ESPLENDORES DA GRÉCIA E DE ROMA – História do Mundo

ESPLENDORES DA GRÉCIA E DE ROMA

Henry Thomas

Grécia, maravilha dos tempos

NO sétimo século antes de Cristo, viveu nas margens do cálido Mediterrâneo um povo extraordinário, que produziu uma civilização, maravilha dos tempos. Eram eternas crianças. Riam, cantavam e criavam os mais profundos trabalhos de arte, com espírito de crianças. Porque eles viviam na terra da juventude.

Imaginai uma raça de jovens precoces, na madrugada do mundo. O abotoar de uma flor, o movimento de uma nuvem e o gorjeio de um pássaro despertam na criança um sentimento de maravilha e de deleite. A criança está muito próxima da poesia das coisas naturais. E assim como os gregos, não receia mostrar seu corpo, esbelto, porque não conhece o exibicionismo ou a vergonha. E’ franca em todos os seus desejos, pensamentos e funções naturais. E’ tão supremamente espontânea que atingiu a completa expressão de si mesma.

Foi o caso dos gregos no sétimo século antes de Cristo. Nossas regras sociais de moralidade ter-lhes-iam parecido incômodas… não, porém, porque fossem de algum modo imorais. Um povo tão jovem e sincero nunca poderia ser chamado de imoral, pela mesma razão porque não o fazemos com a criança, que ainda não aprofundou bastante a distinção entre mal e bem.

A criança brinca com seus brinquedos e edifica impérios, combate dragões inúmeros, ocultos atrás de cadeiras, acha um tesouro divino numa folha de capim Muito antes de ser acorrentada à insípida ocupação de aprender como gastar e ajuntar dinheiro, agita-se numa terra de fadas que nem vós, nem eu, podemos comprar com um resgate de rei.

Que estupendo poeta é uma criancinha! Pudesse ela ao menos traduzir seu tatibitate na linguagem dos artistas, que sublimes obras-primas criaria!

Foi isso exatamente que os gregos fizeram. Eram os fedelhos da história. Possuíam o espírito da juventude, com a habilidade do artista maduro. Criaram as mais belas coisas, escreveram peças que nenhum dramaturga exceção feita de Shakespeare, igualou, e inventaram uma filosofia da vida que tem direta ou indiretamente influenciado todos os homens, mulheres e crianças até os nossos dias. Na verdade, nenhuma educação liberal de hoje é completa sem o conhecimento da literatura, da arte e da ciência daqueles antigos gregos.

Esta foi a maravilha da Grécia.

Democracia grega, 2.500 anos antes de Jefferson

Os gregos tiveram um governo democrático, 2.500 anos antes que Jefferson o tivesse sonhado. E foi a democracia num sentido mais verdadeiro que o nosso republicanismo, incluindo, como êle fez, todos os males e virtudes de uma pura experiência democrática. Cada cidadão da cidade de Atenas tomava parte na discussão de questões públicas e votava, na encosta de uma colina, que era um parlamento ao ar livre.

Qualquer cidadão só podia exercer um cargo público uma vez; e por meio do sistema ateniense de sorteio, cada cidadão haveria de ser, uma ou outra vez na vida, empregado público. Deveis lembrar-vos, contudo, de que o número de cidadãos em Atenas era apenas de poucos milhares.

A experiência de permitir que filósofos, sapateiros, poetas e soldados dirigissem o estado — cadinho de pessoal político — não tinha precedentes. Leis particulares, trabalhos públicos, o envio de uma expedição à Sicília, a ereção de uma nova estátua de Zeus, deviam ser debatidos, com a mais brutal franqueza, por homens de partidos e ambições opostas. O montanhês rico e conservador opunha-se ao radicalismo revoltoso do homem das planícies. E republicanos jamais combateram democratas com maior vigor.

A princípio, o governo de Atenas estivera em mãos de alguns ricos, ou oligarcas. Mas o primeiro grande homem de estado, da história, Sólon, criou nova lei, que forçou os oligarcas a declarar uma moratória de dívidas. Exatamente à maneira moderna apoiou os lavradores. Fez passar também uma lei exigindo que cada mulher possuísse pelo menos três vestidos.

Extinguiu as distinções de berço, criando um sistema de tribus ou demes. Estes demes eram constituídos indiscriminadamente de ricos e pobres. E assim no tempo de Sólon, à semelhança de um honrado senador de Utah, era Policrates do déme de Helias. Essa era a democracia prejefersoniana. Mas alto lá! Lancemos a vista para um homem atarracado, barbudo, que está de pés descalços, diante do tribunal, pronto a responder às acusações daqueles que querem condená-lo à morte.

A Assembléia ateniense está silenciosa. Cinco mil jurados inclinam-se para diante, afim de ouvir de que maneira irá o velho se defender.

— Falastes contra a religião, — acusa o promotor de justiça, — e desencaminhastes a nossa mocidade. Dis sestes-lhe que nossos políticos falam demais, embora, na realidade, não saibam o que estão dizendo e que ignoram o que seja beleza, virtude, verdade. Que respondeis a esta acusação?

O acusado é Sócrates, que havia andado pelas ruas de Atenas, andrajoso para ensinar o que fosse justiça. Fora detido "por corromper a mocidade". Seus concidadãos, de acordo com seus democráticos princípios, tinham o poder de mandar matá-lo ou deixá-lo livre. Pelos olhares que lhe lançam, imploram-lhe que torne a sua tarefa não muito difícil.

