FILÓSOFOS DA RENASCENÇA, MODERNOS e CONTEMPORÂNEOS

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Maravilhas do Conhecimento Humano – Henry Thomas

FILÓSOFOS DA RENASCENÇA

"O mais sábio e o mais abjeto dos homens"

FRANCISCO BACON, como Aristóteles, foi uma perfeita combinação do pensador teórico e do homem prático de negócios. Aos treze anos era um acabado filósofo; aos dezesseis, experimentado político e aos dezoito, achando-se sem pai e sem vintém, tornou-se um advogado famoso. Era orador tão eloquente, segundo dizem, que seus ouvintes não o deixavam parar. "Seus ouvintes, escreve Ben Jonson, não usavam tossir ou olhar para o lado com medo de perder uma só de suas palavras."

Seu eloquente falar e seu pensamento brilhante atraíram-lhe numerosos amigos. Um deles, o jovem e formoso Conde de Essex, deu-lhe de presente magnífica propriedade. Bacon retribuiu-lhe um tanto vilmente essa oferta. Quando prenderam Essex, por causa de sua rebelião contra a rainha Isabel, um de seus mais acérrimos perseguidores foi Bacon. Deve-se largamente à eloquência de Bacon a pena de morte que foi imposta a Essex. Devido a isso, Pope chamou a Bacon de "o mais sábio e o mais abjeto dos homens".

Durante algum tempo, sua atitude para com Essex tornou-se extremamente impopular. Mas pouco a pouco, o ressentimento popular desapareceu e êle voltou à sua política e à sua gloriosa carreira pública. Apesar-de filósofo, gastou muito mais dinheiro do que possuía. Certa vez, foi preso por dívidas. Mas sempre conseguia safar-se de suas dificuldades e erguer-se cada vez mais alto na escala política. Finalmente, na idade de 57 anos (em 1618), alcançou o mais elevado posto político no estado. Foi nomeado Chanceler.

Não obstante carreira tão ativa, sua pena marchava velozmente. Como escritor, era um segundo Aristóteles e como pensador, não lhe ficava muito atrás. O campo de sua atividade mental foi tão vasto quase como o de Aristóteles, e possuía pelo menos uma qualidade que faltou a este: o senso do humor. Não somente meditava sobre a vida, mas ria dela. Sua sabedoria é, às vezes, semelhante à de Salomão. "Vê-se muitas vezes, escreve êle, que os maus maridos têm boas esposas." E ainda: "O primeiro dia de casamento adiciona sete anos de sabedoria à vida de um homem." O saber vem da experiência e a experiência será guiada pelo saber. Pensai sempre demoradamente e bem antes de tentardes fazer ou dizer alguma coisa. Todas as nossas más ações e loucas palavras se originam de pensamentos superficiais. Um pequeno pensamento é uma coisa perigosa. "Uma filosofia mesquinha inclina o homem ao ateísmo; mas a profundeza na filosofia leva o pensamento dos homens para a religião."

Diferentemente da maior parte dos filósofos, Bacon acredita na guerra. Expressa sua crença nestas poucas e concisas palavras: "O melhor meio de encontrar ouro é procurá-lo com ferro" (isto é, com as armas da guerra). Contudo é moderado em seu militarismo. Muito melhor mesmo do que ganhar uma guerra, diz êle, é evitá-la. E falando de revoluções, observa que "o mais seguro meio de preveni-las é remover as causas que as produzem." Piá duas causas que geram revolução: pobreza e descontentamento. Afim de evitar a revolução, difundi a riqueza de vosso país o mais equitativamente possível. "O dinheiro é como estrume, só serve espalhado." Tanto mais cresce a renda média, tanto menor é o descontentamento.

O político prático que havia em Bacon correu muitas vezes em auxílio do filósofo. Desprezava o saber pelo saber. Olhava com desprezo o homem que se conservava aparte. Seu lema era: aprende o jogo e joga-o. Ou, para usar de suas próprias expressões: "adquire o saber para que êle te conduza à ação."

