A LENDA DA IPECACUANHA

A LENDA DA IPECACUANHA

A LENDA DA IPECACUANHA

Ipecauanha, Ipeca ou Poaia — "Cephaelis ipecacuanha" (Rubiáceas). — Esta planta preciosíssima habita as matas virgens e sombrias do município, que é, incontestavelmente, o maior habitat, neste Estado, desta famosa ru-biácea. O seu caule, em parte subterrâneo, eleva-se à altura de palmo e meio, mais ou menos fora da terra e é quase quadrangular e ligeiramente pubescente na parte superior, que apresenta normalmente seis a oito folhas e às vezes mais, opostas, curtamente pecioladas e ovais, estreitando-se insensivelmente para a base, como nervos laterais e quase glabros. As suas flores são pequeninas e pequeninos são também os seus frutos, roxos, reunidos èm cachos, com sabor adocicado e um tanto vomitivo. As raízes, ordinariamente, em número de duas a cinco e às vezes mais, são tortuosas e ao serem extraídas têm a grossura de um lápis comum. São pouco ramificadas e apresentam anéis salientes, desiguais e muito próximos, separados por sulcos menores. O centro é lenhoso, esbranquiçado e fino, e mais resistente do que a camada cortical, espessa, compacta, quebradiça, pesada, de côr cinzenta, um tanto enegrecida por fora e de aspecto resinoso por dentro. 0 seu sabor é amargo e bastante acre, o cheiro é agradável, mas muito forte, causando náuseas a certas pessoas. Assim é a poaia uma planta riquíssima e vem sendo objeto do mais m animador comércio desta região há mais de cem anos, e o seu custo tem atingido, algumas vezes, Cr| 750,00 por arroba. Esse vegetal admirável é um dos de maiores aplicações na terapêutica oficial e nos remédios populares tem sempre um lugar de destaque e a medicina emprega-o diariamente no tratamento de muitas enfermidades dos aparelhos digestivo e respiratório e bem assim no tratamento das disenterias, sendo ainda empregado como ótimo e poderoso vomitivo. O seu princípio activo é a emetina, mas a sua raiz contém ainda cera, goma, matéria gorda odo-rífica, amido e indícios de ácido tânico, contendo também outras substâncias preciosas e medicinais. Pode ser ainda aproveitada pela tinturaria, porque é um poderoso fixante e como tal conhecido nesta região.

Tão grande é a sua fama que até uma interessante e linda história se formou a seu respeito:

"Conta uma lenda indígena que um cão chamado Guará, de tempos a tempos^adoecia e, em vez de ficar na taba, procurava a floresta e lá, em certo sítio, cavava a terra e tirava a raiz de uma planta que comia; depois vomitava muito e voltava à taba restabelecido e forte por muito tempo. O pajé notou que o cão só adoecia quando bebia águas impuras de pântanos e a exemplo seu usou, como os da sua tribo, da raiz que o animal usava quando doente, que era a ipecacuanha, e ficaram curados de uma disenteria, que todos os anos os acometia".

Esta encantadora lenda, com ou sem o famoso cão Guará, não é senão a verdadeira história do descobrimento milagroso das propriedades terapêuticas e industriais deste precioso vegetal. Não só os indígenas da região, como também os civilizados que vivem na cidade e no seio fecundo desta portentosa natureza, desde longínquas épocas, vem fazendo uso desta famosa rubiácea, bem cognominada — Ouro Negro — do município.

É incontestavelmente um poderoso medicamento para várias enfermidades, mormente para disenteria, que é comum nas populações ribeirinhas, sobretudo na época das enchentes, quandos as águas pluviais, procurando o seu curso natural, o leito dos rios, vêm carregadas das impurezas do solo, bem assim da potassa das cinzas, provenientes das vastíssimas queimadas dos sertões.

Graças à sabedoria natural e o penetrante instinto de conservação destes bravos e inteligentes sertanejos, livres como a saudável e perfumada aragem das florestas que Deus lhes deu, esta enfermidade não lhes causa pavor, porque bem junto, às vezes, dos seus ranchos humildes, mas tranquilos e felizes está o remédio poderoso, que combate com presteza e energia, o mal que bem poucos aniquila.

Logo no início da indústria extrativa da poaia, esta era vendida nesta cidade à razão de Rs. 30$000 a 50$000 por arroba. A medida, porém, que este precioso vegetal foi-se tornando mais conhecido e feitas as primeiras exportações, também o preço foi-se elevando.

Toda a exportação desta famosa rubiácea era feita, nos primeiros tempos, para Londres e depois, como o seu comércio foi-se alargando, para outras’ praças da Europa e da América, começaram também a importá-la e essa exportação era feita outrora em fardos de couro de gado vaccum, quando nesta região não se conhecia bem o valor desta pele, ou pouco ou nenhum valor tinha, talvez mesmo com valor menor do que um metro de chita.

E deste modo não só ganhavam os consignatários ou compradores de poaia na revenda deste produto, como também recebiam de graça milhares de couros, sempre os maiores, anualmente, para esta embalagem original.

Asseguravam estas transações extraordinários lucros, quer na venda da ipeca, que era colocada pelos intermediários quando lhes convinha, quer na armazenagem, sempre fabulosa, e noutras comissões e ainda nos envoltórios valiosos, que recebiam sem nenhuma despesa.

Mas, à medida que este produto ia sendo conhecido e procurado, e do mesmo modo o couro, esta embalagem foi sendo substituída pela aniagem de superior qualidade ou algodão trançado, como ainda acontece.

Os compradores desta praça, sempre bem avisados, nos primeiros carregamentos guardaram o maior sigilo, porque éste é a alma do negócio, sobre o valor da ipeca no estrangeiro. Mas um, menos previdente, ao receber, de Londres, o produto da venda da sua exportação, quase que enloquece e sai pela cidade inteira a contar do valor fantástico deste vegetal no estrangeiro, e assim despertou ela desde logo maior interesse e maior cobiça.

Gabriel Pinto de Arruda: Um Trecho do Oeste Brasileiro. Rio de Janeiro, 1938, pp. 71-73.

Fonte: Estórias e Lendas de Goiás e Mato Grosso. Seleção de Regina Lacerda. Desenhos de J. Lanzelotti. Ed. Literat. 1962

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