— Amigos atenienses, — responde Sócrates. — Esperais que eu peça vosso perdão para o crime de que sou acusado. Vós me absolvereis se me prostrar de joelhos a chorar e pedir misericórdia, em nome de minha mulher e de meus filhos. Porque é assim que costumam proceder diante de vós os acusados. Mas como, ó atenienses, posso eu pedir perdão porque falo a verdade? Como posso eu jamais retratar-me do que disse e do que fiz, quando tenho dedicado toda a minha vida à causa da sinceridade? Portanto, não posso defender-me. E que é a morte afinal, senão um agradável sono depois de um longo e árduo dia? Ora, se existe uma outra vida depois desta, quem se não regozijaria de poder ir conversar com os espíritos dos grandes homens do passado?

Sócrates foi condenado à morte por uns poucos votos dispersos. E assim cometeu a Democracia um crime, há 2.500 anos passados. O governo do povo é uma idéia nobre quando o povo é bastante nobre para julgar com justiça o mais sábio e o melhor de seus cidadãos. Faltava ainda aos democratas de Atenas aptidão para desempenhar sua tarefa.

Vida privada dos gregos

O SENHOR grego sustentava-se principalmente de azeitonas, vinho e cereais. Levantava-se ao nascer do sol, mergulhava um pedaço de grão de trigo num copo de vinho e fazia oferta de uma curta prece às estátuas de Zeus, Demetér e Atena. Em seguida, entrava casualmente em casa de um amigo onde comia uns pedacinhos de peixe. Dali seguia, com sua bengala na mão, para a Agora (Praça do Mercado) e levava o dia a discutir com outros cavalheiros a descoberta de minas de prata no Norte, ou o reajustamento econômico de Temís tocles em favor dos pobres, ou a última vitória da esquadra em Salamina.

O cidadão grego não exercia trabalho manual algum. Seus escravos se encarregavam disso… lavravam a terra e cuidavam das oliveiras. A mulher do cidadão educava as crianças, limpava os deuses caseiros, varria o pórtico de colunas e arranjava o cabelo para quando seu marido voltasse à tarde. Os meninos e meninas da família iam para o ginásio, onde jogavam, em absoluta nudez, almoçavam pão, figos e vinho, e passavam a tarde tocando lira ou seguindo para o campo, de carro, em alegre excursão. Os rapazes tinham de prestar serviço militar e as moças eram obrigadas a empregar suas tardes em aulas de costura e pontos de meia. Entre os gregos, considerava-se ideal o amor entre homens. O amor entre o homem e a mulher era julgado necessário, mas colocado em segundo plano. Era comum o amor entre mestre e aluno, filósofo e discípulo. O leitor deve lembrar-se que Sócrates foi processado por "corromper" a juventude, embora seja contestável a justiça desta acusação.

Certos filósofos, conhecidos como sofistas, dirigiam escolas ambulantes nas quais se encarregavam de instruir os filhos das famílias ricas na bela arte de viver e amar,

O grego era altamente religioso; mas pelo fato de possuírem seus deuses as fraquezas e vícios dos homens, sua religião foi chamada pagã. Festas religiosas celebravam-se com frequência em honra dessa ou daquela divindade. Tomavam essas festividades geralmente a forma de espetáculos dramáticos ou competições atléticas. Fo ram os gregos que inventaram os jogos olímpicos. A primeira olimpíada realizou-se há mais de 2.700 anos, em 776 antes de Cristo. Nas olimpíadas havia não somente concursos de proezas físicas, mas de habilidade mental e artística. Os juízes premiavam não só os melhores atletas, mas ainda o campeão dos dramaturgos e os mais inspirados poetas.

Os atenienses eram uma raça de sábios e artistas. Mas Esparta, a cidade irmã de Atenas, era a terra dos homens de ferro. Todos os espartanos eram soldados treinados desde a infância. O casamento valia como meio de produzir soldados sadios. Se o recém-nascido era desclassificado no exame físico, ordenado pelo Estado, arremessavam-no dentro dum precipício. Só os mais capazes tinham o direito de sobreviver. E maridos havia que entregavam suas esposas a outrem pelo interesse de uma prole forte.

Se um homem deixava-se surpreender em ato de adultério, era morto imediatamente.

A lei proibia aos espartanos que negociassem ou possuíssem dinheiro. Reuniam-se em comunidades, em que ricos e pobres viviam e comiam juntos. O código da ética espartana pode ser sintetizado numa única palavra: coragem. Quando um rapaz estava prestes a partir para o combate, sua mãe dizia-lhe: "Meu filho, volta com o teu escudo ou sobre o teu escudo". E tornou-se conhecido e famoso um general, por haver atravessado com uma espada o próprio filho que lhe desobedecera.

As fascinantes cortesãs gregas

IMAGINAI-VOS tendo deixado vossa esposa em casa, a passar a tarde em companhia de mulheres que são filósofas profissionais! Era o que o grego doméstico fazia. Que se sabe dessas mulheres filósofas?

Eram belas, mas se salientavam especialmente pelo seu saber… e sua habilidade em não se embriagar. Quando um marido desejava companhia, mandava a mulher dormir e ia visitar os salões daquelas brilhantes cortesãs, que langueciam em esplêndidos leitos e discorriam a respeito de política, religião e amor. Eram bem exercitadas em todos os ramos do saber, ao passo que a pobre esposa só podia costurar e portar-se, em geral, como outros simples ornamentos da coleção de seu marido.

Uma das mais famosas cortesãs gregas, Friné, que viveu no quarto século antes de Cristo, ofereceu suas riquezas para reconstruir os muros de Tebas. Certa vez, numa festa dedicada a Vénus, desfez-se de suas vestes e caminhou para o mar, diante da população inteira. Fídias, o grande escultor, achava-se entre os presentes. Veio-lhe a inspiração de esculpir uma estátua de Friné, como a deusa Vênus, dando assim ao mundo outra obra-prima da arte grega.