Com este propósito no pensamento, Bacon preparou-se para examinar todo o campo do saber humano. Tentou definir "o corpo e o pensamento do homem e o Corpo e o Pensamento de Deus".. O campo de seu estudo foi o retrato completo do homem, tendo como fundo de quadro a natureza. O lema dos antigos era que "o saber torna os homens sábios". Bacon transformou isso numa máxima mais prática: "o saber tornará o homem livre!’ Aprende à ser senhor, em vez de escravo, da natureza. E para ilustrar esse ponto, Bacon descreve um país imaginário, a Nova Atlântida, em que os homens adquiriram a liberdade por meio do saber ou da ciência. Esse país imaginário — lembrai-vos de que Bacon escreveu isso há trezentos anos passados — é, sob vários aspectos, um quadro extraordinariamente preciso de nossa própria era científica. Na sua Nova Atlântida, profeticamente descreve os homens voando em naves aéreas e viajando em submarinos, utilizando as águas do mar e os gases do ar como combustível e como luz, retalhando os corpos dos animais, para aprender os segredos da cirurgia, e fazendo crescer novas e maravilhosas variedades de plantas, por meio do entrecruzamen-to. Como a República de Platão, a Nova Atlântida é uma utopia, região em que os filósofos são reis e os cientistas, os chefes de estado. E’ interessante notar que os políticos de hoje estão solicitando cada vez mais os conselhos dos professores como guias. Parece, afinal de contas, que não foi vão o que homens como Platão e Bacon escreveram.

Contudo, o próprio Bacon cometeu seus enganos. Contemplando a floresta, perdeu de vista as árvores. Seu pensamento estava tão completamente focalizado sobre a ciência do futuro, que deixou de apreciar a ciência de seu próprio tempo. E’ um dos espantos da história ver que êle estava totalmente cego a respeito das realizações de três dos maiores cientistas de sua geração: Kepler. Harvey e Tycho Brahe.

O Aristóteles da Idade-Média

UMA das mais interessantes figuras da Idade-Média foi o filósofo e físico judeu-árabe, Maimônides. Vivendo no tempo das Cruzadas, foi uma das vozes mais tranquilas, numa era de tumulto. Ao contrário da maior parte de seus contemporâneos, não se interessava pela guerra. Mas se interessava por quase todas as outras coisas. Foi o espírito mais versátil do século XII. Foi igualmente notável como filósofo, professor, escritor, sábio, juiz, astrônomo, cientista e homem de estado. Além de tudo isso, foi o maior médico de seu tempo. Era físico na corte de Saladino, e foi convidado para médico privado de Ricardo Coração de Leão.

E foi o primeiro popularizador do saber, que regista a história. Por isso, chamaram-no justamente de "Aristóteles da Idade-Média".

E’ especialmente famoso pelos seus Oito Degraus de Ouro da Caridade. Neste ensaio, expõe que há uma diferença entre dar e dar. Podeis dar com a mão, o pensamento e o coração. O primeiro e mais baixo degrau na escada da caridade é dar com relutância. O segundo é dar insuficientemente. O terceiro é dar somente quando se é solicitado. E assim por diante, até chegarmos ao oitavo degrau. Este é impedir a pobreza para evitar a necessidade da caridade. "Este, conclue êle, é o mais alto degrau e o cume da escada de ouro da caridade."

No exercício de sua profissão de médico, Maimônides estabeleceu uma série de dez regras para a conservação da boa saúde. Algumas dessas regras são de especial interesse mesmo em nossos dias. Por exemplo:

"Abandona sempre a mesa ainda com fome".

"Nunca bebas durante a refeição."

"Come parcamente no verão."

"Nunca te deites logo depois da comida."

"As bebidas alcoólicas são más para o jovem, porém boas para o velho."

"Não deixes de banhar-te uma vez por semana."

Se somos levados a olhar para este último aviso com um sorriso, lembremo-nos que Maimônides viveu numa época notável pela sua porcaria. A maior parte da gente de sua geração banhava-se apenas uma vez por ano.

A glória trágica de Spinoza

QUANDO Luís XIV reuniu em torno de si os maiores artistas e intelectuais de seu tempo, ofereceu uma pensão a Spinoza, com a condição de que o filósofo lhe dedicasse seu próximo livro. Mas Spinoza não desejava abafar suas idéias na atmosfera artificial da corte francesa. Recusou a pensão.

