pomo celebra toda a gente,
É muito mais que o pêssego (769) excelente
Pois lhe leva vantagem, gracioso,
Por maior, por mais doce, e mais cheiroso
Além das frutas que esta terra cria,
Também não faltam outras na Bahia.

A mangaba mimosa
Salpicada de tintas por formosa

Tem o cheiro famoso,
Como se fora almíscar oloroso.

É produção do mato,
Sem querer da cultura o duro trato,
Que, como em si toda a bondade apura,
Não quer dever aos homens a cultura:
Oh! que galharda fruta, e soberana,

Sem ter indústria humana!
E se Jove a tirara dos pomares,
Por ambrósia (770) a pusera entre os manjares.
Com a mangaba bela a semelhança

Do macujê (771) se alcança,
Que também se produz no mato inculto

Por soberano indulto,
E, sem fazer ao mel injusto agravo,
Na boca se desfaz qual doce favo.

Outras frutas dissera, porém basta
Das que tenho descrito a vária casta.. .

(Música do Parnaso, Ilha da Maré).

  • (764) cândido— branco; o cândido alimento indica a polpa do coco
  • (765) O termo araçá (do tupi ára-açá, T. Sampaio, ou uaá-açá, Plínio Airosa) faz o plural normalmente. Aqui, porém, o A. lhe deu um segundo paio. pl. araçases, como se fora araçás o sing. Esse fato repete-se em vozes indígenas: Guaianases, Goitacases, ananases, Goiases, usados em vez do pl. na
    tural (Guaianás, Goitacás, ananás, Goiás) que ficou desse modo singularizado.
  • (766) baonesas — baionesas, espécie de maçã grande e parda; camoesas =outra variedade de maçãs.
  • (767) maacujá, síncope de maracujá, do tupi ma
    raú-yá,
    fruto do maraú {ma-rã-ú, a cousa que se toma de sorvo) — T. Sampaio.
  • (768) espinhas, aí significa espinhos’, esta última forma é relativamente moderna e derivou da voz feminina. No lat. spina. Veja-se Otoniel Mota, O meu idioma, 4.a ed., p. 162.
  • (769) pêssego, do lat. persicu- (fructu);fruto da Pérsia: "o pomo que da pátria Pérsia veio", Lus., IX, 58).
  • (770)ambrósia— V. a n. 330.
  • (771) macujê — fruto selvagem muito doce. (Do tupi ma-cu-jê, a cousa de comer, agradável, doce, T. Sampaio).

Seleção e Notas de Fausto Barreto e Carlos de Laet. Fonte: Antologia nacional, Livraria Francisco Alves.

 

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