A mais fascinante das cortesãs gregas foi, porém, Aspásia, amante de Péricles. Péricles, filho duma família nobre, governou os atenienses como ditador, durante três décadas graças à simples força de sua personalidade. Era um autêntico aristocrata. Fechava-se em sua livraria durante o dia e passeava pelas ruas somente de noite. Era frio, impessoal, distante. Contudo fez de Ate nas a primeira cidade do mundo, embelezando-a com es plêndidos edifícios e estimulando os artistas e poetas nas

O brilhante patife Alcibíades

ALCIBÍADES foi um dos homens mais inescrupulosos da história antiga e um dos mais brilhantes políticos de todos os tempos. Era um jovem aristocrata ateniense, chefe dum grupo, que exigia uma expedição contra a ilha da Sicília. Inflamou a imaginação de seus conterrâneos com promessas de riquezas e glórias, no caso duma vitória. Gente de todas as classes, — ricos, pobres, negociantes, marinheiros, moços, velhos, — correu a alistar-se. Os escritórios de recrutamento da armada ateniense trabalhavam sem cessar. Na véspera da partida da esquadra, alguém mutilou as estátuas de Hermes, o deus mensageiro. As suspeitas recaíram sobre Alcibíades. Foi retirado do comando da esquadra e intimado a submeter-se a julgamento. Em vez de arrostar os juízes, porém, fugiu de noite para Esparta, a mortal inimiga de Atenas. Logo que chegou a Esparta, induziu os chefes daquela cidade a enviar uma expedição à Sicília, como auxílio contra a esquadra ateniense.alguém mutilou as estátuas de Hermes, o deus mensageiro. As suspeitas recaíram sobre Alcibíades. Foi retirado do comando da esquadra e intimado a submeter-se a julgamento. Em vez de arrostar os juízes, porém, fugiu de noite para Esparta, a mortal inimiga de Atenas. Logo que chegou a Esparta, induziu os chefes daquela cidade a enviar uma expedição à Sicília, como auxílio contra a esquadra ateniense.

Viveu com a bela livre-pensadora Aspásia, mas não pôde casar-se legalmente com ela, porque era de origem estrangeira. Péricles tinha muitos inimigos políticos, que resolveram atacá-lo, na pessoa de Aspásia. Conseguiram que ela fosse detida, sob a acusação de ateísmo.

Foi conduzida perante um juri de atenienses e Péricles postou-se diante de seus concidadãos, para advogar a causa da mulher que amava. Não pôde conter-se e chorou. E porque muito havia êle feito em favor dos atenienses, estes, que o veneravam, puseram-lhe em liberdade a amada.

Foi o novo sistema de tribunal de juri que salvou a vida de Aspásia, pois os sisudos velhos juízes atenienses teriam ficado surdos às alegações de Péricles. E, incidentalmente, fora Péricles quem, muitos anos antes da prisão de Aspásia, havia instituído o novo sistema de julgamento. A absolvição dela, porém, foi uma questão de justiça, não só política, como poética.

Em resultado do conselho desse Benedito Arnold o exército de Atenas foi completamente destroçado na Sicília (413 A. C). Dos 40.000, que haviam partido tão esperançosos de Atenas, apenas 9.000 conseguiram recuar. E desses 9.000, nenhum tornou a ver jamais Atenas. Foram todos mortos no caminho, ou vendidos como escravos. A traição de Alcibíades cortara o destino de uma nação inteira.

Mas Alcibíades não estava ainda satisfeito. Começou a incitar todos os aliados de Atenas à revolta. Atingido o ponto crítico, Esparta declarou guerra, invadiu Atenas e reduziu a grande cidade da liberdade a cativeiro e cinzas.

Mesmo assim, Alcibíades não se deu por satisfeito. Viajou para a corte do rei Tissafernes, da Pérsia, e persuadiu-o a invadir a Grécia, para apagar toda a civilização da Europa e colocar o Ocidente sob o governo dos déspotas orientais.

Mas quando Tissafernes enviou seus soldados, através do Mediterrâneo, quem senão Alcibíades lhe apareceu, subitamente, com treze navios atenienses, para derrotar os persas decisivamente a preservar sua terra da ruína?!

E, em seguida, esse estranho paradoxo de homem, voltando para sua nativa Atenas, com toda a pompa e esplendor imagináveis, num navio de flancos dourados, com escudos de prata e velas de púrpura, ao som de uma orquestra de flautas. Ninguém ousava erguer um dedo contra êle. Anunciou que só êle entre todos os homens do mundo seria capaz de restaurar a antiga grandeza de suas mais belas criações, na escultura, na pintura e na literatura.

Atenas. Jurou apaixonadamente que nunca havia cessado de amar sua terra natal.

Deram-lhe o comando do exército ateniense. Marchou desta vez contra Esparta, alcançou uma grande vitória e conseguiu libertar Atenas do domínio espartano.

Depois, pôs-se a pilhar todas as regiões que eram amigas de Atenas, enviou uma expedição contra a Pérsia, e, em vez de travar batalha com o rei persa, passou-se para seu lado no último momento.

Esse homem desinquieto morreu aos 54 anos, quando tentava provocar uma revolução na Frigia. Seus inimigos atacaram sua residência, deitaram-lhe fogo e lançaram contra êle uma saraivada de flechas, ao vê-lo aparecer à porta, inteiramente .sem defesa, envolto num manto de púrpura. Morreu nos braços de sua amante, que lhe vestiu o cadáver com seus próprios vestidos e lhe prestou os últimos ritos fúnebres.

E assim pereceu um homem que era a própria encarnação do demônio.

Alexandre, o Grande o mais extraordinário soldado da História

TODOS nós temos "vivido" as histórias que lemos quando crianças. Descobrimos a América com Colombo, namorámos e conquistámos as fascinadoras princesas com Aladino e derrotámos o inimigo com Napoleão e César.