Contudo Spinoza necessitava de dinheiro. Passava fome naquela ocasião. Às vezes era forçado a passar um dia inteiro, com um prato de sopa ou uma tijela de papa. Sua saúde ia-se lentamente enfraquecendo e uma tosse denunciadora começou a atormentar-lhe o pequeno corpo. Sabia que estava ficando tuberculoso. Contudo recusou auxílio estranho. "Se aceitardes auxílio monetário de outro homem, dizia êle, sereis obrigado a aceitar suas crenças." Spinoza não venderia suas crenças por todo o ouro do mundo.

Spinoza foi um dos mais fortes caracteres da história. Excomungado pela Sinagoga, por causa de suas crenças nada ortodoxas a respeito de Deus, teve de viver por si mesmo. Polia lentes para viver e passava todo o tempo que lhe sobrava, escrevendo um livro que ensinaria os ho mens a viver.

Este livro é uma das curiosidades da literatura. E’ um livro de filosofia, planejado geometricamente e escrito em latim. E, pelo quase unânime veredicto da humanidade, um dos mais sábios livros jamais escritos. Tentou responder às três mais embaraçosas perguntas do mundo: Que somos? Quem nos pôs neste mundo? E que estamos fazendo aqui?

Começou primeiro com a natureza de Deus. Depois discutiu a estrutura do universo. Finalmente considerou o destino do homem.

Deus, diz-nos êle, é todas as coisas e todas as coisas são parte de Deus. Essa doutrina e conhecida pelo nome de Panteísmo (teoria do Deus cm todas as coisas). Cada folha de erva, cada flor, cada nuvem, cada gota d’água, ada árvore, cada montanha, cada estrela e cada ser vive é uma parte do imponente corpo de Deus. E cada pensamento humano, cada poema, cada quadro, cada sinfonia, cada ato de caridade é parte do plano ou do pensamento de Deus.

Mas nossos pensamentos humanos, diz-nos Spinoza, são limitados em inteligência. Formam somente uma pequena fração do vasto pensamento de Deus. Cada um de nossos espíritos humanos é apenas uma sílaba, no grande poema divino da criação. E o pensamento humano não é mais suficiente para a compreensão do plano da criação, do que a sílaba de um poema para a compreensão do plano do poeta que o escreveu.

Cada um de nós, portanto, é uma parte de Deus. Cada um de nossos corpos é uma parte do corpo de Deus; cada um de nossos pensamentos, uma parte do pensamento de Deus; e cada uma de nossas almas, uma parte da alma de Deus. Quando nosso corpo morre, baixa à terra para alimentar a relva e as flores. E quanto à alma, nunca morre. E’ absorvida pela alma de Deus. "O pensamento humano, escreve Spinoza, não pode ser absolutamente

destruído com o corpo humano. A alma… durará para sempre."

E este pensamento leva-o à missão do homem aqui na terra. Por que vivemos? Vivemos afim de verificar que todos somos parte de Deus, que somos membros de uma família divina, que estamos apenas passando uma temporada educativa neste mundo, cada um em diferentes caminhos. Mas depois que tivermos juntado nossas várias experiências, seremos chamados de volta para fazer o relatório do saber que adquirimos na terra e juntar-nos no céu à família unida da humanidade.

O conselho de Spinoza a seus semelhantes será portanto: "Amai-vos uns aos outros". Satisfazei-vos com pouca coisa, retribuí o ódio com amor, e buscai vossa felicidade apenas por meio da felicidade alheia. Porque todos sois irmãos de uma mesma família. "O maior bem é o saber da união que todas as criaturas têm com todas as outras… Porque todas as criaturas são partes divinas de Deus."

Durante toda sua vida praticou Spinoza o que ensinava. Sua irmã tentou privá-lo de parte da herança paterna. Êle levou o caso aos tribunais, ganhou a questão e depois transferiu o dinheiro à sua irmã.* Egoísmo era uma palavra que jamais existiu para êle. Toda a sua vida foi dedicada, mental e fisicamente, a seus semelhantes. Quando morreu (em 1677), na prematura idade de quarenta e quatro anos, poucos estudiosos lhe reconheciam o elevado pensamento, mas o mundo inteiro prestou homenagem à sua grande alma. "Entre os mais nobres homens da humanidade, escreve Schleiermacher, Spinoza permanece sozinho e inatingível."