Ora, viveu na Macedónia, há cerca de 2.200 anos, um rapaz, amante da leitura e dos sonhos, tal como vós e eu éramos na nossa meninice. Mas era diferente de todos nós. Aos vinte anos, jogou de lado muitos de seus livros e começou a fazer de seus sonhos realidade. Dentro de dez anos conquistou três quartas partes do mundo conhecido então.

Cansara-se de ser tutorado em ciência, em filosofia e em arte de guerra. Estava ansioso por tornar-se um chefe, em vez de um estudante. Desejava viver a vida! Em criança, costumava chorar diante das conquistas de seu pai, o rei Filipe da Macedônia. "Meu pai, — dizia êle uma vez a seus companheiros, — ganhará tudo e não deixará nada para vocês e para mim!"

Contudo cresceu para conquistar dez vezes mais território que seu pai. E depois quando não havia mais nada de importância para destruir, decidiu tornar-se construtor. Resolveu pôr em prática todos os seus conhecimentos de filosofia e ciência. Empreendeu a fusão, num só Império, de todas as nações conquistadas, que falavam línguas diferentes, adoravam deuses diferentes. Mas não estava ainda satisfeito.

Foi um dia visitar o sábio Diógenes que, único em todo o mundo, recusara-se a prestar a homenagem devida ao jovem conquistador.

Quando Alexandre viu Diógenes, deitado ociosamente num tonel, tomando banho de sol, perguntou ao velho sábio se havia alguma coisa que pudesse fazer era seu favor.

— "Sim, — respondeu Diógenes, — podes afastar-te para não fazer sombra entre mim e o sol!"

Alexandre compreendeu então, pela primeira vez, que era muito mais fácil conquistar o mundo que submeter o pensamento dum simples filósofo. Deixou Diógenes e voltou para seu exército.

Continuou a conduzir seus soldados ao combate, e entre orgias de sangue, lia em voz alta as cenas das épicas batalhas dos poemas homéricos.

Era bom conhecedor de literatura. No cerco de Gaza, aprisionou o governador, furou-lhe os pés e amarrou-lhe o corpo com cordas, à cauda dum carro, que êle mesmo conduziu através da cidade, exatamente como Aquiles havia feito com o corpo de Heitor, no famoso poema de Tróia.

 

 

Quando seu melhor amigo adoeceu e morreu, Alexandre mandou crucificar os médicos do acampamento. E afim de acalmar o pesar que sentia, avançou contra uma cidadezinha indefesa e passou a fio de espada dez mil de seus cidadãos.

De caráter fantástico e caprichoso, deu a uma nova cidade da Pérsia o nome de seu cavalo favorito e a outra, o de seu cachorro.

Era o protagonista num drama universal e um de seus autênticos autores. Reuniu Ocidente e Oriente e difundiu pelo mundo uma cultura que iria influir em todo o curso da história. Mas quanto maiores eram suas façanhas, tanto mais sublime aparecia êle a seus próprios olhos. Começou a considerar-se um deus, e uma vez, quando foi ferido, sentiu-se chocado ao verificar que o sangue, que manava de suas veias, era sangue vermelho, e não o celeste ichor, a divina substância que se supunha corresse pelas veias dos deuses.

Quando não estava combatendo ou lendo Homero, passava o tempo a beber. Nas suas bebedeiras, como nas suas batalhas, tentava mostrar-se sobre-humano. Tratava de beber como um deus, mas agia como um demônio. Por sugestão de uma cortesã embriagada, com quem se divertia em um de seus banquetes, rematou a diversão pondo fogo no palácio do rei persa. Noutra ocasião, organizou uma "maratona de bebedeira", tendo como prêmio uma coroa de ouro. O vencedor conseguiu beber doze litros de vinho. Mas nunca pôde gozar o prêmio, porque morreu logo após a vitória. Com o vencedor morreram, pelo excesso, quarenta e um dos outros concorrentes.

O próprio Alexandre afinal caiu doente, em consequência de uma de suas orgias, que havia durado trinta e seis horas. A doença transformou-se numa febre e poucos dias mais tarde êle morria. Tinha então apenas trinta e três anos de idade.

A estranha história da fundação de Roma

UM dia, um pastor, chamado Fáustulos, dava um giro à tarde, pelas margens do Tibre. Qual não foi seu espanto, quando viu um berço de madeira, flutuando brandamente na corrente.

O estranho pacotinho veio parar aos pés de Fáustulos … e quando o pastor o observou de mais perto, viu dentro dele, a dormir, um casal de gêmeos, envoltos em palha.

Agarrou então o maravilhoso berço e correu para casa, afim de mostrá-lo à mulher. Chamaram um dos meninos Romulus e outro Remus. Juntos os educaram até a puberdade.

Mas a mulher do pastor fora em sua mocidade uma pessoa de maus costumes. Tinha reputação de ser uma lufia ou "loba". E assim, quando os vizinhos vieram a saber que ela se tornara mãe dos gêmeos achados, observaram pilhericamente: "Os meninos foram amamentados por uma loba." Esta notícia espalhou-se por todos os recantos da Itália, de modo que até hoje se diz que Rómulo e Remo foram criados e educados por uma loba. O povo da antiga Itália pensava que os meninos haviam sido enviados pelos generosos deuses para fundar uma nova e grande cidade.

Quando Rómulo e Remo cresceram, praticaram grandes façanhas ao serviço do rei de Alba, cidade à margem do Tibre. Agradecido, o rei deu aos rapazes uma vasta faixa de terra, perto da foz do rio.

Era um inculto trato de terra, com sete grandes colinas, uma das quais não passava de um vulcão extinto.

Naquele acidentado trecho de terreno, os dois rapazes ergueram algumas cabanas dispersas e Rómulo depois deu ao povoado seu próprio nome.

E foi assim, diz a lenda, que se fundou a cidade de Roma.

O rapto das Sabinas

UMA das sete colinas de Roma era cercada por um trecho de pântano e mata. Ali se congregavam todos os criminosos, salteadores e assassinos da região do Lácio, para formar uma colônia própria, onde não haveria prisão, nem polícia… o paraíso dos ladrões.

Reuniram-se, vindos de todos os quatro cantos da Itália, acamparam no Monte Palatino, fortificaram-no e depois, lançaram-se a atacar os mercadores transeuntes.

Foi assim que se formou o Estado romano. Seus primeiros filhos, os barÕes-ladrões, viviam da espada. Na segunda das sete colinas, o Aventino, crescia uma colônia de pacíficos lavradores sabinos, lado a lado com os romanos. Viviam todos com suas mulheres e filhos, constantemente aterrorizados pelos seus turbulentos vizinhos.

Quanto aos romanos, agora que haviam construído seu ninho, puseram-se a procurar por perto mulheres que lhes servissem. Um dia, os ambiciosos romanos encontraram excelente oportunidade, quando os lavradores sabinos saíram a negociar com uma tribu vizinha.

Lançaram-se sobre as mulheres que haviam ficado e cada homem carregou para o Monte Palatino uma companheira, que se debatia. Oh! que couces e que dentadas! Ecoam até hoje através dos corredores da história.

Quando os bondosos lavradores sabinos voltaram para casa, encontraram o lugar deserto, havendo apenas umas poucas velhas, sentadas à porta duma cabana de palha. Toda mulher aceitável, entre quinze e cincoenta anos, havia sido levada para a colina irmã.

Desse modo tiveram filhos os romanos. E os filhos de seus filhos governaram o mundo.

Roma, a senhora do mundo

ROMA cresceu lentamente. Do monte Palatino es-palhou-se sobre os outros seis. Depois tornou-se senhora de toda a Itália. Em breve, lançou seus cobiçosos olhos sobre a florescente colônia norte-africana, Cartago, e resolveu pôr fim à sua existência. E dessa forma começaram as guerras púnicas, entre Roma e Cartago. Em uma delas, Aníbal, o general cartaginês, quase conseguiu destruir Roma. Mas cometeu o fatal engano de brincar de esperar. Afinal, foi excedido em manha e astúcia, pelo grande comandante romano, Quinto Fábio Máximo, apelidado o Contemporizador. E assim Roma foi salva.

Um dos senadores romanos, chamado Marcos Pórcio Catão, acabava sempre seus discursos com estas palavras: "E, senhores, é preciso destruir Cartago."

Quando Roma afinal conseguiu sair vitoriosa, os cartagineses enviaram embaixadores a pedir clemência.

O senado romano exigiu trezentas crianças cartaginesas como escravos. Os cartagineses satisfizeram a exigência. O outro pedido foi que Cartago se desarmasse, para mostrar a sinceridade de sua amizade. Cartago também fez isso. "E agora, disse o senado romano, temos ainda um pedido: Cartago deve ser destruída!" Quando os cartagineses ouviram isso, lançaram um grito de desespero. As mulheres cortaram os cabelos e os enrolaram, formando cordas de arco. E prédios foram derrubados para fornecer metal às novas armas e madeira para as máquinas de defesa. Mas de nada valeu. Depois de uma luta heróica de três anos, os cartagineses foram derrotados. Todos os seus habitantes foram passados a fio de espada.

E assim foi Cartago destruída, pela traição dos romanos, em 146, antes de Cristo.

* * *

Um homem chamado César estivera ocupado durante algum tempo em submeter as tribus da Gália. Uma noite, dava êle um banquete aos seus amigos, quando de repente escapou sem ser visto, em meio de violenta tempestade, levando apenas um archote para aclarar o caminho. Vagueou a noite inteira pelos bosques e, de madrugada, alcançou a margem dum riacho. Vemo-lo parar para aspirar profundamente o ar matinal. "Deverei, pergunta a si mesmo, atravessar este riacho ou não?"

De todos os lados apareceram de repente grupos de homens. Seguiam César e perscrutavam ansiosamente a dianteira. O corneteiro do exército tocou o cotovelo do poderoso César e apontou-lhe, excitado, para uma estranha aparição a alguns metros adiante, que tinha na mão uma flauta. "Não ouvis, senhor, os sons da música?" sussurrou êle. Depois o corneteiro deu alguns passos para a frente. A visão tomou-lhe a corneta da mão trêmula, deu um vigoroso sopro e depois mergulhou-a no riacho, desaparecendo silenciosamente no crepúsculo matutino.

E César, vendo isso, levantou os braços para o alto e gritou: "O dado está lançado!"

Atravessou o Rubicão, entrou em Roma, como um rebelde, depôs o governo, e foi feito ditador vitalício. A república romana foi-se transformando pouco a pouco em império romano.

À Roma imperial era o mundo. Seus exércitos haviam submetido todas as nações, desde o Danúbio até o Nilo, das ilhas Britânicas ao império persa. Todas as estradas conduziam a Roma. E eram soberbas as estradas romanas. Eram as artérias através das quais corria um constante rio de dinheiro para o tesouro romano.

Nenhum país jamais exerceu poder maior. Reparai nos milhões e milhões de pessoas sujeitas ao imperador, entronizado no Monte Capitolino: povos da Gália, da Espanha, da Itália e da Dalmácia, da Dácia, da Macedónia, da Grécia e da Ásia Menor, da Capadócia e da Armênia, da Mesopotâmia, Mésia e Damasco, da Bretanha e de Jerusalém.