A HISTÓRIA DA FILOSOFIA MODERNA

O homem que arrancou do pesar o prazer

EM consequência das guerras napoleónicas, o corpo da humanidade achava-se lacerado, dessangrado e mortalmente doente. A Europa estava desesperada. E na Alemanha surgiu então um homem, que deu voz a esse desespero.

Artur Schopenhauer era filho dum pai insano e duma mãe histérica. Quando tinha êle dezessete anos, seu pai suicidou-se e sua mãe entregou-se a uma vida de libertinagem. O ambiente que cercava, pois, o jovem filósofo não era apto a inspirar-lhe muito respeito pelo animal humano.

Era nervoso, taciturno e suspeitoso de todos. Conservava tudo quanto lhe pertencia, debaixo de ferrolho e chave. Dormia com uma pesada pistola sob o travesseiro. Nunca se confiou a um barbeiro para barbear-se. E vivia num constante pavor de ser assassinado.

Sua filosofia espelha seu pensamento amargo e nevró tico. E’ um libelo contra a humanidade em conjunto. O livro em que traça essa filosofia, O mundo como vontade ê representação, é uma lúgubre Bíblia de Pessimismo.

Schopenhauer logrou grande quantidade de prazer escrevendo esse livro, mas não proveitoso. O público recusou-se a comprá-lo. Mais desgostoso do que nunca contra a raça humana, referiu-se ao desprezo pelo seu livro neste mordente epigrama: "Os livros são como um espelho. Se um asno nele se mira, não podereis contemplar nele um anjo."

Contudo o público não era tão asinino como Schope nhauer quis pintá-lo. O povo não gosta de ler livros em que se diz que êle é incuravelmente estúpido e condenado à eterna danação. E o povo tem razão. A vida é bastante amarga, sem que haja necessidade de estarmos constantemente a relembrar isso. Mesmo um livro trágico, para obter êxito, deve ser temperado de sorrisos. A filosofia de Schopenhauer, porém, é um prolongado franzimen-to de sobrancelhas, do princípio ao fim. Viemos ao mundo, diz-nos êle, para sofrer. As únicas criaturas felizes são os loucos, porque não têm conciência de seu sofrimento. A tragédia, realmente, está em nascer homem. Mais trágico ainda é nascer mulher. Um homem pode pelo menos esquecer-se de seu sofrimento, com a posse dum pensamento inteligente. Mas uma mente inteligente é um luxo negado às mulheres.

A vida, diz Schopenhauer, é um mal. Está cheia de traição, deshonestidade, guerra, doença, morte… e mulheres. Até mesmo o prazer, especialmente o prazer do amor, é apenas um prelúdio ao sofrimento. Por uma excitação momentânea temos muitas vezes de pagar uma vida inteira de doenças.

A vida é contínuo campo de batalha, de sofrimentos e destruição. O pássaro come o verme; o homem come o pássaro e o verme come o homem. Dessa forma se perfaz indefinidamente o ciclo e cada criatura nasce somente para sofrer e morrer.

Não obstante, a vida de Schopenhauer, é bem curioso, não foi uma vida de sofrimentos. Viveu praticamente só. Não tinha esposa nem filhos. Era dotado duma sagaz cabeça de homem de negócios, que ninguém teria suspeitado num filósofo. Empregou sua pequena herança tão habilmente que pôde deitar-se e rosnar, contra o mundo confortavelmente.

Tinha um único companheiro vivo, um rabugento cãozinho d’água. O povo da cidade chamava-o Jovem Schopenhauer.

Na manhã de 21 de setembro de 1860, deu de comer ao Jovem Schopenhauer e depois sentou-se, para servir-se de seu próprio almoço. Mas nunca o comeu. Tinha setenta e dois anos de idade, quando morreu.

Grandes filósofos europeus de nossos dias (1949)

A FILOSOFIA, escreveu certa vez um homem que era êle próprio filósofo, "é a procura dum gato preto dentro dum quarto escuro". Falava com conhecimento de causa. O poeta persa, Omar Khayyam, dizia que os filósofos vão ao Templo do Saber, investigam cada escaninho e cada fenda e nada encontram. Depois saem pela mesma porta por onde entraram.