Quase três quartos dos habitantes do mundo estavam sob o mando dos governadores romanos e sujeitos às leis romanas, sistema legal que se tornou a base da lei da Europa inteira, com exceção da Inglaterra, e que é a lei da Luisiana, atualmente, em nosso próprio país.

O sistema político de Roma foi talvez o mais eficiente da história. Sua brutal, porém prática divisa, era: "Dividir para governar!" E dividindo o poder das nações, unificou seu próprio poder. Só havia uma língua oficial no mundo, uma religião oficial, uma lei, um senhor, um império. A civilização não existia para lá dos limites do domínio romano.

No tempo dos imperadores, a vida do cidadão romano

" era "cruel como um tigre e louca como um hospício". Frequentava o circo para ver os últimos grupos de prisioneiros bárbaros matarem-se uns aos outros. Esse esporte variava algumas vezes, quando eram lançados

A vida privada dos romanos

aos leões famintos, homens, mulheres e crianças das províncias conquistadas.

Muitas vezes enchiam de água o imenso anfiteatro e grandes batalhas navais eram travadas diante de cem mil espectadores. O sangue que então se derramava concorria para dar à cena um aspecto de realidade.

Conta-se que um ambicioso imperador mandou encher o estádio de vinho, para uma batalha épica de cento e vinte navios, no correr da qual foram mortos quinze mil escravos egípcios.

Os romanos eram loucos por lutas. No outro dia, dizia Quinto Máximo a um amigo: "Rufio foi derrotado na arena. Perdeu uma das orelhas." Rufio fora de sorte, pois usualmente, quando dois romanos de peso pesado iam para a arena, só um deles saía vivo.

O romano abastado possuía uma vila no campo e escravos das províncias dominadas para serví-lo, para educar seus filhos (pois os escravos eram muitas vezes hábeis músicos, artistas e professores da Grécia) e para derramar seu sangue por êle quando houvesse ocasião. Passava tempo na política ou no exército. A vida política dos romanos era emocionante, porém perigosa. Se um político romano não tinha muito cuidado com a língua, cortavam-lhe a cabeça e a espetavam sobre as portas da cidade, com uma agulha cravada na língua.

Os romanos eram um povo esquentadiço e turbulento. Os jovens aristocratas romanos divertiam-se frequentemente, vestindo-se como rufiões, à noite, para surrar as pessoas que encontravam pelas ruas. Era uma das diversões preferidas de Marco Antônio.

Os mais populares passatempos dos romanos eram, porém, os banquetes. Vamos a um deles.

Parece que chegámos um pouco tarde demais. Lá está o imperador Nero, estirado, num estupor de bêbedo, sobre o chão de mármore, roncando de boca escancarada. Perto dele, a figura graciosa do poderoso senador Severo e a seu lado um taça de ouro emborcada. Juncam o vestíbulo almofadas de púrpura, sobre as quais os

convivas se reclinam, enquanto comem, e cantam e bebem, olhando ansiosamente para o rosto do imperador, quando este lhes dirige a palavra. Porque os convivas sabem muito bem que um convite de Nero para um banquete pode ser mui provavelmente um prelúdio de morte. O degenerado imperador sentia especial prazer em banquetear aqueles de quem não gostava, para matá-los no dia seguinte.

Ao chegarmos ao banquete, os convivas já não se acham mais nos leitos. Jazem espalhados pelo chão, nas mais grotescas posições. As grinaldas, com que estavam coroados no começo do festim, acham-se agora murchas e s.eus rostos mostram-se lambuzados de vinho. Porque o festim dura já quase dois dias. A primeira taça de vinho foi distribuída na terça-feira, à noite, quando o imperador se firmou nas suas curtas pernas gordas para tocar flauta. Estamos agora à tardinha de quinta-feira.

Logo os escravos virão banhar os libertinos e repô-los na sua costumeira dignidade. As taças são retiradas, os soalhos lavados e limpos e os últimos vestígios do deboche e do vício removidos. Mas é esse mesmo deboche interno de Roma que está destinado a dar-lhe a sentença de morte, no ano de 476, depois de Cristo.

Aqueles loucos imperadores romanos

O PRIMEIRO imperador romano era sobrinho de César, Otávio. Logo que subiu ao trono, mudou seu nome para Augusto, que significa venerável (literalmer* te, aumentado em fioâer e em glória). Fez questão de ser olhado como um deus. Seu corpo tinha de ser considerado sagrado e seus súbditos deveriam rezar a êle e oferecer-lhe sacrifícios. No seu leito de morte, dizia aos que

o cercavam: "Desempenhei meu papel divinamente. Aplaudam-me agora que vou morrer".

Seu sucessor, Tibério, vivia na linda cidade de Capri, um de cujos lados se ergue perpendicularmente a 300 metros acima do oceano. Era diversão favorita do imperador mandar jogar gente do alto do penhasco.

Depois de Tibério veio Calígula. Esse imperador era doído por oferecer banquetes. Imaginemo-lo sentado num esplêndido trono, em conversa com dois senadores.

— Tragam o melhor vinho, — ordena a seus escravos, — o mais escolhido Falerno que houver na adega.

— Como esteve a caçada hoje, majestade? — pergunta um dos velhos senadores.

Mas Calígula não responde. Em vez disso, dispara a rir. Ri tanto, que fica trêmulo e seu rosto vai-se tornando carmesim.

— Permite que lhe pergunte, majestade, qual é a graça que o faz rir? — diz o outro senador barbibranco.

— Veio-me à idéia quão engraçado seria ver vocês sem cabeça, — responde o imperador. E seguindo-se a ação às palavras, manda cortar a cabeça de seus dois convivas.

Calígula tinha o hábito de dar longos passeios sozinho. As pessoas que o encontravam ficavam surpresas ao vê-lo conservar uma orelha erguida, de um jeito particular, como se estivesse escutando uma voz vinda do céu. Um dia, quando lhe perguntaram o que significava aquilo, respondeu: "São minhas conversas com Júpiter."

Uma vez declarou que tencionava casar-se com a lua. Realizou uma grande cerimônia pública, nomeando seu cavalo favorito "dama de honor".

Depois de Calígula, veio Cláudio e em seguida a este, o mais degenerado de todos eles, o gordo Nero. Esse rapaz de maus-bofes brigou com a mãe e estrangulou-a. Tomou raiva de sua mulher Pompéia, que estava grávida, e deu-lhe um pontapé no ventre. Ela veio a morrer em consequência do golpe.

Depois convenceu-se de que era um grande músico. Convidava gente ao seu palácio e torturava os convidados horas a fio com suas canções. Quando tentava dar as notas agudas, arfava, ansiava e espichava-se nas pontas dos pés, mais ai de quem achasse graça e risse!

Um homem, contudo, o filósofo Petrônio, era demasiado honesto para lisonjear o imperador. Escreveu uma carta a Nero, dizendo-lhe que êle era o pior cantor de todos os tempos. E depois, para evitar embaraços, Petrônio abriu as veias, suicidando-se.

Doutra feita, Nero tentou tornar-se um dansarino profissional. Mas quando percebeu que não conseguia saltar tão alto quanto seu professor, mandou matá-lo e tratou de arranjar nova profissão.

Embora tivesse as pernas arqueadas, o pescoço grosso e a barriga saliente, acreditava-se um Apolo e andava nu em público.

Quando desejava afastar alguém de seu caminho, escrevia-lhe uma nota oficial, nestes termos: "Nero está farto de você. Por isso requer que você se mate para o bem de Nero e do Estado." E a sua cruel intimação era sempre cumprida.

Todas as manhãs enviava Nero uma lista dessas notas. Todas as noites sentava-se a escrever uma História de Roma, que esperava estender em quatrocentos livros~~ de versos. E tencionava recitar para seus admiradores, verso por verso.

Certa vez a cidade de Roma ardeu em pavoroso incêndio. Alguns historiadores suspeitam que o próprio Nero tenha dado ordem para isso, afim de preparar um pitoresco cenário, em que se exibisse tocando flauta. A oportunidade era excelente. O incêndio durou seis dias e três quartas partes da cidade foram reduzidas a cinzas. Enquanto as labaredas subiam para o céu, Nero saiu ao balcão de seu palácio e cantou "suas divinas composições musicais", como as chamava.

Mas na idade de trinta anos, o "divino" Nero viu-se forçado a fugir de seu palácio. A cólera do povo havia irrompido e exigia-se a sua morte. O poderoso monarca escondeu-se na casa de um servo. Quando percebeu que os oficiais da guarda se aproximavam, agarrou uma adaga, com mãos trêmulas e deixou-se cair sobre ela. E já no chão, moribundo, murmurava: "Que grande artista vai hoje o mundo perder!" Tão terrível era essa idéia, que êle não se conteve e chorou com pena do pobre mundo.

Todos os Césares, de Augusto a Nero, nasceram loucos.

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O massacre dos cristãos

(narrado por Septimio)

UMA espécie de gente, muito característica, Flávio, apareceu no Estado. Encontram-se às ocultas e recusam-se a queimar insenso diante dos deuses oficiais. Não saúdam César quando êle passa. Diz-se que essas pessoas adoram divindades estranhas e praticam estranhos ritos.

"O imperador Cláudio mandou prender milhares delas para pasto dos leões. Nero mandou enfiá-las em postes e cobri-las com um traje untado de breu e piche. E depois, certa noite, ateou-lhes fogo e fê-las desfilar pela cidade como tochas ardentes. E aquela gente sofria silenciosamente, ao que parece. Nossos imperadores romanos experimentam profundo prazer em torturar homens, mulheres e crianças, que morrem sem uma palavra de protesto.

"Meu amigo Petrônio me disse que tem suspeitas de que os indivíduos são confortados por algum poderoso espírito, que paira sobre eles. Na última semana, quando Petrônio foi ver uma moça, que ia ser queimada numa estaca, ficou bem perto dela, no momento em que a amarravam e pôde ouví-la murmurar: "Virgem mãe!" Petrônio imagina que são palavras mágicas, de tal poder que tornam os cristãos capazes de morrer tão bravamente. Essa gente, diz êle, deve ser encantada. Suportam os maiores suplícios de rosto impassível. Muitos deles retiram-se para o deserto, a viver sozinhos em furnas, flage-lando-se e rezando. Cada vez aumenta mais o número de romanos que procuram esses cristãos, os quais lhes prometem salvá-los das orgias dos Césares e mostrar-lhes um reino muito maior que o Império Romano. Negariam eles a divindade de César, esses rebeldes que partem o pão e oferecem vinho e cochicham estranhas orações, quando se encontram?

"Ainda ontem, nova turma foi lançada aos leões, no Coliseu. O odor do sangue e das entranhas dilaceradas dominou os perfumes árabes com que o Coliseu tinha sido banhado. O espetáculo era repugnante. Contudo exerceu mágico efeito sobre os espectadores. Muitos deles desceram para a arena, convertendo-se ao Cristianismo.

"Que poder, humano ou divino, ó Flávio, sustenta esses homens? E que conta mágica é essa que conserva seu número sempre em aumento, a despeito de serem milhares deles queimados na estaca ou devorados pelas bestas selvagens?