Contudo possue a filosofia uma atração que arrasta o pensamento, até mesmo nesta era altamente científica. Grandes homens ainda especulam a respeito dos porquês e para quês do Grande Nenhures. Na França, o brilhante pensamento de Henrique Bergson está tentando provar que a vida é um processo de "evolução criadora". O homem é senhor de seu destino. Não é somente um ator, no grande drama da criação, mas um dos co-autores. Pode, se quiser, guiar a ação do drama, isto é, pode ajudar a criar sua própria evolução como algo de maior, de mais nobre e de mais belo. Não precisa ser mais um peão desamparado no jogo da vida, para ser movido para lá e para cá ao bel-prazer dos outros. Deve aprender a fazer seus próprios movimentos. Porque toda criatura, quer o saiba quer não, pode tornar-se um criador.

Bergson, notareis, é um místico. Em oposição a êle. há o céptico italiano Benedito Croce. Em 1883, Croce perdeu ambos seus pais num terremoto. Essa catástrofe fez dele um filósofo. Toda a sua vida desde então tem sido uma trágica pergunta: Por que?

Croce é uma estranha mistura de ateu e de crente. Está sempre à procura do Deus, cuja existência nega. Verdadeiro céptico que é, admite que nada sabe. Há apenas uma diferença entre êle mesmo e o ignorante. Êle nada sabe depois de longa e laboriosa carreira de estudos, ao passo que o ignorante nada sabe por um dom especial do céu.

Ao lado do místico Bergson e do céptico Croce, possue a Europa de hoje um terceiro grande filósofo. Este filósofo, Bertrand Russell, é racionalista. Nem afirma, como Bergson, nem duvida, como Croce. Em vez disso, razoa. É parente do rei da Inglaterra e democrata «extremado.

Rnssel é matemático. Seu pensamento científico gosta somente dos fatos concretos. É adversário de qualquer espécie de ilusões. Raramente lê um romance e dificilmente vai a um cinema. O mundo, diz êle, tem misticismo demais e muito pouca lógica, filosofia demais e muito pouca ciência. Toda a verdade, toda a beleza, toda a poesia, acredita êle, encontram-se nas matemáticas. E talvez seja devido ao seu amor pelas matemáticas, pelo "divino princípio da unidade", que Bertrand Russel, desde 1914, se tornou apaixonado defensor da harmonia internacional, da justiça social e da paz mundial. Como Spinoza, acredita que a felicidade terrena de cada um depende da prosperi-

dade de todos. "Não deixeis ninguém se enriquecer à custa dos outros."

Como Sócrates outrora, Bertrand Russell tem tentado fazer descer a filosofia do céu e estabelecer o reino racional da justiça aqui na terra.

Grandes filósofos americanos de hoje (1949)

O MAIOR filósofo americano de nossos dias nasceu na Espanha e vive na França. Mas foi educado nos Estados Unidos, e ‘ensinou filosofia em Harvard, durante numerosos anos. Os que lhe ouviram as lições — e o autor deste livro foi um deles — sentiam que suas vidas tinham sido incalculavelmente enriquecidas, pelo contacto com um dos pensamentos mais verdadeiramente nobres deste século.

Jorge Santayana é um perfeito produto do cadinho americano. Possue o refinamento aristocrático do espanhol e a democrática tolerância do homem da Nova Inglaterra. Não é somente um grande filósofo, mas um grande poeta. "Dificilmente, desde Platão, escreve o dr. Will Durant, tenha a filosofia se expressado tão belamente."

Santayana é um filósofo moderno e consequentemente um céptico. É um poeta, e consequentemente um místico. É americano, e consequentemente um racionalista. É um dos mais versáteis intelectos dos dias atuais.

Santayana é discípulo de várias escolas. Mas confessa que deve mais a Spinoza. "Nenhum escritor moderno, diz-nos ele, é aos meus olhos totalmente filósofo, exceto Spinoza."

Acredita numa vida baseada na razão. Nada aceita sem provas. Submete tudo ao rígido texto da lógica. Só a razão nos eleva, acima dos animais inferiores. "A ra-zão é a imitação humana da divindade."

Santayana teve uma educação católica. Seu primitivo amor pela Igreja nunca o deixou, ainda que se tenha nos últimos anos declarado ateu. "Acredita que não há Deus e que Nossa Senhora é Sua mãe."