"Ontem assisti a uma função noturna, no circo. Nero arranjou novo sistema de iluminação para o espetáculo. Em lugar das costumeiras tochas, o circo foi iluminado pelo clarão dos mátires em chamas… Vi-o com os meus próprios olhos e nova luz brilhou em mim. Sinto. .. não diga isso a ninguém… sinto que me estou tornando cristão!"

A queda de Roma

OS poderosos imperadores romanos douravam suas unhas, usavam nos braços, pesados braceletes de ouro e anéis de ouro nos dedos, e envolviam o corpo em trajes de púrpura, pesadamente bordados de ouro. Tão sobrecarregados ficavam com tal luxo, que mal podiam andar. A maior parte das vezes eram transportados pelas ruas em liteiras, levando na cabeça pesado diadema e maciços brincos pendentes até o pescoço. Calçavam chinelas de prata, banhavam-se em leite e perfumavam-se com mel. E bebiam e comiam o dia inteiro e a maior parte da noite, em palácios que iguais o mundo jamais vira. Eram levados para a cama, por milhares de servos e mantinham sua corte com o esplendor dos monarcas orientais. Muitos dos servos mais íntimos do imperador recebiam o título de ilustres. Outros eram chamados mais ilustres e outros ainda ilustríssimos. Citaremos só alguns dos numerosos servos do imperador: os eunucos negros que guardavam o sagrado dormitório; o ilustríssimo e honorabilíssimo conde do guarda-roupa e da imperial mesa; sua excelência, o chefe dos escribas; suas excelências, os conservadores do tesouro; o conde dos presentes secretos; o conde do estado privado; o mestre dos cavalos do rei e os vinte 2 nove cobradores provinciais.

E por trás desse palco de real exibição e esplendor, havia os pobres, os humildes, os desherdados… os homens que eram forçados a vender suas fazendas por causa dos pesados impostos, para manter toda aquela pompa e que iam para a cidade à busca de trabalho, sem nada encontrar, porém. E mais além ainda, vinham os batidos e opressos escravos, que haviam sido capturados na guerra e reduzidos ao nivel de animais domésticos.

Uns poucos privilegiados eram designados para cobradores de impostos. Entregavam os impostos à corte; mas tudo quanto coletavam acima da taxa estipulada ficava para eles. Quando não podiam coletar dinheiro do lavrador, tomavam seu gado e suas colheitas.

Quando o imperador apregoava o seu aniversário, os cidadãos deviam unir-se para contribuir com sessenta e quatro mil libras de ouro.

Quão poderosos se mostravam os imperadores romanos! Parecia que deveriam existir para sempre. Milhões de pessoas de todos os territórios por eles conquistados enviavam tributos a Roma e eram mantidos em sujeição pelos governadores romanos. Os exércitos romanos dominavam por toda a parte. Somente nas espessas florestas do norte, vagueavam bandos de bárbaros, não iluminados pelo archote da civilização romana.

Mas Roma era a glória dos tempos. Essa glória continuou, inabalável, durante quinhentos anos. Depois a gigantesca civilização abateu-se e o fragor da queda reboa ainda através dos séculos.

Se fôsseis um cidadão do Império Romano nunca haveríeis de sonhar que algum dia a vossa glória, os vossos imperadores e os vossos deuses desapareceriam para sempre da face da terra.

Contudo foi justamente isso que aconteceu. A glória de Roma era um brilhante panorama, pintado em madeira podre.

O luxo leva ao vício. A riqueza à pobreza. Os bárbaros lançaram-se das margens do Danúbio. Os velhos libertos de Roma haviam desaparecido. Tinham sido substituídos, de um lado, pelos opulentos nobres, e de outro, pelos paupérrimos lavradores. Os ricos nobres tornaram-se demasiado dissipados, para poder lutar, e os pobres lavradores recusavam-se a combater. E assim eram os imigrantes bárbaros arregimentados no exército.

Ensinavam os hunos, os godos e os vândalos a combater à moda romana, com armas romanas. Era apenas uma questão de tempo, que o discípulo se voltasse contra o mestre.

O velho romano, cujo pai combatera nas legiões de Sila, de Pompeu e de César, via-se agora forçado a vagar pelas ruas à cata de alimento. Mas em vez de pão, os imperadores davam-lhe combates de gladiadores, para diverti-lo. Gradualmente, passou-se da tirania de seus imperadores para o conforto de uma nova fé, uma fé que lhe dizia que haveria de receber sua recompensa no reino dos céus, logo que partisse desse ingrato mundo dos Césares. E assim, ainda mesmo quando trabalhava no campo, largava o arado e sonhava com a redenção. Não sentia mais seu coração preso ao império. Era agora cidadão de um império maior… o suave império da fraternidade cristã.

Pouco a pouco, as nações conquistadas pelas poderosas malhas administrativas, começaram a revoltar-se. O espírito da velha Roma desaparecera. Uma a uma, caíram as peças do império, até que a própria Roma fendeu-se e desmoronou-se num montão de ruínas.

Os hunos, os godos e os vândalos invadiram a cidade imperial dos maravilhosos banhos, das esplêndidas bibliotecas e das preciosas obras de arte.

Chegara ao fim a velha civilização do Ocidente.

Fonte. Globo. Trad. e Adap. de OSCAR MENDES.

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O Antigo Leão da Babilônia  Nos tampos do Nabucodonosor, que reinou em G0Í3-5G2 A. C, este leão fazia parte da decoração da estrada sagrada da cidade de Babilônia.
O Antigo Leão da Babilônia Nos tampos do Nabucodonosor, que reinou em 624-582 A. C, este leão fazia parte da decoração da estrada sagrada da cidade de Babilônia.

A Acrópole de Atenas
A Acrópole de Atenas.

ALEXANDRE. O GRANDE.
ALEXANDRE. O GRANDE.
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