A maternidade para Santayana é uma bela coisa. Igualmente bela é a infância. As crianças são os tenros mensageirozinhos de nossa imortalidade. 1’orquc vivemos em nossos filhos, prontos nós mesmos a morrer. "Entregamos o borrão de nossas vidas mais prontamente às chamas, quando encontramos o texto imortal passado a limpo numa cópia mais bela". Maternidade, filhos, a família, são as bases de toda a grandeza c de toda a beleza da sociedade humana.

Contudo, esse poeta, que canta a glória da família humana, não tem, êle mesmo família. Permaneceu solteiro toda a sua vida.

Santayana é um filósofo que, ao fim da vida, se tornou romancista. Outro grande filósofo americano, William James (1842-1910) era irmão dum romancista. Enquanto que Henry James, o romancista, escrevia obscuramente como um filósofo, William James, o filósofo, escrevia com a clareza dum romancista.

Seu estilo é simples, pitoresco e vigoroso. Sua filosofia é para o homem comum. Começou como médico; depois tornou-se psicólogo e finalmente virou filósofo.

A filosofia de William James se chama Pragmatismo. É uma filosofia para o homem prático. De acordo com essa filosofia, uma idéia só é útil se conduz à ação. Termos abstratos, como beleza e bondade, só têm significado quando são aplicados à vida cotidiana. Uma coisa deve ser bela fiara vós e fiara mim e deve ser boa para alguma coisa. De outra forma de nada nos servirá.

James ocupou-se em achar uma razão prática para a vida. E na sua busca dessa razão, chegou à conclusão de que a vida não termina com a morte do corpo. De outra forma, não teria a vida significação. Fez cuidadosas experiencias a respeito dos fenômenos espíriticos e decidiu, pelo menos para satisfação própria, que as almas dos mortos vivem num outro mundo e podem, sob condições próprias, comunicar-se com este mundo. "Sabemos tão pouco a respeito da vida mais elevada do universo, quanto nossos cães e gatos a respeito de nossa vida humana.”

Contudo admitiu que tudo isso era simples especulação. Experimentou essa e aquela fórmula, mas sempre com êxito negativo. Como todos os outros filósofos, verificou que o ‘enigma da vida e da morte permanece uni enigma. Uma de suas derradeiras frases, escritas justamente antes de morrer, foi conciso sumário de sua filosofia, de toda a filosofia. É a seguinte: "Não há solução".

William James tentou tornar a América mais prática. João Dewey está tentando torná-la mais educada. Nascido em Vermont, em 1859, ensinou durante muitos anos no Centro Oeste e é agora chefe do departamento de filosofia da Universidade de Columbia, na cidade de Nova York. Teve assim oportunidade de estudar o pensamento americano em várias partes do país e em diversos ambientes. O resultado é uma filosofia verdadeiramente americana.

João Dewey não é somente filósofo, mas também educador. Como James, acredita que a educação deve ser prática. Preconiza menos latim e mais ciência. O latim torna o homem um aristocrata e um snob. A ciência torna-o membro útil de uma sociedade democrática. Não podeis conversar latim ou grego com o homem da rua; mas podeis conversar automóvel ou rádio com êle. A ciência prática, especialmente as ciências mecânicas, é a linguagem mais universalmente compreensível de hoje.

João Dewey, como William Jam’es, acredita numa vida prática. Deixemos os astrônomos, diz êle, intrometer-se no mistério das estrelas, É tarefa do filósofo lidar com problemas da terra. Não percamos tempo com abstra ções. Olhemos cara a cara os fatos.

Uma ciência dos fatos, um saber científico, capacitar-nos-á a superar as barreiras não somente físicas como mentais que existem entre as nações. A ciência é internacional. "As associações de matemáticos, químicos, astrónomos. .. são mundiais". Por meio da ciência, uma raça humana unida, "é não somente uma aspiração mas um fato, não um ideal sentimental mas uma força."

Antes de Dewey, a ciência e a filosofia estavam sempre a disputar. Mas Dewey as reconciliará e as unificará. E quando a união entre ambas fôr completa, a filosofia fará de vós sábios, e a ciência fará de vós livres".


Tradução e Adaptação de Oscar Medes. Globo 1949.


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